Intensa e com muitas tendências, cores e bordados, a quarta-feira encerrou os trabalhos na passarela do Minas Trend. Ontem, acompanhamos mais uma maratona de seis desfiles que apresentaram as criações para o Inverno 2018. Na passarela, foi a vez de a Bobstore, LED, Ronaldo Silvestre, Chocker, Anne est Folle e Manzan revelarem suas apostas para a estação e como traduziram as mais diversas inspirações, que foram de Pierrôs, Colombinas e Arlequins às lingeries dos anos 1930 e 1940. O dia ainda foi marcado pela presença de Sophie Charlotte que desfilou para a grife Bobstore. Em uma mistura de animação e nervosismo, a atriz também conversou com a imprensa e nós contamos sobre isso aqui. Voltando à passarela, vem que a moda mineira sempre surpreende e acerta aqui no Minas Trend.
Bobstore
Que alfaiataria! Com 20 anos de história, a Bobstore desfilou uma coleção elegante e moderna de uma alfaiataria primorosa. Na estreia da dupla André Boffano e Sam Santos na criação das peças, eles potencializaram a identidade chique da marca e trouxeram um pouco de contemporaneidade e desconstrução para alguns looks que, além da alfaiataria, foram certeiros no tricô. De acordo com Adriana Bozon, diretora criativa do grupo Inbrands a chegada de André e Sam para a criação da Bobstore agregou um olhar fresco e jovem à tradicional marca da moda brasileira. “Eles trouxeram um pouco mais de assinatura para a marca. Nesta coleção, temos pecas sutilmente mais elaboradas, com recortes e aviamentos em locais inesperados. Eu acho que isso é o grande benefício do olhar de um estilista novo em cima de uma maison. É um touch que faz toda a diferença”, avaliou.
Inclusive, Adriana Bozon se declarou muito satisfeita com a nova parceria da marca. No Minas Trend, a Bobstore lançou a primeira coleção da marca assinada pela nova dupla. E em casa, já que eles também são de Minas Gerais e tiveram sua primeira experiência autoral na passarela, com a grife Modem, também na fashion week do estado. “É muito bacana para uma marca como a Bob, que tem 20 anos de trajetória, ter no time dois jovens estilistas com um olhar fresco para a coleção. A moda é isso, precisamos estar sempre mudando”, disse.
Sobre esta coleção tão comemorada nos bastidores, a Bobstore mergulhou fundo na alfaiataria e em um tricô super trabalhado. Com pegada minimalista, a grife investiu naquela ideia de que menos é mais e apresentou uma coleção limpa, porém elegante. Nas cores, a combinação de preto e tons terrosos deram o tom da passarela. “Preto no inverno é unânime. Para o dia e para a noite, não tem quem não use uma peça escura. Mas também temos um pouco de tons terrosos que clareiam a coleção e trazem um pouco mais do aspecto dia que faz parte da identidade da Bobstore”, explicou Adriana.
Além disso, os materiais também passearam entre a tradição clássica e a contemporaneidade jovem. Para esta coleção, a grife ultrapassou as barreiras do couro como aposta e trouxe também o jeans na cartela de tecidos da alfaiataria. E deu super certo na passarela. “A gente quis mostrar as diferentes possibilidades de alfaiataria, o que é bem interessante. Temos opções mais acentuaras, quadradas, trecho coat e até em jeans”, contou a diretora criativa do grupo A.Brand.
LED
Depois de estrear na São Paulo Fashion Week em um coletivo de novos talentos da SEBRAE, a grife LED pôde mostrar em casa mais um filho desta potência que é a moda mineira. No Minas Trend, Célio Dias, estilista da marca, deu continuidade à inspiração que apresentou em São Paulo e não arrumou nada em sua mente criativa. Isso porque, para o Inverno 2018, o mineiro trouxe a confusão da palavra “Mixórdia”, que também é o nome da coleção, para as peças. Inclusive, foi nesta proposta de mistura de ideias que Célio agregou o DNA fashion de seu berço da moda sem que ferisse a identidade de sua moderna marca. “A gente trabalhou com materiais que não tínhamos costume na marca para criar uma bagunça de texturas. Então, temos crochês e bordados em um patchwork que representa a identidade da moda mineira, mas sem pedra e brilho”, contou.
Neste trabalho de patchwork, Célio Dias também incorporou o conceito de reciclagem. Com retalhos de tecidos descartados pela indústria ou pelas confecções, o estilista criou um lindo efeito na passarela que também tinham as cores como aliadas. Sobre esta cartela, Célio explicou que não segue as apostas de cada estação. De forma experimental, ele escolhe as combinações e depois vê se deu certo ou não. E neste caso, o estilista foi certeiro. “Nós não temos estação dentro da marca e nem seguimos uma paleta de cores da indústria. A cartela foi escolhida de acordo com o que eu acredito ser o bom e, assim, às vezes bate e outras não. Então, foi uma seleção que surgiu de maneira orgânica e foi ainda mais potencializada por minha vontade de pôr cor em uma coleção de gênero livre”, comentou.
Por falar nisso, a LED é uma das marcas engajadas e que pregam a diversidade neste cenário moderno da marca. Nas coleções, as roupas são desenhadas para quem se sentir bem nelas. No entanto, Célio Dias criticou o uso do termo agênero para a marca e, como ele diz, prefere chamar esta identidade de gênero livre. No Minas Trend, mais do que mostrar seu talento na passarela do estado, o estilista mineiro também pôde bater em uma tecla super contemporânea e necessária para empoderar ainda mais os movimentos contra a homofobia. “É muito importante essa abertura que o Minas Trend dá para as marcas. Nós conseguimos mostrar na maior plataforma que temos em nosso estado que a gente também sabe fazer uma moda diferente. Isso é fundamental e vai ao encontro do que eu acredito”, avaliou o estilista da LED que apostou no humor para defender esta ideia. Na coleção, além de modelos homens com as unhas pintadas de vermelho, Célio Dias também desfilou a expressão “Bicha PWR” estampada em uma t-shirt.
Chocker
É Carnaval na passarela do Minas Trend! No desfile da Chocker, a grife nos levou para a festa de Veneza em uma inspiração que teve os Pierrôs e Arlequins e as Colombinas como guias das criações. Seguindo o DNA da marca de combinar o passado com o presente, sem esquecer de toques do futuro, Fernando Silva, que assina o Estilo da Chocker, mergulhou em uma pasta que estava indo para o lixo em sua casa. E foi dali que uma rica e divertida coleção surgiu. “Uma vez, eu estava na casa dos meus pais, antes de começar a desenhar a coleção, e minha mãe estava fazendo uma faxina e jogando tudo for. Aí, eu achei uma pasta de papel de carta da minha irmã da década de 1980 que tinham várias ilustrações de uma artista japonesa que fez sucesso fazendo pierrôs, arlequins e colombinas”, lembrou o estilista.
Assim, com um pouco de memória afetiva e muito talento, Fernando Silva traduziu o conceito da Chocker em uma coleção que marcou a estreia da marca nas passarelas do Minas Trend. “A inspiração surgiu como consequência do propósito da marca. Na Chocker, a gente sempre faz um resgate retrô, mas sem cara de brechó. Apesar deste aspecto do passado, as coleções têm cara de 2017 e 2018. É o aqui e agora”, comentou Fernando Silva que explicou como traduziu esta ideia. “Eu quis trazer um resgate vintage na estamparia, nos bordados e acabamentos, mas com a inovação dos tecidos. Então, temos moletom, couro e tecidos tecnológicos na cartela. Ou seja, eu trago a ideia de modernidade com modelagens atualizadas e desconstrução de peças ícones dos anos 1950 e 1970 com pegada streetwear”, detalhou.
Em uma proposta mais gelada, como definiu o estilista, a Chocker passeou pelos tons de off-white, preto, azul e rosé, que traduzem a cartela de cores usada nas roupas dos Pierrôs e Arlequins. E ele fala disso com propriedade. Além do estudo teórico para a coleção, Fernando Silva também resgatou na memória suas viagens a Veneza. Inclusive, há quatro anos, o estilista passou o Carnaval na cidade italiana, o que contribuiu bastante para o desenvolvimento da coleção de inverno da Chocker. “Em 2013, eu participei do Carnaval de Veneza e fiquei super encantado com a atmosfera da cidade. Ao mesmo tempo que é um local com atmosfera histórica e antiga, tem modernidade também”, disse.
Além das roupas, a Chocker também desfilou acessórios e sapatos com a etiqueta da própria marca. Nos pés, os slides com pelo fake e os mules com pompons e olhos das máscaras de Veneza, que também estamparam bolsas, colarinhos e punhos da coleção, deram graça e charme à temporada da Chocker. Nós amamos!
Ronaldo Silvestre
Dando continuidade ao line-up de ontem, o Minas Trend teve um de seus maiores talentos estreando na passarela da fashion week. De Itabira, no interior do estado, Ronaldo Silvestre é um dos melhores exemplos de estilista que vem subindo degrau a degrau na moda nacional com a força e o incentivo. Em sua primeira participação no Minas Trend, ele marcou presença no concurso Ready to Go, que reúne novos talentos em um estande coletivo e a marca mais votada por um júri especializado ganha a chance de um espaço próprio. E foi isso o que aconteceu. Na edição passada, Ronaldo Silvestre teve seu primeiro espaço no Salão de Negócios do Minas Trend e, agora, ele estreou como parte do line-up da fashion week. “É um processo de construção e evolução dentro de todos os valores que eu acredito, que são o slow-fashion e a moda artesanal. É como olhar para dentro, para tudo o que a gente acredita, e fazer das coleções um estilingue, que quanto mais fundo a gente mergulha nas lembranças e inspirações, mais riqueza e sentimento a roupa transmite”, disse.
Neste début nas passarelas, Ronaldo Silvestre apresentou uma coleção cheia de sentimentos para ele e para nós. Inspirado pelo conto “Maio – a Perigosa Yara”, de Clarice Lispector, ele contou que tudo começou a partir de uma peça dada de presente à Heloisa Tolipan. Testemunha do crescimento do estilista dede o começo da trajetória, a jornalista foi o ponto de partida da coleção apresentada ontem na passarela do Minas Trend. “Desde quando eu comecei, venho trazendo a ideia de que eu preciso fazer uma peça para a Heloisa. E, nessa temporada, isso aconteceu. Quando eu desenhei o primeiro protótipo, pensei nela na hora. Sem ela saber, foi aquela peça que inspirou as formas e toda a coleção que eu desenvolvi para a temporada”, lembrou.
Quem também motivou as curvas e a criação de Ronaldo Silvestre para a temporada foi a associação do estilista do tema com sua cidade. Assim como a personagem de Clarice Lispector, ele também quer ser fonte de boas novas – ou de paixão – para sua cidade, Itabira. “Ela fala muito dessa aparição em todo mês de maio nas águas no sentido de se apaixonar, mas pensando muito no foco do que eu poderia trazer de riqueza para o interior, para Itabira, onde eu nasci”, explicou.
Em termos práticos, Ronaldo Silvestre traduziu toda essa mistura de sentimentos em peças que reforçaram seu DNA na moda. Nesta temporada, o estilista seguiu com criações mais estruturadas e que possuem os conceitos de organicidade e sustentabilidade nas entrelinhas. Em parceria com a Capricórnio Têxtil, Ronaldo Silvestre deu nova utilidade a retalhos de jeans e os reaplicou com bordados nas peças da coleção. “O jeans é o meu material principal pela parceria com a Capricórnio Têxtil e ele conversa com todos os outros tecidos da coleção, como seda, malha, moletom e artigos esportivos”, explicou sobre as criações que tiveram uma cartela mais escura e a proposta de atender às necessidades casuais e de alto luxo.
Anne est Folle
A multiplicidade e a pluralidade de experiências fazem parte do conceito de inspiração da Anne est Folle. É mais ou menos isso o que Renato Manso, estilista da grife, defende a duas temporadas na passarela do Minas Trend, desde que retornou ao line-up do evento. “A gente não tem inspiração. O trabalho da marca é guiado por um apanhado de ideias que vamos acumulado ao longo do tempo. É uma coletânea de informações de várias épocas, lugares e artistas”, disse a estilista.
No entanto, desta vez, teve um nome que ganhou destaque em meio às múltiplas experiências que Renata Manso acumula na vida. Amante das artes, a estilista ressaltou os recentes trabalhos do pintor britânico David Hockney em sua coleção para a Anne est Folle. “Eu observo muito a arte para fazer as estampas. Nesta coleção, eu me inspirei bastante em um trabalho do David Hockney que eu vinha acompanhando para poder criar e escolher as cores”, contou.
Em relação às cores, mais uma vez, Renata disse não ter regras. Com ela, a escolha é instintiva e espontânea. Sem seguir cartela da estação ou qualquer conceito que delimite essas opções, a estilista garantiu seguir apenas o feeling e, mesmo assim, ter um resultado harmônico no final. “Eu defino uma paleta que não é limitada. Eu trabalho sempre com muitas cores e, durante o processo, tento ficar dentro daquela harmonia que eu previ. No final, mesmo eu tendo uma cartela enorme de tons, estampas e texturas, acabam que as cores se conversam entre si. Eu confesso que não sei se é um lado espontâneo meu que acaba funcionando ou uma coincidência criativa”, afirmou a estilista que comparou o processo a pintar um quadro.
Por fim, quando o assunto foram as modelagens apresentadas na passarela do Minas Trend, Renata Manso, desta vez, soube limitar sua criação. No desfile da Anne est Folle, nada de roupas ajustadas e muito coladas no corpo. “Mesmo as estruturadas, as roupas são bem amplas e super fluidas. Nos casacos, temos um corte mais reto e, em alguns vestidos, uma barra cropped que marca o pé”, disse Renata Manso.
Manzan
Mais uma vez, o dia de passarela no Minas Trend terminou em alto luxo. Ontem, mais do que fechar o line-up de quarta-feira, a Manzan encerrou o catwalk da 21ª edição da fashion week mineira. E em grande estilo. Para a temporada, Letícia Manzan, estilista da marca, trouxe luxo, bordado e design autoral em uma coleção que combinou a moda urbana com a classe vintage. “O inverno está uma mistura muito divertida. Tudo começou com a ideia do fetiche e, a partir disso, pegamos o universo de Boudoir e as lingeries dos anos 1930 e 1940. Só que como a marca tem uma pegada street e é jovem em sua identidade, nós misturamos tudo e resultou nesta coleção. Então, foi um trabalho muito diferente, rico e que teve a combinação de matérias-primas bem apurada”, contou Letícia.
Neste sentido, a estilista combinou tecidos leves e mais pesados em uma harmonia guiada pelo feito à mão. Amante do trabalho artesanal de alto luxo, Letícia Manzan foi além dos bordados de pedraria em sua coleção e apostou em múltiplos materiais para enriquecer o trabalho de sua grife para o Inverno 2018. “Eu amo handmade e quis trazer para a coleção uma variedade de bordados, não só o de pedraria. Então, temos plumas e lãs que foram bordadas em tecidos como crinol, seda pura, moletom e lamê, um tecido bem fluido que nessa coleção ganhou aspecto metalizado”, detalhou.
Em relação às cores, a coleção da Manzan traduziu esta mistura de clássico e moderno com uma boa pitada de sensualidade em tons como marsala e o tradicional preto. No entanto, Letícia Manzan não abriu mãos das apostas da estação e também trouxe o verde petróleo e o cinza mescla. Para completar, o rosé volta à cartela da grife e consolida o tom como parte da identidade da marca. “Eu gosto muito de uma cartela mais intensa para o inverno”, acrescentou a estilista.
Assim, com cores, bordados e texturas, a Manzan mergulhou na temática sexy sem esquecer de identidade urbana. O tempo todo, Letícia destacou a preocupação na criação em agregar os dois conceitos e, para isso, definiu um elemento como unanime e fonte de sensualidade para o DNA street da marca. “O grande trunfo do desfile foi a modelagem de corselete. Assim, a gente conseguiu colocar um moletom gigante cinza mescla, mas que fosse combinado com uma estrutura mais sexy. Além disso, tivemos shapes de camisolas, robes e as transparências”, disse Letícia Manzan.
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