*Com Marcos Eduardo Altoé
O quarto dia de SPFWn43 trouxe novas coleções de marcas consagradas, além de algumas estreias. O dia teve início com a apresentação da A La Garçonne, de Fabio Souza e Alexandre Herchcovitch, seguido da Cotton Project. O booker Dinho Batista realizou um sonho, apresentando a coleção que assinou para a maison Alexandrine ao lado de um time imbatível de modelos veteranas. Depois, Juliana Jabour apostou novamente em seu esportivo romântico, desta vez pautado pelo motocross. Amir Slama, o rei da moda praia, buscou inspiração na exuberante estética dos anos 80, enquanto a estreante TIG foi a fundo no universo literário para desfilar peças -desejo.
À LA GARÇONNE
Alexandre Herchcovitch e Fabio Souza apresentaram a coleção 01-17 da À La Garçonne. Fruto do reflexo máximo do streetwear, o mix trouxe uma grande quantidade de influências robustas, como o movimento punk, o militarismo, o fetiche e a perversão sexual, bem amarrados por um mood esportivo, apoiado no universo do boxe. Tudo pautado por um conceito forte, mas ao mesmo tempo com forte apelo comercial, já que a maior parte das produções em algum momento será vista nas ruas de São Paulo.
“Eu sempre gosto de misturar muitas coisas ao mesmo tempo”, comenta Fábio. “O briefing costuma partir de mim, ou às vezes conversamos juntos e seguimos desenvolvendo o conceito”, explica. “É um pouco do universo com o qual as pessoas já estão se acostumando, aliado a novos elementos. O esporte em geral, o boxeador em si e o fetiche por ele. Essa é a À La Garçonne. Masculino, feminino e todos esses signos que tem a ver com o fetiche, o desejo”, completa Alexandre.
Fabio Souza explica, ainda, que a preocupação com a reutilização de materiais é um dos pilares da marca. “Começamos escolhendo os materiais sustentáveis, reciclados. O que não encontramos nesse mercado buscamos de outra maneira para concluir a coleção”.
O layering deu o tom invernal da proposta. Sobreposições inteligentes, daquelas que a moda de rua já é familiar, promoveram um desfile ousado, algo que a dupla já imprimiu em seu DNA. Materiais como couro, sarja e lã ganharam destaque para dar vida à estética desejada. Jaquetas perfecto, parkas e moletons são os desejos da temporada. Segundo Alexandre, cerca de 40% da coleção apresentada já está na ÀLG.
Beleza
Tranças e profundida no olhar foram as apostas de Celso Kamura para a beleza da grife A La Garçonne. Segundo o beauty stylist, a proposta da maquiagem para esse desfile era trazer a ideia de jovialidade e street style, características fortes da marca. Para isso, Kamura fez uma contorno diferente nos olhos e, nos cabelos, alternou entre belíssimas tranças e fios soltos e naturais. “A pele é super natural só com correção de pequenas imperfeições. Nos olhos, eu fiz um contorno rosa para dar uma profundidade mais alegre. E, nos lábios, alternei entre tons cobres e pretos”, explicou.
COTTON PROJECT
Parte da nova turma responsável por injetar fôlego ao SPFW, a Cotton Project segue apresentando criações fiéis ao seu DNA jovem e descompromissado. Sob a batuta do diretor criativo Rafael Varandas, a marca promoveu uma reflexão sobre a falta de profundidade nas relações. “Hoje vivemos em uma sociedade que tem medo do tédio, na qual o ato de relaxar é automaticamente associado ao ócio alienante, trazendo uma sensação de inércia e inutilidade. Existe, porém, o relaxamento relacionado ao ócio criativo. Um momento voltado para si mesmo, quando é possível absorver e refletir sobre novas idéias. Esse é o ato de relaxar vislumbrado pela coleção”, explica.
O tema denso foi traduzido para colocar em pauta um flerte bem particular com a moda dos ‘pijamas’. “Criamos roupas super confortáveis. Um loungewear que vai da soneca até o trabalho. Entramos pela primeira vez na alfaiataria, mas ela foi pensada para um CEO que, diferente do yuppie dos anos 1980, valoriza o relaxamento. Redesenhamos a roupa daquele surfista preguiçoso dos anos 1990”, completa Varandas.
A modelagem favorece o novo momento da moda, de abrir mão da silhueta ajustada para celebrar os shapes mais soltos, sinônimo de liberdade de movimentos. “Abandonamos o skinny para ir direto para o conforto. Toda a nossa pesquisa apontou para um caminho contrário às peças apertadas. As calças todas estão largas, pelo menos alguns centímetros maiores do que a coleções passadas. Isso reflete exatamente uma tendência, e ainda mais o tema da coleção”, enfatiza. Uma alfaiataria casual dá as caras pela primeira vez em uma coleção da marca.
O veludo de algodão e o cotelê foram vistos aos montes. O jeans e a sarja também marcaram presença. Nylon de seda, cetim de viscose, alpaca sintética e algodão orgânico complementam as escolhas dos materiais.
Nas cores, tons de marrom ao bege, rosa, verde e laranja, em um mood que lembra muito o universo dos filmes cult do diretor Wes Anderson. “Casamos a mesma paleta. O marrom foi sempre uma cor forte, desde o começo da Cotton, e por coincidência foi um tom que o Wes adotou”, comenta. Os clássicos masculinos também marcam presença na coleção, preto, azul marinho e cinza, para cimentar um mood que com certeza fará a cabeça dos modernos.
Beleza
Para o desfile da Cotton Project na SPFW, Helder Rodrigues, responsável pela beleza da apresentação, trouxe uma aparência de fim de dia. Na beleza, o beauty stylist tinha como objetivo fazer uma pele corada, como se a pessoa tivesse aproveitado um dia de sol de Outono, e um cabelo mais cansado, depois de horas de exposição. “Nos fios, a gente respeitou a textura individual de cada um e fizemos um efeito mais de fim do dia, com um aspecto podrinho. Na maquiagem, eu me inspirei no pôr-do-sol de outono. Então, é como se a pessoa tivesse caminhado sem protetor e ficado com um rosado na parte alta da bochecha”, detalhou.
ALEXANDRINE POR BATISTA DINHO
Dinho Batista realiza um sonho de neste quarto dia de SPFWn43. O agente de modelos, que de tão famoso inspirou o personagem Visky em Verdades Secretas, topou o convite de Alexandra Fructuoso, dona da maison Alexandrine, para assinar uma coleção de prêt-à-porter com 27 looks. Dinho fez um resgate de suas memórias, enxergando na mulher contemporânea a energia e a beleza pensadas para a coleção. ”Parti de um trabalho manual, no qual o tecido é construído a partir de uma trama de fitas de cetim e gorgorão entrelaçadas manualmente”, explica.
Com uma carreira sólida no mundo da moda como booker, Dinho conseguiu reunir amigas modelos, colocando o casting o desfile da Alexandrine por Batista Dinho como um dos mais estrelados da temporada. Nomes de peso como Fernanda Tavares, Carol Ribeiro, Emanuela de Paula, Cintia Dicker e Michelle Alves marcaram presença carregando as ricas peças da coleção.
Vestidos trapézio, longos e mini, calças, saias e coletes surgem em uma cartela sóbria de cores, privilegiando branco, off-white, cinza, preto e oliva, esta última representando o azeite sagrado, em homenagem ao Espírito Santo. As peças transportam a alfaiataria para o dia-a-dia da mulher que desempenha vários papeis, sem deixar de lado a sua feminilidade. “Sou muito chato com detalhes. O diferencial da coleção é que trata-se de uma roupa feminina pautada pela alfaiataria, feita por alfaiate. Quis trazer o trabalho artesanal deles para dar vida ao meu sonho”, comenta. Foi aplaudido de pé!
Beleza
O segredo para a beleza deste desfile foi o óleo de coco. Sim, aquele mesmo que usamos na cozinha, no banheiro, na praia. Quando aplicado no rosto, o óleo potencializa a renova a pele garantindo um efeito hidratada e com um viço leve, sem o aspecto oleoso. Esse era o objetivo de Rodrigo Costa, quem assinou a beleza do desfile, que queria trazer uma beleza mais fresh e natural. Então, além desta pele super hidratada, o maquiador também apostou em olhos metalizados no tom dourado, boca apagada e bochechas coradas. “A proposta é fazer uma mulher iluminada e metalizada, mas sem abir mão da feminilidade. Essa também é a intenção da coleção. Não queremos trazer uma mulher estranha ou muito diferente, e, sim, super atual”, explicou George Luna, um dos maquiadores da equipe de Rodrigo Costa.
JULIANA JABOUR
Esportiva e romântica. Essas são as duas qualidades que melhor resumem o cruzamento de estilos presente na coleção de inverno 2017 de Juliana Jabour. Em meio à sua assinatura forte, a estilista segue abordando temas relacionados para reforçar ainda mais a sua identidade criativa. “Eu quis dar continuidade ao trabalho do desfile passado, essa junção do esportivo com o romântico que traduz bem o espírito da minha marca. Sou uma aficcionada por esportes radicais, super acompanho e sei tudo, e o motocross carrega algo que eu gosto muito, os grafismos. Quis trazer isso para o meu universo, mas o tempo inteiro contrapondo com esse lado romântico que aparece nessa estética vitoriana das golas altas e das mangas bufantes, na renda e nas transparências”, explica.
Com uma explosão gráfica bem amarrada, Jabour entra de cabeça no jogo do streetwear com peças que já nascem hit instantâneo. “O motocross inspirou as camisetas estampadas na frente, nas costas e nas mangas. Moletons e jaquetas perfecto oversized, e calças nervuradas apontam o rumo da coleção”. Mangas dramáticas, com volumes inusitados, e os babados denunciam um fetiche pelos anos 80.
A cartela de cores vem enxuta e coesa com o tema. O desfile é predominante preto e branco, sendo vermelho a terceira cor mais importante. “Cores pontuais, como azul Bic, verde esmeralda e amarelo, compõem as estampas. Essa que, inclusive, também carregam o animal print da onça e da zebra em algum momento, uma característica do motocross”, comenta Juliana.
Perguntada sobre a Just Kids, marca lançada em parceria com a colega estilista Karen Fuke que causou na temporada passada com um desfile manifesto, ela frisa a natureza livre do projeto. ”Estamos ainda trabalhando a primeira coleção. Acredito sim que vamos fazer alguma coisa ainda esse ano, mas não é certeza, não sei quando. Isso faz parte da essência da marca, pois a Just Kids nasceu como uma brincadeira sem compromisso com o comercial, com o calendário”, explica Juliana. “A aceitação só não foi maior porque lançamos uma coleção cupsula de moletons em pleno verão, mas ainda assim foi um sucesso”, brinca.
E sobre o novo formato da semana de moda de São Paulo, Juliana Jabour confessa que ainda é muito cedo para ter uma opinião formada. “É um formato que para mim ainda não funciona, pois não tenho a estrutura de uma empresa grande, com grana. É tudo muito novo. Espero que com ele venha uma melhora no cenário econômico, pois em um momento de crise as pessoas dão prioridade para o que é necessidade, e uma roupa com um custo médio alto é automaticamente considerada um item supérfluo”, reflete.
Beleza
Foi um pedido da própria estilista que Henrique Martins, responsável pela beleza do desfile, atendeu com maestria: olhos pretos. Na coleção que traz o motocross como inspiração, um olhar forte e marcado completava as criações da estilista na passarela. Para um resultado mais glam street, Henrique Martins apostou em um efeito glossy no meio das pálpebras, que quebravam um pouco o preto e traziam brilho e movimento para a passarela. “A Ju disse que queria fazer um olho preto e eu sugeri por essa maquiagem gráfica bem vinilizado, remetendo à ideia do couro das motos”, explicou.
Nos lábios, para não conflitar com os olhos marcados da make, Henrique Martins apagou a cor da boca e usou um tom de nude. Já quando o assunto são os cabelos, o beauty stylist completou o visual com fios bem lisos e divididos ao meio. Para ele, esta foi a melhor forma de trazer a vibe motocross glamourizada para a SPFWn43.
AMIR SLAMA
Sinônimo da uma modelagem impecável, Amir Slama apresenta sua terceira coleção após o aguardado comeback ao mundo fashion. Desta vez o estilista se inspirou no show Saudades do Brasil, apresentado por Elis Regina no início da década de 1980. “Parti daí como um primeiro momento. As formas eram mais esportivas, mais amplas, o que fui contrapondo com shapes mais justos”, explica. A verdade é que não há como falarmos dos anos 80 sem propormos um resgate do maximalismo exuberante da época, o que Amir faz muito bem dentro de sua assinatura. “Trabalhei muito o laminado, os tecidos metalizados. Na verdade eu comecei pensando em algumas peças laminadas e, quando desenvolvi a coleção, senti isso tão otimista que acabei assumindo do inicio ao fim” comenta.
Seguindo com a cartilha, a cartela de cores é vibrante e forte, e se contrapõem com o ouro e a prata. O estilista desenvolveu ainda uma estampa de logotipia, criada em parceria com seu filho Artur Slama, que é artista plástico. “Brincamos com essa grafia, com essa escrita, uma hora estampada, outra hora bordada”, aponta Amir.
A modelagem celebra o culto ao corpo, com recortes caraterístico da época em uma nova leitura, onde nós e amarrações são a bola da vez. “Procuramos uma forma de traduzir uma vontade mais sexual do lifestyle brasileiro”, confessa. Macacões, calças e jaquetas de moletom bem da década são apresentados em uma releitura. Destaque para os collants, dignos de uma Grace Jones contemporânea.
Otimista e muito positivo, Amir Slama atribuiu seu retorno às passarelas por conta da mudança de calendário. “O que me fez voltar a fazer desfiles foi esse novo conceito “see now, buy now”. Acho que hoje o consumidor pede muito isso, né, não dá pra esperar muito tempo mesmo com vocês da imprensa publicando tudo até mesmo antes dos desfiles”, brinca. “Não é imediato, mas em 15 dias começa soltar uma peça aqui, outra ali”. E ele entende a crise, mas acredita que a moda é maior do que o momento. “A mulher e o homem brasileiros curtem muito a moda. Eles gostam. Então se existe capital para isso, eles investem”.
Atualmente o estilista detém uma loja em São Paulo e no Rio de Janeiro, além de uma franquia em Ribeirão Preto e revender para algumas multimarcas no Brasil e no exterior. “Desenvolvemos também algumas coleções com marcas de fora, mais fast fashion. A ideia é expandir cada vez mais para o mercado externo”. Estamos na torcida, Amir!
Beleza
O óleo de coco volta a ser um dos segredos de mais uma maquiagem assinada por Rodrigo Costa. Desta vez, para o desfile de Amir Slama, a proposta do maquiador era fazer um visual totalmente natural, saudável e que nem aparentasse estar maquiada. Segundo Jean Ricardo, um dos profissionais de sua equipe, a beleza deste desfile trazia a ideia de um pós praia. Assim, o principal destaque para a produção estava nos cabelos, que ganharam efeito molhado e mais podrinho. “A ideia da beleza foi mostrar uma menina que, depois de aproveitar a praia, fez um puxadinho no cabelo e usou uma fivela, que vai ficar aparente para prender. Na lateral, usamos gel para dar um efeito molhado e, em toda a extensão, uma cera para que ficasse com aspecto sujo e pesado”, explicou.
TIG
A Tigresse agora é TIG. Em novo momento, a marca de Renata Figueiredo e Fabio Yukio encerra o quarta dia de SPFWn43 apresentando em sua estréia o trabalho meticuloso que fez da marca a queridinha da mulher contemporânea. “Resolvemos fazer a SPFW para contarmos um pouco do que somos. As pessoas tem uma impressão de TIG como uma marca só de estampas, o que não é verdade. Participando do evento conseguimos mostrar esse lado para um publico maior”, justifica Renata.
E eles conseguiram. A dupla aposta nos clássicos da literatura mundial que exploram o simbolismo e o surrealismo para mostrar uma coleção high street para este inverno 2017, que causou desejo imediato por conta das peças finamente trabalhadas. A Metamorfose, de Kafka, O Lobo da Estepe, de Hermann Hesse, e O Corvo, de Edgar Allan Poe, três universos pinçados para contar a história de uma mulher em plena transformação, a partir de uma riqueza única de detalhes e uma elogiada construção.
O perfume “dark punk”, como eles mesmos chamam, norteia toda a coleção. Em três momentos sutis, o styling de Daniel Ueda começa privilegiando looks dramáticos, inspirados nas formas dos insetos, e segue assumindo uma cartela de cores suave, em uma clara alusão à transformação proposta pelos diretores criativos. A cartela de cores, assim, foi apoiada em preto, roxo e verde, com pinceladas de branco e prata, para iluminar.
Apoiada em novidades e em um senso de exclusividade muito especial, a coleção tem tudo para ser um sucesso de vendas. “Os recortes em paetê são algo novo, assim como os bordados no tule. Nós desenvolvemos a renda da coleção dentro da fábrica para chegarmos em algo exclusivo, só nosso”, celebra Renata Figueiredo.
Perguntada ainda sobre a crise que assola o Brasil, ela confessa que tento não deixar a pressão do mercado influenciar o meu processo criativo, mas isso é um fato. “Temos que fazer o que vende, senão a marca não sobrevive. Mas acho que hoje tudo está muito alinhado, conseguimos fazer o que queremos e isso é o que vende”, finaliza.
Beleza
Pluralidade: foram 12 tipos diferentes de beleza que Rodrigo Costa fez para o desfile da TIG. Para esta apresentação, o beauty stylist quis levar o streed mood moderno para as passarelas em maquiagens que trouxessem a ideia de praticidade. Em peles sempre naturais e super iluminadas, que são a tendência da área da beleza, Rodrigo revezou olhos puxados, borrados, bocas de glitter, entre outros pontos de destaque. “Apesar de trabalhada, a ideia que queremos passar é que as próprias modelos fizeram a beleza em casa, exceto a boca de glitter, para um visual mais moderno e street. Eu acho que essa praticidade é o que mais vemos nas ruas. As mulheres não estão saindo mais tão produzidas, elas querem algo prático e menos perfeito”, analisou George Luna, um dos maquiadores da equipe de Rodrigo Costa.
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