Voltando às novelas em “Haja coração”, Cláudia Jimenez fala sobre doença, período afastada e elogia a nova personagem: “Vai me dar oportunidade de bombar”


A atriz contou, aos risos, que Miguel Falabella ficou com ciúmes quando soube que ela faria novela e explicou porque disse que estava com vergonha de “receber sem trabalhar”. “Eu sou funcionária da Globo há 37 anos e não é a primeira vez que a emissora me ajuda. Tive um câncer há 20 anos e, ali, a Globo já mostrou que veste a camisa e me ajudou muito. Agora, quando precisei ficar afastada, eu queria voltar e eles falavam ‘vai no seu tempo, não tenha pressa, entendemos que você precisa’, aí eu brinquei com isso de estar com vergonha de receber salário e não estar trabalhando”

Foram quase três anos afastada das telinhas por conta de problemas de saúde que resultaram em três operações de peito aberto, cinco pontes no coração, reconstrução da válvula aórtica e um implante de marca-passo. Agora, completamente recuperada, Cláudia Jimenez tem dado tudo de si para Lucrécia, sua personagem em “Haja coração”, história escrita por Daniel Ortiz que faz uma releitura de “Sassaricando”, trama de sucesso de Silvio de Abreu, exibida pela TV Globo em 1987. Ela, que chegou a fazer uma participação na minissérie “Sexo e as negas”, em 2014, está radiante para encarar uma novela inteira e sabe: a diferença entre a Cláudia que interpretou Jesuína na série de Miguel Falabella e a que fará Lucrécia agora é gritante. “Minha energia vital mudou. Agora estou 100%”, chegou a declarar. Em um bate-papo sincero, Cláudia falou sobre a doença, o apoio da TV Globo (“nunca me pressionaram, pelo contrário, colocaram todo o recurso humano em função da minha doença e da minha família. Tive ajuda em todos os sentidos”), a recente homenagem à “Escolinha do professor Raimundo” e, claro, sobre “Haja coração”. Vem saber tudo!

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(Foto: Reprodução/Gshow)

HT: Quem é sua personagem em “Haja coração”?
Cláudia Jimenez: Eu faço a Lucrécia, mulher do personagem do Marcelo Médici, que é um ator espetacular. Eu sou irmã da Teodora e ele é irmão do Aparício, que são a Grace Gianoukas e o Alexandre Borges. Sou mãe da Ágatha Moreira e a Teodora é mãe da Tatá Werneck. Obviamente esse núcleo é de comédia, não poderia deixar de ser. Meu personagem e do Marcelo vivem às custas do casal. É todo mundo na mansão Abdala, é uma confusão. A relação dela com a irmã não é boa. E tem a filha, a Ágatha, que perde a memória em um determinado momento e antes de perder ela era o capeta. Quando ela esquece as coisas a Lucrécia gosta, porque aí vai tentando moldar. Começa a levar a Camila para lugares delicados, quer que ela seja o oposto do que era. Quando a menina começa a lembrar ela fala: ‘não tem pressa, vai no seu tempo’, porque ela está adorando a falta da memória da filha. A Lucrécia é uma pessoa do bem, ama todos, mas vive às custas da irmã, então chega a algumas atitudes politicamente incorretas. Ela é uma vilã simpática, que todos amam, que gosta de verdade das pessoas, então tem o lado bom.

HT: O que podemos esperar da trama?
CJ: É uma novela que vai ser uma grande comédia. O elenco é maravilhoso, o diretor, o Fred Mayrink, é um gostoso em todos os sentidos. Me sinto em casa. Estou com um personagem que vou saber crescer nele. É bom quando o ator visualiza isso, que o personagem vai dar a oportunidade de bombar. Às vezes não é assim que acontece. Mas essa novela vai ser um espetáculo. Tenho certeza que vai ser um grande sucesso. Os atores, quando começam a gravar, tem a intuição se vai ser mais ou menos. “Haja coração” vai ser um estouro, aguardem a Lucrécia.

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Cláudia posou com parte do elenco e da equipe da novela (Foto: Reprodução/Gshow)

HT: Você chegou a ver “Sassaricando”? Pegou alguma inspiração da Maria Alice Vergueiro?
CJ: Eu vi a novela, mas não me baseei na Maria Alice. Eu sou uma atriz intuitiva, não tenho técnica, então quando eu leio o personagem e na primeira cena que gravo que encontro meu caminho. A Maria Alice é uma grandessíssima atriz, mas não me baseei nela.

HT: Qual é a sensação de voltar para a televisão após a cirurgia cardíaca?
CJ: Eu estou muito feliz por voltar a trabalhar. Meu último foi ‘Sexo e as negas‘. Essa novela é uma adaptação de uma trama do Silvio de Abreu que eu amo e o Daniel Ortiz está fazendo uma história em cima, então está realmente muito sensível à obra do Sílvio.

HT: Falando em voltar a trabalhar, você chegou a dizer que estava com vergonha de “receber sem trabalhar”. Houve uma pressão para você voltar?
CJ: Nunca! Eu sou funcionária da Globo há 37 anos e não é a primeira vez que a emissora me ajuda. Tive um câncer há 20 anos e, ali, a Globo já mostrou que veste a camisa e me ajudou muito. Agora, quando precisei ficar afastada, eu queria voltar e eles falavam ‘vai no seu tempo, não tenha pressa, entendemos que você precisa’, aí eu brinquei com isso de estar com vergonha de receber salário e não estar trabalhando. A Globo nunca me pressionou, pelo contrário, colocou todo o recurso humano em função da minha doença, da minha família, tive ajuda em todos os sentidos. Não podia ser melhor.

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Marcelo Médici e Cláudia Jimenez viverão um casal em “Haja coração” (Foto: Reprodução/Gshow)

HT: Como ficou sua relação com o público na época da doença, Cláudia?
CJ: Foi um carinho muito grande que eu nem esperava. No hospital chegavam presentes, flores, tortas de ricota que o público sabia que eu gostava. Na época eu andava muito de táxi e a cooperativa me mandou um arranjo de flores. Quando eu li aquilo fiquei muito emocionada. O assédio nunca acabou, até hoje na rua me chamam de Edileuza (do humorístico “Sai de baixo”), a Cacilda (da “Escolinha do professor Raimundo”) também marcou demais. O carinho sempre existiu.

HT: Falando nisso, o que você achou da homenagem à “Escolinha do professor Raimundo”?
CJ: Incrível demais. A Fabiana Karla(que interpreta Cacilda na nova versão) é uma fofa, achei uma graça. Mas o que eu mais fiquei impressionada foi o Lúcio Mauro Filho, eu fechava o olho e via o Lúcio Mauro, que era o meu preferido, falando. Obviamente quando o Bruno Mazzeo entrou de professor Raimundo eu estava em casa e me emocionei muito de ver o Chico Anysio ali. Foram 12 anos, o Chico se tornou um pai. Meu pai artístico. Fiquei muito feliz e espero que fique na grade, porque é um produto maravilhoso. Estou encantada.

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Cláudia como Cacilda em “Escolinha do professor Raimundo” (Foto: Reprodução/Gshow)

HT: Sabemos que atores tem certa identificação com alguns autores e diretores e conhecemos sua relação com o Miguel Falabella de longo prazo. Como é sair um pouco dessa “patotinha”?
CJ: O Miguel está morrendo de ciúmes, me ligou falando ‘vai fazer novela, é?’ (risos). Ele é ciumento. Eu amo o Miguel. Tudo que ele escreve cai na minha boca igual uma luva, porque a gente se conhece muito, já fizemos teatro juntos muitas vezes. O maior sucesso da minha vida em teatro, ‘O Biquini Selvagem’, que eu fiquei oito anos em cartaz, foi ele que escreveu e dirigiu. Óbvio que a gente se escolhe para trabalhar, mas não quer dizer que a gente não queira trabalhar com outras pessoas.

HT: Depois da cirurgia você chegou a fazer “Sexo e as negas”. Foi por conta da amizade com o Miguel?
CJ: Então, ele escreveu e queria que eu fosse. E era um seriado diferente, musical, então eu quis muito fazer. Voltei, mas acho que voltei ainda sem poder dar tudo de mim. Foi bom pra dar o primeiro passo. Eu que ficava querendo voltar a trabalhar.

HT: Você teve dublês para algumas cenas, não foi?
CJ: Isso é importante de falar. Quando eu cheguei no primeiro dia para gravar, a Cininha de Paula (diretora) tinha contratado dublê para mim. Nunca pedi isso, acho que não tinha necessidade, que foi uma precipitação da Cininha, até porque ela é médica, talvez tenha ficado com cuidado maior. Mas nunca foi pedido meu. Nunca usei dublê, ponto, nada. Enfim, até gostei, porque ela chamou minha sobrinha que ficou do meu lado o tempo todo. Mas nunca pedi dublê.

HT: Como está a saúde agora?
CJ: Graças a Deus estou ótima. Depois que coloquei o marca-passo esse coração não dá mais defeito.

HT: Na época da doença você viu quem são seus verdadeiros amigos?
CJ: Temos afetos, gente que temos carinho, colegas que se tornam pessoas boas na vida, mas amigos são poucos. Os amigos mesmo não me abandonaram nem um minuto. Miguel foi um. Ia toda hora no CTI, me fazia rir que eu tinha até medo de arrebentar os pontos, falava milhões de bobagens. Os amigos não vão embora. Minha família é maravilhosa. A Stella Torreão, com quem fui casada dez anos e hoje é minha sócia, minha melhor amiga, ficou do meu lado o tempo todo. Os americanos tem mania de dizer que ‘essa pessoa é minha pessoa’. A Stella é isso pra mim. Minhas irmãs, somos cinco filhas, e minha mãe não saíram dali o tempo todo. Realmente amigos são isso.

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A amizade de Miguel Falabella e Claudia Jimenez (Foto: Reprodução)

HT: O que mudou na Cláudia depois disso?
CJ: Sempre muda a vida passar por algo assim, mas não é bem como dizem: ‘vou ser outra pessoa’, nada disso. A gente amadurece, assim como qualquer um amadurece com situações limite na vida, às vezes nem só com doença.

HT: O que podemos esperar de diferente da Cláudia que fez “Sexo e as nega” para essa de “Haja coração”?
CJ: Totalmente diferente. Minha energia vital mudou. Agora estou 100%, vocês vão rir muito comigo.