DFB Festival: Ivanildo Nunes leva à passarela uma ode às mulheres e a gratidão às rendeiras, cujas mãos tecem arte

A palavra encantamento é apenas uma das tantas que podemos expressar a cada coleção lançada pelo estilista Ivanildo Nunes, que investiu na alquimia de transformar vestidos em arte ao longo de uma vida. Conhecido por seus luxuosos modelos de festa, concebidos a partir do uso criativo do artesanato-luxo do Ceará, ele é a síntese da alta-costura brasileira que busca valorizar o legado ancestral. Traduzindo os desejos femininos em peças luxuosas e atemporais, o estilista marca presença mais um ano no DFB Festival, e apresenta sua nova coleção ‘Com Elas‘, celebrando as mulheres em seus universos particulares – inspiração ao longo de sua trajetória com a label homônima. “A coleção é vibrante, construída com rendas rechilieu, renascença, renda de bilro e muito crochê. Será o meu décimo desfile presencial no DFB, e faço uma homenagem a todas as mulheres que ajudaram e ajudam a tornar real o desejo de fazer moda com propósito no Brasil. Além disso, busco valorizar as comunidades artesãs e o seu artesanato nas minhas coleções. Na verdade, essa busca já faz parte da missão da minha marca, e o DFB é uma plataforma de divulgação de todo esse processo de construção através da união do design e artesanato”.

Ivanildo Nunes desfila no DFB Festival coleção batizada ‘Com elas’: “É uma plataforma de divulgação de todo esse processo de construção através da união do design e artesanato” (Foto: Divulgação)

Nascido em Parnaíba (PI), ele viveu sua infância em Tutóia (MA) e, desde os 11 anos, Ivanildo Nunes está em Fortaleza, no Ceará. Sua relação com a moda começou muito cedo, era a união da vocação com o talento: aos 13 anos já criava vestidos de bonecas para que a mãe os vendesse. E, com apenas 17,  empreendia com uma confecção de moda praia, tendo contato com a riqueza de materiais da região na elaboração das peças. A grife, tal qual é conhecida hoje por seus vestidos de luxo e com criações para noivas, foi criada em 2009. “O DNA da marca é trazer em todas as suas criações elementos de diversos tipos de rendas artesanais, principalmente a renda de bilros, o rechilieu, o crochê, o bordado, entre outras. Todas trançadas pelas hábeis mãos de diversas comunidades artesãs do interior do Ceará”, detalha.

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Com trajetória bem-sucedida, feita de trabalho duro, fé no sonho e resiliência, ele faz uma análise realista da moda autoral no país, para além do sonho das passarelas. “Quando desfilei em Paris, em 2019, tive a certeza de que podemos chegar muito longe com nosso trabalho exclusivo feito por mulheres artesãs que transformam pensamento em arte. Tive a certeza na minha missão enquanto designer, e ainda mostrarei o quanto somos únicos quando falamos de moda e criatividade”, sinaliza.

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“No caminho são muitas dores, mas também várias pequenas vitórias, que quando somadas, já transformaram vidas. Fico feliz em saber que somos fortes e que podemos levar para o mundo o nosso talento”. E pontua: “Muitas marcas autorais brasileiras sofrem com essa exacerbação da moda estrangeira. Infelizmente, nosso potencial criativo não é valorizado, e estamos sempre na contramão desse poder esmagador. Muitos não acreditam ainda que fazemos moda de alto padrão com responsabilidade social e sustentável”.

Ivanildo Nunes e as artesãs: “As rendas são todas trançadas pelas hábeis mãos de diversas comunidades artesãs do interior do Ceará” (Divulgação)

Ivanildo revela ainda, uma curiosidade no que diz respeito à sua atuação. “Não apenas utilizo o artesanato nas minhas criações, passo dias dentro das comunidades de rendeiras comendo peixe e tapioca e trocando experiências”. E lamenta: “Infelizmente, rendas como a de bilro estão passando por um processo de ‘extinção’. As pessoas não conhecem o processo de manufatura dessas rendas, e acabam pagando R$ 50,00 por vinte dias de trabalho! Essa é a realidade, e as novas gerações não querem fazer parte dessa realidade exploradora”.

A poesia em imagem da criação de Ivanildo Nunes (Foto: Nicolas Gondim)

Além da preocupação socioambiental para um consumo sustentável – conceito presente na grife – o estilista joga luz nas mãos que tecem os fios que se tornam sofisticadas peças. “Descartamos muito pouco, e estamos sempre reaproveitando materiais. Mas também é importante falarmos em sustentabilidade financeira. Procuro imprimir um conceito de design e moda nos processos artesanais, que também tenha como objetivo conseguir tirar da exploração essas centenas de mulheres que ainda trocam seu trabalho artesanal por leite e remédio. Infelizmente é um trabalho lento, mas é o que me move nessa busca de mostrar que existe possibilidade de transformação dessa realidade através da moda com propósito”.

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E completa: “Para o setor, agora é o momento de se reinventar. Buscar dentro do universo de cada marca as múltiplas possibilidades de inovação, que podem vir do reaproveitamento de materiais e estruturas passadas, como estou trazendo em alguns looks nessa coleção. O consumidor está aos poucos se envolvendo com esse novo modo de pensar a moda”.