*Por Jackson Araujo
Em três dias de evento, o Angola Fashion Week mostrou que prossegue na árdua tarefa de profissionalizar um mercado informal que cresce a cada ano no pipocar de novos ateliês, novas lojinhas e portas de alfaiates, mostrando o gosto que o povo angolano tem pela moda. É que aqui, o corpo vem antes de tudo, com seus panos, seu gingado, sorriso largo e penteados, refletindo a busca de cada um pelo estilo pessoal, pela beleza única, pelo corpo como ferramenta de resistência às agruras dos tempos difíceis que parecem intermináveis. Mas, como bem lembrou Ronaldo Fraga em conversa no backstage – o estilista brasileiro é convidado do evento para mostrar sua brilhante coleção “Re-Existência –, “somente a arte e, às vezes, a moda consegue enxergar poesia em terreno árido”. Certamente é esse desafio que faz com que o grupo Emirais, na pessoa de Emilia de Morais, que preside o Angola Fashion Week ao lado de seu filho, Edson N’Dalu de Morais, invista energia, garra e esperança na construção de um legado positivo para a indústria cultural de seu país, contando com a expertise de Reginaldo Fonseca e seus colaboradores na Cia Paulista de Moda, agência que dirige criativamente o evento em Luanda.
QUE VENHA O NOVO
Nesse sentido, um novo e definitivo passo foi dado com a criação do projeto Angola Fashion School, que coloca os designers da marca carioca OEstudio em contato direto com a novíssima geração de estudantes de diversas áreas interessados em moda como profissão e negócio. A iniciativa inaugura no país um passo fundamental para a organização do pensamento estratégico que faltava para a evolução do evento enquanto plataforma de lançamento de produtos com identidade sintonizados com os desejos globais.
AMAPÔ NA ÁFRICA
Do Brasil, Pitty Taliani, sócia de Carô Gold na marca Amapô, trouxe para a semana de moda angolana a alegria do carnaval brasileiro. Em um desfile ao som de marcantes canções de Caetano Veloso com forte influência afro, Pitty mostrou seu descolado jeanswear e divertido beachwear com styling de bloquinho, batizado de Grêmio Recreativo Escola de Samba Amapô Angola Fashion Week. A topmodel angolana Maria Borges já adotou a clássica pantalona da marca e postou elogios em seu instagram pessoal (@iammariaborges).
BELEZA PURA
E por falar em Maria Borges – a modelo angolana que é angel da Victoria’s Secret e foi a primeira top do estrelado casting a desfilar de cabelos curtinhos – tem influenciado as neotops angolanas com seu visual de cabelo afro natural. As meninas mais bacanas do casting adotaram o look: Maura Ribeiro, Rufane Tomás e Maria Raposo. No entanto, Maria Borges surpreendeu a todos ao aparecer na passarela com a cabeça trançada num belo penteado desenhado pelo beauty-artist Carlos Carrasco, que assina a beleza dos desfiles do evento. Outros nomes que chamam atenção na passarela são os modelos Cheik Mbunga e Miguel Leite. Ao lado da surpreendente Blésnya Minher formam o grupo mais fresh do mercado local de modelos.
O FIO DA MEADA
A artista e designer Karlla Girotto e a stylist e artista Thatiana Kurita trouxeram expertise criativa de moda para a imagem dos desfiles, compartilhando conhecimento com os estilistas interessados em avançar na construção de uma imagem forte de moda. É o caso da estilista Ilse Naolila, que novamente ganha destaque como o melhor desfile de moda jovem do evento. Sua marca Nao.Li.La colocou na passarela inteligentes construções em materiais como cetim de algodão, plástico e telas esportivas, mostrando evolução e identidade para uma história que está sendo contada passo a passo, sem perder o fio da meada. Muito bom.
SWAG
No masculino, o destaque vai para o moçambicano Nivaldo Thierry, que estréia no evento com uma coleção de jaquetas e casacos trabalhados em matelassê e couro, mixando os universos de motobiker e futurismo. Desfilou ao som de uma track que tem feito a alegria das pistas em África, “Get Down (Whistle Song)” – DJ Mshega feat. Busi N. Impossível ficar parado.
AFRO-COUTURE
Grande destaque da moda angolana, a marca Fiu Negru, da estilista Mariangela Almeida, fechou o evento mostrando evolução sobre seu estilo, propondo um belo diálogo afrocouture em materiais nobres (seda, shantung, algodão, franjas, couro) com estampa exclusiva, cartela de cores vibrantes e apurado styling assinado pela criativa e sensível Rania Elawar. Emocionou.
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