* Por Carlos Lima Costa
Vencer qualquer concurso de miss é motivo de orgulho para algumas mulheres. No caso de Anna Karina Rezende, eleita Miss Plus Size Rio de Janeiro 2021 no concurso idealizado por Eduardo Araúju, a vitória tem uma simbologia ainda mais forte. A coroa na 12ª edição do evento devolveu à candidata de 37 anos uma autoestima perdida, após começar a engordar gradativamente a partir dos 22 anos, viver uma depressão, ser traída no casamento de uma década, que teve fim há cinco anos. Essa é a vitória da volta por cima. “É possível se amar, se sentir desejada, bonita e feliz”, ensina.
Agora, com o que vivenciou durante todo o processo do Miss Plus Size Rio de Janeiro, Anna realmente passa por um processo de transformação. “Após conhecer as outras participantes, já comprei um cropped, uma calça grudada, vi que o meu formato de corpo pode ser bonito estando acima do peso e que isso também pode ser revertido na hora que tiver de ser, se eu quiser que seja. Com esse concurso, com tudo que eu vi, me vejo bonita de novo. Me olho no espelho e falo: ‘Posso ser desejada’”, reforça.
E prossegue relatando o misto de incredulidade e felicidade sentido ao ouvir que o título era dela. “Fiquei um tempão com a mão no peito, fiz cara de espanto, falei que tinha algo errado, que não era possível. Mas amei desfilar, foi tudo muito gostoso, uma sensação boa. Estou encantada. Era algo que eu não imaginava. Ser miss nunca passou pela minha cabeça. Na verdade, quando meus primos pagaram a inscrição, falei que não tinha nada a ver comigo. Mas conforme fui fazendo os ensaios, conhecendo esse universo, fui me libertando daquele lugar que eu estava de vergonha do meu corpo, de achar que era inadequado, que eu não podia usar roupa curta, colocar a barriga de fora”, enfatiza ela.
Na sua trajetória, Anna já havia engordado com a gestação do filho. Ela casou grávida de cinco meses de Matheus, hoje com 14 anos, quando pesava 68. “Eu era magra, aí quando virei adolescente sempre tive uma estrutura óssea grande, quadril largo, não tinha barriga, sempre tive perna e bumbum. Ao começar a engordar na gestação, ainda mantinha um corpo que para a minha altura, 1,67m, estava bem. Eu parecia a saradona, barriga reta, mas com perna e bunda, gostosona, vamos dizer assim. Mas, na depressão, engordei muito e cheguei a pesar 102 quilos. Passei de um lugar tranquilo, saudável, para ficar bem maior”, lembra ela.
Anna demorou a receber o diagnóstico da depressão. “Aí aconteceu a situação clichê: meu então marido conheceu uma mulher que era sarada e me traiu. Acho que a partir daí começou a ter aquela comparação e você meio que no estado depressivo com essa questão do corpo, porque as pessoas em depressão tem tendência a engordar. Foi um conjunto de fatores e o corpo de fato influenciou nesse sentido, percebi que meu marido se distanciou bastante, não me olhava mais com aquele olhar de admiração. Quando ele saiu de casa, eu já estava em depressão, aí fiquei muito abalada, não conseguia colocar roupa curta, barriga de fora, roupa grudada, estava sempre com roupa mais larga”, recorda.
Ainda hoje, Anna reflete sobre todos os motivos que desencadearam a depressão. “Investigo isso com a minha psiquiatra, estamos analisando. Agora, é fato que o processo depressivo piorou com a separação, tinha um filho, eu vivia para a minha família. Então, isso abalou muito a minha vida, fiquei nervosa, chateada de não tê-lo ali com a gente, engordei e fiquei mais triste, tudo somatizou, não me achava bonita, desejada”, frisa.
E relata novamente a volta por cima. “Hoje, algumas pessoas já conseguem ver de fato a sua beleza além das curvas que você tem, se você é sarada, magrinha, se está tudo no lugar. Conseguem ver que a beleza não é só aquilo tudo definido, no lugar direitinho, que, às vezes, a gente passa por um momento que de fato a gente deixa de prestar atenção nisso e aí esse concurso me fez ver isso de novo. Olha, as pessoas me acham bonita e se espelham em mim. E vão olhar para mim não como uma representante da gordura, não é isso, mas desse lugar, eu estou aqui e posso ser bonita”, comenta Anna, que ainda usa remédio para a depressão e se consulta a cada um mês e meio.
A vida afetiva ela não refez. “Fiquei com algumas pessoas, mas são cinco anos em que eu não namorei, não aconteceu, tive insegurança, também me dediquei muito ao meu filho. Agora, com tudo que está acontecendo comigo, já penso que pode ser que surja aí uma pessoa para somar”, pondera.
O foco agora está voltado para o Miss Brasil Plus Size que vai ser realizado dia quatro de dezembro. “Estou com a expectativa de que vou trazer a vitória para o Rio de Janeiro”, diz ela, que pensa até em voltar a investir na profissão de atriz. “Eu me formei, mas era algo também que meu ex-marido não gostava e aí eu parei, não segui com a carreira, porque ele pediu para eu não continuar”, conta. “Hoje, entendo que mesmo sendo um casal, isso não é um motivo para alguém não querer. Entendo também a insegurança dele. Foi o que aconteceu de fato. Mas deixei porque quis também, preferi dar voz ao meu casamento do que ficar brigando com ele. E não tem questão de arrependimento. É o que tinha que ser, sabe, não foi. E não foi isso que fez o casamento acabar, foi só mais uma questão”, completa Anna, que profissionalmente tem se dedicado a representar a uma marca de bijuterias que pertence a sua mãe.
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