*Com Julia Pimentel
As temperaturas subiram no terceiro e último dia do Rio Moda Rio, nova plataforma lançadora de tendências depois de dois anos de ausência de uma semana fashion na cidade. O que vimos por lá? Ivan Aguilar levou cores vibrantes tanto para o universo feminino quanto para o masculino em apresentação ao ar livre na escadaria do Palácio Tiradentes, Lenny Niemeyer abusou do estilo zen japonesa, Sharon Azulay colocou os apaixonados por sua Blue Man para dançar com o Dream Team do Passinho, a Osklen levou os fashionistas para ver o pôr-do-sol no Museu do Amanhã e a The Paradise promoveu uma festa dos sentidos. Vem com a gente:
IVAN AGUILAR
Felicidade. Essa é a palavra que define a coleção de Ivan Aguilar em sua apresentação no Rio Moda Rio. A explosão de cores contrastava perfeitamente com o tradicional Palácio Tiradentes, no centro da cidade, e trouxe a arte para dentro da moda. Literalmente. “A coleção foi inspirada na obra da Beatriz Milhazes. As cores são fortes, tanto para os homens como para as mulheres. O bacana é que trazemos lembranças dos ícones da moda do Rio de Janeiro, que são Simão Azulay, Lenny Niemeyer e Luiz de Freitas, da Mr. Wonderful, que é uma referência para mim dos anos 80. Usei muitas jaquetas coloridas com ombreiras naquela época. Não coloquei as ombreiras na coleção, porque ficaria datado e caricato, mas me deu muita vontade. Teve uma bomber que eu até pus um volume, não resisti. É bem brilhosa, mas não estampei para não ficar muito literal”, explicou ele, que propôs uma mulher longilínea e um homem que ama conforto. “Toda a linha tem elastano. Nessa coleção eu tenho grandes parceiros que são a Cecconello, com os sapatos femininos, a CNS calçados, dos sapatos masculinos, e as joias do Dorion Soares”, destacou.
Para Ivan, o maior desafio foi o tempo. “Fui convidado para estar aqui há exatamente 28 dias. Eu gosto, me dá adrenalina e alegria. Trouxe tudo inédito, uma coleção pensada para o Rio de Janeiro, no lifestyle carioca. Meu dia a dia não tinha início nem fim, era ateliê até de madrugada”, contou ele, que gostou da correria após “dois anos curtindo a vida”. “Sou mineiro, radicado em Vitória, mas desde os 12 anos eu venho para o Rio. Meu tio tinha um apartamento na Lagoa e a minha relação com a cidade é de muitos anos”, afirmou ele, que não tem medo de ousar. “Quero alegrar a vida dos homens. Hoje a moda não tem preconceitos de gêneros, está bem moderna, então deu para trazer muitas cores na coleção masculina”, explicou.
OSKLEN
Em um desfile cinematográfico, com o Museu do Amanhã de cenário e o pôr-do-sol de pano de fundo, a Osklen apresentou sua nova coleção no terceiro dia de desfiles do Rio Moda Rio. E, como contou Oskar Metsavaht, foi tudo imaginada e planejado para que a performance, realmente, tivesse esse caráter de espetáculo. “Eu fiquei preocupado com tudo: a hora, o pôr do sol… Fora isso, a simbologia de trazer o desfile da Osklen para o Museu do Amanhã eu acho que já diz tudo. Aqui, é onde a arte, ciência e sustentabilidade são os pilares fortes da instituição, e que são os mesmos que eu trago para dentro da marca. Eu acho que aqui, nós mostramos que o amanhã vem quando você compartilha com os outros experiências e conhecimentos a partir de filosofia e arte. É o amanhã de um futuro criativo que Rio de Janeiro e o Brasil precisam ter”, disse.
Sobre a volta dos desfiles no Rio, aliás, Oskar é bem tácito: “O Brasil é a principal plataforma de moda, e a cidade do Rio de Janeiro tem todo um espirito para a criatividade. Apesar de ser diferente de São Paulo, eu acho que cada cidade tem que criar a sua plataforma que leve, cada vez mais, a compreensão e o entendimento de que a moda não é só o produto. Então, o Rio Moda Rio veio de encontro para complementar o que o São Paulo Fashion Week faz”. E o fundador da Osklen foi além quando questionado sobre a ausência de dois anos da cidade no calendário oficial de desfiles. “O Rio não ficou sem moda durante esse tempo. Ela está nas ruas, nas coleções que estão nas lojas, nos ateliês dos designers, em tudo. O Rio de Janeiro parar com o Fashion rio, que foi uma proposta minha, foi para redefinir o que seria um evento de moda na cidade”, sentenciou.
Depois do papo sério, vamos falar do que viu-se na passarela que tirou o fôlego dos convidados. A inspiração para os modelos desfilados, segundo a gerente das coleções feminina e masculina, Michelly Valentin, foi a viagem de um casal a Momupuri. “Esse nome foi inventado pela marca para uma ilha paradisíaca, como se fosse Ibiza. A ideia foi imaginar o que um casal levaria na mala para passar o fim de semana nesse lugar. Então, pensamos desde a roupa do avião, às roupas de banho e looks para um luau à noite, por exemplo”. No feminino, os destaques, segundo Michelly, foram as amarrações de lenços que permitem diversos looks diferentes e as aplicações de pedraria. Já na coleção masculina, ela contou que a marca procurou aperfeiçoar ainda mais os clássicos já conhecidos. “Eu acho que no masculino, os pontos altos são os nossos clássicos editados e modernizados com diferentes materiais. São menos modelos e mais acertos de qualidade. Nessa coleção, esse toque de novidade está nas aplicações de pedras e de pele de pirarucu”, disse.
Entre os materiais escolhidos para traduzir em roupas essa ideologia, foi a seda, o linho, o algodão e a pele de pirarucu. Como explicou ao HT, a ideia em aplicar o revestimento do animal nos longjohns, que são as roupas de neoprene usadas por sufistas, foi combinar o moderno com o tradicional. “Ao mesmo tempo que a gente trabalha com um material super tecnológico, o bordado é feito à mão com linha de seda. Ou seja, a gente sempre tenta manter esse universo combinado do tecnológico com o rústico e natural”.
BLUE MAN
Logo na entrada da sala de desfiles da Blue Man, os convidados se depararam com exposições em homenagem ao processo criativo, que Sharon Azulay, o nome por trás da marca, fez questão de destacar. “Estamos em um momento de crise, de demissões e angústias e nada seria possível se não fosse essa equipe, o pessoal de criação, corte, modelagem… tudo só existe por conta deles. Tem gente que está na empresa há 30 anos, eu tenho 24 de vida. É uma homenagem para eles que merecem demais”, disse Sharon, que apresentou uma coleção que uniu a praia ao asfalto e ao morro. “A minha campanha de Verão foi feita no Vidigal, inclusive”. Sharon, que trouxe a tropicalidade de lugares como Austrália, México, Antilhas, Ásia e outros para suas peças, criou estampas supercool como abacaxis, orquídeas e outros e brincou com elementos como franjas, tressê, desfiados e jeans.
Ao final, o Dream Team do Passinho surpreendeu ao agitar a passarela. ““Eu faço o figurino do Dream Team e amo o grupo, acho que são supercariocas e que mostram as raízes da cidade. Todo mundo ficou surpreso e se animou. A galera levantou, foi realmente muito bom”, disse Sharon, enquanto enxugava as lágrimas. “É muito bom voltar para as passarelas em grande estilo e fazer um trabalho como esse, que é tudo que o evento merece de forma mais bonita”. Blue Man também é Baile de Favela.
LENNY NIEMEYER
A rainha do beachwear brasileiro apresentou uma coleção no maior estilo zen. Pudera: inspirada no Japão, sua passarela foi um jardim de beleza. “É a mesma que eu levei para São Paulo, mas com um visual diferente. A apresentação é menor, mas acho que o mais importante é estar participando de um evento no Rio de Janeiro” disse ela, que “ficou muito feliz de voltar a estar presente”. “Quando o Fashion Rio acabou foi uma tristeza geral. Estar aqui é muito importante para mim. Essa cidade nunca deveria ter deixado de ser pólo de moda. É uma alegria enorme trabalhar com esse visual, temos que aproveitar e insistir nisso: o Rio é formador de opinião, sim e é muito importante a moda estar aqui”, garantiu ela, que continuou seu trabalho ao lado de Zee Nunes, diretor do desfile, e Daniel Ueda, stylist. “Eles me ajudaram com toda a coleção e o conceito”.
A performance, que Lenny chama de apresentação, conquistou os fashionistas. “Não tem uma passarela, é quase que uma exposição ao vivo em um tablado quadrado, então a forma de apresentar acaba que é a grande novidade”, explicou. E, para a rainha do beachwear, o que é o lifestyle carioca? “Descontração, sensualidade, colorido e alegria”. Está dito.
THE PARADISE
Espetáculo. De fato, o último desfile da volta do Rio de Janeiro como capital da moda não poderia terminar diferente. A marca The Paradise apresentou um show ontem à noite no Pier Mauá. Antes da coleção inspirada no Orientalismo – olha a tendência! Lenny também foi por esse caminho – ser apresentada nas passarelas, a marca proporcionou a imersão do público no tema explorando os quatro sentidos corporais. Na chegada à sala de desfile, um grupo de músicos comandava a trilha sonora árabe com saxofone, violoncelo e atabaque, que ainda contava com a apresentação de dançarinas de dança do ventre com cobras. Em outro canto do local, cuidadores apresentavam animais silvestres típicos da região: os falcões, cobras, coruja e macaquinho encantaram quem foi até lá conhecer. E, para finalizar o clima, incensos aromatizavam o ambiente. “Os animais são um entretenimento pré-desfile para poder trazer as pessoas para esse universo, como se fosse de um mercado árabe. E, depois, a coleção, vem com uma pegada mais contemporânea”, completou Thomaz Azulay, estilista da marca.
Cenário pronto, vamos às peças. Em entrevista ao HT, o criador do show explicou um pouco sobre a inspiração da apresentação. “A coleção foi idealizada a partir de um movimento artístico europeu do século XIX, quando eles resolveram retratar o mundo árabe a partir da visão particular da Europa. A gente viajou para esse universo oriental das odaliscas, haréns e caravanas, mas fizemos de uma forma mais rebuscada. Na passarela, essa ideia é totalmente traduzida em estampas. Nós trabalhamos 100% focado na estamparia e isso vem como um crescente no desfile, do liso ao over colorido, passando pelo dramático”, explicou Thomaz que dividiu a assinatura da coleção com Patrick Doering.
Mesmo apresentando uma coleção completa e rica em detalhes, Thomaz contou que não houve dificuldade no processo. “Difícil nada é porque a gente conta com uma equipe super legal e trabalhamos em família. Mas é uma coleção muito complexa, o nosso trabalho é trabalhoso. É meio esquisito falar assim, mas é porque as roupas demoram muito, são muito elaboradas. Ou seja, não tem dificuldade, e, sim, muito trabalho”, declarou. Ah, e nem mesmo a crise financeira foi um desafio na produção. Assim como Alessa, que desfilou no segundo dia do evento, contou ao HT, o estilista da The Paradise também prefere valorizar o produto, sem se ponderar por causa dos valores. “A gente se preocupa em deixar a coleção linda, e não com crise. Eu acho que ela representa a falta de oferta e de demanda”, finalizou.
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