No “Evangelho Segundo o Espiritismo” – a explicação das máximas morais do Cristo em conexão com o espiritismo e suas aplicações às diversas circunstâncias da vida -, Allan Kardec (1804-1869) ressalta em um dos trechos do capítulo XI: “Amar o próximo como a si mesmo: fazer pelos outros o que quereríamos que os outros fizessem por nós”. Com um pedido de licença, abro o coração para dizer que assim Anderson Birman, um dos maiores empresários desse país e que tem sua chancela na História da Indústria Calçadista, alinhavou sua vida pessoal e profissional, sempre doando-se ao próximo com humildade e solidariedade. Este é o homem Anderson Birman. Na semana passada, uma torção no pé direito ao caminhar, me impediu de dar o meu mais forte abraço em Birman, que lançou o livro “A Cada Passo”, em São Paulo, com a presença dos amigos de toda uma trajetória. Aqui, no meu Rio de Janeiro, mergulhei em cada frase do livro de Anderson, um ser humano que me fala muito nesse meu ladrilhar uma carreira de 30 anos no jornalismo. E precisei fazer esta homenagem a ele no começo deste meu texto logo que me deparei com um parágrafo do livro que tem curadoria do diretor-criativo, Giovanni Bianco, e com depoimentos à jornalista Ariane Abdallah.
Sou judeu de origem, mas optei por seguir o espiritismo como religião, misturando minha crença no kardecismo e na umbanda. Acredito que a fé tem relação direta com a religião. As duas estão intimamente ligadas. Também acredito que a fé precisa respeitar alguns princípios e comportamentos, como não fazer para o outro o que não gostaria que fizessem com você ou não desejar para o outro o que não se deseja para si mesmo. De nada adianta alguém ter fé e fazer mal para o semelhante. É preciso ter um sentimento de bondade ao praticá-la, ajudando a aliviar o sofrimento de quem está ao redor – Anderson Birman
Anderson nasceu em 2 de fevereiro de 1954 – dia de Nossa Senhora dos Navegantes e, no sincretismo, Dia de Iemanjá, orixá feminino, que é a padroeira dos pescadores. Muito popular no Brasil, nessa data, os devotos usam roupas brancas e deixam flores e outras oferendas à Iemanjá, rainha do mar. O empresário, o mestre criador da Arezzo, homem de fé, garra, com uma potente vida de empreendedorismo que faz a roda da economia girar no país, tem um legado inspirador com suas ações disruptivas em uma empresa fundada em 1972, quando ele tinha 18 anos, em Belo Horizonte (MG), que hoje integra o portfólio da gigante Arezzo&Co, a maior house of brands de moda do país que está em alta voltagem em um mega processo de internacionalização de suas marcas Arezzo e Schutz em sinergia com a marca Alexandre Birman, criada pelo filho, hoje CEO e CCO do Grupo Arezzo&Co. Assim como o pai, Alexandre Birman idealizou também a Schutz, aos 18 anos, e mais tarde a label que leva seu nome.
Look, segurança e conforto: os três pilares de qualidade que eu prezo (…) Não aprendi o ofício de sapateiro em escolas – adquiri esses princípios ao longo da vivência. As matérias de cunho cultural, como História e Artes, ajudavam, mas o que realmente mudou a minha cabeça foi aprender Física no curso de Engenharia Civil. Com o conhecimento de matérias de Humanas e de Exatas, apreendi cultura e dom – Anderson Birman
Tenho inúmeras passagens em minha vida profissional nas quais lá estava Anderson Birman. Uma das inesquecíveis foi durante o antológico show dos Rollings Stones, na Praia de Copacabana, para uma multidão de mais de milhão de pessoas e que até hoje Mick Jagger e seus irmãos de vida e arte consideram um dos maiores shows do grupo. Assim que o show terminou, eu e meu repórter nos despedimos em frente ao Copacabana Palace. Quando eu seguia para casa, me deparo com Anderson sentado em um banco na orla. Próximo a ele, estava a cantora Sandra de Sá, que eu fiz questão de apresentar. Generoso, sempre, Anderson nos convida para um drink na Pérgula do Copa, ali em frente à célebre piscina do hotel. De repente, falo para ele: ‘Anderson, olha os músicos dos Stones seguindo para o hall do hotel’. Sabedor que sou uma ‘eterna repórter’, ele me puxa pela mão e diz: ‘Vamos ver para onde eles estão indo. Estou hospedado aqui. O hotel estava repleto de seguranças e chegamos ao Salão Principal subindo as escadas de mármore. “Agora é com você”, disparou Anderson. E foi assim que consegui uma das maiores e mais exclusivas reportagens – ganhou a primeira página do Jornal do Brasil – com o título: ‘No sofá, com Mick Jagger’. Gentis, tive a permissão de acompanhar o congraçamento. Memórias eternas para mim, entre tantas outras.
2023 – UMA ODE AO MESTRE ANDERSON BIRMAN
O ano de 2023 começou ainda embalado pela festa três meses antes dos 50 anos da Arezzo, realizada no mesmo Copacabana Palace. Como contei à época, com uma potente vida de empreendedorismo que faz a roda da economia girar no país, Anderson Birman, o filho Alexandre Birman e toda a família receberam os convidados em um cenário que proporcionou justamente a sinergia entre o high tech futurista e a arquitetura histórica do Copa. O evento marcou também o lançamento do livro Arezzo 50, dirigido por Giovanni Bianco – que há mais de duas décadas está à frente da direção criativa da marca. O livro está aqui na minha estante. São 600 páginas e a obra “retrata toda a história da Arezzo, sua presença e relevância na moda como precursora de tendências”.
Não nasci sapateiro, mas me tornei um com muito trabalho e dedicação. Se alguém perguntar para o meu filho Alexandre, que hoje dirige os negócios, “O que você é?”, ele vai responder: “Eu sou sapateiro”. Eu também. A única coisa que sei fazer na vida é sapato. E isso tem sido bastante coisa nas últimas cinco décadas. O suficiente para construir, modernizar e vislumbrar planos de longuíssimo prazo para a empresa que se tornou a líder do setor no Brasil – Anderson Birman
No livro, Anderson Birman nos revela que escreveu os 10 princípios da Arezzo com base em um impulso intuitivo.
. TRANSPARÊNCIA – Aquilo que não pode ser transparente não deve ser feito.
. ALINHAMENTO – Formalize tudo, mesmo que informalmente.
. AUTENTICIDADE – Seja verdadeiro sempre, para que, em algum momento, não seja falso com seu emprego. Seja autêntico sempre.
. PAIXÃO – Curta, goste, envolva-se. E seja sempre feliz.
. MERITOCRACIA -Negocie claramente suas metas e responsabilidades, e considere que o cumprimento é pré-requisito da sua continuidade.
. HUMILDADE – Humildade com posicionamento: matéria-prima do nosso sucesso.
. DESAFIO – As metas cumpridas são no mínimo a base para a próxima meta.
. FLEXIBILIDADE – Seja sempre flexível. Esteja disposto e preparado continuamente para mudanças.
. UNIÃO – Unidos venceremos! Divergências constroem, conflitos destroem.
. ENVOLVIMENTO – Não descubra somente problemas. Culpar terceiros nunca resolve. Arrisque-se. Proponha soluções. Se você não concorda, na dúvida, aja!
Em vários momentos da vida, pensei em escrever a minha intuição para que ela pudesse se tornar um processo replicável por outras pessoas. Refleti sobre como decodificá-la. Como vasculhar as razões que existem por trás dela. Porque a intuição, na verdade, é uma emoção a que não se dá um nome imediatamente por absoluta preguiça. Se nos esforçarmos um pouquinho refletindo sobre o que tem por trás de um feeling que diz que algo vai dar certo ou errado, encontramos um nome para o que estamos sentindo – Anderson Birman
Desde a sua criação em 1972, a Arezzo se mantém focada na atemporalidade de suas peças, aposta na importância de aprender, viver e compartilhar com a sua cliente. É enriquecedor demais ter tanta importância na vida das mais variadas gerações. Pluralidade de mulheres que se olham com carinho e valorizam suas histórias repletas de representatividade, que alinhavaram um trabalho contínuo para romper as barreiras dos estereótipos cristalizados pela sociedade. Exemplos de empoderamento, criatividade, diversidade e possibilidades. Livres, leves e soltas mergulham sempre em momentos de descobertas e intensa expressão. Seguem caminhos ouvindo o coração, enfrentando as adversidades sem perder a motivação e esperança. São essas as mulheres Arezzo. Por conta dessa tradição e do nome que construiu ao longo de cinco décadas, a Arezzo se permitiu a uma licença poética de marcar a data com os passos firmes e olhando para o futuro propondo a pergunta: “What’s Next?”.
Acredito que, por mais que as máquinas facilitem e modernizem a produção, nunca devemos deixar de investir nas pessoas. Os profissionais imaginam e criam um produto bem feito, enquanto a tecnologia é um meio para fazer esse produto chegar ao consumidor – que hoje é muito exigente em relação à velocidade de entrega de compras virtuais – Anderson Birman
A foto de capa do livro lançado semana passada, na qual Anderson aparece sentado com sua elegância genuína em uma cadeira foi feita no Copacabana Palace e eu acompanhei a naturalidade com que se deixou fotografar. Fui dar um beijo, e ele disse: “Sente-se”. Impossível. Eu me sentia extremamente emocionada diante do meu mestre e exemplo de vida.
Ao longo de 50 anos de história, já vi, diversas vezes, entrarem nas lojas da Arezzo três ou quatro gerações de mulheres juntas. A avó, que leva a filha, que leva a neta – e, em alguns casos, a bisneta. Isso me faz imaginar que temos por aí várias clientes felizes, satisfeitas com a marca – Anderson Birman
A Arezzo, marca líder de calçados e bolsas há meio século, com mais de 7 milhões de clientes como legado, tem uma história muito bonita. E é pautada por inovações, ações pelo socioambiental, mudança do sistema linear de produção para um modelo circular, o saber estar em constante atualização para as macrotendências da nova consumidora e uma das primeiras empresas a apostar na mega força do omnichannel para a comercialização antes mesmo da pandemia. Durante esse período, a importância dos mais variados canais disponibilizados fizeram a empresa acelerar em poucos meses um plano que ação que já vinha sendo desenhado.
No jogo de War, no mundo corporativo é preciso expandir seus territórios pouco a pouco para alcançar seu objetivo, sem nunca esquecer de defender suas fronteiras. Espero ainda ver nossa marca espalhada pelo mundo, mas sempre prestando atenção às nossas raízes e lembrando de onde viemos – Anderson Birman
CIDADÃO HONORÁRIO DE AREZZO, NA ITÁLIA
Em março deste ano, Anderson Birman foi recebido com honrarias na cidade de Arezzo, na Itália, ao lado do filho Alexandre Birman, CEO do Grupo Arezzo&Co, e de Luciana Wodzik, hoje diretora-executiva da Arezzo&Co., além de executivos da companhia. Em 2009, Anderson foi condecorado como cidadão honorário da cidade, que deu nome à marca fundada há mais de 50 anos e, posteriormente, veio a nomear também o Grupo.
No livro recém-lançado, Anderson conta como escolheu o nome de sua marca. Ele estava casado com Lucinha, mãe de Alexandre e Patrícia. “No dia em que escolhemos o nome, eu e minha primeira esposa, Lucinha, estávamos sentados no sofá, assistindo ao programa de Flávio Cavalcanti na TV Tupi – que, ao lado de Chacrinha, era um dos mais famosos apresentadores brasileiros na década de 1970. Pegamos um livro sobre a mesa que tinha o mapa da Itália e percorremos com os dedos os pequenos nomes impressos na página. Na época, usava-se cidades italianas para dar nome às marcas de sapato, como Milão, Roma e Firenze. Precisávamos encontrar um que fosse foneticamente agradável e que ainda não estivesse associado a sapatos – eu pensava. Depois de alguns minutos olhando para aquela página, um nome se destacou: Arezzo. Soava bem. Gostamos. Estava escolhido”.
A cidade de Arezzo tornou-se conhecida dos brasileiros com o crescimento da marca homônima e foi reconhecida pela importância que trouxe para a Comuna, que originou seu nome. Com a ascensão de Roma, tornou-se uma das mais importantes cidades do império e um grande centro comercial. É considerada “a nobre senhora da Toscana“, guarda tesouros importantes como afrescos, monumentos históricos, e uma das mais prósperas da região, reconhecida pela produção de joias e antiquários. É uma das cidades mais ricas da Toscana, e pátria de um dos grandes artistas do Renascimento, Giorgio Vasari (1511-1574) e que contém belezas arquitetônicas e artísticas importantes.
Uma curiosidade que encanta também é ter sido cenário do filme A Vida é Bela, do ator e diretor Roberto Benigni e, para os brasileiros, com certeza a ligação imediata com a famosa marca de sapatos desperta uma conexão emocional surpreendente.
Sem dinheiro, sem tecnologia, mas com muito trabalho, aprendemos a fazer sapato com primor e rigor – Anderson Birman
A Arezzo começou fabricando calçados masculinos, mas logo os sócios, os irmãos Anderson e Jefferson Birman, optaram em mudar o rumo e focar no público feminino. De lá para cá, são 50 anos de história. Ao refletir sobre essa linha do tempo de Arezzo, Anderson Birman buscou um símbolo que representasse de forma genuína a essência da marca, e o encontrou na sandália Anabela, ícone da década de 70. O calçado marcou época, mudou a trajetória da empresa e da vida dos fundadores, gestores e de toda a companhia. “Somente através da história é possível criar o presente”, pontua Anderson Birman.
Se eu já conquistei um lugarzinho na Terra, agora quero conquistar um lugarzinho no Céu. Essa frase é muito importante para mim. Porque foi esse desejo que motivou as minhas ações filantrópicas, depois de tudo o que construí no mundo privado. Foi a busca pelo intangível que me levou a trabalhar pro bono, em busca de outro tipo de retorno que não o financeiro – Anderson Birman
NO PAIN, NO GAME
Alexandre Birman, inspirado na garra de seu pai, Anderson Birman, sempre pontua que tem “olhos de tigre” para seguir em frente e com um verdadeiro mantra: “Rumo a 2154”. Ele lembra que a Arezzo já nasceu com um DNA “guerreiro”.
Às vezes, as pessoas acham que ser um bom gestor é um dom, uma habilidade natural. Em certa medida, pode até ser. Mas é preciso aprender e aperfeiçoar muitas capacidades também. Passei por diversos aprendizados para liderar a Arezzo&Co. E uma das minhas maiores lições foi saber passar por crises – Anderson Birman
Eu já contei aqui a história sobre 2154, mas vou relembrar com as palavras do próprio Alexandre: “Você imagina quantas crises, quantas dificuldades meu pai enfrentou? E, na época do Plano Collor, estava numa situação muito complicada, mas quis trazer uma mensagem de longevidade, mostrando que a Arezzo conseguiria vencer aquela crise. Ele nasceu em 1954, então, à época fez um trocadilho: ‘vai ser um pouco difícil de eu estar vivo aqui em 2154, mas a Arezzo tem que estar. Então, vamos todos juntos caminhar para 2154’. E, nesse momento, essa frase, o aprendizado que eu tive com meu pai é mais do que importante, porque estamos aqui investindo para oferecer para nossas consumidoras uma experiência única”. #RUMOA2154
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