Conceito total: a designer Gilda Midani lança a primeira coleção masculina no Rio repleta de identidade e singularidade


João Vicente de Castro, filho da estilista, diz que o que as peças da mãe são “uma biografia em tecido”. Segundo ele, Gilda “traduz a história dela em roupa. Por isso é izero copiável, instranferivel e impossível de ser produzido por outras pessoas”

Uma estilista que define sua moda como “pijamas disfarçados” e diz que não faz roupas, e sim “utilitários de pano”. Até quem não conhece o trabalho da designer Gilda Midani já pode perceber a singularidade do estilo dela. “Meu trabalho é uma etnia particular. Uma pajelança da minha natureza e identidade de coisas que se parecem comigo”, explicou o conceito. Gilda lançou, na semana passada no Rio de Janeiro, a primeira coleção masculina e mais uma feminina. Masculina? Feminina? Calma, quem disse que a moda da estilista tem essa diferenciação à risca?

Segundo Gilda Midani, ela faz "pijamas disfarçados" (Foto: Juliana Rezende)

Segundo Gilda Midani, ela faz “pijamas disfarçados” (Foto: Juliana Rezende)

O filho de Gilda e ator João Vicente de Castro, que também participou e opinou no processo de criação da coleção for man, disse que ele e muitos amigos sempre tiveram peças Gilda Midani, antes mesmo de existir a linha masculina. Engana-se quem pensa que o vestuário agênero é uma novidade. “Minha mãe sempre fez isso, antes mesmo de ser discutido por Louis Vuitton e cia. Tenho vários amigos que se vestem com a roupa dela, porque são peças que nunca tiveram gênero. Nem mesmo as peças mais femininas”, disse João Vicente. Como a “designer de roupas” contou ao HT, “o João ajudou a desenvolver essa linha, porque ele é homem, moderno e gosta de conforto” E acrescentou:. “Tem um mix disso que eu acho interessante. Vaidade zero, mas você tem que estar se sentindo bem”.

Gilda Midani está há 12 anos no mercado e garante que tem cliente que usa as roupas da primeira coleção até hoje. O segredo seria um conceito atemporal de peças? Para a estilista, a “atemporalidade é genuína a ela”. A qualidade da roupa é o que garante esse uso. “Eu acho que o mais importante da atemporalidade é a durabilidade. O essencial é ver que, o que se diz atemporal, dura. Eu sempre fiz roupas com essa característica porque é a maneira que eu sei elaborar. Nunca pensei em termos de indústria o que ia dar certo ou não. Mais que essa função no tempo, nossa cadeia produtiva e nossa característica é ser altamente sustentável. Nós temos pouca sobra e tudo pode ser refeito ou retingido”, disse Gilda que acha que o sucesso maior vem quando os projetos são feitos “naturalmente, sem serem planejados”.

Gilda Midani lançou a primeira coleção masculina da marca com a ajuda do filho João Vicente (Foto: Juliana Rezende)

Gilda Midani lançou a primeira coleção masculina da marca com a ajuda do filho João Vicente (Foto: Juliana Rezende)

Apesar de reconhecer a moda como um mercado, Gilda Midani se comporta de forma diferente a essa realidade. Segundo ela, “a marca não tem grandes ambições comerciais”. “Nós temos clientes muito fiéis. Quem compra a nossa roupa é quem gosta dela”, explicou a estilista.  E, num momento de crise, esse conceito pode ser benéfico. De acordo com Gilda, seu público consumidor é consciente.

"Meu trabalho é uma etnia particular" (Foto: Juliana Rezende)

“Meu trabalho é uma etnia particular” (Foto: Juliana Rezende)

A estilista, que começou no mundo da moda desenhando figurinos para ópera, disse que adora fazer peças para espetáculos. “É uma delícia ter que fazer só um look sem precisar pensar como vai ser a produção”, afirmou, acrescentando que a roupa usada por Maria Bethânia na comemoração de 50 anos de carreira é um bom exemplo. Com tantas particularidades, Gilda não lançaria as coleções em desfiles e semanas de moda como as demais marcas. Como nos contou, para colocar seus “pijamas disfarçados” na passarela, precisaria de muito esforço. Afinal, o objetivo é sempre impactar, né? “Se fosse para fazer, teria que ser algo muito incrível. Só que eu gosto de criar tantas outras coisas além de roupa, que eu não tenho tempo para me dedicar às passarelas. Eu acho que para fazer diferença mesmo, teria que ser bom demais”, explicou Gilda Midani.

Gilda desenhou o figurino do show em comemoração aos 50 anos de carreira de Maria Bethânia (Foto: Divulgação)

Gilda desenhou o figurino do show em comemoração aos 50 anos de carreira de Maria Bethânia (Foto: Divulgação)

“Uma biografia em tecido”. Para João Vicente, o estilo da mãe é “zero copiável, instranferível e impossível de ser produzido por outras pessoas”. “É muito claro que a Gilda nunca teria como ter imitado ninguém. Mesmo quando ela desenha figurinos ou outras peças, a estética dela sempre foi muito marcada, muito antes de ter a própria marca. Isso é traduzir a história em roupa”, disse João Vicente de Castro, considerado o “homem mais interessante do Brasil” pela mãe coruja.

Gilda Midani e o filho João Vicente de Castro (Foto: Juliana Rezende)

Gilda Midani e o filho João Vicente de Castro (Foto: Juliana Rezende)