SPFW N41 – Vitorino Campos viaja até a estratosfera para dar salto no vazio e desabar silhuetas e jeans oversized para renovar o streetwear


Com a palavra, o próprio Vitorino: “A ideia é uma pessoa no espaço olhando para a Terra. O veludo verde representa a adrenalina do salto. Depois vem o bloco dos negros e de meninas com o cabelo preso vestindo marrom e amarelo, que representam a chegada a terra e o olhar para o sol”

A labuta de HT no terceiro dia da 41ª São Paulo Fashion Week começou cedo. Vitorino Campos reuniu a nata fashion na recém-inaugurada Casa Triângulo, nos Jardins. Por lá, o jovem estilista baiano desfilou a melhor coleção já apresentada até hoje em sua carreira, com destaque para o crossover de gêneros – seguindo a tendência mundial do mercado da moda -, para a silhueta oversized e para os pés – por causa da parceria com a Melissa. Vitorino viajou – no sentido mais mental da palavra -, e conversou com HT em seu backsage. “A ideia é uma pessoa no espaço olhando para a Terra. É uma coleção dividida em duas partes: os saltos físicos e os metafísicos. Nós também podemos saltar dentro da nossa cabeça!”, filosofou. Abaixo, nossa conversa e, na sequência, a resenha. Só descer.

Vitorino Campos SPFW- N41 abril/2016 foto: Zé Takahashi / FOTOSITE

Vitorino Campos
Foto: Zé Takahashi / FOTOSITE

HT: A sintonia entre sua coleção e a obra da galeria Casa Triângulo foi proposital?
Vitorino Campos: Não foi coincidência, não. Eu já conhecia esses trabalhos, vi os projetos e propus um casamento. As bolas, a ideia de pegar um material e jogar uma geometria em cima, tudo conversa. A galeria está dentro da inspiração da coleção. Está tudo certo.

HT: Fala um pouco das referências da coleção? Sabemos que você se inspirou na obra de Yves Klein.
VC: É uma coleção dividida em duas partes: os saltos físicos e os metafísicos. Temos Yves Klein como referência maior, embaixo o Alan Eustace, que saltou da estratosfera e, por último, a fotógrafa Francesca Woodman, que traz essa ideia ao dizer que tinha mais medo da mente dela do que da realidade. Nós também podemos saltar dentro da nossa cabeça.

 HT: A coleção tem alguns blocos, vimos veludo verde, tecidos marrons, brilho…
VC: Pois é. A ideia é uma pessoa no espaço olhando para a Terra. O veludo verde representa a adrenalina do salto. Depois vem o bloco dos negros e de meninas com o cabelo preso vestindo marrom e amarelo, que representam a chegada a terra e o olhar para o sol. Por último, a lembrança do espaço que foi deixado para trás e entra junto. A musica é agitada na hora dos saltos metafísicos e o salto físico são as pessoas realmente pulando – a música mostra essa calmaria.. nossa, fico todo arrepiado.

HT: Você já chegou a saltar, Vitorino?
VC: Já marquei uma vez mas o clima no Rio de Janeiro estava ruim e não deu. Mas quero.

HT: Fala um pouco dos shapes da coleção?
VC: É tudo bem confortável, as calças são todas do mesmo tamanho e se ajustam no corpo das modelos sem botão.

HT: Você usou alfinetes…
VC: Eles já fazem parte da marca há um tempo, eu vinha alfinetando broches e agora evoluíram para as calças. Mas é também amarrado. Tudo para mostrar essa questão dos ajustes. Eu trouxe uma alfaiataria delicada, e, apesar de não parecer, o processo de construção é todo manual, as roupas de veludo são de uma delicadeza forte, só que levamos para outro universo. São elementos complementares.

HT: E esse flerte com a moda masculina? Pela segunda vez você cria para esse público…
VC: Eu fiz no último e me apaixonei, aí trouxe dez looks agora. Não sei o que pode acontecer no futuro.

HT: Como a sua grife vai se comportar nessa história de aproximação da moda com o varejo?
VC: Nós sempre fizemos um trabalho direto, nunca por estação. São adaptações de mercado e as marcas vão reagindo.

HT: Para qual peça do guarda-roupa você pediria um impeachment fashion?
VC: Eu não tiraria nada, as pessoas são totalmente livres para usar o que quiserem, tudo tem sua poesia e bossa, não acho que existe o impeachmente fashion.

HT: Qual a importância do glamour para a moda?
VC: É importante, mas eu gosto do conforto. Para mim, a sofisticação está atrelada à sutilezas.

HT: O que você trouxe da Bahia para a coleção? Onde está o dendê?
VC: Tudo. Sou baiano, então sempre que faço algo a Bahia está presente. O dendê está na música, na trilha, que cria movimento em tudo. (com Karina Kuperman)

O desfile
Era muito cedo para quem não tem hora para terminar o dia em uma semana de moda. Fazia um frio de bater o queixo e o tempo não era dos mais amigáveis. Mas que belo começo de quarta-feira graças a Vitorino Campos que entregou o melhor desfile até hoje em sua carreira na recém-inaugurada galeria Casa Triângulo, nos Jardins. Ortodoxamente, se tivemos que dar uma explicação para o que foi apresentado, seria na obra de Yves Klein, “Saunt Dans Le Vide” (Salto no vazio). Mas isso, dessa vez, é o de menos. Vitorino encantou a tudo e todos (os aplausos foram longos) com uma modelagem ampla, oversized (todas as peças eram em tamanho único, adaptadas por grampos enormes no cós), presando por uma assimetria super cosmopolita, charmosa e de presença na camisaria. A modelagem, aliás, segue a tendência da silhueta desabada, conferindo fluidez e um perfume novo ao streetwear – as jaquetas também ajudam a corroborar. Ah, e o jeans – também oversized – que Vitorino não flertava muito bem, dá as caras dessa vez – ainda antagonista -, mas agradável. Seguindo a tendência mundial, o estilista baiano optou pelo crossover e desfilou a coleção feminina e masculina de uma só vez, matando dois coelhos na mesma cajadada. Foi uma coleção para aquele entourage que costuma vestir Vitorino – super cool e que segura uma peça conceitual muito bem, obrigado -, mas que facilmente adentrará outros guarda-roupas. Não à toa, depois de no ano passado viajar pelo espaço, ele agora voltou para a terra. Por isso nos disse pós desfile: “A coleção fala sobre o conforto e sobre a suavidade. Meu dendê baiano está na música, na trilha, que cria movimento em tudo”. (por Lucas Rezende)

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