Na moda, a inovação, qualidade e reconhecimento são a tônica. É assim que trabalha a grife Hagaef do Espírito Santo. Com 30 anos de história, a marca tem um trabalho exclusivíssimo e desenvolve modelos que são vendidos com a etiqueta de grandes grifes pelo Brasil, mas com origem na criação do trabalho de Nazaré e Bia Comério. Mãe e filha, as designers são responsáveis pela marca que foi destaque no Vitória Moda 10 Anos, realizado no começo do mês. Na passarela capixaba, a Hagaef fez seu quarto desfile na fashion week e mais uma vez surpreendeu com uma coleção rica em detalhes, conceito e estilo. Para entender a história da grife que tem acendido os holofotes da moda do Espírito Santo no cenário da moda nacional, o site HT conversou com a idealizadora desta trajetória que acumula experiências e sucesso: Nazaré Comério.
A história
Divertida, profissional e super talentosa, a diretora de criação da Hagaef fala do passado para justificar a situação positiva do presente. Formada em Artes Plásticas, Nazaré contou que a grife começou com a produção de roupas apenas para o público masculino, principalmente infantil. Desde o começo da empresa, ainda nos anos 1980, a Hagaef já imprimia uma característica ainda muito viva hoje em dia: a estamparia. “A gente começou trabalhando muito com serigrafia. Os nossos produtos eram basicamente T-shirts estampadas para os meninos. Porém, nos anos 1980, nós passamos pelo boom do poliéster e, com isso, a queda do algodão na fabricação dos tecidos. Então, tivemos que comprar grandes quantidades de material para que a gente tivesse uma boa variedade para seguir produzindo nossas T-shirts”, lembrou.
Mas, com essa mudança de estratégia, Nazaré Comério passou a viver uma outra situação. Com um estoque muito maior do que o realmente necessário, a empresa começou a viver uma crise interna econômica e, para sobreviver, precisou se reinventar. “Foi então que vimos que era preciso fazer alguma coisa. Ao invés de termos a nossa marca, passamos a trabalhar com serviço private label. Ou seja, nós desenvolvemos modelos que serão distribuídos por outras marcas e não terão a nossa etiqueta”, explicou sobre a mudança que dura até hoje.
Desta forma, a Hagaef conseguiu contornar o estoque exagerado e passou a ganhar força no mercado. Com as novas marcas interessadas nos produtos da grife de Nazaré Comério, a empresária se viu em um novo panorama. Cada vez mais, os clientes pediam por roupas femininas desenvolvidas pela diretora de criação. E ela seguiu em frente. “A gente foi se aperfeiçoando, entendendo melhor como funcionava e fomos crescendo neste mercado”, contou Nazaré que hoje em dia faz diferentes modelagem e, além da serigrafia que originou toda a marca, também abre espaço para a estamparia digital.
Entre os aprendizados, Nazaré Comério contou que desenvolveu uma ampla experiência no mercado da moda. Hoje, com a empresa consolidada, diversos clientes e uma reconhecida representação no mercado do Espírito Santo, principalmente, ela destaca a importância de todo o passado de amadurecimento da Hagaef. “Tudo o que eu vivi foi bom para que pudesse ter o know how que possuo hoje em dia. O meu trabalho é guiado por um conhecimento muito maior em diferentes áreas. Então, cada passo que damos nos ajuda a evoluir e crescer”, apontou.
O estilo Hagaef
No entanto, apesar de ter incorporado novas propostas, modelagens e tecnologia à marca com o passar dos anos, Nazaré Comério acredita que um ponto continua intacto desde a criação da Hagaef. Sempre preocupada em inovar, os desenvolvimentos dos produtos da grife são guiados pelo conceito de fazer o diferente. Sempre. “Seja na modelagem, na qualidade, nos tecidos ou no acabamento, a gente quer sempre se destacar por uma proposta mais moderna e inovadora. No fundo, o principal objetivo de cada peça é que ela desperte o desejo de compra em todos”, explicou.
Com uma ideia tão consolidada, um reconhecimento no mercado e uma bagagem invejável, Nazaré Comério garantiu não ter a ambição ou a vaidade de voltar a ter apenas uma marca própria. De acordo com a empresária e diretora de criação da Hagaef, o modelo de private label explorado pela grife hoje é um case de sucesso. “Eu já tive uma marca e sei como tudo funciona. No formato que eu trabalho hoje, não fico me desesperando com faturamento de pedido e tudo mais que uma marca demanda. A minha preocupação é com a modelagem e o desenvolvimento do produto. Então, para mim, rende muito mais trabalhar desta forma e assim garantir um bom atendimento aos meus clientes. Afinal, com eles satisfeitos, eu também fico”, concluiu.
A estrutura
Para que toda esta engrenagem funcione, Nazaré Comério contou que possui a colaboração de 35 funcionários em sua empresa. Distribuídos por setores, a empresária possui profissionais nas áreas de desenvolvimento de produto, estamparia, corte, costura, acabamento e administração. “Tudo o que precisamos para garantir a produção das roupas a gente tem dentro da empresa. Quando trabalhamos com oficinas externas, é apenas para mais costureiras. Então, com exceção de bordado, a gente faz de tudo um pouco”, disse.
O Espírito Santo no cenário da moda nacional
Porém, a experiência de 30 anos no mercado de moda de Nazaré Comério mostra que às vezes a dificuldade pode estar na geografia do negócio. Fora do eixo Rio-São Paulo, a empresária comemorou a visibilidade que possui hoje em dia. Segundo ela, a expansão da marca começou a alavancar depois que a grife entrou para o line-up do Vitória Moda, fashion week capixaba que completou uma década em 2017. “No começo, nós não podíamos desfilar. Depois que entramos, queríamos mostrar na passarela tudo o que somos capazes de fazer. E foi assim que fomos crescendo. Depois do nosso primeiro desfile, começamos a ter diversos novos clientes e jornalistas e blogueiros interessados no nosso trabalho”, contou Nazaré que destacou que as parcerias pós-Vitória Moda foram fundamentais para aumentar a visibilidade da marca no mercado de private label.
E não é só o Espírito Santo que vem ganhando importância na moda brasileira. Hoje em dia, pelo país, temos diversos exemplos de fashion weeks regionais que já são referência, como, por exemplo, o Minas Trend e o Dragão Fashion Brasil. “Eu vejo que aqui no Espírito Santo a nossa moda está despontando cada vez mais. A cada ano que passa, o Vitória Moda tem mais gente querendo participar e ainda mais qualidade na passarela”, avaliou Nazaré que também destacou um ponto que precisa de atenção, em sua opinião. “Porém, eu também venho percebendo que algumas grifes não estão se preocupando tanto com a parte conceitual dos desfiles. Tem marca que parece que apenas pegou a coleção da loja e colocou na passarela. Mas não pode ser assim. É preciso construir uma história a partir de uma temática e explorar isso de forma conceitual também, além da comercial, que também é importante”, apontou.
Esta consciência de Nazaré Camério não é por acaso. Além de sua formação e da experiência como professora do cenário fashion, a empresária e diretora criativa da Hagaef também é fã de Ronaldo Fraga. Conhecido por um trabalho icônico, o estilista é a inspiração de Nazaré no mundo da moda. “Com ele, eu entendi que preciso contar uma história na passarela”, completou Nazaré que, além disso, ainda busca marcar suas criações com toque de modernidade.
Hagaef e Vitória Moda
No ano em que o evento completou uma década, Nazaré Comério tinha o desejo de surpreender. E, para um público que chegou a seis mil pessoas na fashion week da capital capixaba, a diretora de criação da Hagaef, de fato, colheu os louros. Na passarela, a grife foi além de seu objetivo de mostrar o que é capaz de fazer para seus clientes e transformou em roupa um protesto da população. Naquele conceito de contar uma história na passarela, Nazaré foi do drama à esperança em um equilíbrio de impressionou o público. E não apenas no quesito roupa. “Nós fizemos um protesto contra tudo o que o Espírito Santo passou nos últimos tempos. Então, nosso desfile começou com a lama da Samarco que destruiu o Rio Doce, depois o protesto que sucedeu a tragédia, o caos que ficou a cidade quando a Polícia Militar entrou em greve e passamos a morar em uma guerra e, por fim, a religiosidade. Para este momento de fé, nós nos inspiramos no Convento da Penha e fomos buscar a paz em Nossa Senhora”, explicou.
Do caos ao frescor, Nazaré Comério traduziu o que aprende a cada desfile de seu ídolo da moda brasileira: Ronaldo Fraga. No Vitória Moda, a diretora de criação da Hagaef construiu uma unidade em temáticas diferentes, mas que tinham estilos e particularidades similares. “Boa parte do desfile foi pautado no militarismo como modelagem predominante. A única mudança foi quando entrou a religiosidade, que tinha a proposta de ser mais leve. No entanto, nossa ideia não era mudar radicalmente para algo super fluido e, por isso, mesmo com a proposta de leveza, exploramos o jeans, por exemplo”, detalhou.
Outro ponto que também destacou a apresentação da Hagaef no Vitória Moda foi o casting que Nazaré Comério apresentou. Entre as modelos, um casal de idosos, um tatuado e uma grávida. “A gente queria fazer algo diferente em todos os sentidos. Então, pensamos em ter um cast de pessoas reais”, contou a empresária que, por exemplo, no caso da grávida, precisou recriar uma ideia anterior. “Nós queríamos mesmo era pôr uma criança na passarela. Mas, como isso demandaria uma super burocracia do Juizado do Menor, decidimos representar a criança através da mulher grávida”, apontou a solução.
Os próximos passos
Na quarta experiência no Vitória Moda, a Hagaef de fato foi um dos principais destaques do line-up. Completa, inovadora e atenta a todos os detalhes, a coleção foi um sucesso entre clientes, fashionistas e jornalistas de moda. Aliás, a repercussão foi tão boa que Nazaré Comério contou estar passando por um problema saudável. “Eu tenho um monte de gente me procurando querendo comprar as peças que desfilamos na semana de moda. Mas, tudo aquilo é peça única, que não está disponível para venda”, disse a empresária que explicou que o que ela apresenta no evento é apenas para mostrar de tudo o que a grife é capaz de fazer para seus clientes. “Se uma marca quiser fazer uma releitura de determinado produto, ótimo. Mas, aquelas eu não vendo”, brincou Nazaré que tem planos de fazer uma exposição com essas obras de arte de vestir.
Passada a euforia da fashion week, Nazaré e a equipe da Hagaef voltam a se dedicar às coleções de seus clientes. Até a próxima edição do Vitória Moda, a diretora criativa contou continuará seu caminho de inovações e redescobertas no cenário da moda para seguir surpreendendo e crescendo no mercado de private label. Afinal, em um país de panorama instável, os detalhes são fundamentais para garantir a sobrevivência. “Nós precisamos ser sempre criativos e colocar a nossa personalidade naquilo que estamos fazendo. Então, o tempo todo estamos buscando novos clientes, tecidos, tecnologias e elementos que nos permitam crescer e fazer o diferente. Este é o nosso desejo e a nossa verdade”, afirmou a diretora de criação da Hagaef, Nazaré Comério.
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