“Brasileiro é fogo. Sabe fazer festa na laje”, revela Walério Araújo, celebrando momentos que passou este ano, mas de olho na crise!


Enfant terrible se ressente das dificuldades no mercado da moda, se assusta com talentos que precisaram interromper atividades, brinca de Barbie com sua cadela-xodó e ainda alfineta a falta de conteúdo das blogueiras!

Walério Araújo é pura hibérbole. Ainda bem. Em um mundo massacrado pela banalidade, quando o politicamente correto assume proporções que o tiram do rumo e o transformam em mera pasteurização água com açúcar, é sempre bom ter alguém como Walério. Gente que bate a mão no quadril, levanta o queixo, sobe no queijo, roda a baiana e diz a que veio sem medo de chocar. E, apesar de todas as dificuldades desse ano que termina, o estilista teve bons momentos e, por isso, está cheio de planos para 2015. HT pôs sua plataforma de acrílico para ficar de igual para igual com o moço, do alto dos seus high heeled shoes, e foi conversar com ele sobre o momento atual. Confira!

Walério vai logo entregando: “Esse ano não foi brincadeira, tomei susto quando vi uma turma que admiro, como Fernando Pires e André Lima, fechando as portas. Também tive essa coragem. Em abril fechei a loja e pretendia reabrir em novembro, mas do jeito que a coisa está, ainda não voltei. Pretendo montar um ateliê aqui no Copan, onde tenho apartamento há 18 anos”, conta ele. “Foram meses de desafio”, completa.

Walério Araújo: apesar da crise no mercado, o designer não abre mão de sonhar (Foto: Divulgação)

Walério Araújo: apesar da crise no mercado, o designer não abre mão de sonhar (Foto: Divulgação)

Pernambucano de nascimento, ariano (ou seja, impulsivo até a última gota da garrafa) e tendo possivelmente escorpião como ascendente (“coisa de exu, hein, meu bem?”), ele exagera um pouquinho: “Esse ano até o vento parou”. E vai fundo: “Ninguém bateu o caixa. Não tinha como. Mas, no fundo, mesmo assim a gente consegue se divertir. Somos brasileiros. Nós acreditamos e, assim, vamos tocando. Esse é uma qualidade nossa”, revela, demonstrando crer piamente na força de vontade do povo. “Sabe como é, né? Em laje se faz uma festa”, ri.

Apesar das dificuldades, viajou para Paris, ficou um tempo lá, fez campanha com o brasileiro Deo Quintella fotografando. “Além de bom profissional, ele está um gostoso”, brinca. “E ainda teve  o negócio do prêmio, fui parar em Miami e Orlando, acabei adorando”. O designer se refere ao fato de ter vencido o projeto Art Experience, que aconteceu na 34ª edição da Casa de Criadores e que contemplava com uma viagem ao Dalí Museum, na Flórida, quem melhor se saísse na representação do surrealismo em desfile-conceito promovido pela Les Parfums Salvador Dalí. “Sou lutador e não entendo porque, às vezes, a imprensa mainstream não dá espaço, nem me segue no Instagram. Sou figura importante no Baile da Vogue, não é, meu amor?”

Tipo excursão na Disney: Relógios derretidos e bocas de Mae Wes são parte da fabulosa criação do estilista na 34ª edição da casa de Criadores, por ocasião do Art Experience lhe valeu uma passagem para a Flórida (Foto: Divulgação)

Tipo excursão na Disney: Relógios derretidos e bocas de Mae Wes são parte da fabulosa criação do estilista no Art Experience que lhe valeu uma passagem para a Flórida (Foto: Divulgação)

Aliás, Walério ama carnaval. Em 2015, depois do agito do Vogue em Sampa, vem para o Rio, dá cabo do seu roteirinho básico no carná carioca, incluindo o Sambódromo e o Baile do Copa (“imperdível!”), mas quer fazer também um bate-e-volta em Recife para conferir o Galo da Madrugada: “Fafá de Belém tem uma camarote-bafo lá e me convidou”.

Babado da folia: Walério Araújo é figurinha fácil no Baile da Vogue, tanto em carne e osso quanto na versão-tecido, cobrindo o corpitcho das clebrities com modelitos de arrasar (Foto: Divulgação)

Babado da folia: Walério Araújo é figurinha fácil no Baile da Vogue, tanto em carne e osso quanto na versão-tecido, cobrindo o corpitcho das celebrities com modelitos de arrasar (Foto: Divulgação)

Ele lembra que, logo no início do ano, as produções que fazia da sua border collier Mazé viraram febre nas mídias sociais: “Adoro vestir minha filhota e o povo pira com as produções, só não dá para descer na rua com ela toda montada porque ela não segura a onda, embora adore ser produzida para as fotos”. Ele revela que começou tirando graça com outra cadelinha que ele teve, Vivienne, mas agora dá para ir mais fundo: “Até pelo momento que a imprensa de moda está passando. Nunca vi tanta blogueira sem conteúdo ocupando o espaço, salvo uma ou outra. Essas são minhas amigas. As demais, não acredito que vão persistir no meio da informação só com look do dia. Aí, resolvi produzir a mesma coisa com a Mazé. Uma forma de brincar, mas ao mesmo tempo criticar”, confessa sem receio algum de incomodar. “Não sou novato, falo porque tenho que falar”.

Vida de cão: Mazé em dos dog selfies que a tornou tão famosa quanto a Lassie (Foto: Divulgação)

Vida de cão: Mazé em dos dog selfies que a tornou tão famosa quanto a Lassie (Foto: Divulgação)

“Dói ver gente sem estofo ganhando dinheiro, lucrando alto em cima da obviedade. Vi estilistas incríveis, que respeito muito, sentados na primeira fila e assistindo desfile na SPFW,  talentos absurdos fora do circuito. Triste isso”, conta, lembrando que, por outro lado, foi nesta última edição do evento que conheceu Alice Caymmi, que tinha ido cantar no desfile da Llas, estreante naquela passarela. “Fiquei pasmo, coisa do Zé Pedro. Não sabia quem era, me encantei. Aí o Paulo (Borges), que também não conhecia a cantora, foi fazer a direção do show e me convidou para fazer o figurino dela. Quando ele me ligou, achei que ia levar uma bronca dele, que é meu amigo desde o Amni Hot Spot, porque havia falado do esvaziamento das semanas de moda. Mas era para fazer o figurino”, ri.

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Por falar em figurino, Walério crê que parte da razão de estar aí no mercado, forte na mídia – apesar da crise –  é o fato de sempre ser atuante na criação para artistas: “Isso deixa a gente em evidência. Não tenho como negar a força que a Erika (Palomino) me deu na Folha de São Paulo quando comecei. Isso abriu muitas portas. Mas vestir celebridade mantém a gente na boca do povo e com destaque nos veículos de comunicação”, conta, ressaltando que vai de Claudia Leitte a Sabrina Sato, de Maria Rita à Valesca Popozuda. “Sou eclético, faço vestido de festa também. A rapaziada à vezes vê a forma como me visto e acha que só faço no trabalho o que uso pessoalmente. Nada a ver”.

Unha e carne: Walério Araújo posa ao lado de Sabrina Sato, uma das personalidades que não abre mão dos modelitos babadeiros do estilista (Foto: Divulgação)

Unha e carne: Walério Araújo posa ao lado de Sabrina Sato, uma das várias personalidades que não abre mão dos modelitos babadeiros do estilista (Foto: Divulgação)