Cleide Araújo é especialista em peles. E isso quem diz são profissionais do meio da moda – acostumados a lidar com todos os tipos de maquiadores do mercado. “Hoje em dia, todos os fotógrafos falam que a pele que eu faço é perfeita, quase não precisa de retoques”, contou. Não à toa, seu produto preferido – dentre uma maleta cheia – é a base. “A pessoa pode estar até sem batom, sem o olho feito, mas uma pele manchada que a gente uniformiza já fica incrível. A maquiagem é 80% pele, então, se eu tivesse que escolher um produto, sempre seriam as bases”, disse ela, que gosta de todos os tipos de rostos. “Vou da branquinha à negra. As pessoas eram muito com peles mais escuras, mas eu adoro, posso brincar, ousar. A Cris Vianna, por exemplo, que é linda demais, eu me divirto fazendo”, entregou. E a técnica foi quase que um aprendizado autodidata. “Fui me aprimorando sozinha. Eu não tinha coragem de chegar para o Ale de Souza e pedir para fazer assistência, sempre achava que ia levar um ‘não’. Até hoje, adoraria trabalhar com o Daniel Hernandez, o Max Weber, que eu acho incríveis. Tem o Lavoisier, que eu também acho maravilhoso e até tenho contato. Ele é muito querido e puro talento. Tenho eles como referências e pratico sozinha”, explicou.
Veja aqui o ensaio com Giovanna Lancellotti inspirado em Audrey Hepburn.
A verdade é que Cleide nunca havia pensado em ser beauty artist. “Eu ia cursar a faculdade de educação física. Mas conheci o pai do meu filho – que hoje tem 14 anos – casei e tive bebê cedo e parei tudo. Quando ele tinha quatro anos comecei a ficar enlouquecida, porque, ao mesmo tempo que eu não queria ficar longe dele tanto tempo, eu queria trabalhar. Pensei no que poderia fazer que ficasse em casa com a criança e optei por um curso de cabeleireiro. Eu não tinha nada, nem fazia em amigas, foi do zero mesmo. Montei um salão em casa, atendia clientes com hora marcada e foi assim durante uns quatro anos”, lembrou. A maquiagem veio depois: “Nesse período sempre me perguntavam se eu não fazia maquiagem e eu comecei a pensar nisso, mas não sabia se levaria jeito. De tanto que insistiram fui fazer curso no Senac para tentar. Me apaixonei por maquiagem! Eu nem usava em mim e fiquei louca, vi que era o que eu amava fazer para a vida. Fui conciliando o trabalho com cabelos em casa – que hoje eu fechei, porque não dava mais para tudo. Nisso, comecei a trabalhar com moda”, disse.
No início, Cleide fazia muitos editoriais em revistas para adquirir experiência. “É que eu nunca fiz assistência para nenhum maquiador famoso. Comecei sozinha. Fiquei uns dois anos me preparando, fazendo vários trabalhos, books de new face de agências. Trabalhando com ensaios fotográficos eu aprendi muito sobre iluminação. E maquiagem na fotografia é diferente, é luz e sombra. Eu comecei a ficar de olho nisso. Olhava as capas de revistas e tentava buscar aquele resultado”, lembrou ela, que começou a maquiar famosos após ser indicada por Fernanda Paes Leme. “Faço questão de dizer: ela foi a primeira pessoa famosa que me ajudou demais, foi me levando para as outras amigas”, contou.
Apesar do “empurrãozinho”, o destino de Cleide já estava escrito. “Eu sempre achei que caí de paraquedas nesse meio, mas só podia ser destino mesmo. Sou nordestina, vim da Paraíba e não tinha ideia que um dia fosse chegar aqui, conhecer artistas, nem imaginava nada disso. Quando eu comecei, eu passava na banca de jornal e pensava: ‘Será que um dia vou conseguir fazer isso?’. Mas joguei para chegar onde estou agora, quis tentar para dar o melhor de mim. Não sou preguiçosa, corro muito atrás do que eu quero. Se eu me meto em algo tenho que fazer perfeito”, afirmou ela, que vai além: “Quero aprender sempre, cada vez mais. Nada para mim é impedimento, então acho que isso me fez crescer. Não tinha obstáculo do tipo ‘esta chovendo’, ‘não tem grana’, eu sempre topava tudo, me doei muito. Como agora, não sei o que vai acontecer, posso ser uma grande profissional e ter um nome que vai circular pelo mundo – que é o que todo mundo sonha – mas a gente trabalha sem saber, dando nosso melhor”, explicou.
E a menina determinada que saiu do Nordeste aos 15 anos é, hoje, uma mulher segura e preparada que acumula mais de 40 mil seguidores em suas redes sociais. “Sei que estou em um meio de muito glamour e sempre penso que o mundo pode dar voltas, por isso, nunca me deslumbro. Hoje, eu posso estar sendo reconhecida, ter seguidores, mas amanhã alguém pode ficar no meu lugar. O mais difícil é se manter no mercado e, para isso, busco muitas referências e estou sempre me aprimorando. O estrelismo não sobe na minha cabeça. Claro que os números são legais, mas é porque significa que mais gente conhece meu trabalho”, assegurou. Então, nada mudou? “Sim, eu fico mais seletiva. Não preciso fazer mais tantos editoriais e revistas. Já consegui mostrar meu trabalho, as pessoas já vêm até a mim, não fico mais desesperada correndo atrás”, contou.
Não se deslumbrar e ter os pés no chão, aliás, é característica de família. “Tenho três irmãs e nunca maquio elas, todas se viram sozinhas. É que vim de uma família que não era ligada à moda, maquiagem, essa é minha cultura, sem muita produção, de gente simples mesmo. São todos bem pé no chão. Eles acham até engraçado quando me vêem em algum lugar, mas não ficam supervalorizando. Meu filho mesmo nem liga, é tudo bem natural. Por isso digo que não tem como subir a cabeça”, explicou ela, que assinou a beleza do nosso editorial exclusivo com Giovanna Lancellotti e já maquiou estrelas como Sabrina Sato, Mariana Rios e até a cantora italiana Laura Pausini. “Quando maquiei a Sabrina Sato fiquei muito feliz. A Mariana Rios também, que hoje é uma das minhas, me chama para quase tudo. Uma que eu quero muito – que eu quase consegui – foi a Ivete (Sangalo). Eu fui chamada, mas não tinha data, queria chorar. Mas um dia ainda realizo. E sonho em maquiar a Gisele (Bündchen), quem não sonha? Outra que eu tenho vontade é a Adriana Lima também, que é maravilhosa”, listou.
Para Cleide, o melhor de sua profissão é que ela é democrática: “Para ser maquiador tem que ter dom. Não é qualquer pessoa que faz curso que consegue, mas o lado bom é que independe de grana, de melhor curso. É sensibilidade. O resto é perseverar, correr atrás e ter humildade acima de tudo. Algumas pessoas se perdem um pouquinho, são ótimos profissionais e não são humildes”, opinou.
Com uma expert em beleza, claro que não poderíamos deixar de perguntar: quais as tendências de make para o inverno? “Acaba que todo ano traz uma tendência da temporada anterior, que, dessa vez, acho que é o batom escuro. A moda está sempre mudando, mas tem itens que continuam. Cores fechadas e frias são características do inverno. Pele iluminada também é legal. Agora a tendência é o stroubing, o contrário do contorno, que fica lindo demais para as estações mais frias. Adoro a pele iluminada sem nada. Tons azuis estão com tudo também, o povo está usando muito como o ponto colorido da make, principalmente nos olhos. Azul piscina e turquesa vão vir com tudo”, apostou ela, que tenta incluir os tons em suas produções. “Apesar de ser difícil nas atrizes, que não aderem muito, querem mais o básico. Mas em campanhas tento inserir. Às vezes, a gente não consegue brincar muito aqui no Brasil, diferente de lá fora, que é mais fácil a gente pirar nas cores”, analisou ela, que não tem preferência entre “olhão” ou “bocão”. “Depende do rosto e da produção. Para mim, pessoalmente, é sempre boa, não fico bem de olhão. O legal é isso: conhecer as características das pessoas e ver o melhor para cada uma. Quando vou maquiar um famoso sempre fuço na internet, pego fotos antigas e vejo como a pessoa fica mais bonita para fazer algo que destaque a beleza que ela já tem”, entregou. Não à toa que ela é sucesso.
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