DFB 2018 – Day 1: Em um desfile polêmico e questionador sobre ditadura da beleza, Lindebergue choca ao trazer modelos enrolados no plástico filme para representar cirurgias


O Dragão Fashion Brasil é a maior semana de moda autoral da América Latina que vai trazer, desta vez, o tema ‘manifeste o seu poder’ ao lado da ideologia de fomentar todos as direções em busca da valorização cultura. O line up de ontemcontou com a marca praiana Flee! e os estilistas Saldanha, Wagner Kallieno, João Paulo Guedes, Almerinda Maria e Lindebergue. Neste primeiro dia, o que prevaleceu foi a homenagem ao gênero feminino contando com pautas atuais como amor próprio, descoberta sexual e muitos outros. Vem conferir!

Lindebergue no DFB 2018 (foto: Henrique Fonseca)

*Por Ana Clara Xavier

Já foi dada a largada para a maior semana de moda autoral da América Latina. A 19ª edição do DFB Festival foi aberta nesta quarta-feira, no Terminal Marítimo de Fortaleza, Ceará. “É verdade quando dizemos que somos o mais importante, porque nos destacamos no cenário de capacitação e empreendedorismo, número de desfiles, quantidade de alunos de faculdades envolvidos no evento e muito mais. Representamos a força do Ceará. Nós somos metidos. Nós sabemos fazer”, disparou Cláudio Silveira, diretor e idealizador do Dragão Fashion Brasil, que lidera um time de ouro junto com o seu anjo da guarda, Helena Silveira, que assina a direção executiva. A palavra de honra da vez é a pluralidade que pode ser resumida na ideia de um passeio de 360° por todos os sentidos, direções e camadas que norteiam o Brasil atual, abrangendo diversos segmentos culturais como gastronomia e música. Afinal, o primeiro dia foi só o começo da festa que terá mais 33 desfiles, 50 expositores, 14 restaurantes e entre outras atrações.  O tema ‘manifeste o seu poder’ pode ser identificado logo de cara no line-up sensacional que se iniciou com a apresentação da cantora Iza e será finalizado com a voz de Karol Conká, símbolos icônicos do feminismo e de representatividade. “Uma programação múltipla como a dessa edição tem a ver com os dois verbos que nós elegemos para nortear os 360 graus de ações do DFB Festival 2018: transformar e manifestar!”, completou Cláudio.

Cláudio Silveira é o nome que lidera o DFB Festival sob a assessoria cuidadosa de sua esposa, Helena (Foto: Davi Magalhães)

O primeiro dia já tratou de mostrar qual a proposta. As passarelas foram preenchidas pelo protagonismo feminino e a utilização de plásticos na confecção das roupas. A marca Flee! convidou o público para uma viagem pela descoberta do amor próprio da mulher, em busca de sua deusa interior, provando que ela pode ser todas as praias. Na sequência, Even Saldanha se inspirou nos ventos de Cumbuco para trazer o universo do kitesurfe para esta temporada. Logo depois, Wagner Kallieno exaltou o empoderamento em tempos de crise e até com uma pegada mais esportiva. João Paulo Guedes levou os espectadores para um passeio pelo desconhecido em meio às transições do tradicional para o moderno. O quinto desfile da noite mostrou a pureza das rendas de Almerinda Maria, que provou ser possível o mix com materiais diversos. Fechando a maratona da quarta-feira, Lindebergue soltou a voz ao criticar a ditadura da beleza e o universo da moda. Vem conferir os bastidores do maior handmade nordestino!

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Iniciando os trabalhos do dia, a marca Flee!, sob o olhar artístico de Breno Braga, resolveu enaltecer a deusa interior que cada mulher carrega consigo mesma em uma coleção de moda praia. Tendo o amor próprio como princípio, o estilista abusou do contraste entre feminino e masculino para ratificar a feminilidade de suas peças, que foram confeccionadas em um tecido de lingerie. Nas vestes, a modelagem esportiva, bolsas utilitárias e cores fortes deram o tom necessário para uma presença, também, viril. Geometria e cores diferentes ditaram o tom da passarela que ilustrou a descoberta deste ser onipresente dentro de cada um ao começar com modelos lisos e simples feitos em uma coloração mais clara, como bege, branco e amarelo até chegar em mangas bufantes e tonalidades fortes como vermelho, preto e verde musgo. O handmade está no tressê de malha e nos bordados de paetê. As lantejoulas, inclusive, são feitas de material reciclado. As roupas devem ser lançadas nas lojas pela empresa e a ideia é que sejam confeccionadas por uma comunidade cearense, ainda não selecionada, de forma a movimentar comercialmente o local e também levar este material feito por pessoas humildes para o mundo da moda.

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Da areia da praia às ondas do mar, Saldanha trouxe uma coleção fashionista inspirada no universo do kitesurf. “Quis mostrar para o público que nós precisamos nos desprender mais para assim sermos mais leves”, afirmou. As referências ao kite são muitas a começar por um trapézio, uma espécie de cinto usada pelos praticantes do exercício, colocado nos modelos. A ideia surgiu no ano passado, logo depois do término da décima oitava edição do DFB, quando o estilista estava em Cumbuco, uma região cearense que atrai muitos turistas e atletas pela prática deste esporte. A mistura de gringos e nativos resultou em uma coleção aos moldes internacionais com peças de caimento fluido. Mesmo assim existe espaço para brasilidade nos tecidos rústicos, estampas geométricas e cores fortes, como laranja, vermelho, amarelo, preto e branco, que lembram o pôr do sol. O designer levantou a bandeira do consumo consciente nesta passarela. “Fiz um trabalho muito técnico de zero resíduo nesta coleção. Qualquer sobra que teve, eu guardei para usar em outro momento. Apesar de não desperdiçar nada, não deixei de fazer peças interessantes e várias delas podem vestir de diferentes formas”, comentou. Todo o desfile foi embalado por músicas no estilo sunset.

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A mulher de Wagner Kallieno é forte, bonita, bem amada, sensual e gosta de se vestir. O estilista sempre bate ponto do DFB e, dessa vez, trouxe um desfile em tributo à feminilidade. Com looks para lá de futuristas, o designer se baseou na visão progressista que as jovens dos anos 80 e 90 possuíam. O verde, o vermelho e o amarelo foram as tonalidades da coleção que abusou do brilho em materiais como vinil, couro, animal print, pele e sportiva pro. “Hoje em dia se fala muito da mulher empoderada, mas a minha sempre foi assim. O que mudou desta vez é o olhar esportista sobre o assunto, com muitos materiais da área, o que ajudou a rejuvenescer as peças. Nós vivemos em momento tão conturbado, seja politicamente ou socialmente, que eu queria fazer o gênero se sentir bem e feliz, independentemente de qualquer coisa”, afirmou. E ele conseguiu ao mostrar nas passarelas uma silhueta justa e alongada com materiais rígidos.

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João Paulo Guedes quis, no quarto desfile do dia, esconder. O estilista se baseou no conceito da ilusão, para brincar com o espectador de forma a não conseguir diferenciar o tradicional do moderno. Para isso, ele lançou mão de listras e transparências, elementos que ajudam a passar este efeito. A transição do velho para o novo instigou uma vontade do estilista em trazer um desfile mais clean e contemporâneo e, por isso, as peças foram tingidas de vermelho, azul, preto e branco. Alguns tecidos utilizados foram importados da Itália, enquanto os outros eram feitos de neoprene, telas e vinil. O harstyling seguiu a pegada moderna com o uso do cabelo molhado e a make com muito blush.

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Direto do contemporâneo, Almerinda Maria trouxe para as passarelas do DFB Festival 2018 a união perfeita de duas rendas clássicas: a labirinto e a renascença. “Percebi que fazer moda com renascença era muito fácil. O difícil era fazer um casamento entre uma renda super valorizada com outra e deixar as duas em harmonia. Foi nesta hora que decidi fazer um mix”, explicou. O resultado é uma confecção que explicita o handmade com muita transparência para valorizar o trabalho. Todas as peças demoraram 60 dias para serem feitas. A make destacava o rosto das modelos seguindo um estilo dramático. O resultado foi uma passarela que transbordava feminilidade nas tonalidades rosa, branco e vermelho.

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O show de críticas ficou para o final. Lindebergue fechou com chave de ouro o primeiro dia do evento com uma coleção que serviu de manifesto à a ditadura da beleza. O foco do trabalho do estilista foi, na verdade, muito mais a figura humana do que a roupa. A ideia era trabalhar com muito plásticos, transparência, linho e jeans fazendo com que o público visualizasse muito mais a pessoa por baixo dos panos, com suas imperfeições. “Utilizei materiais mais rígidos como o vinil, que não tem um caimento, para exaltar a rigidez do momento que estamos vivendo politicamente no Brasil, assim como o preconceito”, disparou.  Ao mesmo tempo, ele também tentou trazer humor e alegria através das cores e da trilha sonora para lá de eletrônica. O boom do desfile foi a presença de objetos transparentes na cabeça dos modelos. “Como estamos falando da beleza doentia, tentamos fazer com que parecesse que as meninas saíram de uma cirurgia plástica. Por isso muitas delas apareceram de atadura e plástico filme no rosto. Procuramos manter esta ideia na pele das modelos criticando esta estrutura artificial”, informou. Para finalizar, ele fez algumas pinturas em aquarela que representaram os órgãos sexuais masculinos nas roupas e estas foram usadas pelo elenco feminino e o mesmo aconteceu só que ao contrário.