SPFW: com pouquíssimas bocas marcadas e ênfase no olhar 43, estilistas explicam o porquê do make up pasteurizado!


Supremacia da cara limpa! Com soluções lindas, mas nem sempre inovadoras, a edição inverno 2015 primou pela simplicidade da beleza. Elaborada sim, mas minimalista no resultado. Ecos de uma crise econômica global ou tendência?

Se depender da São Paulo Fashion Week, a máxima “quem tem boca vai à Roma” não vale para o próximo inverno e quem passar muito batom não chega nem em Piracicaba, quanto mais na capital da Itália. Essa é a constatação de quem observou com olhar atento a maioria dos 36 desfiles, que apresentaram belezas limpas, quase todas com bocas neutras. À exceção de TNG e Juliana Jabour, que optaram por lábios fortes, em tons de vinho profundo, do delicado tom de rosa que Celso Kamura criou pensando nas flores para enfatizar o tema jardinagem no show de Alexandre Hechcovitch, e do alaranjado usado pela dupla Fabiana Gomes e Ricardo Rodrigues para a apresentação de Pedro Lourenço, grande parte das grifes trouxe pouca ênfase para esta região ds face, preferindo se concentrar, quando muito, no olhar. Mesmo assim, sem arroubos capazes de rivalizar com a exuberante beleza de Liz Taylor em “Cleópatra” (idem, de Joseph L. Mankiewicz, Twentieth Century Fox 1963). Basta lembrar que o universo cosmético e o mundo do espetáculo andam de braços dados, e que a Revlon chegou a criar um batom rosa suave a ser usado pela atriz no épico histórico e que foi sucesso avassalador de vendas, com direito a comercial estrelado pela modelo Suzy Parker. E mais: segundo o papa Andy Warhol, a esfuziante maquiagem da estrela nesse filme, usada para caracterizar a soberana do Egito, foi “uma das mais importantes influências sessentistas no pop arte, que ecoou no visual feminino por toda a década de 1960, chegando ao limiar dos anos 1980.”

Mesmo com toda essa importância histórica da maquiagem, o resultado da maquiagem nesta leva de fashion shows foi pouco surpreendente – com raríssima exceção – e mesmo nestes últimos desfiles supramencionados, Kamura parece corroborar com isso, afirmando: “Usei batom Peony, mas espalhei com o dedo para dar pouca definição”.

Por isso, é importante ressaltar que, nesta edição do evento, a beleza andou rumo à neutralidade e um dos motivos, óbvio, sempre é facilitar a troca de make up de um desfile para o outro, já que muitas modelos saem de um e entram no seguinte. Sim, trata-se do tal cruzamento de castings que, sem dúvida, é uma das razões para a escolha de maquiagens mais simples. Assim, basta pensar no verdadeiro show de Ronaldo Fraga – no qual as modelos foram submetidas a um intenso processo de visagismo, com par de olhos desenhados na testa e a pele inteira pigmentada de vermelhão, seguindo um croqui criado pelo próprio –, para se justificar fortes dores abdominais na organização do evento, sabendo que um intrincado processo de elaboração como esse não apenas leva muito tempo para ser realizado (necessitando que as tops cheguem muito cedo ao backstage e impedindo-as de participar dos desfiles anteriores) como se torna enxaqueca para a equipe da grife seguinte a desfilar, que precisará lidar com a remoção total do make para, então, começar o embelezamento das modelos de seu próprio show. O resultado? Somente uma palavrinha mágica capaz de gelar tanto a produção quanto os jornalistas em périplo exaustivo: atraaaaaaaaso!

Ainda assim, quem iria negar a criatividade do make up de Ronaldo Fraga, em meio à pasteurização do beauty styling visto em tantos shows? Quem responde é o bamba Marcos Costa, responsável pelo trabalho: “Vi um croqui da coleção que tinha a bonequinha desenhada por ele mesmo com essa interpretação de beleza. Olhei para o Ronaldo e disse, vibrando: ‘É isso, não pode ser outra coisa!’. Ele deu carta branca e mandamos ver”, conta entusiasmado.

(Foto: Agência FotoSite | Divulgação)

(Foto: Agência FotoSite | Divulgação)

Por sua vez, o estilista sublinha a visão do beauty artist: “O último momento em que a roupa pertence ao estilista é no desfile. O mundo atual, por questões econômicas e práticas, tem procurado caminhos de expressão mais fáceis. Essa nunca foi minha seara e não será depois de quase 40 desfiles. Mais do que nunca, humor, poesia e surpresa são sinais de resistência num mundo padronizado e pronto para a venda”. Ronaldo, quem sabe, deve fazer parte daqueles fãs ardorosos que sempre vibraram com a surpreendente beleza daqueles desfiles de John Galliano para Dior, nas mãos dos fabulosos Pat McGrath (make) e Orlando Pita (cabelos). Ganha um doce que confirmar isso da boca do próprio.

De qualquer forma, a praticidade do fluxo de apresentações não é o único motivo para explicar a simplificação da beleza. Quem comenta isso é Victor Dzenk, um designer que curte criar roupa elaborada, cheia de prints exuberantes (sua marca), mas que acredita que a beleza atual busque uma naturalidade: “A época é de recessão, a moda precisar dar vazão à fantasia, mas não pode deixar de vender. E o beauty, de certa forma, acompanha este momento em que tudo precisa ser viável”. Mas, nem sempre a questão comercial é o único motivo: O estilista mineiro completa: “Pensamos em um visual soft até mesmo porque tinha muito chapeu, óculos e franja no styling, tudo em tons de marrom e terrosos. Por isso fizemos um cabelo preso partido ao meio e make leve”. Okay, Victor. Cabeleireiros e maquiadores, fica a dica!

De qualquer forma, a importante ter em mente que, no próximo inverno, em muitos casos existe o predomínio de um olho marcado sobre uma boca neutra. A dupla Fabiana Gomes, profissional sênior da MAC no Brasil, e Krisna Carvalho escolheu uma sombra avermelhada para o desfile de Vitorino Campos, que trazia muito preto e azul nas roupas. Contraste delicado, mas pontual. Ricardo dos Anjos pensou em um olhar preto para a Amapô, mas, como a marca flerta com o pop-conceito, estendeu a sombra pelas têmporas com gatinho em forma de cruz. Ótima solução de impacto, mas que facilita o trabalho do maquiador que vier depois, ainda que, no caso, o desfile seguinte do dia (e último da temporada, aliás) fosse a TNG, com poucos modelos em cruzamento e no qual Robert Estevão preferiu o tal make limpo com boca vinho. Para quem pensa que vida de maquiador na passarela é só delírio criativo, que fique registrado desde já que, antes de mais nada, trata-se de profundo contexto de engenharia de produção.

Confira abaixo a galeria de fotos das belezas apresentadas nesta SPFW!

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