O tempo passa e a moda precisa estar sempre atenta ao novo panorama que a cerca. Atualmente, entre outras questões, a temática sustentabilidade é um importante fator neste universo. Com a natureza cada vez pedindo mais socorro, iniciativas que valorizem o uso inteligente dos recursos e promovam conscientização sobre o tema são fundamentais. E foi justamente isto o que vimos na última edição do Salão de Design e Inovação de Componentes, em São Paulo. No evento realizado pela Assintecal (Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), o movimento Green Nation Brasil se fez presente pelo olhar criativo do estilista João Pimenta. Entre as inspirações do Inverno 2018, o designer apresentou duas figuras produzidas com looks em algodão sustentável.
Com a missão de mudar as atitudes e comportamentos em relação a sustentabilidade, a Green Nation vem se destacando no mercado da moda e das artes com seu essencial engajamento ecológico. O movimento, dirigido pelo geógrafo e produtor de cinema Marcos Didonet, tem a top Gisele Bündchen como madrinha e já teve seu conceito inserido no filme Amor.com, que estreou este ano nas telonas. “É um enorme trabalho de cultura, educação, cinema, esporte e arte, que envolve uma nova forma de viver. Porém, nós sentimos necessidade de trazer o setor produtivo. Afinal, não adianta nada falar de todas estas questões se quem produz não se engajar”, explicou Marcos que, para esta missão, contou com a consciência e a visibilidade de Gisele Bündchen para propagar a ideia, principalmente no ambiente da moda.
No caso do filme Amor.com, a Green Nation esteve inserida como parte da ideologia da personagem de Isis Valverde, protagonista do longa. “A Isis interpretava uma blogueira de moda que sonhava em produzir algo novo e diferenciado. Dentro da dramaturgia, ela foi contratada por uma loja, mas queria mostrar uma ideia de sustentabilidade, como um novo produto. Então, a gente trabalhou dentro da história como uma pequena informação, nos moldes de um product placement, que mostrou que dentro da moda e desse universo do glamour também é possível ter essa preocupação”, contou.
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A última grande exposição deste conceito foi no Inspiramais, que rolou na última semana. Como referência no setor de moda para o Brasil e até a América Latina, o evento promovido pela Assintecal e parceiros é vitrine para designers, empresários, jornalistas e influenciadores de diversos estados. Por lá, a proposta do Green Nation veio traduzida em duas criações assinadas por João Pimenta. “É um projeto de produção têxtil de moda sustentável. A gente quer linkar a sustentabilidade com o design para mostrar para a grande indústria que é possível produzir roupa de alta qualidade, com um desenho espetacular, porém, que economize 80% de água, 50% de energia e não use produtos tóxicos. Na verdade, é o caminho para o futuro dentro do conceito de economia circular”, explicou Marcos Didonet que ainda destacou a importância deste projeto. “Hoje nós jogamos bilhões de toneladas de retalhos fora que só servem para entulhar aterros e exceder lixões. No entanto, eles podem voltar para a cadeia produtiva não como uma roupinha de retalho, mas algo com glamour. Então, nós queremos que, de certa forma, ao criarmos o Green Nation Collection, mostremos para o segmento que é possível o que é inevitável. O mundo vai precisar disso”, completou.
No Salão de Design e Inovação de Componentes, o que vimos, em relação à moda, foi mais um espetáculo assinado por João Pimenta. Em meio ao Inverno 2018, e até ao Verão 2019, como já contamos por aqui, o estilista apostou na ideia de espíritos africanos para traduzir o conceito do material. Neste trabalho, João Pimenta contou que inverteu a ordem de seu processo criativo para valorizar o algodão sustentável usado na produção das figuras. “Eu tinha a missão de criar dois looks com a matéria-prima que iria receber. Quando eu vi o algodão colorido no jacquard com desenhos tão africanos e tribais, na hora, eu tive o desejo de fazer um olhar inverso. Geralmente, a gente elabora um conceito para desenvolver o produto. Neste caso, eu peguei o produto para fazer o conceito de onde, supostamente, teria saído esse conceito”, lembrou.
Embalado por essa proposta, o estilista associou a identidade visual do material a espíritos africanos e, a partir daí, desenvolveu uma criação masculina e outra feminina. “São figuras que a gente não define bem porque possuem o rosto coberto e cheio de elementos. Então, primeiro, eu fui tentar buscar o conceito dessas estampas, e depois a ideia do algodão colorido”, disse o estilista que, além do material sustentável, também trabalhou com uma palha africana com textura de tecido. “A ideia é que tenha um aspecto de sujo com muitos elementos. Os tecidos já tinham as estampas e depois eu fui acrescentando mais, como as máscaras de couro”, detalhou. Por falar nas estampas originais do algodão, João Pimenta ainda se dedicou em destacar os desenhos do material, como ressaltou. “As estampas que estão em 3D são do próprio tecido. A gente deslocou as padronagens e reaplicou depois no vestido”, completou o estilista João Pimenta.
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