“Eu vou fazer uma canção de amor /Para gravar num disco voador/Eu vou fazer uma canção de amor/ Para gravar num disco voador 9…)”. O trecho de ‘Não identificado‘, canção de Caetano Veloso, é perfeito para a nossa viagem ao desfile da Baba, marca autoral apresentada por Gabriel Baquit, na passarela do DFB Festival, que promete abduzir a audiência com suas criações.
O designer se inspirou nas raízes da ficção científica e na ufologia para elaborar as peças da coleção ‘De Outro Mundo‘. “Para contarmos essa história do ponto de vista da Baba – inusitado, divertido e cearense – partimos de Quixadá, no Sertão Central do Ceará, conhecida entre ufólogos pelas aparições de OVNIs e causos de abduções”, conta Gabriel. “Na camisaria, a paisagem da maior cidade do Sertão Central aparece ora vibrante, ora em tons escuros. Peças de streetwear em malha dão um toque esportivo à coleção, que contrasta com tecidos brilhosos, como o tafetá metalizado”.
“O jeans acrescenta uma atmosfera space cowboy às peças da estampa Painel de Controle, inspirada em uma interpretação lúdica das mesas de controle de naves espaciais. Macramês de fibra sintética fazem alusão ao emaranhado de cabos e conexões de equipamentos eletrônicos. A jornada se encerra com as variantes Noite das estampas Cobogó e Quixadá. Com a predominância do azul royal e do verde croma, as peças apresentam uma cartela de cores mais sombria e misteriosa, lembrando filmes antigos de ficção científica”, completa Baquit, o Baba, apelido de infância que batizou a label. E acrescenta: “O styling retrofuturista fica por conta dos acessórios, como brincos e colares feitos com upcycling de peças de hardware descartadas, óculos que remetem a feições alienígenas e bolsas e pochetes de piso vinílico para ônibus (espacial)”.
Founder da grife que completa três anos este mês, o designer recorda o percurso até aqui: “Sou formado em publicidade pela Universidade de Fortaleza, mas em quase toda a vida profissional trabalhei com marketing de moda. Na verdade, cresci no meio da moda, minha mãe trabalha na indústria têxtil, e sempre frequentei eventos e convivi com esse meio. Além disso, trabalhei por cinco anos como social media na Água de Coco, marca de moda praia e, em seguida, criei a Baba”.
E comenta sobre a importância de estar no maior evento da multiplataforma da moda autoral. “Nascemos no DFB Festival, em 2019, mas nossa conexão com o evento vem de muito antes. Crescemos assistindo aos desfiles e tendo a oportunidade de conhecer em primeira mão os talentos cearenses que despontavam nacionalmente graças à visibilidade que recebiam do festival. É uma honra poder fazer parte disso”, frisa Gabriel. “Acreditamos que a moda nacional esteja entendendo cada vez mais a sua pluralidade e diversidade. Hoje, nos parece maior o número de marcas que vêm identificando essa movimentação e buscado se comunicar com nichos mais específicos. A concorrência no mercado digital tem crescido, principalmente com o surgimento e crescimento de sites internacionais que oferecem moda rápida a baixo custo. Isso tem feito a moda brasileira procurar se diferenciar para se manter relevante e competitiva, investindo em peças autorais, trabalhos artesanais ou estampas exclusivas”.
Para Baquit, inovar nos últimos anos também tem a ver com resistir. “Ficar isolado do mundo por quase dois anos e, ainda assim, se manter criativo é um desafio. Em conversas com outros criadores, percebemos uma dificuldade coletiva de criar ou inovar, porque muitas vezes falta energia, motivação ou até mesmo recurso. Um dos nossos maiores combustíveis tem sido receber feedbacks positivos do público que se identifica com uma moda pop nascida no Ceará e criada a partir de referências mais tangíveis à nossa realidade. Sentir a multiplicação dessa energia de pertinência, que tanto cultivamos, nos motiva a seguir”, pontua.
“A situação socioeconômica, tanto a nível nacional, quanto mundial, não está favorável para os empreendedores do segmento de moda. Sem dúvida, essa tem sido uma das maiores dores para o setor. Em contraponto, poder exercitar a criatividade, construindo uma marca com uma linguagem na qual acreditamos, e a partir disso, conseguir formar uma comunidade de consumidores, seguidores e admiradores é, sem dúvida, uma delícia – e é o que mais tem nos inspirado”.
E finaliza: “O Nordeste sempre foi um polo produtor de moda, mas demorou a ser considerado um polo criativo na moda. Historicamente, o Sudeste sempre deteve os grandes meios de comunicação do país e, por conta disso, a cultura sudestina foi amplamente aceita na construção das nossas referências e do que seria a ‘identidade nacional’. Hoje, o meio digital tem possibilitado a descentralização da comunicação e o encurtamento das distâncias, criando espaço para que novas marcas, de diferentes origens, possam emergir, mostrando suas raízes, propósitos e linguagens, somando ainda mais à identidade contemporânea da moda brasileira”.
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