De erro da internet ao caos urbano contemporâneo, a terça-feira foi marcada por uma pluralidade de conceitos e apostas na passarela do Minas Trend. No dia que teve a apresentação de seis grifes que também estão no Salão de Negócios da fashion week, as roupas e os acessórios dividiram o protagonismo na passarela mineira. Isso porque, além das tradicionais marcas de moda local, o dia de desfiles por aqui começou com uma iniciativa do Sindicato de Joias de Minas Gerais (Sindijoias) em parceria com a Federação das Indústrias de Minas Gerais (FIEMG), entidade promotora do Minas Trend, que trouxe as bijoias para o primeiro plano. No line-up de ontem, desfilaram aqui em Belo Horizonte as grifes Lázara, Caleidoscópio, Claudia Arbex, Carlos Penna, Hector Albertazzi e Marieta Rigoni nesta apresentação coletiva do Sindijoias, além das criações dos estilistas das grifes Lucas Magalhães, Molett, Natalia Pessoa, Plural e Unity Seven.
Sindijoias
Não mais como um complemento dos looks na passarela, os acessórios passaram a ser o destaque neste desfile que abriu a maratona de terça-feira aqui no Minas Trend. Na catwalk, o que vimos foi um reflexo das ruas que tem trazido as bijuterias como pontos de informações das produções da mulher moderna. Atenta à mudança, e com a intenção de alavancar ainda mais os negócios de seis grifes que já são sucesso no Salão de Negócios, o Sindijoias e a FIEMG promoveram um desfile em que os acessórios foram o destaque. Para isso, as entidades reuniram diferentes propostas e conceitos na passarela em uma apresentação que teve direção criativa de Carlos Penna, designer que também desfilou suas obras no Minas Trend. “Como um desfile deste é muito novo no evento, fizemos uma curadoria para abraçar cada nicho diferente das marcas que temos. Então, temos uma mistura de modernidade com tradição”, explicou.
Nesta mistura, as grifes Lázara, Caleidoscópio, Claudia Arbex, Hector Albertazzi e Marieta Rigoni completaram o coletivo que teve a honra de trazer os acessórios para o primeiro plano da passarela do Minas Trend. Na apresentação, cada marca desfilou suas criações em três propostas diferentes, que respeitaram os DNAs das grifes e apresentaram tendências e conceitos de forma harmônica. Para isso, Carlos Penna contou que teve um desafio em suas mãos. Como diretor criativo do coletivo, ele precisou criar uma unidade entre tantos brilhos e conceitos. “Esse foi o nosso primeiro questionamento. Nós tínhamos que pensar em como dar uma unidade ao desfile e não parecer que eram seis separados. Por isso, a roupa foi a primeira estratégia para que todos tivessem um plano de fundo”, explicou sobre o look básico assinado pela grife Madrepérola.
Uma das responsáveis por levantar as questões na cabeça do diretor criativo e designer da apresentação foi Lázara Ferreira, que reforçou a identidade de sua marca homônima em três modelos ricos e trabalhados. Para esta apresentação, a designer explicou que produziu peças conceitos feitas exclusivamente para o desfile. “Nós nos inspiramos em Paris, mas, como o nome da coleção diz, é um novo olhar sobre a cidade. Com essas peças, a gente buscou fazer um passeio pelos bairros. Nos looks, por exemplo, temos referência ao Moulin Rouge, aos vitrais de Notre Dame e uma mistura de Picasso e Salvador Dalí”, explicou Lázara que, como destaque de sua trinca, teve uma modelo toda trabalhada na riqueza das pérolas.
Com um desfile em que as bijuterias foram as estrelas, o Sindijoias e a FIEMG reforçam uma ideia de que, mais do que completar um look, os acessórios podem assumir as próprias produções, como acredita Lázara Ferreira. “Hoje, a bijuteria faz parte do cotidiano da mulher. Eu sinto que os acessórios passaram a ser vistos como artigo de moda, assim como uma blusa ou um vestido”, disse a empresária que vem explorando esta ideia desde sua temporada anterior. Na coleção passada, Lázara Ferreira trouxe o luxo do conceito “Red Carpet” como inspiração em peças que visavam trazer o poder da mulher contemporânea através do brilho e do desginer certeiro da empresária. “No restante da estação, exploramos a ideia de que a mulher cliente da Lázara faça do dia dela um tapete vermelho. Isso significa você se sentir e estar bonita no caminho para a academia ou para a festa”, disse.
Para reforçar tudo isto, Ricardo dos Anjos assinou uma beleza elaborada, porém limpa. Com a intenção de destacar o trabalho de cada acessório desfilado, toda a produção foi pensada de forma linear e harmônica, para que as seis grifes que desfilaram fossem atendidas. “A beleza foi mais elaborada com um destaque para o dourado dos olhos. A ideia era ser uma aparência mais iluminada e reforçamos isso com blush rosado com um brilhinho. No cabelo, fizemos um rabo de cavalo respeitando a textura de cada menina”, explicou.
Lucas Magalhães
Viver na cidade grande pode ser o caos para algumas pessoas. A todo tempo, estamos sendo estimulados visualmente e tendo todos os outros sentidos provocados. No entanto, o que para uns pode ser uma mistura de loucura com costume, já que esta é a rotina que nos cerca diariamente, para outros, os que fazem a diferença, tudo isso é inspiração criativa. Para o Inverno 2018, Lucas Magalhães apresenta uma coleção desenvolvida a partir da ideia de loucura dos tempos modernos. Com muitas informações e provocações, o resultado na passarela foi certeiro e encantou. “A coleção retrata esse momento de correria na cidade. É uma mistura de arte urbana com informações de placas e toda essa loucura visual que a gente vive. Então, é quase um questionamento de onde a gente chegou, se é isso mesmo e para onde vamos”, explicou o estilista.
Sendo assim, na passarela, o que vimos foi uma mistura inteligente de cores, texturas e propostas. Conhecido pelo luxo de seu tricô, Lucas Magalhães agregou o conceito de alfaiataria à coleção de inverno. “Até na movimentação do desfile, nós tivemos um processo complexo. No começo, a proposta foi uma alfaiataria mais limpa que está preocupada com o corte e o acabamento. Depois dessa sequência, começamos a sujar com questões gráficas, cores e uma mistura de tricô, pêlo e nylon. É uma combinação de muitas texturas”, contou o mineiro que apontou o caráter experimental da coleção. “Foi um teste em que eu fui pelo acaso. Queria ver até que ponto eu conseguiria chegar e até onde iria”, afirmou.
Mesmo com essa potência de informações, o resultado foi bom. O que poderia ser uma continuação desta loucura criativa, ganhou linearidade e harmonia no talento de Lucas Magalhães em uma apresentação com começo, meio e fim. Sobre a missão de respeitar esta linearidade, o estilista mineiro foi bem sincero: “Bem, cria-se. É que nem a nossa vida nas cidades. A gente precisa de uma organicidade em meio à confusão e acaba que esse respiro aparece no caos”.
No entanto, se na coleção as informações estavam por todos os lados, na beleza, Ricardo dos Anjos reduziu para aumentar. Sem tanto destaque na produção, a proposta de naturalidade foi a peça perfeita deste quebra-cabeça montado por Lucas Magalhães. “A proposta foi só de algumas correções, sem muita informação. Essa beleza não tinha blush, rímel e nem nada. Só uma boca hidratada e um cabelo natural. Foi um desfile bem urbano”, disse o beauty stylist.
Molett
Pane no sistema alguém me desconfigurou. A música que ganhou o Brasil na voz de Pitty bem poderia ter sido a trilha do début da Molett no Minas Trend. A grife que, apesar da estreia já mostrou longa relação com o melhor da moda, trouxe o erro 404 da internet como inspiração para a coleção. Em uma apresentação marcada pela combinação de cinza, vermelho, preto e branco, Barbara Monteiro, diretora criativa da marca, apostou em uma ideia de tecnologia engajada como conceito norteador da temporada. “A coleção se chama 404 e remete realmente ao erro da internet. É uma temporada que falamos do paradoxo dos tempos contemporâneos em que as pessoas buscam a leveza com muito peso. Para completar, nós nos inspiramos em um paralelo com os anos 1960 que teve uma juventude que explodiu em diversos sentidos. Foi uma época de revolução social, musical, política, estética etc”, explicou.
Nesta combinação de atmosfera sessentista com um erro para lá de atual, a Molett ainda trouxe um paralelo da juventude que dá vida às duas gerações. Para Barbara Monteiro, assim como nos anos 1960 nós vivemos um período de explosão social nos tempos de Ditadura Militar, hoje também temos os questionamentos de jovens engajados como cenário moderno. E isso refletiu também nas modelagens da coleção, que teve o contraponto da leveza versus peso como guia. “Nós fazemos um paralelo com a nossa juventude atual que também tem muitas revoluções simultâneas que são, inclusive, muito propagadas pela internet, o que causa um impacto ainda maior. Então, unindo os dois conceitos com uma estética de peso com a ideia de leveza, nós apostamos em modelagens mais estruturadas que tivessem tecidos leves ou fossem vazadas para que existisse essa ideia de contraponto”, detalhou.
Indo ainda mais além, a Molett agregou a preocupação ambiental provocada pela moda na coleção de inverno. Em peças dubladas com plástico, a grife buscou traduzir um conceito de atualidade e sustentabilidade. “A indústria da moda é uma das mais poluentes do mundo e, como forma de a gente trabalhar os materiais que causam mal ao meio ambiente, nós os ressignificamos. Então, na coleção, aumentamos a durabilidade dos moletons plásticos, por exemplo, o que permite o uso de um material que, ao invés de poluir, vai viver por mais tempo no guarda-roupa da pessoa”, defendeu a estilista que afirmou que não é de hoje que a Molett tem um discurso engajado nas entrelinhas de suas criações.
De acordo com a diretora criativa, esta é uma ideia que move a marca dentro do mercado fashion. Mais do que vender peças e tendências, a Molett quer provocar e alertar os amantes de modas através de roupas com significado – e significante. “Desde quando começamos, queremos trazer diálogo para a moda. É importante que a gente não faça desse mercado uma futilidade com roupinhas que desejamos e consumo exagerado. Por isso, tentamos fazer com que o nosso público entenda que, com o conceito que amarramos em todas as coleções, o consumo não seja a única motivação. A moda é um canal de diálogo”, destacou Barbara Monteiro.
Na beleza, Ricardo dos Anjos potencializou o mood proposto pela marca e trouxe modelos quase que de plástico para a passarela. Provocando a ideia do erro 404 da internet, a produção apresentava uma aparência de fascinação pelo mundo virtual. “Nós apagamos a sobrancelha, boca e cílios e iluminamos tudo com óleo. Assim, conseguimos esse aspecto de plástico que traduz um conceito de pessoas vidradas no computador”, explicou.
Natalia Pessoa
Seguindo o line-up, foi a vez de a estilista mineira Natalia Pessoa revelar seu olhar sobre o Inverno 2018. Em uma coleção que mesclou a tendência de cores escuras da estação com o DNA alegre da marca, as roupas passearam por tons sóbrios como vinho e marinho, sem deixar de lado o verde e rosa. Como inspiração, Natalia Pessoa teve a riqueza natural do Brasil, em especial a do Norte e Nordeste de nosso país. “A coleção foi inspirada na floresta tropical e nas praias brasileiras, principalmente as do Nordeste, onde eu morei por 10 anos. Um dia, eu estava pensando em qual ideia iria usar no desfile e resolvi brincar com esse mood praiano. Então, a coleção tem algumas paisagens, folhagens e muita cor, como é o DNA da marca”, explicou.
Sendo assim, a estilista traduziu o pôr-do-sol e as folhagens, principalmente, em tricôs luxuosos que se destacaram por diferentes motivos. Enquanto uns tinham um corte específico, que variou entre modelagens mais ajustadas e outras oversizeds, outros ganhavam a atenção através do brilho. Os bordados, como boa mineira, claro, não poderiam ficar de fora do desfile de Natalia Pessoa. Para o Inverno 2018, no entanto, eles ganharam forma de coqueiros em uma prova de que frio e calor podem, sim, comandar uma coleção de moda. Desta forma, Natalia Pessoa reforçou mais uma vez a relação bem próxima do DNA da grife homônima com a identidade da raiz da moda mineira na passarela do Minas Trend. “A gente gosta de roupas mais elaboradas e com muito bordado. E o DNA da marca também é muito colorido. Então, acaba que fica fácil unir”, brincou.
Quando o assunto foi a beleza, Ricardo dos Anjos foi buscar o suor dessa menina praiana, mesmo no inverno, para o destaque da beleza. Sendo assim, o beauty stylist investiu na tendência glossy e a aplicou nos lábios, olhos e rosto das modelos. “Essa produção foi bem fresh e úmida. Nossa ideia era passar uma ideia de menina solar, com carinha de suor. Para isso, usamos iluminador na Zona T e nas têmporas, glitter na pálpebra móvel e gloss transparente nos lábios”, disse o beauty stylist que, nos cabelos, optou por fios chapados e divididos ao meio.
Plural
Uma das marcas mais tradicionais do Minas Trend, a Plural quis pisar no freio e voltar algumas casas neste jogo do Inverno 2018. De acordo com Glaucia Fróes, estilista que assina a coleção da grife, desta vez, a marca buscou resgatar conceitos que eram fortes no passado e foram ganhando novas formas com o tempo. “Eu acho que depois de dez desfiles, quisemos dar um respiro, pensar e por isso fomos para o lado do natural. Nesse sentido, criamos uma estampa que foi toda feita com carimbos de flores, frutos e sementes. A partir disso, fomos escolhendo as matérias primas que, em comum, todas têm texturas, como franja, tule, jacquard, veludo molhado e um moletom trançado”, disse.
Inclusive, este fora o destaque da coleção que a Plural apresentou na passarela do Minas Trend ontem à noite. Entre franjas e texturas visualmente fortes, a grife investiu em uma proposta comfy e chique, com uma paleta mais sóbria e escura. “Nessa inversão, nós quisemos resgatar a nossa raiz que era muito de preto, off-white, verde e cinza. A ideia era bem voltar ao começo da nossa história e eu acho que o resultado ficou mínimo e bem chique”, avaliou Gláucia que contou que, com o aumento no número de exportações da Plural nos últimos anos, precisou acelerar a produção e as criações e, com isso, acabou perdendo um pouco da essência inicial da marca.
Quem também teve seu toque de elegância foi a beleza assinada por Ricardo dos Anjos para o desfile da Plural. Simples, mas destacada, a produção completou a apresentação de forma pontual. Desta vez, Ricardo dos Anjos assinou uma beleza que apagava parte do rosto e tinha apenas um destaque: a boca. Mas também, que destaque! Nos lábios, o beauty stylist apostou em um super vermelho com efeito matte que, como o próprio Ricardo já nos adiantou ontem, deverá ser uma forte tendência da estação. “É uma pele super leve sem rímel e nem blush. Não tem nenhuma intervenção de cor. O destaque está apenas em um batom vermelho super seco”, disse o beauty stylist que, nos cabelos, apostou em um penteado “masculino”. “Nós dividimos de lado e fizemos um coque baixo bem laqueado”, afirmou.
Unity Seven
O dia de desfiles no Minas Trend terminou em clima de festa. Não no sentido mais óbvio da palavra, mas, sim, na ideia da passarela. Responsável por fechar o line-up de ontem na fashion week mineira, a Unity Sevem trouxe sua moda festa em uma coleção que também visou destacar a essência da marca. “No desfile passado, nós priorizamos as modelagens e um conceito mais limpo. Agora, quisemos trazer o DNA da marca com as estampas, principalmente os florais. Nos casamentos que atendemos, existe uma proposta mais de praia e campo que combina bem com esse mood”, explicou Luana Magalhães, estilista da grife.
Nesta que foi a segunda passagem da Unity Seven pela passarela do Minas Trend, os babados, as cores, rendas e florais, de fato, ganharam espaço. Como Luana lembrou, na estreia, a grife se preocupou em apresentar o luxo de suas modelagens em vestidos lisos e sem detalhes. Mas, desta vez, a Unity Seven não fugiu às raízes e mostrou um pouco de tudo o que ficou de fora do début. “É uma evolução com novas possibilidades da marca, mas sem abandonar o nosso DNA. Por isso, renovamos o floral, as estampas e a fluidez que já são marcas da Unity Seven”, disse a estilista sobre a coleção batizada de “Arte Bloom“.
Assim como no nome, a ideia de florescer também marcou presença nos vestidos da Unity Seven para o Inverno 2018. E de diferentes maneiras, Luana Magalhães traduziu a expressão to bloom na moda mineira da marca. “A gente quis trazer um renascimento com a ideia do florescer que vem já no nome da coleção. Então, traduzimos isso com algumas modelagens super inusitadas com formas arquitetônicas e o próprio floral, que floresce no inverno. Como se fosse um grande jardim botânico”, explicou a estilista que, além da estampa, teve a paleta de cores como aposta. “A gente segue uma cartela com tendências da estação, mas tenta reunir um pouco de tudo. Nós somos uma marca que vendemos o ano inteiro até para casamentos na praia fora do Brasil. Por isso, não queríamos ficar só nos escuros. Então, combinamos amarelinho, verdinho, rosa e outras cores mais lavadas”, disse.
Nas modelagens, a Unity Seven também agregou diferentes apostas da moda festa na coleção Inverno 2018. Em uma mistura da essência da marca com o que promete estar em ata na estação, a grife passeou pelo mood romântico e por uma proposta mais arquitetônica e volumosa. “Quando falamos só de vestido, fica muito difícil reunir todas as tendências em uma mesma coleção. Mas, nesta temporada, estamos destacando as bolinhas vitorianas, os volumes nos ombros e outras tendências que costuram essa coleção”, completou Luana Magalhães.
Assim como nas roupas, a maquiagem também ganhou status romântico. Para fechar o dia no Minas Trend, Ricardo dos Anjos apostou em uma beleza elaborada, porém delicada para a Unity Seven. “A gente optou por uma maquiagem mais romântica com cílios postiços e baby hair, que são os fios de cabelo soltos na frente do rosto. Na boca, o batom usado foi um bege matte e, no cabelo, para completar, apostamos em um coque meio podrinho, que tem a ideia de ‘eu que fiz’”, explicou Ricardo que volta ao backstage do Minas Trend hoje à tarde para mais uma sequência de seis desfiles. E nós também! Amanhã a gente conta tudo o que vimos na passarela da fashion week mineira nesta quarta-feira. Até!
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