O mundo está em sinal de alerta sobre a questão do aquecimento global. Esse é o momento de rever conceitos e práticas. E a indústria da moda é responsável pela emissão de 8% do gás carbônico despejado na atmosfera, ficando atrás somente dos combustíveis fósseis. E o incrível designer Kallil Nepomuceno está fazendo a sua parte por uma vida melhor: “Não basta apenas ser simpatizante das causas sociais e ambientais é preciso agir na prática. Adotar no dia a dia um novo mindset, pois é preciso que cada um faça seu papel para vivermos numa sociedade com mais equidade para todos”. E, pela 19ª vez, ele desfila suas criações inovadoras no DFB Festival, evento multiplataforma da sinergia entre moda, cultura, capacitação, empreendedorismo e música, entre os dias 25 e 28, no Aterro da Praia de Iracema, na capital cearense.
“Minha maior preocupação com esta coleção foi, justamente, na escolha cuidadosa dos materiais que estou usando, para destacar esse novo momento da adesão mundial às questões de sustentabilidade e compromisso socioambiental. Esta preocupação venho há anos exercendo no meu trabalho, mas está mais evidente nesta coleção”, pontua, acrescentando: “Sempre é uma satisfação estar na passarela do DFB e contribuir como estilista, criar uma atmosfera fantástica para arte e moda brasileira, visando uma referência mundial e um novo olhar para moda autoral”.
Na passarela, um lindo trabalho com tecidos feitos com práticas ecologicamente corretas e a técnicas de upcycling com o reaproveitamento de peças que o designer tinha no acervo e por serem atemporais ganharam uma customização personalizada, como nova roupagem, para somar à nova coleção feminina e masculina. “Utilizei o máximo que pude de tecidos residuais do meu atelier”, sinaliza.
E acrescenta que ao escolher empresas parcerias, ele busca pelas que tenham agenda proposital aos temas de sustentabilidade e tragam tecidos com inovação, utilizem menos água na sua produção, que tenha colaboradores dentro da regra de trabalho e que possam beneficiar também os clientes no dia a dia. “Além disso, reutilizo tecidos que iriam para descarte por sobrarem dos cortes, aplico técnicas de upcycling em peças e acessórios que compõem às produções”.
O designer é um expert no conhecimento dos tecidos. Antes de lançar a marca Khalil Nepomuceno, ele era um empresário do ramo de tecidos e criava os looks para suas clientes e elas providenciavam a confecção com as costureiras. “Isso gerava uma certa frustração, porque eu não sabia como que era o resultado das proporções das minhas criações e desenvolvida na mão de outras pessoas”, revela. Há 12 anos, então, ele teve a ideia de seguir carreira solo com sua moda autoral acompanhando todo o processo da cadeia produtiva. E sua chancela é a moda plural: para mulheres de todos os corpos e contemplando desde o casual aos vestidos de casamentos. “Vou te contar que amo participar todos os anos do DFB Festival, mostrando meu lado criativo, autoral, onde posso dar vazão aos meus sonhos quanto à estética da criação e brincar com cores e texturas”. Durante esse período de ateliê, Kallil conquistou um público enorme: “Graças a Deus, e meu sustento é a moda, o que é algo bem difícil no Brasil”, desabafa. E revela que, pela primeira vez, mergulhou também na alfaiataria. “Este é o meu mote: a cada coleção desfilada poder optar por novas técnicas permeadas pelo lúdico. Sou um estilista versátil e que todo ano lanço uma nova proposta, mas em sinergia com o DNA da marca Kallil Nepomuceno”.
Para a coleção, ele desenvolveu uma estampa exclusiva 3D com uma empresa parceira inspirada na pop arte dos anos 70, com releituras da contemporaneidade da moda atual, totalmente usáveis em diferentes ocasiões. “Passeio com ela e outras tonalidades como verde, azul, laranja, fúcsia, limão siciliano, numa viagem que passa por tecidos mais encorpados que dão o ar alfaiataria a tecidos leves, como a seda pura e o tule, que destacam a transparência e a fluidez, marcantes na minha assinatura. A pedraria, assim como os looks monocromáticos, que todos esperam também estarão lá, mas claro, repaginados para o contexto atual. Tanto a mulher Kallil Nepomuceno, quanto o homem, são sofisticados, chiques e encontram na marcas peças que vão do street fashion às festas”, conta.
Confira mais fotos do editorial bapho batizado “Sobre um novo olhar“, no qual a atriz e modelo Daniella Gondim posa para as lentes de Eduardo Abreu.
Otimista, sempre, Kallil, mesmo analisando que não se tem uma valorização adequada, no país, para a moda autoral, está há muito tempo nessa estrada: “Sei que o essencial é encontrar o equilíbrio perfeito entre deixar minha marca em cada peça que crio, mas, ao mesmo tempo, adaptar as ideias para looks mais usuais, que mesmo com a elegância, a sofisticação e o impacto que minhas peças trazem sejam usados no dia a dia. Acredito que tenha mercado tanto para quem gosta de exclusividade e queria algo mais personalizado ao seu estilo, como para o fast fashion que tem o foco estritamente comercial, sem apelo nenhum autoral”.
Kallil frisa que para todos os criadores a pandemia foi um momento muito difícil e que mexeu de forma diferente com cada ser humano. “Particularmente foi um período que tive que me reinventar, já que todos os eventos tinham parado e tenho uma clientela grande e fiel que busca meu trabalho para casamentos, festas sociais e eventos importantes. Mas é do meu perfil e não consigo ficar parado. Naveguei por outros segmentos e criei máscaras fashion, pijamas diferenciados e scrubs para médicos e deu certo! Consegui manter minha equipe durante estes dois anos. Assim, hoje, voltando às atividades normais e eventos sociais, além de ver minhas criações personalizadas em festas, em paralelo, conquistei novas fatias de mercado, ampliando meus negócios”.
E, Kallil, quais as dores e as delícias de continuar se dedicando ao cenário da moda brasileira? “Entre as dores atuais, estão a de viver num país com tanta desigualdade social, de ainda existir trabalho escravo na construção da moda de alguns empresários e o descarte abusivo de materiais e produtos que transformam em lixo e caos o que poderia ser verdadeiramente moda. “Já a delícia é contemplar uma criação minha! Amo trabalhar, amo vestir minhas clientes, amo ver o resultado do que crio na passarela, pois ultrapassa o vestir. Minhas criações trazem debates atuais e destacam o comportamento atual daquele recorte histórico que vivemos. Com certeza, despertarei emoções e um novo olhar no cenário da moda brasileira com esse novo desfile”. Vida longa a Kallil Nepomuceno e sua arte!
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