“Podemos, sim, falar de política com mais humor e leveza”, diz Maria Bopp


A atriz viralizou com o tutorial “Blogueirinha do Fim do Mundo”, protagonizou as quatro temporadas
da série “Me Chama de Bruna”, na Fox, e fala da repercussão do vídeo, de arte e posicionamento: “Não sinto que perdi me posicionando. Só ganhei e essa sou eu. Ganhei até seguidores. Em dois dias fui de 39 mil para 100 mil. É uma loucura. Então, isso é a prova de que não se perde seguidores por se posicionar. E penso que o silêncio é conivente”

*Por Brunna Condini

É possível falar de política hoje sem discussões solenes ou acaloradas? Maria Bopp, a Bruna Surfistinha da série “Me Chama de Bruna”, da Fox, acha que sim. Tanto que em um vídeo seu intitulado “Blogueirinha do Fim do Mundo”, no qual mistura dicas de maquiagem a temas políticos ganhou as redes e notoriedade, inclusive entre políticos e artistas.

Desde a última segunda-feira (3), quando o vídeo ficou conhecido, Maria saltou de 39 mil seguidores para 107 mil, até agora. “Não esperava essa repercussão toda. Sabia que tinha criado algo bacana, quando a ideia nasceu, e as pessoas que estavam naquele momento comigo, responderam, curtiram. Criei essa personagem no ano passado, quando estava fazendo um experimento cênico, baseado na peça de Samuel Beckett, “Fim de Jogo”, que conta sobre o período do pós-guerra, com o mundo assolado pela desesperança e pela falta de recursos. Então, os diretores pediram para fazermos uma cena sobre o fim do mundo. Aí surgiu a blogueirinha”, revela sobre o vídeo que idealizou, atuou e editou. “Quis pegar um formato que está aí com tudo, como um tutorial, e me posicionar frente aos absurdos que ando vendo. E acho que quando é possível, podemos usar o humor e a leveza como um caminho, para o discurso ficar mais palatável, alcançar mais pessoas”.

“Quis pegar um formato que está aí com tudo, como um tutorial, e me posicionar frente aos absurdos que ando vendo” (Reprodução Instagram)

Apesar da exposição – que ela não vê como negativa – a neutralidade para Maria não é uma opção. “Já ouvi de pessoas próximas, que é bom não me posicionar nas redes sociais, que vão acabar me ligando a pessoas, partidos, enfim. Mas prefiro falar o que penso. Na verdade, acho que chegamos a um ponto da discussão, do quanto vale a pena, não se posicionar”.

“Em dois dias fui de 39 mil para 100 mil. É uma loucura. Então, isso é a prova de que não se perde seguidores por se posicionar. E penso que o silêncio é conivente” (Reprodução Instagram)

Aos 28 anos, a atriz é feminista, engajada e ligada nos acontecimentos do país. E afirma que não defende apenas que os artistas se posicionem, mas destaca, que muitos da classe, por terem um alcance maior através dos seus seguidores nas redes, por exemplo, poderiam aproveitar o espaço. “Não sinto que perdi nada. Na verdade, só ganhei (risos). E essa sou eu. Ganhei até seguidores. Em dois dias fui de 39 mil para 100 mil. É uma loucura. Então, isso é a prova de que não se perde seguidores por se posicionar. E penso que o silêncio é conivente”.

E com o que você não conseguiria ser conivente? “Com manifestações de intolerância, preconceito e homofobia, como vemos muito em discursos dos governos, por exemplo”, diz. “Ou quando a Secretaria de Cultura não inviste em projetos com temática LGBT+. Por que me posiciono? Porque não fico confortável em ver. Por isso fiz o vídeo. Para você ter uma ideia, um amigo meu que mora no Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, tem amigos por lá que viram e compartilharam”, completa, sobre o vídeo de apenas 4 minutos, que ganhou a adesão de Monica Benício, Dira Paes e Cissa Guimarães, entre outros, e até do cineasta Kleber Mendonça, que elogiou o conteúdo e produção.

“A Bruna só me abriu portas, virei atriz. Mas não tive uma formação clássica para atuar. Tive uma formação do audiovisual, então sempre usei isso” (Divulgação)

Mas Maria Bopp não se deslumbra. Até porque, já frequentou diversas posições em um set. Formada em cinema, a atriz começou como continuísta, querendo chegar à direção. Até que foi convidada para um teste para a série “Oscar Freire 279”. Depois veio o papel principal em “Me Chama de Bruna”, série que chegou ao fim em janeiro, após cinco anos de investimento de tempo da atriz e quatro temporadas no ar. “A Bruna só me abriu portas, virei atriz. Mas não tive uma formação clássica para atuar. Tive uma formação do audiovisual, então sempre usei isso. Esse vídeo trouxe de volta a paixão pela criação”, analisa. “Estou escrevendo dois curtas. Um é baseado em uma crônica, estou no processo de compra de direitos autorais. E o outro, é um recorte da minha vida. Meus pais se separaram muito cedo. O filme é uma situação específica destes momentos de final de semana com o pai”.

Maria vem de uma família de escritores e artistas que costumam analisar e contestar o “status quo”. É sobrinha-neta do ator José de Abreu e parente do poeta Raul Bopp, que participou da Semana de Arte Moderna de 1922 ao lado de Tarsila do Amaral e Oswald de Andrade. “Minha mãe é professora e escritora, e meu irmão é escritor também. Ter vindo desta família foi determinante. Minha família não se omite, ninguém fica em cima do muro lá em casa”, comenta. “Quando vejo o Zé (José de Abreu) ser atacado por se posicionar, vejo que faz todo sentido, na família todo mundo carrega um senso de justiça, o que não quer dizer que sempre se tenha razão. Mandei o vídeo para o Zé antes de postar. Ele amou”.

“Adoraria dirigir e roteirizar uma série, seria um sonho” (Divulgação)

A atriz já está na produção de outros vídeos, e conta que a “Blogueirinha do Fim do Mundo” vai ter outras narrativas. Maria Bopp, que não tem muita intimidade com o Carnaval, mas curte a festa de rua, elabora um roteiro, para uma “pílula de Carnaval”, e nos conta, em primeira mão: “Penso em fazer o vídeo me montando para a folia, falando dos blocos e das máscaras de Carnaval. E aproveitando a deixa, para tirar as “máscaras” de alguns políticos”.

O que você quer daqui para frente? “Adoraria dirigir e roteirizar uma série, seria um sonho. Como atriz, tem umas coisas pintando, mas ainda não posso falar”.

E novela, faria? “Claro. Até porque deve ser difícil e um super aprendizado. Faria tudo. Tudo me interessa”.