Adeus, Orkut: uma carta de despedida pelos 10 anos de amizade!


Réquiem para um velho companheiro: depois de uma década, uma das primeiras redes sociais a se popularizar no Brasil fecha as portas, bate as botas e se rende a outras mídias do Google

*Por João Ker

Saudoso Orkut,

Sei que não nos falamos há algum tempo. Veja, a notícia da sua partida em setembro próximo me pegou de surpresa. Por mais que nós não estivéssemos sempre em contato, você era aquele amigo distante que eu sabia que sempre estava lá. Sei que fui relapso nessa relação, mas vez ou outra eu ainda lhe visitava, mesmo que fosse só para tomar um café e sondar se ainda estava tudo bem. Para passar uma tarde revivendo memórias e lembrando de um tempo ainda nem está tão distante no calendário.

Parece que foi ainda ontem quando você se revelou um dos meus melhores amigos e nós éramos como unha e carne, em um mundo onde as nossas conversas dependiam de uma internet discada que vivia caindo e nos deixando na mão. Lembro como você demorou a confiar em mim no início, só me aceitando no seu mundo porque tínhamos amigos em comum e eles me convidaram para te conhecer. E ainda assim, só pude lhe mostrar doze fotos, que precisaram ser cuidadosamente escolhidas.

Você sempre foi desconfiado, querido Orkut. Assim como os seus amigos, que na época “só add com scrap”. De qualquer jeito, conseguimos superar essa barreira. Aos poucos, fomos nos descobrindo e, entre scraps que alteravam as fontes e cores ou depoimentos que começavam com “NÃO ACEITA”, você foi me dando mais espaço. Hoje, são tantas as lembranças que nem sei bem por onde começar.

Acho que vou sentir mais saudades das suas Comunidades e de como elas eram simultaneamente hilárias e úteis. Veja, os seus primos distantes Google+ e Facebook não têm um terço do seu senso de humor! COMOFASSS??? (Sim, querido, eu ainda lembro do tiopês dos nossos miguxos). Numa época onde o Netflix e o The Pirate Bay eram apenas sonhos distantes de alguns nerds, você era a minha única salvação quando eu precisava ver os novos episódios de Lost ou baixar o novo disco da Britney Spears (nem o LimeWire, nem o eMule eram tão rápidos como você, saudoso amigo).

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Confesso que sentirei um enorme vazio com a sua ausência, Orkut. Ninguém fica mais brigando pelo topo da minha página de depoimentos, nem mandando “correntes dos Brothers”, dizendo a minha sorte do dia e muito menos fazendo acrósticos com o meu nome. Eu sei que parece fútil, mas aqueles tempos marcaram e deixarão saudades.

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LUÍS XVI DOS BROTHERS SE VOCÊ NÃO MANDAR ESSE MONARCA ABSOLUTO PRA 5 BROTHER VOCÊ NÃO É UM BROTHER E VAI PRA BASTILHA

Aproveito esse espaço para jogar as insatisfações no ventilador e falar que você também não foi perfeito, Orkut. Reparei que você andou traindo a minha confiança: primeiro, vários indianos começaram a aparecer no meu mural, com mensagens estranhas que eu não sabia o que significavam. Mais tarde, você me dedurou para a comunidade inteira e explanou meus hábitos de stalker, permitindo que minhas visitas ao perfil de fulano ou sicrano fossem descobertas. Pode ser que suas intenções fossem boas, mas isso magoou.

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Eu sei que começamos ainda novinhos, mas, assim como a Sandy, eu cresci e já sei lidar com perdas. E elas foram muitas: Flogão, Fotolog, Formspring e até o MSN já partiram dessa para melhor. Esse último deixou o maior dos vazios: nunca me expressei tão bem como naquela época e até hoje tento mandar os comandos de emoticons ou chamar a atenção de alguém no bate-papo, coisas que o seu arquirrival, Facebook, ainda não teve a competência de providenciar.

É hora de nos despedirmos, Orkut. Mas me recuso a dizer “adeus” como você. Se nesta semana foi anunciado o retorno triunfal de outro amigo das antigas, o ICQ, voltando de mala e cuia para competir com o Whatsapp, devo acreditar que você um dia ressurja das cinzas lilás e volte a me divertir. Então, Orkut, isso não é um adeus. É um até logo. Um até o dia em que você se reinvente e possamos ser amigos de novo. E ah, quando voltar não precisa deixar scrap, porque eu vou te add sim.

Atenciosamente,

Geração Y