“Você acha que eu imaginava que ficaria pirilimpando com essa idade?”. Tem como ser mais maravilhosa? Aos 78 anos, Costanza Pascolato vai contra qualquer estereótipo. Com muita energia e alto astral, a dama da moda brasileira cumpriu mais uma edição de São Paulo Fashion Week na semana passada. Em seus mais de 50 anos de carreira dedicada ao mundo fashion, a empresária e consultora de moda assistiu aos desfiles, passeou pelo prédio da Bienal, onde ocorreu o evento, e se manteve antenada às tendências contemporâneas.
Aliás, correu atrás de estar por dentro dos destaques. Com um conhecimento que dispensa qualquer comentário, Contanza analisou o atual panorama da moda como confuso e variado. Para ela, nunca nestas décadas de profissão houve uma situação como a que o fast fashion trouxe em um passado recente. “O cenário da moda em 2017 está mais variado e confuso do que já esteve em todos esses 55 anos de carreira que eu tenho. Hoje, vivemos uma aceleração de propostas que começou há 15 anos com o fast fashion, que lança novidades a cada semana e copia grifes mais caras. Com isso, a moda ficou mais acessível e, tanto as marcas de luxo quanto as médias, precisaram correr atrás desse prejuízo”, apontou a consultora que, como solução, acredita em uma análise interna de mercado. “Para o futuro, é importante cada marca identificar a sua tribo e para quem está falando. Às vezes, as empresas são tão grandes que possuem problemas de adaptação. Como os estoques são gerais e não locais, essa gerência representa uma complicação para as próprias estratégias internas”, disse.
E já que Costanza Pascolato falou em futuro, a consultora de moda acredita que os novos tempos irão acentuar um comportamento comum dos dias de hoje. Para ela, os fashionistas estão se dedicando cada vez mais aos looks urbanos e casuais no dia-a-dia enquanto, para os eventos noturnos, a tendência tem sido investir sempre mais. “As pessoas adoram viver um conto de fadas e uma moda de quadrinhos”, disse Costanza que, como exemplo, citou os novos casamentos que ganharam novos status para além da comemoração clássica e tradicional. “Transformaram a cerimônia em um evento social que necessita de várias roupas no mesmo dia e por vários dias. Hoje, as festas não duram só uma noite, e quem tem gostado disso são os castelos lá da minha região da Itália, que estão com a agenda cheia”, contou.
Da Itália de volta para o Brasil, a consultora também comentou o que viu na passarela da São Paulo Fashion Week. Presença garantida na maioria dos desfiles desta edição do evento, Costanza Pacolato destacou a evolução das marcas na apresentação de suas coleções. Testemunha da fashion week paulistana desde a sua primeira edição, ainda nos anos 1990, a consultora lembrou de quando Paulo Borges instaurou o conceito de uma temporada para as grifes lançarem suas criações – e não mais aquela bagunça cronológica que fazia parte da moda brasileira. “Nas primeiras edições, a gente via que as marcas não tinham a menor ideia de desfile. Todas elas apresentavam as coleções dentro das próprias fábricas ou em showroom. Hoje, nós evoluímos muito. Inclusive, eu acho que o evento-show-apresentação que as marcas fazem é até superior que a moda que eles apresentam. Ao longo desses anos de SPFW, as grifes se aperfeiçoaram para fazer um verdadeiro show”, analisou.
Mas, se sobre o trabalho das grandes marcas Costanza Pascolato tem opinião afiada, para o público que faz parte do espetáculo a consultora foi bem sincera. “Eu não olho muito para as pessoas, para dizer a verdade”. A explicação? A febre dos tempos modernos, que tem nos obrigado a viver e ter experiências de maneiras diferentes em nossa rotina. “Eu saio correndo porque aqui todo mundo quer fazer selfie. Confesso que estou distraída ao aspecto do público. Antigamente, eram mais editoras de moda e profissionais da área”, disse a consultora que atribuiu à mudança da comunicação a razão para este comportamento. “A importância dos veículos mudou. O impresso vive um momento que só piora. Por outro lado, hoje, as pessoas têm acesso a tudo pelo telefone. Então, já se satisfazem mais fácil”, justificou.
No entanto, ela segue com sua elegância, classe e graça de sempre. Aos 78 anos, Costanza é e sempre será um ícone da moda e da sofisticação ítalo-brasileira. Mas, quando perguntada sobre seu estilo, a consultora desconversa. “Eu não consigo entender muito. Mas é uma coisa que todos gostam de mim, desde o rapaz que guarda meu carro à mocinha do mercado”, brincou.
E, por falar em estilo, Costanza brinca com as habilidades fashion que conquistou em meio século de experiência na moda. Em um mesmo look, a consultora combina classe, tradição e um pouquinho de irreverência. Se no corpo ela adotou um perfil branco e cheio de elegância, nos dedos, Costanza apostou em anéis de caveira presente do neto. “Eu tenho um estilo, mas está ficando mais complicado porque o corpo mudou. Só que eu sei muito bem o que eu devo usar em cada ocasião. Em uma SPFW, por exemplo, eu sei que posso fazer algumas loucuras a mais. Mas, em um jantar na casa de alguém conservador, preciso ter outra postura”, disse a consultora de moda. Ainda temos muito o que aprender com Costanza Pascolato!
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