Estamos passando por um período de grandes e intensas transformações no fazer, apresentar e falar direto com o consumidor de moda. Não só na forma como reaprendemos a viver e a conviver nesse ano e meio de pandemia. Empresas tiveram que se transformar nesse período e se adequar completamente à economia circular, zero waste, sustentabilidade de toda a cadeia produtiva. O consumidor, o grande protagonista, está completamente atento a todas essas práticas. Acompanho há anos os desfiles da Casa de Criadores, idealizado pelo querido André Hidalgo, e de onde saíram nomes incensados da moda nacional. E como Hidalgo sempre arregaçou as mangas, pelo segundo ano consecutivo, ele faz bonito com sua 48ª edição. O start foi dado no site www.casadecriadores.com.br com 7 marcas que propuseram novas visões sobre o cenário da moda, como Vicenta Perrota, responsável pela abertura do desfile, Mônica Anjos, Studio Ellias Kaleb, Jorge Feitosa, Dario Mittmann, Brocal e Nalimo.
Em sua plataforma virtual, um ambiente de criação de conteúdo com livre desenvolvimento e exposição de moda e arte em diversos formatos e linguagens, a CDC apresentará suas 36 marcas de destaque, impulsionando potências criativas de diversos cantos do Brasil.
Vicenta Perrotta
Abrindo o primeiro dia do evento, Vicenta Perrotta, marca idealizada pela estilista de mesmo nome, apresentou mais uma coleção repleta de representatividade e sustentabilidade, com “Catálise”, sua nova coleção. Transmutação têxtil é o conceito tecnológico que representa esse processo catalítico realizado por corpas travestigêneres que se movimentam para a construção de processos de emancipação e autonomia, recuperando através da moda uma potência estigmatizada e historicamente reprimida.
Mônica Anjos
Estreando no CDC, Mônica Anjos está há mais de duas décadas no cenário da moda brasileira. Responsável por peças que fogem das tendências, Anjos oferece modelos que uma vez no corpo, não passam despercebidos. A “Coleção Ancestralidade”, inspirada na grande coreógrafa Mercedes Batista (esse é o ano de seu centenário) e sua trajetória profissional, consiste nas relações entre indumentárias e memórias negras, o diálogo considera oralidade e gestualidade que se expressam a partir das peças produzidas. A vestimenta permite pensar uma correlação entre o corpo e a memória, relacionando africanidades e estéticas negras.
Studio Ellias Kaleb
Na contramão dos processos automatizados, a coleção “Grito”, do estilista Ellias Kaleb, busca se mover em direção às costuras manuais e artesanais. Através das modelagens estão estrategicamente construídas, é possível vestir qualquer numeração, em celebração a pluralidade de corpos. Além disso, o algodão é usado como matéria prima, assim como tafetás de descarte industrial, pinturas e tingimentos que se mesclam em uma dança entre a simetria e a assimetria (a busca de um equilíbrio).
Jorge Feitosa
Dario Mittmann
Em sua nova coleção, “Escape”, o estilista retrata narrativas e estéticas do universo cyber que nos cerca, como a ascensão da cultura gamer, o surgimento dos e-boys e e-girls, o fenômeno do web hedonismo, a manifestação da arte e identidade sobre a pele através da tatuagem, e principalmente, problemas geracionais como depressão e ansiedade. Essa distorção de sentimentos é retratada na coleção, sobretudo nos detalhes das estampas. Já os shapes oversized da coleção por sua vez trazem um retrato de um mundo pós-pandemia, o conforto se tornou imprescindível.
Brocal
“Como sou uma mulher grande, sempre foi uma verdadeira gincana encontrar roupas que me coubessem. O mercado não tem cabimento para o corpo gordo. Desenhar uma coleção e uma marca é criar um lugar de liberdade em que eu determino o que me cabe. A ideia de compor peças vestíveis faz parte de um movimento a que me propus, exercitar a musicalidade em diferentes suportes, suportes que possam acolher e acarinhar diferentes corpas e corpos” diz Tulipa.
Nalimo
Fechando o primeiro dia de desfiles, Dayana Molina, estilista por trás da marca Nalimo, é responsável por um negócio feito 100% por mulheres em todas as etapas de sua produção. Em sua nova coleção, “Resistência Abya Ayala”, estampas autorais ilustram sua admiração pelas mulheres de sua família; sua intensa conexão com a matriarca e anciã vovó Naná. Peças fluídas, confortáveis, com design atemporal, revelam a liberdade e leveza pautada em uma vida minimalista e sustentável. Elementos sagrados como peixes e a importância da preservação dos rios e florestas também estão inseridos no contexto do tema da coleção.
Artigos relacionados