Alquimia é a palavra-chave da temporada: Walter Rodrigues apresenta apostas da Assintecal e abre Conexão Inspiramais em pleno Minas Trend


“Nos próximos anos vamos falar muito mais de matéria do que de modelagem. A síntese dessa palestra é a força do material”, adiantou Walter Rodrigues

Walter Rodrigues - Inspiramais (Foto: Henrique Fonseca)

*Por Karina Kuperman

O evento onde a moda brasileira começa. Se o Inspiramais 2019_II – Salão de Design e Inovação de Materiais, cuja próxima edição ocorre nos dias 17 e 18 de julho, em São Paulo, promovido pela Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos (Assintecal), ByBrasil – Components and Chemicals, ABIT, TexBrasil, CICB, Brazilian Leather e Apex-Brasil, pudesse ser definido em uma frase, essa, de Walter Rodrigues, coordenador do Núcleo de Design da Assintecal (Associação Brasileira de Empresas de Componentes para Couro, Calçados e Artefatos), seria a escolhida. Na sexta-feira, dia 20, o Conexão Inspiramais – ciclo de palestras que tem início com a pesquisa de inspirações e referências de moda e tem como finalidade promover o desenvolvimento de materiais inovadores que tenham a capacidade de transmitir valores essenciais e verdadeiros ao consumidor, fundamental para que as empresas obtenham sucesso – aterrissou em mais uma edição do Minas Trend para adiantar as apostas da moda mundial para as próximas temporadas.

(Foto: Henrique Fonseca)

Guiado pelo conceito de Alquimia, palavra que norteia a temporada, o coordenador e estilista destacou a força do material. “A síntese dessa palestra é a força do material. Nos próximos anos vamos falar muito mais de matéria do que de modelagem. Estou falando de tecido para roupa, couro, laminados, tudo, matéria mesmo. Começamos aqui hoje falando da importância da matéria, como ela tem que ser renovadora, como as pessoas vão ter que ter tecnologia e novas informações e é isso que estamos pregando como Inspiramais. Nas apresentações do Conexão que começaram ontem em Maringá e hoje aqui no Minas Trend, vamos bater forte nessa tecla”, adiantou Walter Rodrigues.

(Foto: Henrique Fonseca)

“Iniciamos um novo período onde a preciosidade da matéria ou da mão obra especializada é valorizada, é ressignificada como luxo. Criar produtos que possuem sua origem controlada, garantir transparência nos processos industriais e nos recursos humanos e estabelecer metas para linhas de produtos sustentáveis são as prioridades de conglomerados de luxo e redes de fast fashion. O couro e os laminados sintéticos passam por novos processos, enfatizando a natureza de cada um. Cada vez mais valorizado, o couro impacta em artigos de luxo onde aspectos artesanais indicam história e tradição. Os laminados, por sua vez, avançam por meio da tecnologia propondo texturas e acabamentos que a natureza é incapaz de criar”, analisou ele, que começou a apresentar 2019_II. “Não denominamos mais por estações, sim por semestres”, destacou.

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De fato, o Inspiramais 2019_II deixa de lado as divisões Inverno ou Verão, como era feito até então, para que a nomenclatura passe a ser numerada em .I ou .II, precedida pelo ano em questão. Atentos aos movimentos do mundo, a equipe da Assintecal e do Inspiramais, identificou que, como nos disse Ilse Guimarães, superintendente da associação, em entrevista exclusiva ao site HT, o mundo, definitivamente, mudou. “Hoje nós estamos totalmente interligados e, por isso, acreditamos que não exista mais essa separação de Inverno ou Verão. O consumidor de moda transita por todas as estações quase que periodicamente. Não existe mais essa separação”, ressaltou.

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Walter foi além: “O mais importante de tudo é que é criado a partir da metodologia”, disse. Dentro dessa metodologia, aliás, tem-se a pirâmide criativa em que os 10% correspondem a tecnologia e o DNA da empresa. O que ela faz, seu propósito. Desse exercício, de trabalhar DNA e tecnologia, a empresa gera valor para o seu produto. Em uma sequência, que Walter chama de seis meses depois, tem-se o 30% da pirâmide, em que se busca, dentro dos resultados de inovação ou do valor criado dentro do produto da marca, mais variantes. Criar mais produtos a partir dessas ideias. “Nesse momento estamos criando assertividade, então o mercado fica mais fácil de ser compreendido”, explicou Walter, sobre o trabalho que serve de guia ao trabalho da Inspiramais. Dezoito meses depois da inovação ser lançada, chega no processo de massificação, que representam 60% da pirâmida. “Aí vamos ter, a partir da ideia do valor e da assertividade, preço e competitividade”, explicou. Esse processo circular cria propósito e sistematização de processos que faz com que uma empresa tenha mais tranquilidade, graças a consultoria de profissionais que tem como finalidade orientar o desenvolvimento de produtos que contenham elementos únicos e globais.

(Foto: Henrique Fonseca)

Os materiais desenvolvidos com essas empresas – mais de 150! – são lançados no Inspiramais 2019_II – Salão de Design e Inovação de Materiais, cuja próxima edição ocorre nos dias 17 e 18 de julho, em São Paulo. “Vivemos um momento grande de crise que ainda assola a país, mas juramos que não usaríamos mais essa palavra, e o que a gente percebe é que as empresas que estão conosco passaram tranquilamente por isso. Lidamos, a cada seis meses, com cerca de 150 empresas e eu não notei processo de decadência em nenhuma delas”, afirmou. E qual o segredo? “Planejamento e estratégia, que é o que pregamos no Inpiramais”, disse ele, que, na palestra do Minas Trend, trouxe informação filtrada gratuita para diversos empreendedores. “Quem for capaz de absorver tem resultado”, garantiu.

Nessa edição, a Alquimia, que é a grande discussão sobre tecnologia e natureza, e que implica nesses novos materiais, é o ponto de partida de tudo. Explicamos: com a força das redes sociais, está cada vez mais acessível acompanhar todos os passos de ídolos pop, influenciadores, e marcas que sabem comunicar seus produtos. Vivemos um tempo onde tudo que se fez foi pensar no aspecto comercial dos produtos, então a proposta do Inspiramais é justamente provocar. Tanto quem cria como quem usa a moda, para que novos olhares e desejos sejam atraídos.

(Foto: Henrique Fonseca)

A moda e o entretenimento se mesclam. Artistas e marcas de produtos criam linhas em colaboração. Este movimento global tem ativado um sistema de novos materiais e também de um novo ciclo de cores. Exemplos claros são a colaboração da Rihanna com a Fenty X Puma, o Pharrell com a Adidas, o IVY Park de Beyoncé com TopShop e Kendall + Kylie, que colaboram com marcas reconhecidas, criando linhas de produtos. Assim, aproveitam o impacto em seus seguidores e ampliam seus rendimentos. É o palco entrando na casa do consumidor.

Aqui no Brasil, Anitta e Pabllo Vittar, por exemplo, esbanjam sensualidade em figurinos com apelo quase que saudosista – que remete aos looks de Chacretes e das divas da era disco. Essas inspirações pop, ampliadas pelos inúmeros compartilhamentos, tornam-se uma mensagem poderosa e grande influenciadora. “A moda como conhecemos no século XX e na primeira década do século XXI, construída com bases em códigos ultrapassados e significando apenas status, realmente morreu. A industrialização, que tornou possível a produção em escala e o consumo de massa incentivado para gerar lucros estratosféricos, extinguiu sua magia. A moda se democratizou, acabaram-se as tribos, fortalecendo o consumo autoral sem seguir uma única tendência”, analisou Walter. “Há uma mudança significativa na maneira de comercializar. A facilidade de comprar diretamente de quem cria fortalece a identidade, fazendo ressurgir o objeto de desejo que, em tempos de massificação, ficou esquecido e desvalorizado”, explicou.

(Foto: Henrique Fonseca)

Por isso, os três estágios da Pirâmide de Produtos – Alquimia, Resistência e Leveza – estão contemplados com imagens inspiracionais que permitem a interpretação dese objeto de desejo. Brilhos, acabamentos com efeitos, cristais, pérolas e cores são elementos utilizados para gerar curiosidade diante do desconhecido, além de mais otimismo e diversão. A resistência fala sobre a questão das minorias, da identidade que está sendo conversada no mundo e como isso vai se interpôr nos materiais através de acabamentos, desenhos de superfície. E, finalmente, a leveza chega aos 60%. É quando se fala de transparências, acrílicos, PVCs. “Aqui mesmo, no Minas Trend, muitas marcas e pessoas estão usando essas tendências. A importância do lançamento do Conexões no Minas Trend é fundamental porque moda é negócio. Se estamos no inicio da cadeia, somos precursores, é importante estarmos na semana de moda, porque é aqui que as pessoas estão usando o que estudamos. Quando falamos, há 18 meses, da transparência, ninguém usava PVC transparente aqui. Agora a maioria dos estandes tem”, ressaltou Walter.

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E como será que é adiantar tendências? “Dá um frio na barriga, mas é algo que todo mundo poderia fazer, se prestassem atenção no que se faz. É matemático para mim. Não tem explicação tipo ‘bola de cristal’. Você pode perceber quando relaciona arte, cinema, série de movimentos do mundo. Tinha uma megaexposição em Paris falando do surrealismo, arquitetura sendo exposta através de vidros transparentes, série de novos projetos para carregamento de celulares que flutuavam. Tudo isso indicava a questão da leveza. Só não enxerga quem não quer”, afirmou.

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Para a próxima temporada, aliás, ele já tem previsões. “Ano que vem faz 100 anos da Bauhaus, que fala de forma e função, a grande questão do design. Não tem como passar longe disso. A gente tem que trabalhar esse tema porque com certeza vão ter milhares de exposições. Estamos vendo muitos produtos que já tem essa ideia, bolsa que vira duas, calça que muda, blusa que se desmonta”, disse. A integração da tecnologia com a natureza, proporcionando produtos e componentes que não só despertem desejo, mas sejam funcionais, é o mote dos novos caminhos da moda, de acordo com Walter. “Há cem anos, com uma visão e intensão bem semelhantes, surgia a Bauhaus. A escola discutia o poder das máquinas em relação ao homem. A Bauhaus estabeleceu uma interligação com todo tipo de arte, até as consideradas “inferiores” como cerâmica, tecelagem e marcenaria, preconizando o uso de desenhos autênticos e texturas inovadoras. Revolucionários, seus ensinamentos visavam uma nova atitude onde a ‘forma segue a função’, determinando o fim dos ornamentos relacionados com a burguesia”, lembrou Walter. Assim, gerava-se o pensamento de que, para viver civilizadamente, a racionalidade era essencial – desde as grandes às pequenas coisas.

No cotidiano atual, estas premissas se encaixam perfeitamente diante dos novos regulamentos das grandes cidades, da falta de espaço para armazenar objetos, e na dinâmica de um produto responder por duas ou mais necessidades como aquecer e impermeabilizar, ou nas múltiplas funções de uso, e ainda encantar e ser desejável.

(Foto: Henrique Fonseca)

E quem pensa que é só moda engana-se. Tudo isso está muito além: envolve se vestir, morar, consumir carros, tecnologia, arte. “Temos a sorte de ter uma superintendente visionária, a Ilse Guimarães, que, desde que o Inspiramais foi criado, tem como proposta que sejamos um guarda-chuva chamado moda brasileira e, a partir dele, temos setor de mobiliário, joalheria, calçado, couro, têxtil, tudo se unindo. Porque quando se compra qualquer coisa, tudo é ligado. Estamos falando de estilo de vida. Essa é a grande mudança da percepção de valor da moda. Antes o consumidor comprava e trocava, hoje não. Ele descobre forma de viver e adapta isso para todos os sentidos e momentos da vida: roupa, sapato, óculos, móvel, utensílio de cozinha… virou um discurso só”, analisou. Mas se a moda é negócio, deve-se destacar que ela só será lucrativa contendo emoção e encantamento. Isso que diferencia produtos. Aí volta-se ao conceito de alquimia. “A moda é 50% matemática e 50% poesia”, definiu.

(Foto: Henrique Fonseca)

No Inspiramais edição passada a Assintecal firmou parceiria com o SENAI CETIQT. Não à toa, a Revolução 4.0 pode ser vista em primeira mão. E como será que Walter vê isso? “Parceria do SENAI CETIQT é importantíssima. Eu, como Inspiramais, acredito que quanto mais estivermos perto da academia, da escola, é bom. Os estudos que são feitos lá são incorporados no nosso discurso e isso só solidifica a posição do Inspiramais como o evento onde a moda brasileira começa. Entendemos a 4.0 como mercado hoje, já é quase realidade. O que assusta as pessoas pela dinâmica da automação vai facilitar todos os processos repetitivos, como camisas, sapatos e calças básicas. Mas a mão humana continua livre para ser artista e criar coisas interessantes. A mão humana ainda é o instrumento mais fabuloso que temos”, afirmou ele, que é só elogios ao evento. “Aqui no Minas Trend enxergamos identidade mineira, que é muito importante. As tradições deles são escancaradas, festas, bordados. Bijuterias também, Minas sempre foi relacionada a diamantes, ouro, muita história. E no calçado a gente tem um resultado interessante porque esse estado tem muita criatividade”, elogiou.

Relembre: Inspiramais – em janeiro, evento da Assintecal apresenta o futuro: a Planta de Confecção 4.0, tecnologia da Abit e SENAI Cetiqt que mapeia as medidas do corpo humano