Uma das principais chancelas da Catarina Mina – marca que produz bolsas, roupas, e por que não dizer, sonhos – é fortalecer o artesanal, conferir longevidade às tipologias e o trabalho das artesãs cearenses. E assim conseguiu Celina Hissa, mente criativa e fundadora da label. Suas bolsas de crochê com detalhes em palha conquistaram clientes no Brasil e exterior. Graças à criatividade nas tramas e combinações de cores realizadas pelas artesãs que trabalham com Celina, a marca é um case de transparência no processo de produção acumulando vários prêmios. Para a 25ª edição do DFB Festival, que se destaca ao longo dos anos pela sinergia entre moda, capacitação, empreendedorismo, mostra criativa, jornada de conhecimento, gastronomia e música, ela se inspirou no ditado popular “quando a rede não traz o peixe, a renda bota o peixe na mesa”. A coleção teve como ênfase a renda filé, que é feita no Vale do Rio Jaguaribe, e a renda de bilro no Trairi, da Praia de Flexeiras. Trabalhou ainda com o crochê, a marchetaria e a palha de carnaúba, que é totalmente sustentável.
Para Celina, o DFB idealizado por Claudio Silveira, é um dos eventos mais representativos para a moda autoral nordestina. “Acho que é como se projetar, mas sem esquecer de onde se vem. Estar aqui no Ceará, perto de quem valoriza a moda autoral cearense, cercada de marcas e estilistas cearenses que a gente tanto admira, é uma honra”. Com uma rede composta por 31 comunidades e 450 artesãs, sendo 99% mulheres, muitas delas mães (92,4%) e avós (38,2%), em seus métodos de trabalho envolve também designers, e com isso sustenta e valoriza junto aos consumidores a longevidade do saber artesanal. A Catarina Mina gera renda e garante a liberdade e autonomia financeira às famílias das mulheres cearenses.
Já são mais de uma década e meia de trabalho, “sempre acreditando em uma moda diferente. Uma moda focada em quem produz e que concentra seus esforços em questionar, repensar, refletir e tomar decisões levando em conta o coletivo. Uma moda que se sustenta em um futuro colaborativo. Em 2015, abraçamos o que já era nossa própria alma: o artesanato. Mas, como abraçar o fazer manual sem que o foco disso tudo fossem as pessoas que perpetuam esses fazeres e saberes? A partir desse questionamento, nasceu um dos nossos principais pilares: A reinvenção dos laços entre artesãos, designers e toda a sociedade”.
IDENTIDADE
Toda a obra de Celina Hissa ao lado das artesãs vem de uma forte ligação com potência dos saberes ancestrais. E não apenas isso, mas também com a necessidade de que quem consome as peças, conheça os rostos por trás dos projetos e não apenas tenham acesso ao produto pronto. “As nossas bolsas vem com QR Code que pode ser escaneado, pode-se ver quem fez a peça, conhecer o rosto da artesã, a história, o local no Ceará onde essa peça foi feita”.
Somos uma marca do Ceará, trabalhando com artesãs do Ceará, então isso é extremamente moderno. É fundamental fortalecer a economia local, assim como a transparência. Essa questão da rastreabilidade que o QR Code proporciona gera um super impacto social, transparência e sustentabilidade através de uma conversa direta com o consumidor. Através do aperto de laços entre clientes, consumidores e artesãos. Esse é um dos três pilares que vão fazer a roda do artesanato e a geração de renda para as mulheres rodar de uma forma diferente – Celina Hissa
Celina destaca que a cliente que consome sua marca é “uma mulher que acredita nesse consumo, também como forma de impacto social. Na roupa com vida longa, que carrega uma história e que tem por trás toda a história de quem fez a peça, do fazer artesanal, do fortalecimento de uma cultura”. Pincei do site da marca estas análises extremamente importantes de serem ressaltadas:
“O artesanato é uma das joias mais expressivas no baú dos saberes. Herança que passa de avó para neta, de vizinha para comadre, de tia para sobrinha. Falamos assim, no feminino de maneira intencional, porque se há uma responsável pela longevidade de técnicas centenárias, são elas, elas mesmas. O crochê, a mais antiga das técnicas com que trabalhamos por aqui, nasceu há tanto tempo, que não se sabe ao certo quando. Sabe-se que foi da necessidade de construir e reparar utensílios de caça ou de pesca”.
Quando a gente pensa artesanato como negócio, para que se mantenha firme, autêntico e seja viável em um mercado muitas vezes cruel com o tempo de espera, a gente pensa também em design. Juntas, essas ferramentas constroem peças que unem beleza e funcionalidade. Junto ainda da sociedade, que aqui entra como nossa maior rede de apoio, o consumidor, se transforma em um ciclo de fartura e virtude, garantindo principalmente longevidade aos saberes e dignidade à parte mais importante do processo, que nunca esqueçamos: a artesã”.
Com uma marca com a sua assinatura, ela estaca que esta é “uma marca autoral e se destacou nesse mercado tão competitivo. Sendo fiel ao seu propósito, é possível vincular-se ao seu valor de marca. A Catarina Mina produz à mão para unir mundos. O que é feito à mão une esses mundos, traz essa artesania ancestral para um mundo moderno contemporâneo, conecta artesãs de lugares às vezes que a gente nem imagina a realidade, a grandes cidades, como nos desfiles de Milão e mercado europeu. É estar sendo fiel àquilo que você acredita”.
Para Celina, são vários os desafios da moda autoral brasileira: “Agente sabe como é ser uma marca pequena num mercado, às vezes, com tantas grandes marcas, fazendo parte de grandes grupos. Mas eu acho que a moda autoral brasileira, ela tem que caminhar, ela tem que caminhar para a valorização do feito à mão, para valorização do olhar para dentro, e eu acho que é esse o caminho. As artesãs são guardiãs dessa memória artesanal”.
“Renda de bilro é memória, sim, mas principalmente futuro. Nossos saberes contam nossa história e é preciso que afirmemos essa bagagem olhando pra frente. Tecer sempre, ensinar o ofício a quem chega agora, como um dia aprendemos como nossas mães” – Celina Hissa
Segundo Celina, através da produção autoral “é possível dar vazão a uma criatividade e a um dever criativo que a gente nem consegue, de fato, entender o que é que nos motiva. Se a gente não colocar nesse lugar afetivo, eu acho que a recompensa é estar trabalhando naquilo que você quer, da forma que você quer e criando, nesse Ceará artesanal, que é enorme, e que nos motiva a vencer algumas barreiras e viabilizar um projeto da forma que a gente acredita”.
Ela prossegue dizendo que “os desafios são inúmeros, com produção, tecnologia, tudo aquilo que faz a gente sair desse lugar, de ateliê para esse lugar de gestão, empresa, crescimento, em deixar de ser uma empresa média e aumentar. As recompensas vêm da paixão pela criação, por estar envolvida com isso”.
O DFB Festival 2024 é apresentado pelo Governo do Estado do Ceará, por meio da Secretaria da Cultura. Com apoio cultural da ENEL, realização da Associação Artesanias do Ceará e Empório Lokar. Apoio institucional da Secretaria de Turismo do Estado do Ceará e Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), nos termos da Lei 13.811, de 16 de agosto de 2006.
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