Tropical e centro de belezas naturais exuberantes, o Brasil é um pólo para a criatividade artística. Com um olhar apurado e a missão de levar o artesanato made in Brazil para o cenário da moda internacional, o designer Jefferson de Assis esteve à frente dos projetos Mix by Brasil e Referências Brasileiras para mais uma edição do Inspiramais. Em 2017, o evento realizado pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal) e pelo Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil (CICB) ocorreu nos dias 16 e 17 e reuniu, em São Paulo, jornalistas, deisgners, compradores e produtores do Brasil e do mundo.
Por lá, Jefferson de Assis conversou com o HT e contou que a sua função como responsável pelo Mix By Brasil é ser ponte entre a fonte do tesouro e o sucesso mundial, mas sem descaracterizar o trabalho do artesão. “A minha missão é entrar em núcleos de artesanato, que pode ser o ateliê de um único artesão ou em uma comunidade criativa, e fazer a ponte desses artistas com os visitantes do Inspiramais. No evento, as pessoas geralmente vêm com o objetivo de procurar somente por produtos e novidades industrializadas. Então, a minha função é fazer essa ligação através do Fórum do Inspiramais para alinhar o que este artesão faz com o que apresentamos no Salão”, explicou o estilista que disse que, em alguns momentos, precisa ser a fonte de informações das próximas temporadas para alertar sobre o que estará em alta no cenário do moda. “Às vezes, o artesão tem uma cor ou uma textura que são incríveis, mas não para este momento. Aí, cabe a mim chegar para ele e falar para guardamos aquele trabalho para uma outra estação mais adequada”, acrescentou.
Para a 15ª edição do Salão de Design e Inovação de Componentes, o olhar fashion e antenado de Jefferson de Assis apresentou três novidades e apostas do artesanato brasileiro aos milhares de visitantes globais. Para o êxito esperado, ele, que definiu a sua atuação à frente do projeto Mix by Brasil como uma consultoria de design, disse que trata o trabalho destes artesãos como se fossem empresas. No caso da Cajuvida, do interior de São Paulo, por exemplo, Jefferson de Assis precisou mudar o tipo de produto que o ateliê fazia. Especializadas em macramê e crivo, as artesãs deixaram de fazer peças para decoração da casa e passaram a confeccionar para o universo da moda. “Eu descobri o trabalho delas em uma toalha de secar a mão. Foi então que eu destaquei que aquilo era incrível demais e que precisava estar em outro tipo de produto”, lembrou.
Já no caso da Damas e Tramas, de Caxias do Sul, Jefferson descatou o diferencial do ateliê que trabalha com crochês, bordados e tricôs. Para se destacar em um tipo de mercado já existente no cenário fashion brasileiro, o estilista ressaltou o tipo de material usado pelo ateliê para a confecção dos produtos. “Além do primor e do acabamento, o diferencial é o fio de fibra que elas usam para fazer o trabalho manual. Elas trabalham com materiais que a indústria ainda não esgotou o uso, como cones de linha”, explicou.
Se o belíssimo e encantador trabalho de enaltecer o artesanato brasileiro à frente do Mix by Brasil já seria uma importante contribuição para o cenário da moda, Jefferson de Assis vai além. Em paralelo com os projetos Preview do Couro e +Estampa, que já contamos por aqui, o estilista se apropria dos conceitos chaves para a temporada analisada, neste caso o Inverno 2018, e os trazem para a cultura nacional. Para a estação mais fria do ano que vem, Ramon Oliveira Soares, consultor da Assintecal e do CICB, já havia nos adiantado que a leveza, as bolhas e o ar serão os conceitos criativos que devem comandar as coleções.
No projeto Referências Brasileiras, Jefferson de Assis bebeu desta fonte de inspiração e traçou na nossa cultura a tradução desta combinação de palavras. O resultado? Uma dança típica e tradicional do nordeste brasileiro. “A minha missão no Referências Brasileiras é buscar algo que na cultura brasileira se comunique com essas palavras. Enquanto o Preview do Couro faz o olhar global sobre esses conceitos, eu faço a visão local. Então, para o Inverno 2018, eu trago o frevo como identificação nacional”, disse, acrescentando sobre a escolha: “O dançarino de frevo, na hora em que ele levita, parece estar tudo muito tranquilo. Ele sorri e está feliz mesmo fazendo um esforço absurdo, que demanda de muita estrutura e flexibilidade”.
Com a tradução nacional dos conceitos criativos apontada, Jefferson de Assis passa a aplicar essas inspirações na prática. Ou seja, o estilista apropria-se da ideia e reproduz a imagem em materiais que serão usados em sapatos, bolsas e outros produtos nas coleções de Inverno 2018. “A partir do momento em que eu identifico as palavras chaves e escolho o meu caldeirão de informações, que desta vez foi o frevo, eu vou buscar nessas inspirações ideias para criar couros, tecidos e componentes para só depois transformá-los em produto final”, explicou o estilista que ressaltou que seu trabalho não é feito para o consumidor final. “Os meus estudos e análises são para o visitante do Inspiramais. Então, todos os materiais que eu projeto são para sensibilizar quem vai produzir couro e metais para o Inverno 2018, por exemplo”, acrescentou.
Na prática, este trabalho de Jefferson de Assis gerou couros com aspecto de borbulhas. Inspirado pelo conceito criativo das bolhas, o estilista idealizou um pedaço de couro com esferas de vidro que remetessem à palavra chave da estação. “A partir dessa minha ideia, outros cortumes vão começar a reproduzir e facilitar as inspirações nas coleções, porque as pessoas vão ver esse material e despertar o desejo por eles. Então, as empresas começam a produzir para atender até que este se torne um produto massificado”, explicou. Brilhante, né?
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