DFB Festival Day4: da arte Mondrian na label Baba ao protesto contra o feminicídio no desfile de Silvânia de Deus


O último dia de DFB Festival foi solar e contou ainda com a moda da Swiims, o Concurso dos novos, além da D’Aura, Ronaldo Silvestre, Flee e palestras, oficinas e shows

Com o tema “Vai dar Praia”, o DFB Festival, maior semana de moda e festival de artes plurais do Nordeste celebrou 20 anos, levando essa edição do evento ao Aterro da Praia de Iracema. Nenhum outro lugar seria mais “a praia” do que esse habitat inspirador e local de comunhões artísticas. Claudio Silveira, diretor e idealizador do DFB, analisou a edição 2019 do evento de forma otimista: “Foram 27 mil metros ocupados nas areias do Aterro de Iracema, além de 1.110 empregos diretos e indiretos que fomentam a cadeia de moda nacional. O DFB Festival é feito por uma família. Somos muitos e juntos somos fortes. A força criativa que o DFB emana é como uma onda e tem poder de segurar um temporal. Quem quer fazer sozinho acaba se desencontrando do mundo. Com o coletivo tudo é mais forte. Nossos dragões continuam com a gente. E que venha 2020!”.

No DPM tivemos Fabio Mariano falando sobre Consumo masculino no novo milênio; Mario Queiroz olhando para o homem do milênio e uma palestra sobre design voltado para a masculinidade. No Palco Cores, as atrações ficaram por conta de Two Folks, DJ Leandro Buenno e DJ Flar. Já no Palco Sesc tivemos a Paracuru Cia de Dança, Nazirê e Marcelo Jeneci.

A grife Swiims abriu o dia no DFBeach Club, seguida pelo Concurso dos novos com Unifor, UTFPR, UFPI e Veiga de Almeida. Os vencedores foram conhecidos no sábado e foram os seguintes:  alunos do curso de moda da Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), em primeiro lugar; da Universidade da Amazônia (Unama), em segundo lugar; e da Universidade de Fortaleza (Unifor), em terceiro. O projeto foi desenvolvido pelo festival para oferecer oportunidades e visibilidade aos novos talentos e estudantes de moda de todo o país. Foram mais de 150 trabalhos inscritos no programa, sendo apenas oito deles escolhidos. O dia teve ainda os desfiles das labels Baba, D’Aura, Ronaldo Silvestre, Flee e Silvânia de Deus.

Confira as nossas impressões:

SWIIMS
Como tradição desta edição de 20 anos do DFB Festival, o start dos desfiles foi no DFBeach Club e com a marca Swiims, com o desfile mais ‘Iti Malia’ dessa temporada. A grife de moda-praia para o público infanto-juvenil é altamente preocupada com a sustentabilidade, afinal é desde pequeno que adquirimos bons hábitos. A apresentação Eco Splash trouxe acessórios feitos de canudos, tampinha de garrafas como um alerta para o meio ambiente.

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E quem é o beach lover que não ama colocar os pés na areia, sentir o cheirinho e a brisa do mar, assistindo a um lindo pôr-do-sol?! Como boa amante do mar, a marca apresentou a coleção Trash + Splash que já é hit para crianças e adolescentes. “Desfilar no DFB com esse cenário da Praia de Iracema ao fundo é um presente. Nós choramos quando terminou o desfile. Foi lindo. Conseguimos sensibilidade e diversidade na passarela”, afirmou emocionada a estilista Carla Nogueira. Já Lia Feijó declarou que “nossos encontros são sempre grandes festas, ainda mais porque o nosso público é uma turminha animada. Uma galerinha muito aquaholic“.

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CONCURSO DOS NOVOS:

UNIFOR
A coleção da Unifor, de Fortaleza, apresentou uma moda pautada nos elementos e formas do fundo do mar que teve a música Terral de Ednardo como tema e trilha sonora. A coleção foi toda costurada por cordas, redes, franjas, volumes, recortes, tramas, assimetria e texturas fizeram parte de um alerta para os nossos oceanos.

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UTFPR
Inspirados na cultura marajoara, os alunos da Universidade Tecnológica Federal do Paraná mergulharam no universo da tribo indígena que habitava a ilha brasileira de Marajó (próximo a Belém, no Pará), na foz do rio Amazonas, durante o período pré-colonial de 400 a 1400 d.C. A arte e a cerâmica desses índios apareceram nas formas assimétricas, babados e recortes e nas estampas e shapes das saias.

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UFPI
Um mergulho no fundo do mar. Foi essa a proposta da Universidade Federal do Piauí. As roupas, altamente conceituais, apresentaram uma infinidade de recortes, faixas, transparências e texturas que nos transportaram ao Reino Perdido de Atlântida, uma lenda dos Açores que tenta dar uma explicação para a existência do arquipélago. Muito antiga e de origem desconhecida foi narrada pelo filósofo Platão.

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VEIGA DE ALMEIDA
Uma coleção toda pautada no reaproveitamento de jeans com materiais descartados, um verdadeiro upcycling sistematizado (que permite a reprodução de produtos e o controle de resíduos). A coleção Cada corpo um rio é um projeto do Denim Lab, rede de pesquisas e criação em um mundo de memórias desconstruídas. Não podia faltar uma pitada do funk carioca.

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BABA
A marca Baba fez uma estreia com o pé direito, pediu licença a Ludmilla e ‘Chegou chegando bagunçando a zorra toda’, com uma coleção política, mas que flertou com o universo do pintor modernista, holandês, Piet Mondrian que criou o movimento artístico neoplasticismo e colaborou com a revista De Stijl e depois com as formas da pintura concreta. Dando um toque made in Brasil, a coleção ganhou estampas de cajus em tecidos leves desenvolvidos pela Jangadeiro Têxtil. Além de referências ao escritor José de Alencar.

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O diretor criativo da marca, Gabriel Baquit, trouxe um casting estrelado com a cantora Luiza Nobel que declarou ” estou muito feliz de ser esse corpo que raramente vemos nas passarelas”, o ator Ari Areira que comentou “política não é só a institucionalidade. Política é discussão, é reflexão e é muito bom estar aqui ocupando esse espaço” e o dono da festa, o diretor do DFB Festival, Claudio Silveira esteve na passarela. “Faz 37 anos que desfilei pela última vez. Aceitei o convite e estou aqui, ainda mais para o Baba, que é um menino que eu vi nascer. E as pessoas entenderam a proposta real do evento de ser um espaço de inclusão, diversidade e multicultural”, afirmou.

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D’AURA

Com uma forte influência do streetwear, a D’AURA, explora a criação de peças como um campo de aprimoramento, com uma grande pesquisa desenvolvida em conjunto à modelagem e sua relação com o corpo. A desconstrução do corpo enquanto gênero, paralela à reconstituição deste enquanto plataforma para a expressão de uma personalidade, surge como a composição das peças.

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A arquitetura e o modo de pensar as formas apresentam reflexos diretos no processo criativo da marca. O resultado dessa associação resulta em peças que, para além de um requinte estético-visual, possuem ‘métodos construtivos’ elaborados e únicos que partem do entendimento do tecido à exploração absoluta de suas capacidades.

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RONALDO SILVESTRE

Uma obsessão pela moda… Ronaldo Silvestre tem o primor pela criação. O estilista que faz os próprios tecidos pela união de fitas e também com teares manuais de maneira singular tem preocupação social totalmente focada na sustentabilidade. Ronaldo, na edição de 2019 do DFB Festival, decidiu abrir as gavetas da própria vida para apresentar uma coleção em que a manipulação têxtil ganha destaque. Em processo íntimo de criação, a partir de músicas que inspiram sua vida, ele traz sarjas, jeans e tecidos de festa que se unem ao tule criando formas e texturas. O desfile teve uma trilha emocionante, começou com Vapor Barato, na voz de Gal Costa e Mal Secreto, de Jards Macalé.

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FLEE
Ao som de La vie en rose, de Edith Piaf, a Flee levou uma coleção para a passarela do DFB Festival 2019, com um perfume de nostalgia. Uma homenagem ao Brasil que passa longe do folclórico. Segundo o designer Breno Braga essa coleção é um acesso às memórias de infância. “Resolvemos olhar para essas as memórias porque os brasileiros esquecem seu passado. É um tema muito pertinente”, explica o jovem que mixou essa temática com o conceito de polifonia (segundo Mikhail Bakhtin é a presença de outros textos dentro de um texto), trazendo uma voz original. “A voz de um estilista é produto de todas as vozes que o acompanharam e acompanham ao longo de sua vida”.

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Quatro mulheres de sua vida foram homenageadas nessa apresentação: a mãe, a madrinha, a tia e a avó de Breno. “Eu via todo o ritual delas se arrumando e cuidando das suas roupas. As modelagens vieram dos álbum de família e o rigor na hora de construir cada roupa. Os acabamentos e caimentos nas formas de costurar as peças remetem ao que presenciei na infância, portanto incluí costuras embutidas, bainhas feitas à mão… E tudo isso conta a minha história como estilista”. lembrou. A marca levanta a bandeira do slow fashion.

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Destaque para os looks total branco que podem ser tão chiques quanto os pretos. Os lenços fazem referência ao baú da família e à luta contra um câncer que sua madrinha travou e que contou com o apoio do afilhado para todos os dias criar amarrações na cabeça. Destaque para as cores fortes – verde vivo, vermelho vivo, azul vivo e estampas, além das maxi bolsas de palha. As saídas de praia parecem dançar com o ventos das praias brasileiras.

SILVANIA DE DEUS
Integrante do primeiro line-up do DFB Festival em novembro de 1999, Silvânia de Deus encerrou a edição de 20 anos do DFB Festival 2019 com um desfile de sua marca autoral. Os 30 looks exibiram uma bandeira política contra o feminicídio e uma ode aos ciclos da vida feminina convidando as mulheres a se despirem da opressão para se vestirem de autoestima.

A estilista se inspira a criar encantamentos feitos à mão, em formas exclusivas e diversas de tecer a moda. “Um mergulho na parte mais profunda de mim”, revela Silvânia, que relembrou as duas décadas de lançamento da sua grife, renovando criações inspiradas nos “ciclos” femininos e com detalhamentos inéditos ao contar as histórias de cada roupa nas passagens pela passarela.

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A apresentação começou com o toque do berimbau, seguida da cantora Lorena Nunes acompanhada pelo piano de Cláudio Mendes. Começou com Feeling good, passou por frases de emponderamento e autoestima, acionou Gilberto Gil – Anda cum fé eu vou, pediu licença para Milton Nascimento com Cravo e canela, fez uma ode à Clara Nunes com o Juízo Final e deixou o desfile ‘lá em cima’ com Tá escrito, do grupo carioca Revelação. Afinal ‘sua hora vai chegar”.

Nesse festejo, Sil – como é mais carinhosamente reconhecida – exibe uma mulher atual, sempre conectada, convidando-a a se despir da opressão e se vestir de autoestima. Essa benquerença é a maneira hábil, forte e ao mesmo tempo delicada com muita garra para trabalhar o conceito de roupa viva, “que entende o corpo feminino”, explicita. Os 30 looks passearem desde a alfaiataria bem natural, em tecidos como algodão orgânico e linho; aos bordados de Maranguape, que nascem das mãos ágeis e talentosas da mestra Maria do Carmo; estampas artesanalmente manufaturadas (a maioria exclusivas para a marca da Sil) – sejam em serigrafia manual ou estampas digitais. Ainda pespontam os crochês nobres, construídos por mãos habilidosas, como também o macramê, que revisitam as minúcias feitas no início do ateliê da Silvânia.

E para coroar esse arco-íris de celebrações, a cartela multicor das roupas, que vislumbram os reflexos e matizes a colorir as peças nos tons dos ciclos dos dias, das manhãs às tardes e noites da nossa Praia de Iracema. Na mesma harmonia de tonalidades, a iluminação do palco na orla acompanhou os efeitos simulando também essas colorações dos ciclos diários. Além das jóias assinadas pela Telma Aguiar – brincos, pulseiras, braceletes, todos em metais, alguns desenhados pela ex-modelo e designer Sandra Luck, executados pela maestria da Componentes. Os sapatos com o salto são da Fridíssima, por Lígia Nantua.

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