*Com Marcos Eduardo Altoé
Da Mulher Maravilha às maravilhosas, a SPFWn43 teve mais um dia de criações e inspirações curiosas nesta quarta-feira. Na passarela, grifes se reinventaram em cima de temas já conhecidos ou inovaram e surpreenderam com suas ideias. Para dar início ao terceiro dia fashionista na capital paulistana, começamos com a coleção da estilista Giuliana Romanno, que apostou na alfaiataria esportiva para a sua coleção. Depois, foi a ver de Isabela Capeto surpreender e encantar a passarela da Bienal. Por lá, a designer carioca nos convidou a uma viagem pelo sertão nordestino em uma busca pelo sagrado e pelo profano. Um espetáculo!
Quem também brilhou no catwalk da SPFWn43 foi Giovanna Ewbank, que desfilou para a grife Memo. Nesta temporada, a marca de Patrícia Birman foi coassinada por Lilly Sarti. Seguindo o line-up, Fabiana Milazzo trouxe riqueza e luxo para os bastidores brasileiros. Com o nosso próprio país como inspiração, a estilista reinventou a cultura nacional e trouxe imagens e elementos tupiniqquins que muitas vezes ficam escondidos do cartão postal, como as favelas cariocas. Já Luiz Claudio, da Apartamento 03, buscou inspiração para sua nova coleção na literatura. Para estas criações, o estilista mergulhou na obra “Visconde Partido o Meio“, de Ítalo Calvino. Por fim, para fechar a noite com chave de ouro, a Ellus Second Floor trouxe os poderes da Mulher Maravilha para a passarela da SPFW. Em uma coleção nada óbvia e batida, a grife, que é irmã mais nova da festiva Ellus, inovou no conceito poderoso. Vem com a gente saber de todos os detalhes!
GIULIANA ROMANNO
O primeiro desfile da quarta-feira de SPFWn43 foi o de Giuliana Romanno. Ao lado da sócia Fabiana Delfim, a designer apresentou um passeio pela silhueta masculina, retomando um desejo de alfaiataria após a febre esportiva na moda. “Dentro da alfaiataria que eu trabalho a gente fez uma inserção maior no guarda-roupa masculino para trazer elementos que deixem a mulher ainda mais feminina“, explica Giuliana.
E não pense que estamos falando de uma receita pronta. Ao contrário, ela defende a moda autoral com unhas e dentes. “Minha cliente é uma mulher que sabe mais, que é segura de si, e que busca uma roupa de qualidade sem cair na mesmice. Ela quer um recorte diferente, uma outra proposta”, completa.
Uma cartela de cores sóbrias, incluindo preto, azul marinho e nude, imprimiu um tom sofisticado às peças, com uma elegância digna de eventos noturnos. A silhueta evolui, com shapes mais generosos, que valorizam a liberdade de movimentos e o conforto. “Tudo mais oversized. Calças mais amplas, e ombros levemente marcados”, aponta a estilista. Destaque para os acabamentos que remetem às gravatas, como as amarrações em algumas cinturas.
Sobre o “desfilou, comprou”, Fabiana Delfim comemora a boa experiência. “Em agosto passado nos já havíamos entrado no modelo “see now, buy now”, e para nós já fez muita diferença. Não fazia mais sentido investir em um desfile para vender a coleção depois de seis meses. Faz muito mais sentido criar um desejo e atendê-lo de imediato”, comenta. Agora é torcer para que outras marcas tenham o mesmo resultado e o formato vingue como a nova cara do varejo de moda no Brasil.
ISABELA CAPETO
Cores, formas e texturas do Cariri Cearense inspiram a coleção de inverno 2017 da carioca Isabela Capeto, apresentada na São Paulo Fashion Week N43 na tarde desta quarta-feira. O trabalho artesanal singular da estilista agora se une a elementos da iconografia daquele que é considerado o Oásis do Sertão. ”É uma região que me interessa muito pela grande mistura de tecidos, de estampas, e pela liberdade. As pessoas são muito livres, é praticamente uma Tóquio nordestina. As pessoas saem e guarda-chuva porque está muito quente, usam luvas de Lycra por causa do sol, além da mistura do sacro com o profano”, comenta.
O feito à mão brasileiro é, sem dúvida alguma, o que mais inspira a coleção. Existe uma brasilidade latente que reside nos detalhes, e ultrapassa bordados e aviamentos. “Trabalhar o Brasil me deixou com muito medo, pois trata-se de uma riqueza infinita. Decidi a partir de agora resgatar a nossa cultura por partes, por regiões. É a coisa que mais me interessa, que chega a me deixar arrepiada. Acho o Brasil muito bacana”, dispara.
Capeto sinaliza, pois, que a riqueza do tema a conquistou, e que a pesquisa realizada ainda vai render muito pano para manga. ”Estou trabalhando neste tema há bastante tempo. Resolvi fazer uma coleção pequena agora no inverno, que é uma temporada menor para a marca, mas no verão pretendo seguir trabalhando-o”, conta. Para os acessórios, a estilista decidiu aproveitar as boas parcerias que conquistou na região. “Fiz consultoria para oito empresas locais. Os sapatos, as bolsas e as joias, tudo foi feito por lá”.
Os tecidos, algodão, tule, lycra, couro e seda foram usados para confeccionar peças de espírito feminino e livre, como vestidos longos e saias, camisetões e jaquetas, em uma profusão de cores e amores. O couro foi desenvolvido especialmente para a coleção, com textura inspirada na terra da região do Cariri, de cor atanada. Vermelho, rosa claro, café, marinho e preto dão vida à coleção a partir da mistura de estampas, algo solar e de inverno.
Sobre o momento delicado por que passa o país, Isabela Capeto reflete com muito bom humor. “Acho que já estou há tanto tempo batalhando com situações dessa natureza que já sou meio econômica. Vendi minha marca, a comprei de volta, fiquei um tempo sem desfilar, enfim, eu já me acostumei a viver em crise”, brinca.
Beleza
Um dos destaques do lindíssimo desfile de Isabela Capeto foi para a beleza assinada por Max Weber. Em uma produção harmônica e um tanto quanto ousada, o beauty stylist misturou galhos, tons terrosos e rosa cintilante em um mesmo visual. Na maquiagem, Max traduziu a proposta do sagrado e do profano trazida na coleção da estilista carioca. “Nos olhos, a gente tem um marrom bem quente, na cor de telha, que antes era horrorosa. Pois bem, está de volta e é tendência agora. Então, nos olhos eu tenho essa cor forte, em referência ao profano. Já na boca, eu trago a inspiração do sagrado. Para isso, usei um batom rosa claro com um efeito brilhoso e cintilante por cima”, explicou.
Já os cabelos representavam a seca da região do Cariri. Além de ser o simbolismo da aridez do nordeste brasileiro, a produção de Max Weber potencializava o conceito do sagrado e da pureza da mulher. “Para o adorno, eu fiz uma trança interna do redemoinho do cabelo para frente. Depois, colocamos os galhos, que nós desenhamos como se fosse o véu do sagrado. Então, deforma geral, o cabelo dessa beleza representa a seca do Cariri”, contou.
MEMO POR LILLY SARTI
A Memo, marca fitness-chic de Patricia Birman, elegeu para o seu inverno 2017 “see now, buy now” uma dupla de peso, as irmãs Lilly e Renata Sarti. “Achei brilhante poder fazer parte do universo fitness e esportivo. É muito legal unir o nosso know how de moda com a história da Memo resultando em milhões de possibilidades. Estamos muito felizes”, comenta Lilly Sarti. Elas buscaram inspiração nos esportes de inverno, como esqui e snowboard, e nos antigos uniformes dos tenistas para propor uma releitura preppy do DNA feminino e minimalista da marca.
No mix, bodies e leggings funcionam como um contraponto às silhuetas oversized de vestidos e moletons. Ilustrações de tigres, elefantes e girafas imprimiram um ar divertido à coleção. Para os pés, mules, tênis, botas e slides, desenvolvidos em uma parceria exclusiva com a Fiever.
Sobre o projeto, Patricia Birman é só elogios. “A Memo é uma marca de esporte, e nós trabalhamos muito bem o fashion fitness. Convidamos estilistas a assinarem nossas coleções para trazermos cada vez mais o universo da moda, com criações autorais e ousadas, para termos cada vez mais uma liberdade poética dentro do meio esportivo”. A empresaria enxerga, ainda, a importância de apresentar um conceito forte na passarela, para reforçar a imagem institucional da marca. “A desfilada tem uma licença poética maior, expandindo os elementos para vestidos, shorts mais curtos, capas um pouco maiores, que normalmente são as roupas que a mulher tanto para malhar quanto para curtir os momentos confortáveis”, completa.
Ítens selecionados do desfile já estão disponíveis para compra em esquema de pre-order na loja da Memo no Shopping Iguatemi, em São Paulo. As peças comerciais, por sua vez, no site OQVESTIR, desde esta quarta.
Memo
Para o desfile da grife de moda fitness, Daniel Hernandez transformou o suor em algo glamouroso e sofisticado. Para isso, o beauty stylist precisou fazer o oposto de uma maquiagem quase inexistente: foram inúmeros produtos bem carregados para conseguir alcançar o efeito fresh and natural. “A nossa proposta é ser fitness e sofisticado ao mesmo tempo. Então, é como se a maquiagem fosse bem natural, mas, para isso, eu uso muitos produtos. Só para esse efeito iluminado, são três tipos de pós e cremes nos pontos altos do rosto”, disse o maquiador sobre a beleza que optou pelo aspecto iluminado e sem profundidade.
Para as madeixas, Daniel priorizou a natureza dos fios de cada modelo. Sendo assim, o beauty stylist levou à passarela cabelos lisos, crespos e presos. Sim, entre uma modelo e outra, Daniel potencializava a experiência fitness com rabos de cavalo despojados. “Eu procurei respeitar a textura natural de cada modelo. No entanto, em algumas delas, eu fiz um rabo de cavalo para ambientar com essa ideia da academia e da moda fitness”, completou.
FABIANA MILAZZO
Munida da top das tops Isabeli Fontana, a designer mineira Fabiana Milazzo apresentou-se pela primeira vez na semana de moda de São Paulo. Inspirada pela riqueza do trabalho artesanal, nossa maior assinatura em temos de moda como nação, além de elementos de fauna e flora e paisagens amazônicas. Esses ícones foram postos lado a lado a símbolos icônicos da cidades históricas de Minas e das metrópoles brasileiras, como obras de Oscar Niemeyer, os grafites de São Paulo, o Cristo Redentor e as favelas do Rio de Janeiro. “Na prático tudo isso que estamos vendo envolve um símbolo de cada região do país. Tanto nas estampas quanto nos bordados podemos observar um pedaço de cada lugar”, explica.
Para as peças feitas à mão, Fabiana se uniu a ONGs que investem no trabalho de artesãos, promovendo a cidadania através do ensino e valorização de práticas sustentáveis. “Eu quis mostrar um Brasil de quem está por trás, de pessoas que possuem preocupações sociais e sustentáveis”, explica.
O denim continua sendo um dos pilares da coleção de Fabiana, em um delicioso contraponto entre o casual e a moda festa. A aposta da vez para o material é em listras criadas no próprio tecido com tiras de jeans reaproveitados, que seriam descartados, ou em bordados, misturando lã e pedraria. O trabalho pode ser visto em saias, trench coats e moletons oversized. Na cartela de cores, o off white foi usado como base para as estampas e bordados, além de azul intenso, denim e dois tons de vermelho.
Apesar do momento delicado no qual se encontra o Brasil, Fabiana dispara: “A marca não está em crise. Essa crise não chegou para nós”.
Beleza
O frescor de novos olhares foi o pilar que garantiu a beleza assinada por Rodrigo Costa no desfile de Fabiana Milazzo. Para dialogar com a proposta de misturas trazidas pela estilista de moda festa, o beauty stylist buscou inspiração em novos maquiadores, que ainda não tem os calos e vícios da profissão. “Como a Fabiana sempre traz a moda street e novos conceitos para a coleção de festa dela, eu também quis apostar e inovar. Então, pesquisei nos novos maquiadores do mercado técnicas e formas diferentes de trabalhar. Eu acho que, com o tempo, nós profissionais acabamos adquirindo um olhar muito fechado sobre as técnicas. E, com esses novos maquiadores, eu quis saber de técnicas novas e descoladas quando o assunto é beleza”, explicou.
Na prática, esse novo olhar representou apostas que poderiam ser consideradas impensáveis. Além da técnica de aplicar os produtos com os dedos para ter um efeito menos perfeito, que já é vista em alguns backstages, Rodrigo também misturou rosa e azul no blush. A combinação, que ficou lindíssima na passarela, tinha o objetivo de ser diferente e ousada, mas sem abrir mão da estética. Para os cabelos, que tinham efeito natural e cotidiano, Rodrigo Costa aplicou spray de água do mar.
APARTAMENTO 03
Sob as mãos habilidosas do estilista Luiz Cláudio, a marca Apartamento 03 desfilou seu inverno 2017 na noite desta quarta na Sala Oca da Bienal para uma platéia lotada. Inspirada pela obra “Visconde Partido ao Meio”, de Ítalo Calvino, a coleção apresentou um mix de peças como resultado de um trabalho super cuidadoso. “Achei o momento perfeito para usar o livro como inspiração, diante do período que vivemos. Ele versa justamente sobre os extremos, um homem com uma metade muito ruim, e uma metade muito boa, que juntas permanecem em perfeito equilíbrio”, explica.
E foi justamente essa dualidade que guiou o trabalho do estilista. Luiz Cláudio foi pautado pela mistura de tecidos em uma mesma peça, uns muito nobres e outros menos, como a lã e a seda. Ele conta ainda que, diante da dificuldade que encontrou para conseguir alguns materiais improvisou modificando outros tecidos, chegando em um resultado surpreendente. “Onde pesado e leve, tecidos naturais e sintéticos se misturam. Partido ou remontando pedaços, e a sensação é de incompletude. Falta algo, sempre vai faltar”, reflete.
Lã, matelassê de seda, crinol transparente e veludo, tecidos invernais por excelência, foram ricamente retrabalhados a partir de aplicações de pedrarias e bordados, imprimindo a dose certa de sofisticação e requinte aos vestidos ultrafemininos. Destaque para o vestido em crinol bordado à mão com metades de insetos e cogumelos, criando um lindo movimento. Na cartela de cores, os tons off-white, preto, azul marinho, bronze e caramelo evidenciam o mood noturno da coleção, perfeita para eventos sociais nos quais o único desejo da mulher que a veste é brilhar.
Sobre o “desfilou, comprou”, seguido pela Apartamento 03, Luiz Claudio ressalta que os fornecedores ainda não conseguiram se adequar ao novo formato, o que dificultou um pouco a entrega das peças. “Existe um problema no Brasil envolvendo as tecelagens. Infelizmente elas ainda não puderam se adequar a este novo perfil de demana”, salienta.
Beleza
As borboletas voltam a voar pela beleza de Henrique Martins para o desfile da Apartamento 03. Na maquiagem, o beauty stylist recuperou a proposta de insetos e aplicou duas pérolas negras na parte de cima do nariz, como se fossem os olhos dos insetos. Para completar e maquiagem, que teve pele super iluminada, Henrique trouxe lábios laqueados com efeito glossy para a passarela. Nos cabelos, as duas mechas coladas ao rosto remetiam às antenas das borboletas. Para esta ilusão, Henrique Martins apostou em fios bem alisados e cabelo dividido ao meio.
SECOND FLOOR
Lugar de mulher é onde ela quiser. A frase de cunho feminista representa bem o espírito do inverno 2017 da Ellus 2nd Floor. Sob a direção criativa de Adriana Bozon e da concepção do estilista Thiago Marcon, a label surpreende com uma coleção inspirada na Mulher Maravilha, personagem dos quadrinhos da DC Comics e símbolo da luta feminina. Ela ganha uma nova adaptação para o cinema, com estréia mundial prevista para daqui a três meses. ”A ideia toda é trabalhar um tema aparentemente infantil e deixá-lo com outra cara que não a de criança, desmistificar esse rótulo, de que a personagem faz parte apenas do imaginário dos pequenos”, explica Thiago.
Amarrado à macrotendência do estilo militar, que cai como uma luva no inverno, temporada sim, temporada não, o mix propõe uma subversão no DNA denim da grife. “É a mesma cabeça de uma marca de jeanswear só que transportada para o universo army. Trocamos o jeans por sarja”, explica. Porém, diferente da irmã mais velha, a 2nd Floor consegue imprimir leveza à brutalidade militar ao eleger o moletom e a malharia como bases para grande parte das peças.
A estamparia recria o clássico print camuflado a partir da identidade visual da Mulher Maravilha. Elementos gráficos característicos do universo da heroína, como a boca vermelha, as estrelas e o cavalo alado pégaso, são combinados para dar origem a estampas cammo em uma releitura repleta de personalidade. O styling de Daniel Ueda aposta em um layering muito interessante, promovendo a união de peças como vestido e moletom, parka com saia. O inverno se faz completo com as pele fake, em uma alusão à releitura moderna da personagem guerreira no filme que estréia logo mais. “Ela não é mais a Linda Carter da série de TV da década de 1970. Ela está emporada”, sinaliza.
Os acessórios foram o ponto alto da coleção. Uma profusão de bolsas carregava as cores da Wonder Woman, em versões que fugiam perfeitamente da noção óbvia. Verdadeiros hits instantâneos. Botas e sandálias de saltos vertiginosos completaram o momento.
Essa mesma coleção, vale reforçar, está à venda desde o encerramento do desfile, no e-commerce da marca e na loja da Oscar Freire.
Beleza
As referências à heroína dos quadrinhos também estavam presente na beleza da 2nd Floor. Responsável pela produção, Robert Estevão levou três tipos diferentes de maquiagens para a passarela. Explorando elementos da Mulher Maravilha, o maquiador, assim como a coleção da grife, saiu do obvio e levou formas e cores da personagem para a passarela.
Nos olhos, por exemplo, Robert Estevão explorou o brasão da Mulher Maravilha. Em traços gráficos, algumas modelos traziam um tipo de losango nos olhos que, na passarela, ganhou um efeito incrível. Outra aposta de Robert que também ganhou destaque no desfile foi a boca preta com efeito glossy. Esta, aliás, é uma tendência da maquiagem que já é aposta e super adotada nas ruas pelas mais fashionistas. E o beauty style comemora. “Para quem quiser usar, é só passar e sair. Se a gente não fizer isso, ninguém vai querer ousar assim”, apontou Robert Estevão.
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