Sandra Annenberg fala da dupla jornada no próximo Globo Repórter e sobre retorno ao teatro depois de 30 anos


Conhecida pelo seu carisma e talento, Sandra Annenberg conta em entrevista ao Site Heloisa Tolipan sobre o seu retorno à reportagem na próxima edição do Globo Repórter, que irá ao ar na sexta-feira, dia 12. Jornalista fala também sobre voltar aos palcos do teatro depois de 30 anos, como atriz convidada. Ainda no campo cênico, ela conta sobre como está lidando com o fato de sua filha Elisa Annenberg-Paglia estar dedicando-se à arte cênica, estudando nos Estados Unidos.

* Por Vítor Antunes

Além de apresentá-lo, Sandra Annenberg volta à reportagem no “Globo Repórter” desta sexta-feira, dia 12. No programa será abordado desde a simplicidade fundamental das mãos à participação delas enquanto instrumentos terapêuticos. Da importância para os pacientes com Parkinson e a conquista deles com a exatidão do bordado. O programa também promete revelar um lado pouco conhecido da jornalista e que foi desenvolvido durante a pandemia: o fazer tricô e a identidade do handmade. Prestes a retornar aos palcos como atriz, Sandra conta em entrevista ao Site Heloisa Tolipan sobre o ‘frio na barriga’ em voltar a atuar depois de quase 30 anos, e sobre a filha, Elisa Annenberg-Paglia, haver ido estudar fora do Brasil, optando pelas Artes Cênicas.

Sandra Annenberg (Foto: Patrick Szymshek/TV Globo)

NUM MUNDO DIGITAL, A IMPORTÂNCIA DAS MÃOS

Depois de alguns anos sem trabalhar em reportanges externas, Sandra Annenberg terá dupla jornada no próximo “Globo Repórter”, jornalístico que apresenta desde 2019. Conduzirá uma reportagem, experiência da qual não vivencia há cerca de 4 anos, e apresentará o programa que se proporá a discutir a versatilidade das mãos. Sandra contou-nos que a pauta a seduziu logo de cara, pois “fala sobre a importância dos trabalhos manuais numa era tão digital”.

Sandra e a beleza do handmade com sua chancela (Foto: Ernesto Paglia)

Sandra relatou-nos ainda, que a reportagem já estava em produção quando ela se uniu ao time: “A pauta já estava em andamento quando me juntei à equipe que a estava produzindo e dirigindo – Ana Dorneles e Marislei Dalmaz, respectivamente. Vimos que há pessoas que vivem de trabalhos manuais, ao passo que há outras que o fazem por prazer. Há ainda aquelas que precisam exercitar as mãos para ganhar qualidade de vida ou até mesmo para sair da depressão. Diante de tanta reflexão, percebi que o uso das mãos pode fazer a bem a todos”.

Realizar a matéria foi um grande aprendizado e eu convido todos para refletir e pensar quantas história podemos contar com as nossas mãos” – Sandra Annenberg

Para tanto, a equipe do jornalístico correu o Brasil. No Rio de Janeiro esteve em um projeto voltado a pacientes com Parkinson que, a fim de ter restabelecida a qualidade de vida, frequentam oficinas que simulam os movimentos presentes no cotidiano. Esteve em Carapicuíba (SP), visitando rendeiras nordestinas que se irmanaram para trabalhar, bem como esteve em Curitiba com mulheres que esculpem instrumentos musicais e outras, também da capital paranaense que são luthiers – ou seja, reparam instrumentos de corda.

Para além destes personagens, ela própria, que se lançou em novos desafios, como o do tricô, no qual chegou a confeccionar nove peças. Segundo Sandra, este exercício manual serviu de forma terapêutica e como forma de analisar a própria condição de existir: “Enquanto tricotava, pensava na vida. Foi um período de muita introspecção. Aprendi que há erros que podem ser consertados e outros que devemos assumir, desde que eles não incomodem. E, caso isso aconteça ao ponto de não conseguir conviver com eles, sempre há a possibilidade de começar tudo de novo! Tudo depende da sua resiliência para aceitá-los”.

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PEDRO E O LOBO: O RETORNO DE SANDRA AO TEATRO

Depois de mais de 30 anos, Sandra Annenberg retornará aos palcos através da montagem da peça infantil “Pedro e o Lobo“, baseada no clássico de Prokofiev (1891-1953). A peça, ainda em captação de recursos, deve ser montada em breve. A própria atriz revela-nos um pouco sobre como se deu o convite e o que espera da encenação do novo projeto, no qual atores – dentre os quais, ela própria – dividirão espaço com bonecos de fantoche: “Recebi o inesperado convite da diretora Muriel Matalon para ser a narradora do espetáculo, estarei em cena junto com os belíssimos bonecos de Marco Lima e com uma orquestra e seu maestro”.

Ela prossegue dizendo que o concerto de Sergei Prokofiev, mesmo havendo sido escrito na década de 1930, prossegue sendo atual, além de ser, segundo ela, a magnum-opus de seu autor: “Trata-se de uma obra-prima! A música é belíssima e a história é perfeita para os dias atuais: uma fábula em que um menino corajoso enfrenta um lobo assustador. E o mais legal do espetáculo é que ele foi criado para apresentar os instrumentos musicais para as crianças. Cada personagem é representado por um instrumento e as crianças ficam conhecendo como se forma uma orquestra. Trata-se de uma obra que encanta todas as idades! Mesmo durante os ensaios e pensar na volta aos palcos, o frio na barriga é constante. Não vejo a hora!”, vibra. Embora lamente a dificuldade de se levantar um espetáculo no Brasil:

“A cultura vem sofrendo muito nestes últimos anos com a falta de incentivo – Sandra Annenberg

Muriel Matalon e Sandra Annenberg em “Pedro e o Lobo” (Foto: Divulgação/Fernanda Sá)

O início da carreira de Sandra Annenberg como atriz costuma ser atribuído ao ano de 1974, na peça “Um Dia Ideal para os Peixe-Banana”, adaptação do conto homônimo, do escritor norte-americano J. D. Salinger (1919-2010). Seu último trabalho na TV como atriz foi na série “A,E,I,O… Urca”. Todavia, a última novela na qual atuara do princípio ao fim foi na malfadada “Cortina de Vidro”, exibida pelo SBT entre 1989/1990. Obra da qual ela guarda boas memórias: “Foi um trabalho bem interessante, acabei virando protagonista no meio da novela. Carrego sempre comigo os ensinamentos de grandes atores com quem trabalhei na novela, como Miriam Mehler, Antonio Abujamra (1932-2015), Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006)”, relembra.

A relação com a arte cênica não está restrita aos trabalhos feitos por Sandra no passado, como as séries “Bronco” e “Chapadão do Bugre”, da Bandeirantes, ou a novela “Pacto de Sangue”, da Globo. Recentemente, sua filha, Elisa, demonstrou interesse em estudar encenação e para tal foi morar nos Estados Unidos. E Sandra pontua a “Síndrome do Ninho Vazio”. A jornalista, que é casada com o jornalista Ernesto Paglia, afirmou que este sentimento “existe sim. Não é fácil deixar a filha voar pra longe. Dizem que criamos os filhos para o mundo, mas quando eles se vão… dói sim, sinto muitas saudades… Mas sei que ela está feliz e ver filho feliz nos deixa feliz!”.

Diante do fato que a filha haver escolhido a mesma carreira que ela – ainda que tenha se dedicado ao jornalismo depois -, Sandra diz aprovar: “Quanto a ela ter escolhido ser atriz, só posso apoiar muito. Não é uma profissão fácil, ela sabe disso. E sabe também que tenho muito orgulho da dedicação dela. Espero que se realize. Quando a gente faz o que gosta é tão bom. E sempre estarei na primeira fila para aplaudir de pé!”, orgulha-se.

Sandra Annenberg em uma campanha publicitária de 1983, dos extintos jeans US TOP. Idêntica à sua filha, Elisa (Foto: Reprodução)

MOÇA DO TEMPO E “MEMES”

Desde 1991 nos telejornais da Globo – embora tenha tido passagens por jornalísticos de outras emissoras como TV Gazeta (SP) e Bandeirantes – Sandra Annenberg estreou na emissora do Jardim Botânico já como pioneira, sendo a primeira moça do tempo da TV brasileira. Sobre haver feito o mapa-tempo ainda nos anos 1990, momento em que a previsão do tempo era mais imprecisa que hoje, e numa fase em que o telejornalismo era mais engessado, a jornalista fala sobre como foi difícil estabelecer esta nova linguagem e sobre o “medo” que tinha durante a apresentação do quadro: “A previsão do tempo estreou no ‘Jornal Nacional’ em 1991, quando o JN era apresentado por Cid Moreira e Sérgio Chapelin. Naquele tempo não era comum haver previsão do tempo nos telejornais brasileiros, fomos precursores. Estávamos explorando a linguagem, aprimorando-a dia a dia”. E ela continua, descontraidamente: “Os recursos tecnológicos não eram tão modernos quanto são hoje, tanto na televisão como na meteorologia. Me lembro de ficar nervosa a cada feriado, com medo de errarmos a previsão… Que bom que deixamos o caminho mais fácil pra quem veio depois, assim não ficaram sujeitos a chuvas e trovoadas!”

Sandra Annenberg em seu primeiro ano de mapa-tempo, no Jornal nacional, em 1991 (Foto: Reprodução TV Globo)

Em uma profícua carreira como âncora, além da simpatia e credibilidade, não foram raras as situações em que Sandra virou meme nas redes sociais. Na primeira vez, em 2011, a apresentadora dividia a bancada com Evaristo Costa, quando numa chamada para um link ao vivo com a jornalista Monalisa Perrone, esta última foi interrompida por uma pessoa. Na volta ao estúdio, chocada com a interrupção abrupta, Annenberg foi sincera e disse a expressão que virou clássica: “Que deselegante”. O sucesso da frase transformou-se, inclusive, em sticker de aplicativo de mensagem. Em outra circunstância, em 2017, reagiu a uma frase malcriada de um médico goiano, dizendo “Eu não ouvi o que eu ouvi, ouvi?”. A indagação também fez sucesso nas redes sociais. A jornalista diz que não se incomodou em haver virado meme, pelo contrário. Levou com bom humor: Adoro ter virado meme! Acho divertido e fico feliz que as pessoas também se divirtam. ‘Que deselegante’ virou um clássico ! E o ‘Eu não ouvi o que eu ouvi, ouvi ?’ também é perfeito pra se usar em várias situações. De alguma forma, fico na memória e na história das pessoas. É claro que não serei lembrada só pelos memes, mas se tornar um é muito engraçado. Imagina…quando podia imaginar que ia virar ‘sticker’ ? , divertiu-se.

Ao falar das mãos, Sandra Annenberg faz lembrar que a vida é escrita justamente por elas. E está entre a humanidade de reportar a História e a sensibilidade em dizer às crianças que cada pessoa é um instrumento musical. É o lúdico de Prokofiev, e os olhos cheios de notícia de Chico Buarque, além das mas mãos firmes (de novo elas), que seguram o espelho “que à meia noite se divide em olhos cheios de teatro”, de Cecília Meireles. Se há ninho vazio, há pássaros cheios de bons presságios no cristal de sonho e lua que reflete os sonhos de Elisa – ou para Elisa, como diria Beethoven.