Casa de Criadores: terceiro dia de desfiles é marcado por inspirações traumáticas e psicológicas e por streetwear poderoso do universo drag


Depois de dois dias de desfiles na edição que comemora os 20 anos do evento, a quarta-feira seguiu com um line-up agitado. Na passarela, mais nove grifes desfilaram, sendo seis delas pelo Projeto LAB, iniciativa incubadora que incentiva o trabalho de novos estilistas. No line-up de ontem: Neriage por Rafaella Caniello, Rocio Canvas, Senplo, ACRVO, Carol Funke e Renata Buzzo, como parte do Projeto LAB, Diego Fávaro, Rafael Caetano e Alex Kazuo

Casa dos Criadores: terceiro dia de desfiles é marcado por inspirações traumáticas e psicológicas e por streetwear poderoso do universo drag

A moda criativa e autoral continua efervescendo na capital paulistana. Desde segunda-feira, a Casa de Criadores realiza sua 41ª edição no ano em que o evento do jornalista André Hidalgo comemora 20 anos de história. Desde o dia 8, diversos estilistas já desfilaram suas criações para o Verão 2018 e, ontem, foi a vez de mais nove talentos apresentarem suas apostas para a estação na passarela da Casa de Criadores. Foram eles: Neriage por Rafaella Caniello, Rocio Canvas, Senplo, ACRVO, Caroline Funke e Renata Buzzo, como parte do Projeto LAB, Diego Fávaro, Rafael Caetano e Alex Kazuo.

Leia também: Casa de Criadores: na edição que comemora os 20 anos do evento, abertura tem performance empolgante de Pabllo Vittar. Confira os destaques!

Desfile Diego Fávaro na 41ª Casa de Criadores (Foto: Marcelo Soubhia/Fotosite)

Incubadora de talentos promissores da moda brasileira, o Projeto LAB já uma tradição da Casa de Criadores. Na iniciativa, estilistas participam por três edições e, os que se destacarem ganham a oportunidade de integrar o line-up da temporada seguinte do evento. Nesta 41ª edição, o Projeto LAB apresentou como estreantes Rafaella Caniello, Rocio Canvas e Senplo. Com a grife Neriage, em referência à técnica japonesa que mistura diferentes cores de argila para um resultado marmorizado, Rafaella Caniello incorporou esta ideia ao mundo da moda e desfilou a coleção “Land 001”, que foi inspirada nos elementos fogo e terra. Nela, a estilista apresenta a proposta de sua marca seguindo inspiração na obra de Arthur Shopenhauer. Na prática, a ideia de Rafaella é fazer roupas que valorizem o cuidado de uma obra, em um contexto que o corpo é a base e as texturas a extensão dele.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Já o curitibano Diego Malicheski, da grife Rocio Canvas, apresentou a coleção “V18 Instante Estante Verão 2018“. Para as criações, o estilista buscou inspiração no sentimento de impermanência humana. Desta forma, os instantes do nosso dia-a-dia foram a referências para modelos estruturados, porém minimalistas. Nas peças, as argolas representam as dificuldades do cotidiano, e as cores, que transitam em tons de cinza, off-white, nude e metálico, a contemporaneidade. Para traduzir toda esta proposta, Diego apostou na organza de seda, no jacquard e na malha dublada como cartela de materiais.

Este slideshow necessita de JavaScript.

A contemporaneidade também foi um dos elementos do desfile da grife Senplo, dos estilistas Rafael Schneider e Daniel Bossle. Na coleção apresentada na Casa de Criadores, a dupla se inspirou no equilíbrio do clássico e o despojando, provando que estilo e conforto podem fazer parte de um mesmo look. Assim, em uma dualidade de modelagens casuais e formais, recortes fluidos e cartela de cores monocromática ajudavam a traduzir o conceito em roupas frescas e contemporâneas.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Além das três marcas estreantes do Projeto LAB, a noite de desfiles na Casa de Criadores também contou com três grifes veteranas, mais ainda na iniciativa incubadora. Uma delas foi a ACRVO, dos estilistas Hugo Ito e Lucas Romano, que resgatou o espírito rebelde dos tempos de escola. Inspirada no filme “Como se tornar o pior aluna da escola”, que estreia no segundo semestre, a coleção “ISCOOL for SCHOOL?” busca dar voz a diferentes personalidades, destacando as diferenças que compõem o universo escolar. Assim, os estereótipos considerados “fora dos padrões” ganham força em modelos com pregas, xadrez e até rabiscos de carteiras e cálculos. A irreverência da coleção ganha o contraponto da sobriedade da cartela de cores, que protagonizou contrastes marcantes na coleção.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Enquanto isso, a estilista Caroline Funke foi beber na fonte dos bailes de máscara e toda a subjetividade que essas festas possuem. Na coleção de Verão da sua grife, ela quis mostrar a experiência de ter que vestir algo diferente de sua personalidade por ter que a reprimir. Na prática, a coleção apresentou referências dos trajes de gala comuns a bailes de máscara de diferentes épocas, porém, em versões modernas. Nas cores, Caroline passeou por tons mais clássicos, como o preto e o branco, mas também apostou na vivacidade do vermelho, rosa, azul, amarelo e verde.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Por fim, a última integrante do Projeto LAB nesta edição da Casa de Criadores, Renata Buzzo, traduziu em sua última coleção os questionamentos femininos e o caos de sensações que a própria estilista tinha dentro de si. Assim, os modelos representam a inconstância, o ódio e o amor, a dúvida e a dor de uma mulher moderna. Para contar essa história, Renata elegeu o fio como símbolo da coleção em metáfora à vida e os nós, os questionamentos que inspiraram a estilista. De forma poética e subliminar, Renata Buzzo transformou angústias pessoais, figurativas ou literais, em modelos cheios de personalidade.

Este slideshow necessita de JavaScript.

O embaraço psicológico também foi a questão que inspirou a coleção Inverno 2017 de Diego Fávaro. Depois de colecionar experiências traumáticas e passar por dois episódios de depressão, o estilista resolver desconstruir estas sensações e traduzi-las em roupas na coleção “S.O.S.”. Para isso, Diego partiu de duas analogias em seus modelos: o escuro em que as pessoas depressivas se inserem e vivem e a bolha fria e sem cor na qual elas passam a viver. Com esta proposta, a coleção de Diego Fávaro tinha o conforto de tecidos acolhedores e aconchegantes e o contraponto de materiais encerados e rígidos. Como detalhe fundamental, as peças ainda tinham cores e símbolos que muitas vezes representam pedidos de socorro e acessórios utilitários.

Este slideshow necessita de JavaScript.

Quem também levou uma coleção engajada psicologicamente, porém de forma desconstruída, foi o estilista Rafael Caetano. Em homenagem à cultura drag, o desfile, que ainda teve a trilha de RuPaul como elemento chave, apresentou a combinação glam urbana deste universo brilhoso e maximalista. Na prática, os modelos traziam os códigos do streetwear de uma forma poderosa, com a ajuda do rosa, dos paetês e das estampas divertidas do mood drag.

Este slideshow necessita de JavaScript.

E, para fechar o terceiro dia de desfiles, Alex Kazuo resgatou a proposta sustentável de marcas anteriores nesta edição da Casa de Criadores e desfilou uma coleção que tinha, preferencialmente, materiais de descarte e fibras orgânicas. Sem uma inspiração definida, os modelos reforçaram o DNA do estilista que tem o preto e a cultura japonesa como pilares da criação.

Este slideshow necessita de JavaScript.