Antes de levar sua Furacão 2000 para a Errejota, Jonathan Costa analisa: “Funk baixaria existe porque nem todo lugar têm acesso à educação”


Jonathan dá continuidade ao trabalho de seus pais e hoje comanda o grupo que fez o funk ser o que é. Antes de levar o paredão de sua Furacão 2000 para a festa Errejota no Espírito Santo, ele disse em entrevista ao HT: “Hoje as pessoas tentam maquiar o funk e não mostram ele lindo como é. Tentam preparar muita coisa e perdem a essência”

O tempo passou e Jonathan da Nova Geração não toma mais esporro na escola de segunda à sexta. E talvez não tenha mais a mesma disposição para, no sábado e domingo, soltar pipa e jogar bola. Mas, da música que o fez famoso ainda pirralho, um verso continua em voga: “Dança potranca, dance com emoção”. Hoje chamado de Jonathan Costa, o carioca está comandando o negócio da família – ele é filho de Verônica Costa, a “mãe loura do funk”, e do empresário Rômulo Costa -, a Furacão 2000, uma das maiores – se não a maior – equipe de som, produtora e gravadora de funk do país. Aqui, ele tem orgulho de falar de “tradição”.

Jonathan Costa 3

Casado com a apresentadora Antônia Fontenelle e pai do bebê que ela espera na barriga, Jonathan se prepara para viajar com caminhão abarrotado de mais de 40 caixas enormes – e pesadíssimas – com o equipamento (o mais levinho pesa “só” 40 kg) que compõe o paredão da Furacão 2000, já famoso por ter sido cenário para shows de Anitta, Naldo, Buchecha e por aí vai. O destino do automóvel? A Ilha de Vitória, no Espírito Santo, onde, no sábado (12), vai rolar a primeira edição da festa Errejota, por lá. Famoso em solo carioca, o badalo tem um slogan que fala por si só: “O baile funk é foda”.

Abaixo, a nossa conversa antes dele seguir o rumo à ilhota e enquanto planeja uma turnê ousada. “Em breve vamos dar uma invadida na Europa. Ainda só não sabemos os países. A Furacão tem uma estrutura muito grande. Fomos para Nova York, Boston, New Jersey, e aqui no Brasil, além da sede no Rio de Janeiro, já viajamos para Brasília, São Paulo, enfim, praticamente todos os estados”. Avante, rapaz!

HT: O paredão da Furacão 2000 é uma tradição do funk. O que ele representa para o gênero?
JC: Ele representa o início de tudo. Começou com black soul music e meu pai já estava dentro do segmento. O funk era gringo e transformamos em brasileiro. Hoje é um ritmo nosso. Somos conhecidos pelo samba e hoje pelo funk, pelos protestos das letras. O paredão é o start disso tudo. Naldo, Ludmilla, Anitta, a maioria dos funkeiros já passaram pela Furacão. Até a nova geração que vem de Brasília que não acompanhou a história, se inspira no nosso som.

HT: Artista como Naldo e Anitta já cantaram, inclusive começaram carreira na Furacão; como você bem destacou. Hoje, seguiram uma linha mais pop do funk. Acha que o gênero perde tradicionalidade com esse movimento?
JC: O funk é derivado do tamborzão, mas se eles preferiram outro tipo, o funk dá a liberdade de se expressar do jeito que somos. Vemos no segmento artistas estruturados em questão de voz, melodia, ritmo e outros que não tem voz tão boa ou ritmo, mas são fenômenos. O funk proporciona uma coisa que outros ritmos não proporcionam. Como o cara vai querer cantar MPB sem a voz boa? Não dá, no funk isso é possível.

Jonathan Costa 2

HT: O “funk baixaria” ainda tem vez no mercado? Estamos num mundo mais conservador. As Tvs e rádios se opõem à essa vertente?
JC: É como o hiphop: acaba que tem seu publico. Infelizmente tem publico que consome esse funk chulo. No hiphop tem coisas boas e ruins, pagode também, todos os gêneros. Uma coisa é ter funk putaria, outro é o que explora o lado sexual, que é bonito. Mas os de palavrão, que crianças e famílias não podem ouvir, não é bem vindo na Furacão. Chega muita gente desse jeito aqui e encaminhamos, mostramos que é possível fazer o mesmo funk trocando as palavras. Esse funk existe porque nem todo lugar do país têm acesso à educação e coisas bacanas pra sobreviver. O funk retrata isso em maneira de protesto. O “Baile de Favela”, por exemplo, falou o que ele viu na comunidade dele. Mas temos que lembrar do lado artístico e que influenciamos crianças.

HT: Existe a frase:” Furacao 2000 é baile funk de verdade”. Os da Zona Sul, aqueles que misturam com sertanejo, ou os que cobram ingresso a R$ 100 , seriam os “de mentira”?
JC: Não. As pessoas brincam, mas a própria Furacão nunca falou isso. Dizemos funk de verdade porque é de raiz, pegamos o que toca nas comunidades e trazemos para o asfalto. A internet fez isso tornar acessível, facilitou as pessoas de começarem a se comunicar através do funk e ver essa coisa de favela e asfalto como uma mistura. Hoje as pessoas tentam maquiar o funk e não mostram ele lindo como é. Tentam preparar muita coisa e perdem a essência. A gente não perde, tem a batida, as coreografias que todo mundo que ouve sabe: é funk. Não tem como ficar parado. (Colaborou Karina Kuperman)

Serviço

Errejota com Furacão 2000, Dj Cris Fernandes (hip hop), Dj Marcson Muller (funk) e Dj João Brasil (funk)
Quando: Dia 12 de março
Local: Ilha Shows – Praia do Canto – Vitória (ES)
Horário: abertura dos portões 23 horas
Vendas Online: http://www.blueticket.com.br/16686/Festa-Errejota