Alquimia! Tereza Xavier comemora 20 anos de carreira criando joias que unem física quântica, geometria sagrada e handmade: “Não tenho medo de ousar”


A designer, que já ganhou o o prêmio do grupo De Beers, considerado como o Oscar da joalheria, e teve suas peças compradas por integrantes dos Rolling Stones, U2, além da modelo Claudia Schiffer e até Michael Jackson, fala com HT sobre a preciosa trajetória de duas décadas, os projetos sociais que sempre realizou e a paixão pela forma mais pura e natural da beleza de uma pedra

Com a mais linda das lojas que tem a Praia de Copacabana como moldura e inserida em um outro cartão-postal, o Copacabana Palace, Tereza Xavier está em ritmo de comemoração. São 20 anos de criação da joalheria que leva o seu nome, branding que ela criou ao lado do irmão, Luiz Xavier, diretor-geral, sócio, e engenheiro de estilo da grife que é síntese de estilo e brasilidade – do material ao design. Para festejar as duas décadas de excelência, a dupla prepara uma série de ações, incluindo projetos sociais, a continuação da campanha “Natal Cãopanheiro”, novas parcerias com os povos indígenas, maior investimento na loja como galeria de arte e lançamentos, além de uma coleção que sintetiza a chancela de Tereza: a Voiles de Saint Tropez, na qual a designer usou materiais franceses de navegação e os mesclou a pedras preciosas brasileiras, criando pulseiras com o objetivo de “levar os bons ventos” aos participantes da regata da orla francesa a partir de hoje (sábado) até o dia 4 de outubro, chegando posteriormente ao Brasil para o Verão 2016 como uma forma de “boas-vindas” às Olimpíadas. Como ela conta a HT durante um bate-papo, esse foi o projeto de vida, desde que, concluído o treinamento para ourives com Caio Mourão e recém-formada em design de joias pela Escola Nova, de Ricardo Mattar, em São Paulo, decidiu lançar seu próprio negócio. “Eu tinha certeza absoluta de que teria um diferencial genuíno”, afirma.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Conhecer uma joia assinada por Tereza Xavier é como enxergar algo pela primeira vez: nada ali, nenhum detalhe, cor ou curva de design, vem ao acaso. Para ela, as pedras preciosas são sinônimos de cromoterapia e alquimia, com poderes curativos e vibrações que influenciam no humor e na saúde. O design é delicadamente pensado de acordo com a lei da Geometria Sagrada, a mesma utilizada por Leonardo Da Vinci, e cujo princípio central é o de que todas as formas naturais seguem a mesma regra e, ao alcançá-la, consegue-se obter o máximo de beleza e funcionalidade de algo. O material já é um caso à parte, e é também um dos motivos principais pelos quais o nome Tereza Xavier se tornou conhecido como sinônimo de criatividade e excelência na joalheria: nas suas mãos, semente de açaí, palha indígena, cordas de barco a vela, e o que mais a inspirar, se tornam peças únicas e singulares.

Por sinal… foi a beleza que atraiu Tereza Xavier ao universo do design de joias. Criada em uma família na qual o apreço pelas artes corria no sangue, ela conta que seu olhar sempre foi atraído por essa proporção natural proveniente de Deus. “A beleza pode ser terapêutica se você entrar em contato com ela. É como assistir ao pôr-do-sol, ou observar um pássaro, uma flor… É healing!”, comenta com os olhos brilhando, enquanto completa que até as imperfeições têm seu valor. “Os diamantes, por exemplo, são pedras maravilhosas, até os imperfeitos. Sabendo manuseá-los, eles podem se tornar algo incrível e único. Eu não me preocupo com o valor da pedra – apesar de saber apreciar uma boa esmeralda, por exemplo -, mas, sim, com a beleza e o que ela vai despertar no meu olhar”, explica.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Foi assim desde o início… é assim até hoje. Como a própria Tereza comenta, ela decidiu entrar no mercado sorrindo – e ousando, com um pingente inspirado no smile, antes da febre de emoticons e emojis. “Eu já faço isso há 20 anos! Cheguei ao mercado sorrindo com ouro e diamantes”, diz Tereza entre gargalhadas, lembrando a medalha que criou durante o lançamento da marca, que emanava positividade nos mínimos detalhes. Então, veio a consagração: a designer teve a ideia de transformar a palha indígena em joia, valorizando ainda mais o seu handmade, o artesanal que, como HT tem frisado por aqui, é o grande cartão de visitas do Brasil no mundo afora.

Tereza Xavier conta que, antes de entrar para o mundo das joias, sempre visitou tribos indígenas, “porque sou apaixonada por esse contato com a natureza e a cultura das mais diversas tribos. Acho que foi Deus quem criou tudo isso. Então, eu acredito que devemos conviver em harmonia com o que está ao nosso redor. Em uma dessas temporadas com os índios Waimiri Atroari, em Roraima, decidi que iria juntar a pulseira-talismã, que era usada por todos como forma de proteção, com as minhas joias. Foi um atrevimento! Mas eu nunca tive medo de ousar com a criação”, diz a designer, que considerava o mercado muito engessado à época e, hoje, já emprega uma rede de artesãs em todos os estados do país através de sua marca, firmando parcerias importantes e ajudando a roda da economia criativa a girar.

Este slideshow necessita de JavaScript.

“A coleção foi um estouro! Formavam filas na porta da minha loja. Ganhei reportagens internacionais e todos que ficavam hospedados aqui, no Copacabana Palace, queriam passar para comprar uma peça”, lembra Tereza. Os nomes? “Nossa, muita gente! Sting e a família, os integrantes do U2, Claudia Schiffer, Maria Grazia Cucinotta, jogadores da NBA, os Rolling Stones, Michael Jackson e toda sua entourage, fora as celebridades nacionais. Foi resultado de uma mídia espontânea, porque todo mundo entrou na febre e as pessoas começaram a ser fotografadas com as joias. E, à medida que as peças iam se esgotando, a procura era maior, porque começou a se tornar um item must-have“, comenta.

Apenas dois anos depois, a joalheira venceu o Designer Forum do grupo De Beers, considerado como o Oscar do design de joias, graças a uma coleção em homenagem ao antropólogo e escritor Darcy Ribeiro (1922-1997). “Além de ele ter sido um exímio educador, também tinha uma preocupação verdadeira com o povo indígena e as suas tradições. Algo que eu entendo, respeito e pratico muito”, explica Tereza, que foi para Paris receber o prêmio e chegou a ser elogiada pela princesa Soraya Esfandiary-Bakhtiari (1932-2001), da Pérsia, quando voltou à Cidade Luz para participar da exposição “É tempo de Brasil”, no Carrousel du Louvre, em 1998. A edição de 1997 do prêmio, de acordo com a própria, foi o que deu mais visibilidade mundial à competição e suas peças chegaram a arrancar elogios entusiasmados de Andre Leon Talley, editor da Vogue americana. “Ele disse que minhas joias eram o que estava esperando surgir no mercado”, comenta orgulhosa (e com razão).

Este slideshow necessita de JavaScript.

O amor pela natureza, que lhe rende a inspiração necessária para criar coleções, também ecoa em outras manifestações pessoais. Tereza tem a preocupação de apoiar causas sociais. A primeira foi em um desfile realizado no zoológico da Quinta da Boa Vista, em 1996, criando peças inspiradas em uma variedade incrível de animais, do tamanduá à serpente, promovendo uma ação para a adoção de algumas espécies. Em 2003, veio “O segredo das folhas das árvores”, na qual trabalhou com folhas de eucalipto, transformando-as em joias. “Eu queria mostrar que as folhas têm o seu valor e que é preciso prestar mais atenção à questão do desmatamento”, conta ao HT.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Sua campanha mais recente, com cunho social, é a “Natal Cãopanheiro”, na qual ajuda a recolher doações de ração para cães de abrigos, em parceria com a ONG Anima Cão. “Eu descobri que no Nepal há uma cerimônia sagrada de agradecimento à lealdade dos cães. Então, pensei em fazer o mesmo aqui”, explica Tereza, que desenvolveu um pingente com a marca de uma patinha, do qual parte do valor era doado para a organização. “Nós paramos Copacabana com a ação. Todos os estrangeiros que também passavam queriam ajudar. Mas, só aceitávamos doação de ração”, conta a dona de dois maltês, Zé Bideu e Melktzdek, acrescentando que a campanha só deve crescer com o tempo e confirmando uma nova edição.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Claro que, ao criar peças únicas e com um toque pessoal, Tereza Xavier despertou o interesso do universo fashion, no qual firmou várias parcerias. Em 1996, ela criou o anel de Bacharel em Moda, a convite do Instituto Zuzu Angel. No ano seguinte, uniu-se à Blue Man para celebrar a praia e os 500 anos do Brasil, desenvolvendo um pingente no formato do corpo da brasileira, com direito a um biquíni de lacinho e tudo. E, já em 1999, foi convidada por Lino Villaventura para desenvolver todos os acessórios que seriam desfilados com a sua coleção, no Morumbi Fashion. “Sabe quando há mágica? Com ele foi assim. Nossas peças chegavam a se confundir, de tanto que dialogavam”, lembra com empolgação.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Ao longo de todos esses 20 anos, Tereza Xavier manteve as características principais de sua marca e de sua personalidade, sempre apostando na positividade e na adoração da natureza. Não à toa, suas peças estão espalhadas por todo o mundo, podendo ser encontradas até no Museu do Ouro da África do Sul, onde está uma de suas joias da coleção “Mito do Eldorado”. Até workshop para novelas ela já fez, após a produção de “Estrela Guia”, da Rede Globo, descobrir seu colar de mesmo nome, em 2001, para usá-lo como peça-chave da personagem de Sandy.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Para as comemorações de seu aniversário, a designer pretende criar novas parcerias, investir na galeria de arte que fica dentro de sua loja e mergulha na divulgação da coleção Voiles de Saint Tropez 2015 durante a regata do balneário francês, diga-se de passagem, utilizando materiais de barco à vela para criar novas peças. “Eu peguei um pouco de matéria francesa e estou devolvendo com um toque brasileiro”, ri, sempre com o astral lá em cima. E qual o segredo para isso? “Eu amo meu trabalho!”.

Este slideshow necessita de JavaScript.