Emoção traduz o sentimento do estilista Josenias Junior ao apresentar a coleção da label Banana Urbana no DFB Festival. E não é qualquer emoção, não. Josenias criou a marca ao lado do amigo e sócio Paulo Rabelo, reforçando a missão de mostrar que o fashion show da grife não é somente sobre roupas, mas também sobre despertar a consciência para a qualidade e design dos looks, associando o objetivo ao compromisso com uma cadeia produtiva que ofereça capacitação e reconhecimento aos profissionais envolvidos. Além da presente responsabilidade ambiental. “A Banana Urbana é uma marca que traz na construção de DNA uma essência tropical. Somos um povo alegre, caloroso, colorido, bronzeado pelo sol abundante, sorriso no rosto e cheio de riquezas culturais. Com toda essa riqueza trouxemos como inspiração para a coleção ‘Banana da Terra‘, Carmen Miranda, ícone mundial da identidade brasileira, e influência de moda no mundo todo. Somos uma marca jeanseira, jeans é nosso carro chefe, e ele vem para a passarela cheio de novidades, com técnicas de lavanderia desenvolvida especialmente para o desfile, acompanhado com sarja, malha, moletom, tule, cirê dourado e outros materiais”, comenta.
Claudio Silveira, nome à frente do DFB Festival já havia nos dito que o Ceará “é um estado privilegiado. No século XIX, nós chegamos a ser o maior fornecedor de algodão para a Inglaterra! Aqui, nós condensamos toda a cadeia produtiva: do plantio ao descarte e reuso de insumos da indústria do algodão – e do jeans, por tabela. Nosso jeans já foi sinônimo de irreverência, de criatividade. A muito custo, nos posicionamos entre os players de maior qualidade. No entanto, sempre tivemos grandes desafios para os setores de maior valor agregado. Atualmente, nosso maior diferencial é o fator econômico, o custo-benefício. O que eu proponho é trabalhar o jeans 100% cearense também como artigo qualificado, premium”.
Sobre ser hoje um dos estilistas que desfilam suas criação no DFB, ele diz: “Não participo mais da organização – ele foi co-criador do Dragão Fashion -, segui minha carreira como estilista, e o Claudio Silveira deu continuidade ao projeto, que é o mais expressivo de moda autoral do Brasil. Tenho a oportunidade de voltar ao evento após muitos anos com uma marca própria. Dentro de mim existe uma explosão de sentimentos, ansiedade, medo, alegria, mas, principalmente, gratidão por depois de tantos anos de moda poder iniciar um novo ciclo exatamente onde tudo começou. Acredito que essa edição do DFB tenha um significado mais amplo na vida de muitos criadores, é um recomeço. O mundo mudou, a moda mudou e nossa forma de pensar também”.
A label trabalha com afeto, empatia e arte, destacando o espaço que a moda autoral vem ganhando no cenário da moda no país. “Passamos anos buscando informações e tendências fora de nosso país, tudo que víamos em nossas passarelas eram recortes de coleções internacionais adaptados para a nossa realidade. Hoje nosso país é literalmente um celeiro de novos criadores, que encontraram em suas origens culturais, riquezas esquecidas em seus baús suficientes para se construir uma nova história de moda, alinhada com novos valores emocionais, culturais, sociais e ambientais, produzindo não somente roupa, mas moda na sua essência”, observa.
Levando em consideração que a produção de peças de jeans tem gerado impacto ambiental, o estilista reforça o compromisso socioambiental da marca. “Nossa marca foi construída de forma pensada em valores de sustentabilidade. Criamos uma grife que se comunica através da roupa, mas pretendendo que ela fosse a finalização de nossos verdadeiros valores. Nosso produto é pensando de forma que tenha o menor impacto ambiental, e que traga benefícios reais a todos os envolvidos. Desenvolvemos novos processos de lavanderia com menos consumo de água, e até mesmo zero água de consumo, tudo isso com foco no meio ambiente, fazemos aproveitamento com resíduos têxteis na criação de novos produtos, como patchs, necessaires ou até mesmo como combustível para as caldeiras”, detalha.
“Criamos um selo de garantia estendida para nosso produto, onde o consumidor tem até dois anos para utilizar esse serviço, que consiste em dar mais vida útil ao produto através de upcycling: o cliente envia sua peça danificada por rasgões, manchas e outros, e elas serão enviadas ao um grupo de pessoas especializadas, que vão customizá-las com patchs, bordados, tingimentos, evitando o descarte da peça no lixo. Nossa marca busca também fazer parcerias com artesãs locais para gerar produtos com design e que proporcionem renda para o grupo”, completa.
Josenias Júnior também destaca o Ceará como um dos maiores polos de produção de jeans. “Somos um grande polo de produção, com poucas indústrias de jeans. Isso é meio contraditório, mas sabemos que isso é uma reação a todo um sistema de impostos estratosféricos, onde ficou insustentável se ter um polo industrial. O que temos hoje é um sucateamento de grandes indústrias que se viram obrigadas a demitir seu corpo industrial, e a incentivar a criação de várias oficinas de costuras, o que em minha opinião, deveria ser algo bom. Entretanto, pelo fato de não existirem estruturas administrativas, se tornam frágeis, não oferecendo um bom resultado de fidelidade, qualidade e entrega de produto”, analisa.
“Nossa marca também trabalha com oficinas de costuras, onde mantemos uma estrutura de criação, modelagem e pilotagem interna. E buscamos fazer um serviço de fidelização das oficinas, oferecendo preços justos, garantindo produção e entrega através de pagamentos em dia. Buscamos também orientar os nossos colaborardes sobre os valores de nossa marca e dividir com eles o caminho para onde queremos chegar”.
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