É possível construir um império através de uma bermuda? O que parecia ser distante para a dupla de amigos Rony Meisler e Fernando Sigal se tornou realidade. Como slogan da peça, colocaram os dizeres, em inglês, ‘Seja você mesmo, mas nem sempre igual’ o que em poucas palavras sintetiza tudo o que a marca atual significa no mercado há mais de dez anos. A Reserva se tornou um conceito e o passo a passo desta trajetória até o sucesso pode ser encontrado no livro ‘Rebeldes Têm Asas’, escrito por Rony Meisler e editado pelo dono da assessoria de comunicação Approach, Sergio Pugliese. “Nós não fizemos nada para chegar neste lugar. Nós investimos nisso porque acreditávamos nesta proposta e muitas vezes éramos incompreendidos. Até por causa disso é que o nome do livro é Rebeldes Têm Asas, porque já chamaram a gente de tudo que podemos imaginar. O último capítulo do livro Semente Que Plantamos é uma análise sobre o que nós conseguimos fazer. Sem querer criamos uma marca que vai além das nossas roupas e do nosso negócio, pois repercute até mesmo para um consumidor que não tem dinheiro para comprar o produto. Nosso foco, agora, é encontrar formas de capturar todos os nossos públicos”, afirma Rony. Todo escrito na primeira pessoa, são mais de quatrocentas páginas que contam a história da vida do autor e da marca que acabam caminhando de forma simétrica. “Este exemplar poderia estar em várias categorias de venda porque mais do que um livro que fala sobre empreendedorismo, tem uma lição de vida”, sugere o jornalista Sergio.
O exemplar precisou de quase dois anos para ficar pronto, tendo sido escrito ocasionalmente nas horas vagas do autor que nunca teve a intenção de publicá-lo. A ideia surgiu de uma conversa entre os sócios. “Decidi escrever o livro por dois motivos: esquecimento e perda. Há cinco anos, estava conversando com o Fernando Sigal e ele comentou algo que fizemos no início, quando criamos a marca. No entanto, eu não lembrava da história e fiquei impressionado com isso e decidi que queria deixar registrado para nunca esquecer. Além disso, meu avô veio ao Brasil vindo de Israel e virou comerciante, no entanto, por não saber administrar acabou quebrando. Depois disso, ele voltou para seu país e parecia viver o sonho dele através do meu sucesso. Em 2014, ele faleceu e fui para o enterro. O voo de volta era muito longo, 12 horas, e diurno, resolvi começar a escrever ali”, relembra Rony. Segundo o autor, a família é, inclusive, o primeiro capítulo da história. “Não tem como contar a história da Reserva, sob o meu ponto de vista, sem falar das pessoas que me criaram e me ensinaram a bondade e a educação. Nasci rico no que todos deveriam nascer”, agradece o rapaz.
Ao mostrar para os outros sócios o trabalho, eles decidiram que era importante publicar. Sendo assim, Rony convidou o jornalista Sergio Pugliese para editar e transformar as mais de seiscentas páginas em um livro. “Deviam ter mais de trezentos erros de português e dezenas repetições de palavras, porque não sou escritor. Teria sido mais fácil contar a história para o Sergio”, brinca o autor. No entanto, Rony deixa claro que a ideia não é contar apenas como a marca surgiu. “O objetivo é ser um guia para todo mundo que quiser empreender no mercado em qualquer área. Nós não éramos especialistas em moda, o que acho positivo porque não existia preconceito na hora de inovar. Não tínhamos dinheiro então buscávamos fazer muito com pouco. Todas as crises que tivemos com a marca a transformamos em reformulação de ideias e conteúdo”, garante o autor durante a noite de autógrafos que rolou ontem no Shopping Leblon.
Durante os 13 anos de existência, a marca passou por muitos desafios. Dentre estes, apenas um deles foi grande o suficiente para fazer Rony cogitar abandonar o que construiu. “Uma de nossas lojas paulista pegou fogo e dentro dela estava uma funcionária que trabalhava atrás do caixa, ela ficou inconsciente e não conseguiu sair. Os bombeiros conseguiram entrar para resgatá-la e a encaminharam para o Hospital das Clinicas de São Paulo. Eu e meu sócio pegamos o primeiro avião quando soubemos disso e passamos a noite esperando notícias. Para nosso desespero, ela estava grávida e nem ao menos sabia disso. Quando a pessoa tem um negócio, principalmente no ramo de varejo, nunca pensa que seus subordinados estão correndo risco de vida. Ao me deparar com este caso e ver que o fogo foi responsabilidade nossa, mesmo que indiretamente, eu pensei em desistir da empresa. Graças a Deus ela se recuperou muito rápido e ainda continuou conosco por muito tempo”, relembra o sócio. O estabelecimento em questão fica nos Jardins e já havia sido assaltado pouco antes do incêndio. O roubo, mais tarde, foi transformado em propaganda usando a câmera do circuito interno da loja o que viralizou na internet. Muitos familiares e amigos aconselharam a dupla a fechar o local depois dos dois acontecimentos ruins. “Decidimos começar um projeto experimental nela e a tornamos o local central de renascimento da marca. Foi lá que nasceram as cafeterias e barbearias dentro da Reserva que se tornou um ponto de encontro e cowork além de local de venda”, conta.
As várias formas que os sócios encontraram para inovar a marca reflete o que eles acreditam. Segundo o autor, é importante que cada um faça um pouco para mudar a sua vida e as dos demais, se unindo a causas sociais, por exemplo. “Nós da Reserva acreditamos que não devemos depender do Estado, todos têm responsabilidades sociais. Achamos que a empresa possui um papel relevante no mercado. O Brasil vai precisar ser reconstruído e não podemos contar com os bandidos que estão no poder. Este livro fala sobre esta importância da iniciativa privada”, garante Rony. A grife, por exemplo, sempre possui roupas e produtos envolvidos em causas. Atualmente, por exemplo, a cada compra a empresa se responsabiliza a levar cinco pratos de comida para pessoas ao redor do Brasil, segundo o site da Reserva.
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