Por onde anda o Farofa de “Malhação”? Éric Müller virou empresário e sonha com carreira política: “Quero ser Presidente”


Éric Müller, que hoje não acredita mais na força da TV aberta, foi um dos jovens talentos a compor uma das primeiras temporadas de “Malhação” e um dos primeiros a formar dupla com Cabeção (Sérgio Hondjakoff). Ao fim de seu vínculo com a Globo, em 2001, e assustado com o sucesso, o ator foi morar na Itália e ao voltar não conseguiu recolocar-se na profissão, ainda que este fosse o seu desejo de até tentar carreira internacional. Fez publicidade, virou bancário e tinha sido, antes da TV, garçom e bartender. Hoje empresaria uma firma responsável pela montagem de bares em eventos, a Birittas. De imediato, não sonha em voltar à profissão de ator, mas a investir mais no seu negócio, que ganhará um showroom em São Paulo ainda neste semestre e, voo ousado, deseja tornar-se Presidente da República para promover um capitalismo consciente aliado ao bem estar social

*por Vítor Antunes

Um personagem eternizado na “Malhação” foi o Farofa, vivido por Éric Müller, na temporada de 2001. Um dos melhores amigos de Cabeção (Sérgio Hondjakoff), o rapaz roubou a cena com o seu bom humor. Este foi, porém, o único trabalho relevante de Éric Müller na TV. Assustado com a fama e recusando a pecha de ator cômico que lhe tentaram imputar, o artista recusou um convite para fazer o “Zorra Total“, extinto humorístico da Globo, mudou-se para a Itália, transitou por algumas atividades e hoje é proprietário de uma empresa destinada produção de bebidas e drinks para eventos, a Birittas. Ainda neste mês, o empresário pretende abrir um showroom para apresentar a firma em seu formato físico, no bairro Jabaquara, em São Paulo. Fortemente ligado às causas sociais, Éric diz pretender em breve envolver-se com a política também, ante à sua inconformidade frente à desigualdade social. “Pode ocorrer que eu, em algum momento, coloque a minha cara a tapa e me candidate a presidente do Brasil”.

Um dos motivos que levou o ex-ator a deixar a profissão foi, não apenas a vontade de dedicar-se ao cinema, o que era o seu objetivo inicial, mas também a dificuldade do mercado, tanto o do campo dramatúrgico como o da publicidade, mas a grande exposição que uma profissão dessas implica.

Na Itália eu não era reconhecido por ninguém, era um ser humano normal, anônimo. (…) Durante a “Malhação”, passei por situações desagradáveis, como a de entrar no ônibus e ser ‘alugado’ por pessoas que não tinham bom senso e, ao pedirem autógrafo, diziam que iriam vendê-lo – Éric Müller

Éric Müller hoje é empresário e sonha em investir na política (Foto: Reprodução/Instagram)

QUEM É MANOEL?

Num dos capítulos de “Malhação”, numa resposta à chamada, um dos professores- personagem chamou por “Manoel” e os outros alunos da turma não sabiam quem era o tal aluno. Acreditaram , inclusive, tratar-se de um aluno novo. Não sabiam porém que era assim que chamava-se Farofa, personagem vivido por Éric Müller. Antes mesmo da dupla com Mau-Mau (Cauã Reymond), Cabeção (Sérgio Hondjakoff) fez dupla com o jovem interpretado por Éric. O sucesso de Farofa – e por que não dizer – da Malhação acabou por assustar o, então, ator: “Eu não tinha grana e a Globo não dava um grande suporte para os transportes. De modo que eu ia para o Projac (atualmente Estúdios Globo) de ônibus. Por vezes, as pessoas que estavam no transporte público pediam autógrafos e diziam: ‘Vamos vender o autógrafo do Farofa”. Naturalmente, quando eu era abordado dava atenção às pessoas. O que me incomodava era essa falta de noção”, pondera. E continua dizendo “por óbvio, não podia ser grosseiro com as pessoas, além do mais eu era uma pessoa pública. E foi algo muito difícil. Eu não conseguia nem ir ao supermercado fazer compra. O público me reconhecia e o mercado parava”.

O sucesso, quando ele vem, ele não chega moderadamente. Vem de uma vez só –  Éric Müller

Dado Dolabella e Éric Müller em “Malhação” (Foto: divulgação/TV Globo)

 

Logo após sua participação na novelinha, Éric foi convidado a permanecer na casa, no elenco do humorístico “Zorra Total“, mas não aceitou. Perguntamos se ele se arrepende em não haver aceitado fazer o programa cômico e ele disse que “por alguns momentos eu me arrependi. Não sabia se ficaria tachado como ator de comédia e se eu estava indo para uma trajetória correta para o que eu imaginava para a minha carreira. Mas chegou uma fase da vida que eu entendi que era isso que devia acontecer mesmo. Meu sonho sempre foi o cinema, que era algo muito mais complexo. Imaginei um mundo de portas abertas para mim e isso não aconteceu”.

Do tempo em que estive na TV para hoje as coisas mudaram absurdamente. As pessoas não escolhem mais apenas atores para fazer propaganda, mas cantores que estouraram por um hit. As marcas não contratam atores para fazer publi, mas influencers. Acabou o mercado da TV aberta – Éric Müller

Tal como seus pares, Eric também atestou não ter recebido os direitos conexos e de imagem pela reexibição de “Malhação”,  no Viva. “A TV não me contatou e de forma alguma. Parece que fomos esquecidos. A TV não me deu suporte, mas estou numa boa por que estou numa outra direção”.

NOVOS TEMPOS

Após a saída de “Malhação” e a recusa a fazer “Zorra”, Éric fez alguns trabalhos em publicidade. Depois, foi morar na Itália. No País europeu “me aprofundei sobre as minhas questões sobre o que eu queria. Depois de um tempo voltei ao Brasil para tentar reconstruir a minha vida e encarar de novo o mercado, que estava quente para a publicidade. Contatei os produtores de elenco para projetos de TV  e  não me senti bem recebido. Eu não esperava por isso. Pensava que fosse ter mais oportunidades na Globo, que faria mais testes, que eu fosse ter mais chance para mostrar o meu trabalho o que não aconteceu. No início, o fato de eu ser de São Paulo não foi um problema, pois pagaram minha passagem para o Rio e naquela cidade morei dois anos. Da segunda vez, o fato de eu morar em São Paulo foi um dificultador”. Conta-nos ele, que no teste que o aprovou a fazer o Farofa, precisou que o dinheiro que a mãe possuía no INSS fosse aplicado na viagem do filho rumo ao Rio de Janeiro, rumo ao sonho. Aliás, a volta ao Brasil após a temporada italiana, chega para retomar um desejo que não era só de Éric mas da matriarca: A sua formação acadêmica na faculdade. A mãe dele tem fundamental importância nesta história. Ela sonhava que ambos os filhos se formassem. Apoiou-os em todos os momentos. E, em 2008, faleceu pela Doença de Creutzfeldt-Jakob – correspondente humano do mal da vaca louca.

Na Itália eu não era reconhecido por ninguém. Era um ser humano normal, anônimo – Éric Müller

Campanha publicitária do extinto banco HSBC Brasil ganhou Prêmio Caboré. Em cena Eric Müller e Luiz Serra (Foto: Reprodução)

Quando volta para o Brasil, o ritmo de produções de comerciais caiu e Éric “desencanou de fazer fotos novas e investir no meu nome. Fiz o comercial para o Banco HSBC… e comecei a trabalhar o Itaú!”. Müller esteve trabalhando na parte de  gerenciamento desta instituição até 2013. “Quando deixei o banco, resolvi trabalhar com algo do qual eu já freelava antes de ir para a TV. Comecei a trabalhar em algumas empesas e eventos como bartender e garçom e me dei conta de que deveria abrir um negócio nesta área. Assim nasceu o Birittas, em 2015. Fui fazendo uma festinha aqui, um casamento ali, e quando me dei conta estava fazendo eventos para grandes empresas. Hoje a nossa empresa de bar para eventos é uma das mais bem avaliadas do mercado paulistano”. Ainda neste semestre, o Birittas terá um showroom fixo, instalado no bairro do Jabaquara, São Paulo. Não se pode dizer que ele nunca embarcou em mercados ousados. Antes de dedicar-se à carreira de ator, chegou a ser criador de hamsters.

Éric Müller à frente do Birittas. O projeto cresceu e hoje é um dos mais requisitados de Sampa (Foto: Reproduão/Instagram)

BRASIL

Éric nos fala que um de seus arrependimentos foi não ter tentado uma carreira internacional nos Estados Unidos. Opinativo e articulado, o empresário diz que “Quando eu estava na Globo eu não deixava de emitir opinião e acho que as pessoas não devem ter gostando tanto. Éramos artistas, projetos na mídia. Acho que os atores não devem apenas absorver o sucesso mas devolvê-lo de alguma maneira [para o público]. Fico feliz em saber que o meu trabalho devolvia às pessoas o humor e a diversão, especialmente por elas não terem uma vida fácil. Ali, no horário da Malhação nós fazíamos diferença na vida das pessoas tanto mais esclarecidas como das mais humildes”, frisa.

Além do desenvolvimento como empresário, ele revela um de seus sonhos mais audazes: “Acredito que pode ocorrer que eu, em algum momento possa colocar a cara a tapa e me candidatar a presidente do País. O Brasil é muito rico e faz muito mal proveito disso. O que nos faz humanos é o senso de moralidade e quando perde-se isso as pessoas se animalizam. Perdemos tanto esse conceito básico de empatia que é normalizado ver as pessoas embaixo da ponte ou os que enlouqueceram enquanto moram nas ruas. É preciso ter alguém para contestar o status quo. Ser político não é uma decisão fácil. Já pensei em todos os riscos possíveis. Eu tenho em mim um senso de cidadão que quer o melhor para os cidadãos de bem. Eu não vejo com normalidade o que estamos vivendo e acho muito dura a realidade brasileira. O Zelensky, presidente da Ucrânia, está lá, diariamente, na batalha, com uma camiseta e roupas simples”.

Eu não tive filho por que não consigo pensar em colocar um filho no mundo em um pais que não tem perspectiva de evoluir – Éric Müller

Uma vida com várias frentes. Uma trajetória construída e reconstruída com o afinco que nos faz brasileiros. Carlos Lombardi, novelista, diz que “Novela são trinta pessoas correndo atrás da felicidade. E a gente torcendo”. Ainda que prefira o cinema às novelas, não se pode negar que Eric foi trinta pessoas durante a vida e até agora, que se avizinha dos 40 e poucos anos. E é algo também inegável, que ele a encontrou. E se a terá sendo Presidente da República… Só Deus, e as urnas, dirão.