A criação autoral brasileira e a moda estão em festa e a todo vapor. Em São Paulo, desde segunda-feira, ocorre a 41ª Casa de Criadores, evento idealizado pelo jornalista André Hidalgo que visa revelar novos talentos do cenário fashion nacional e estreitar o caminho entre esses estilistas e o mercado de moda. Nesta edição Verão 2018, que comemora os 20 anos de inovação e originalidade da Casa de Criadores, o primeiro dia de desfiles teve a apresentação das grifes Brechó Replay e Diego Gama, Fernando Cozendey, Rober Dognani, Felipe Freire e Cemfreio. Ontem, segundo dia de catwalk por lá, foi a vez de Också, Felipe Fanaia, Tarcísio Brandão, Weider Silveiro e Ellias Kaleb desfilarem suas criações para o Verão 2018.
Na passarela, a pluralidade de inspirações e conceitos traduziram as apostas de cores e formas da temporada. Entre os destaques do primeiro dia, teve a cantora Pabllo Vittar na passarela livre de amarras e madeixas, moda sustentável e atenta ao conceito upcycling, cortes ousados, cores em uma paleta tradicionalmente preto e branca e streetwear embalado pelas ideias da década de 1990. Já na terça-feira, o destaque se concentrou no brechó, no handmade e nas lembranças dos tempos de colégio. Vale lembrar que, nestes 20 anos de Casa de Criadores, o evento, que ocorre duas vezes por ano, já revelou nomes hoje consagrados no cenário fashion brasileiro. No histórico, o jornalista André Hidlago coleciona sucessos como Walério Araújo, Ronaldo Fraga, Marcelo Sommer, Cavalera e João Pimenta.
Responsáveis por abrir a passarela da 41ª edição da Casa de Criadores, a grife Brechó Replay e o estilista Diego Gama fecharam parceria para uma performance no endereço da moda em São Paulo. Por lá, a dobradinha fashion destacou a questão sustentável e alertou para a reciclagem de materiais. Batizada de “Encontro11”, a coleção levanta a bandeira da moda de reuso em modelos transformados pelo talento de Diego Gama e sob curadoria do Brechó Replay.
No total, foram 23 looks que seguiram a inspiração “o negro pisando na Lua”, que trazia a ideia do negro conquistando novos espaços e das referências lunares. Como parte da proposta upcycling, Diego Gama incorporou em suas peças materiais não convencionais da indústria têxtil, como látex, e aplicações de silicone com pedrarias e canutilhos. Nas cores, a coleção “Encontro11” misturou tons de prata e cinza, além do preto e branco, com texturas em silicone para potencializar o conceito criativo nas peças.
Seguindo o line-up do primeiro dia de Casa dos Criadores, Fernando Cozendey levou a modelagem clássica dos anos 1990 para a coleção batizada de “AR”. Com seis anos de experiência no evento, o estilista inovou nesta temporada. Conhecido por trabalhar sempre com a lycra, Fernando apresentou uma coleção toda em jeans, mas com muito elastano. De acordo com ele, a proposta inovadora partiu de uma vontade pessoal de explorar novas texturas e materiais.
Sem abrir mão do conforto, o jeans da coleção “AR” tem grande porcentagem de elastano para, segundo Fernando Cozendey, garantir o movimento de looks mais colados e a forma de modelos mais amplos. Outra aposta do estilista para a temporada é a costura tradicionalmente usada no beachwear em roupas com shapes mais urbanos. Assim, Fernando Cozendey reforçou a identidade inconstante da marca. Geminiano em sua essência, o estilista contou que gosta de mudar sempre e, acima de tudo, estar conectado com todos os gostos.
Quem também desfilou toda a sua experiência na segunda-feira foi Rober Dognani. Veterano da Casa dos Criadores, o estilista apresentou uma coleção total black com mistura de shapes e tecidos. Mais uma vez, Rober reafirmou sua proposta ampla e trouxe grandes recortes, modelagens ousadas e divertidas para a passarela.
Ousadia, aliás, foi um dos conceitos dominantes na apresentação de Felipe Freire na Casa de Criadores. Por lá, livre de qualquer padrão retrógrado, o estilista desfilou modelos agêneros que tinham as argolas como destaque. Mais que isso. Para muitos, as correntes eram a própria roupa. Em uma coleção intitulada de “Liberdade”, nada mais compatível ao conceito do estilista, Felipe afirmou ter desenvolvido looks que são para pessoas inusitadas e com o corpo livre de toda opressão binária.
Nos looks dominados pelas argolas e correntes, Felipe Freire investiu em uma cartela de cores que variou entre o prata, níquel e preto e em formas triangulares, retangulares e ampulheta. Desta forma, apesar do espirito jovem, Felipe Freire já escreve seu caminho na moda nacional com um DNA bem definido. Para ele, o metal que veste é um diferencial da marca que não se restringe a apenas acessórios que completam os looks.
Para fechar a segunda-feira, a Cemfreio resgatou os rituais da infância do estilista Victor Apolinário na coleção “Fogo na Babilônia” que trouxe a musa da grife Pabllo Vittar como estrela do desfile. Nos modelos, a inspiração se concentrou na ancestralidade negra e em práticas do grupo, como a capoeira, as rodas de gira e o fogo que, na moda, ganham traduções livres e leves. Pela primeira vez, Victor foi além de sua tradicional dobradinha preto e branca. O estilista que não abandonava a combinação clássica apostou, desta vez, em tons fortes como o magenta, mostarda e verde oliva.
Na terça-feira, o dia de passarela começou com a Också e sua coleção “inominada”. Indo além dos trabalhos desenvolvidos em temporadas passadas, os estilistas Igor Bastos e Deisi Witz buscaram para o Verão 2018 se concentrar nos pontos ativos do que é para dentro e para fora. A marca, que tem a rua como elemento de inspiração e laboratório, apostou em uma tradução dual na união da resistência sólida com a vulnerabilidade do efêmero. Assim, o linho, o moletom e a malha dividem espaço com plume, veludo molhado e rip block.
Por outro lado, Felipe Fanaia apostou em uma historinha nostálgica para contar a sua coleção. Na passarela, o estilista apresentou “AS IF…”, desenvolvida a partir das lembranças de Cher, a blogueira de moda mais bem-sucedida e influente de Beverly Hills, que decidiu contar em roupa o que era sucesso nos tempos de colégio, em 1995. Na prática, a coleção traz releituras de jaquetas, parcas e vestidos nos mais variados tecidos que reúne as diversas influências e referências da época.
Já Tarcísio Brandão foi o nome responsável por tirar a moda do acelerador. Com o seu slow fashion tradicional, o estilista manteve a identidade brasileira nos modelos do Verão 2018. Nos modelos, Tarcísio seguiu apostando no artesanato brasileiro em uma mistura de tecnologia e handmade.
Assim como a parceria Brechó Replay e Diego Gama trouxe a questão sustentável para o primeiro dia de passarela na Casa de Criadores, Weider Silveiro reforçou a importância desta moda mais engajada na terça-feira. Com toda a sua experiência de mais de 11 anos de evento, o estilista apresentou pela primeira vez jeans em sua coleção.
Mais do que novos modelos, Weider apostou na proposta upcycling e transformou calças encontradas em brechós sem que elas perdessem a estética dos anos 1990. Nas cores, Weider Silveiro trouxe o branco e o off-white como bases de suas criações. Nos detalhes e complementos, a cartela ampliou para tons de azul, em listras e bordados, e preto.
Para fechar o segundo dia de desfiles na 41ª edição da Casa de Criadores, Ellias Kaleb apresentou o seu mais profundo mergulho fashion. Na coleção “Secreta”, o estilista apresentou uma estética floral que tinha como proposta revelar um paraíso real, porém distante do homem.
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