DFB Festival: Melk Z-Da apresenta coleção “Disfarce” na qual revisita a dinâmica das borboletas e a arte que redefine os sentidos


Na 25ª edição do DFB Festival, o designer continua sua trajetória pela universalidade de suas peças reconhecidas pela autoralidade e exclusividade. Ele enfatiza a importância dos saberes manuais do Nordeste na moda brasileira: “Tenho um interesse especial por tudo o que é feito à mão. O Brasil é manual! O handmade sempre fez parte de minha vida e, claro, é o ponto forte do meu trabalho”, analisa. E acrescenta ainda sobre o que vimos na passarela: “A inspiração foi através do mimetismo da borboleta, o disfarçar para sobreviver. Especialmente através da anatomia das asas e do camuflado de cores”

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

Definitivamente, o DFB Festival, multiplataforma da sinergia entre moda autoral, cultura, incluindo capacitação, empreendedorismo, música, gastronomia, realizado em Fortaleza (CE), Cidade Criativa do Design, título concedido pela Unesco em 2019, tem a chancela de revelar grandes talentos. E o estilista pernambucano Melk Z-Da, cuja grife homônima nasceu em 2005, é presença constante com sua arte. O destaque na produção do estilista se deve ao seu trabalho artesanal e uso inovador de matérias-primas. Nesta 25ª edição do DFB Festival, ele apresentou a coleção “Disfarce”, inspirada no mimetismo das borboletas, como ele próprio explica: “A inspiração foi através do mimetismo da borboleta, o disfarçar para sobreviver. Especialmente através da anatomia das asas e do camuflado de cores”. Esta coleção trata-se de um desdobramento da anteriormente apresentada no DFB e que tinha como tema “Crisálida“.

Ao tocar a pele humana, a borboleta começa a perecer. Delicada e efêmera, ela se torna metáfora de leveza e liberdade. Essa criatura alada, que dança entre a imitação e a camuflagem, conseguiu evoluir e sobreviver graças a esse jogo de esconde-esconde com o mundo. Sob a alternância entre vivência e singeleza, Melk Z-Da concebeu uma coleção que bebe da fonte das asas, estruturas, escamas, pelos e cores das borboletas. “Tudo isso traduzido em modelagens estruturadas, porém leves, formas vazadas e orgânicas”, descreve o estilista. Em um toque de genialidade sustentável, Melk Z-Da eleva o upcycling ao transformar embalagens de café em flores delicadas. É um ato de criação que, assim como a borboleta, transita entre a beleza e a fragilidade, oferecendo ao mundo da moda uma nova forma de expressão, onde a efemeridade se transforma em arte eterna.

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

Esse cuidado foi revelado no desfile do artista em traços, desenhos, grafites e aquarelados para a plateia que pôde conhecer, ter acesso e vivenciar algo além do produto final, mas o nascedouro da criação, o brotar das ideias. Na passarela, peças arrojadas intercalavam-se com outras mais clássicas. Pretos davam a vez a dourados. Rendas e plumas conviviam em perfeita harmonia, bem como escamados e malhas. Melk lançou mão dos roletês inflados e tecidos diafanizados em alternância com outros mais estruturados. Prova do arrojo do pernambucano.

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

 

PERSONALIDADE

Melk Z-Da inicia seu processo criativo mergulhando na concepção estética, buscando inspiração nas coisas que lhe são caras. Dessa semente, nasce uma história que gradualmente evolui para um tema. Recentemente, ele optou por explorar a figura da mulher nordestina, mostrando que sua criatividade é tão potente quanto sua arte.

Criada em 2005, a marca Melk Z-Da é uma celebração da individualidade, inspirada pelas pessoas e suas experiências. Sua linha prêt-à-porter consiste em reproduções limitadas de seus designs, enquanto o ateliê oferece um serviço personalizado, criando peças únicas e sob medida. A obra de Melk Z-Da transforma-se em uma extensão da identidade de quem a veste, refletindo a teoria de que a verdadeira arte existe apenas para a fruição e prazer dos sentidos.

O método de trabalho de Melk envolve a coleta de produtos e o dar asas à imaginação. “Quando tenho a ideia de um bordado, testo, colo e guardo. Depois eu vejo outra coisa, gosto, arquivo, venho para o ateliê e testo. Fico acumulando, depois vejo o que funciona e o que não”, revela. Na moda de Melk Z-Da, cada peça é um testemunho da mistura entre os saberes ancestrais e a inovação, onde a arte não apenas veste, mas também encanta.

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Desde criança, em Pernambuco, Melk Z-Da era estimulado a criar. Sua infância foi estabelecida com o estímulo lúdico duma folha de papel em branco, o que fez iniciar sua trajetória como estilista, influenciado por sua mãe e tias, costureira e bordadeiras. “Talvez se tivesse vivido sempre num grande centro urbano, minha família trabalhasse em indústria, eu poderia estar usando textura de outra forma com plástico derretido, alguma coisa assim”, refletiu Melk sobre a habilidade cultural pernambucana do artesanal.

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

Melk Z-Da, cuja alma criativa transcende as fronteiras, mergulha no ofício onde o artesanal e o sublime se encontram. Ao explorar o universo da moda, ele ecoa um lamento contra as amarras do preconceito. Sob os olhares céticos, ele ergueu sua arte, mostrando ao mundo que a essência do nordestino é repleta de nuances. “Antes podiam achar que eu só tinha isso a oferecer. Mesmo assim, alguns jornalistas estranharam e acharam que eu podia cair no caricato, mas não caí. Eu também quis fazer para mostrar que o nordestino pode ter uma visão diferente, que pode falar da cultura dele sem ser bairrista”, analisa Assim, Melk Z-Da tece uma narrativa onde a moda e a identidade se unem, revelando uma perspectiva única que desabrocha além das expectativas e redefine os contornos da elegância e autenticidade na moda autoral brasileira.

“[Em minha terra] tudo é muito artesanal. Brinquedo mesmo, todos os que eu tinha quando criança, era eu quem fazia”, complementa. Adepto do slow fashion, Melk Z-Da está acostumado a nadar contra a corrente de coleções “descartáveis” da indústria da moda, transformando as habilidades manuais em diferencial nas passarelas. O experimentalismo sofisticado é a essência da marca Melk Z-Da. O designer pernambucano conhecido por seu trabalho artesanal e autoral, busca referências nas artes, vivências e pessoas para criar.

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

“Sempre gostei muito de coisas refinadas, sempre fui extremamente crítico… Tenho bastante interesse por quem veste meu produto, o que eles leem”, relatou o estilista. A superação do estigma de regionalismo para tornar sua obra universal é uma preocupação constante para Melk, que se destaca pelo seu profissionalismo e pela originalidade de suas criações.

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

Tenho um interesse especial por tudo o que é feito à mão. O Brasil é manual! O handmade sempre fez parte de minha vida e, claro, é o ponto forte do meu trabalho. Gosto muito do design de superfície, refaço os tecidos artesanalmente, acrescentando novas cores e texturas. O tecido modificado e o uso de novos materiais, às vezes inusitados, são as características do meu trabalho – Melk Z-Da

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

No mercado competitivo da moda, a marca autoral de Melk Z-Da se sobressai pela identidade única e pela exclusividade. “As clientes são sofisticadas e amam arte e trabalhos manuais. Para mim, o autoral se destaca por conseguir imprimir uma identidade e exclusividade”, afirma. Sobre a importância de participar do DFB, que completou 25 anos, ele comenta: “Participo há nove temporadas no DFB, e me sinto valorizado e acolhido por ser um evento autoral”. A moda autoral brasileira, segundo Melk, está caminhando com parcerias e processos artesanais, mostrando essas técnicas nas redes sociais para treinar o olhar e a mente do consumidor. Ele destaca a colaboração com o grupo Mulheres de Argila, que confecciona bolsas com ourelas de jeans.

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Para Melk Z-Da, fazer moda no Brasil é um desafio caro, mas repleto de recompensas: “E esse é o maior dilema e maior desafio. Poder mostrar o universo do artesanato me inspira”, compartilha o estilista. Ressalta ainda a importância da moda do Nordeste na economia do país: “A contribuição do Nordeste na moda é o saberes manuais”. Melk Z-Da com seu talento continua a encantar e inspirar, levando a riqueza cultural de Pernambuco para as passarelas.

É efetivamente, um alquimista de texturas e cores, transmutando o simples em sofisticado. Ao desbravar a passarela do DFB Festival, ele teceu uma narrativa de resiliência e transformação, onde o handmade, raiz de sua infância em Pernambuco, flui e refaz-se em arte sublime. “O Brasil é manual!”, diz, entrelaça a voz de sua terra com uma visão universal e transformando-a em delicadeza. Suas peças são mais que vestes; são manifestações de uma alma crítica e refinada, que explora o camuflado do mimetismo, aguçando e encantando os sentidos.

Melk Z-Da (Foto: Leo Zingano)

Nesta sinfonia de contrastes, Melk Z-Da eleva o upcycling ao status de poesia visual, reciclando embalagens e almas, redefinindo o artesanato como linguagem global. Na fusão do tradicional com o contemporâneo, cada criação revela a identidade do próprio indivíduo, testemunhando que a verdadeira arte existe para a fruição dos sentidos, sem fronteiras ou limitações regionais. E assim, na dança eterna entre o efêmero e o eterno, Melk Z-Da continua a traçar os contornos da elegância no cenário da moda, encantando o mundo com sua arte, que não só serve para vestir, mas para enaltecer a essência do que é ser humano.

O DFB Festival 2024 é apresentado pelo Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura. Com apoio cultural da ENEL, realização da Associação Artesanias do Ceará e Empório Lokar. Apoio institucional da Secretaria de Turismo do Estado do Ceará e Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), nos termos da Lei 13.811, de 16 de agosto de 2006.