Faya sempre gostou da figura humana. Desde criança, enquanto brincava por entre os livros de anatomia dos pais médicos, ele já dava os primeiros passos – ou rabiscos, ao desenhar pessoas em qualquer pedaço de papel que achasse pela frente. Mal sabia que esse seria seu material do futuro. Formado em desenho industrial na PUC-Rio, chegou a trabalhar na área, mas a vida o colocou de frente com sua verdadeira paixão: a fotografia. “Meu primeiro contato com as câmeras foi na faculdade. Depois, fui estudar belas artes em Nova York e, mesmo na escultura, cerâmica, eu sempre ia pelo mesmo tema: a figura humana. Trabalhei como diretor de arte por muito tempo e a fotografia acabou sendo algo para dar vazão à minha vontade de registrar pessoas, porque no meu trabalho como designer isso não era o mote principal”, relembrou.
Foi em 2005, ao desfazer a sociedade da empresa, o hobby virou profissão. “Dois dias depois de fechar a agência me orçaram um trabalho de fotografia que eu ganhei muito mais do que com os sócios. Foi um estalo naquele momento. O que eu levava em paralelo, de tirar fotos de amigos, ficou sério. Com o dinheiro, comprei uma câmera de verdade, porque eu usava emprestadas. No final do mesmo ano, surgiu a oportunidade de trabalhar em um estúdio na Itália, inicialmente na parte de tratamento de imagem. Fui para Milão, fiquei um tempo e, enquanto não estava trabalhando, fotografava modelos que estavam começando. Em 2006, quando voltei para o Brasil com esse porfólio, o próprio material me direcionou para o mercado que estou hoje”, explicou, emendando que considera um privilégio ser pago para fazer algo que ama. “Consegui ganhar dinheiro com o que era hobby e isso foi por causa de uma ruptura quase que obrigatória com o mundo do design”, analisou.
Com a vantagem de trabalhar com o que gosta todos os dias, Faya acredita que o único lado ruim da profissão são as práticas de mercado de uma carreira ainda pouco valorizada. “A parte chata são clientes que tentam tirar proveito indevido, forçar negociações injustas. Isso me desgasta até mais do que as concorrências desleais. A fotografia não é regulamentada, então qualquer pessoa com uma câmera se diz fotógrafo, mas o problema não é nem técnica, porque pode-se tirar boas fotos, mas a prática do mercado mesmo. Um cliente contrata e a pessoa não determina o que está fazendo, o que vai entregar, não se protege com direitos autorais e, com isso, deseduca o mercado. Isso é o que perpetua as práticas nocivas”, explicou. E ele gosta de educar. “É difícil explicar que fotografia de moda é um trabalho de publicidade. É uma campanha publicitária que, por acaso, o tema é moda. O cliente tem medo dos termos, acha que isso encarece, mas é só o jeito correto de falar. Como alguns fotógrafos entram crus, a paixão acaba falando mais alto do que o negócio e ele não aprende a marcar preço, não se capacita. Assim, fica difícil se equipar, manter um estúdio”, analisou.
Ainda assim, apesar de ter o seu próprio espaço, Faya não acha que isso é essencial para uma boa carreira. “Não sei se é tão necessário. A vantagem é que podemos nos dar ao luxo de experimentar coisas, tem o conforto. É um lugar pra armazenar equipamentos, mas eu faço muita foto externa também. Não sei se é uma vantagem significativa. Não prefiro estúdio ou externa, prefiro boas ideias com boas produções, equipes, modelos, maquiadores”, disse ele, que gosta de trabalhar com quem confia. “Uma boa foto não é trabalho de uma pessoa só. É uma junção de especialidades. Precisa de boa modelo e as etapas que têm de ser cumpridas da melhor forma possível. É um dia em harmonia com pessoas atuando, se não tiver entrosamento, sintonia e profissionalismo, uma coisa derruba a outra. Dificilmente quando eu posso montar uma equipe vou trabalhar com quem não conheço. Deixo pra conhecer em projetos experimentais, autorais. Faz toda a diferença trabalhar com quem a gente gosta. A produção bem feita é grande parte do trabalho”, defendeu.
Da carreira de designer, Faya ainda carrega a veia de diretor de arte. Prova disso são as cenas que cria, todos os dias, dentro ou fora de seu estúdio. “Eu nunca me envolvi com o fotojornalismo para migrar para eventos sociais, corporativos ou casamentos. Tenho a necessidade de controlar o ambiente, interferir. Há uma diferença entre o fotógrafo que lida com o aspecto criativo e o fotojornalismo. Um cria as próprias cenas e o outro acompanha as que vão acontecer independente dele. Eu não gosto da adrenalina de ter que captar o momento específico, prefiro a direção. A figura humana no ambiente que eu controle”, explicou ele, que acredita que quem quer ser um bom fotógrafo tem que se cercar de referências. “Tem que capacitar o cérebro para começar um processo criativo do zero. Ser fornecedor de ideias, estar antenado no que tange o universo, em movimentos artísticos, experimentar, trazer inovações. O bom fotógrafo é quem consegue transformar a ideia crua do cliente em algo material. Precisa acumular experiências sensoriais diversas e ser tradutor disso em imagens”, sintetizou.
E se a fotografia é arte, ele sabe como ninguém ser artista. “Eu considero, sim, uma forma de fazer arte. É uma ferramenta de expressão, de comunicar o que eu acho importante”, disse. Falando em causas, Faya já clicou as mais diversas. “Já fiz campanhas de câncer de pele, de mama, violência. Há pouco cliquei uma série de pessoas se beijando para uma campanha de liberdade na arte e na vida. Nela, citávamos a importância da liberdade de expressão das questões de afetividade”, explicou ele, emendando que recebeu críticas. “É um tema ainda cru. Há a boa receptividade, mas também rejeição e são essas críticas que comprovam a necessidade da campanha”, analisou. Com ou sem críticas, Faya continua fazendo o que acredita. “Pretendo usar a fotografia, que é a minha forma de comunicar, para dar suporta a toda e qualquer mensagem que eu ache relevante”, garantiu.
Com 15 mil seguidores em apenas uma de suas redes sociais, Faya não se deslumbra com números. “As relações online são fugazes. Os números altos são consequência. No Rio fotografamos muita gente famosa e eles postam e os outros te seguem. É uma relação viciosa ou virtuosa, ainda não descobri. Mas não é aquilo de ter mais trabalho. Não é negativo, mas não dá para achar que é muito representativo”, disse. Ainda assim, ele consegue enxergar muitas vantagens no mundo virtual. “É um futuro promissor, porque hoje tudo é foto. Na época que eu comecei já tinham mídias sociais, mas não na palma da mão com internet acessível. O lado negativo é a inércia de pessoas seguindo outras em grandes quantidades, mas também não difere de quando os formadores de opinião eram basicamente as revistas”, analisou ele, que considera a web uma saída para novas linguagens. “Os cadernos de moda são bem similares e o universo de mídias virtuais estão ocupando o vazio da saída do material impresso. As placas tectônicas voltam a se encaixar”, disse.
Com dois projetos de exposição atualmente, Faya ainda sonha em mergulhar de cabeça no mercado autoral. Expondo e vendendo suas obras em uma galeria nova em São Paulo, a ArtShot, ele planeja ir além. “Esse mercado de projetos pessoais tem crescido muito. É uma gratificação diferente. Amo quando algo me inspira, eu desenvolvo, materializo, transformo em algo, vejo ficar pronto e alguém, posteriormente, se encanta e quer comprar. É uma ideia 100% minha, até um trabalho egoísta, mas me expressa integralmente”, disse. Hoje, ele se dedica aos retratos em preto e branco dentro de uma linguagem lúdica de desfoque e movimento e um projeto com o maquiador Rafael Senna, de registros de texturas e formas de corpos femininos de vários tipos físicos.
Os muitos planos são concretizados dia após dia, já que Faya pensa a curto prazo. “Não sei onde estarei daqui a dez anos. Olhando dez anos para trás não me via aqui hoje e é exatamente esse o tempo que eu tenho dentro da fotografia. Não sei se vou estar no Brasil, como vai estar o mercado, se ele vai me direcionar para algo. Espero que eu esteja com um bom fluxo de trabalho e conseguindo mais tempo e espaço para trabalhos autorais”, disse. Nós esperamos vê-lo muito por aí.
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