A maldição da bruxa má: e o vento levou para longe a originalidade de “No olho do tornado”. Saiba o porquê!


Filme-catástrofe tem como mérito efeitos especiais bem acabados e vai na aba das produções de zumbi, escalando Sarah Wayne Callies, de “Waling Dead”, para papel de mocinha

Possivelmente, a primeira e última vez que um tornado fez ventania para valer em Hollywood foi há 75 anos atrás, quando transportou uma menininha e seu totó para um mundo encantado com cidades de esmeralda e estradas pavimentadas com tijolinhos amarelos, habitado por anões, babuínos voadores, e até uma feiticeira de pele verde. Isso foi em 1939, e de lá para cá, a praga da Bruxa Má do Oeste parece ter pegado, com nenhum outro vórtice de ar causando mais marola nos anais da cinematografia mundial do que “O Mágico de Oz” (The Wizard of Oz, de Victor Fleming, MGM). Eis que agora chega aos cinemas No olho do tornado” (Into the Storm, de Steve Quale, Warner Bros, 2014), uma produção que procura desvendar a emoção de ser tragado por um deles usando modernas técnicas de filmagem, narrativa que se aproxima do documental (na esteira de “A Bruxa de Blair”, “Cloverfield” e “Atividade Paranormal”) e efeitos especiais de ponta, que possibilitam ao espectador ver o que ocorre nestas manifestações da natureza através de novos pontos de vista, daqueles que só o cinema digital permite.

Apesar da qualidade técnica, os realizadores desta fantasia deveriam, antes de mais nada, voltar sua bússola para os anos 1970 e tentar aprender como contar uma história com o lendário produtor Irwin Allen, à frente de um punhado de deliciosos caça-níqueis do gênero que se tornaram clássicos, ou até Aeroporto” (Airport, de George Seaton, Universal Pictures, 1970), que deflagrou a moda dos filmes-catástrofe. Com fórmulas muito bem estabelecidas, Allen sabia como ninguém apelar para a emoção barata (mas sincera) da plateia com enredos que, mesmo repletos de situações-clichê e arquétipos batidos, são capazes até hoje de envolver o público, a começar por personagens de carisma incontestável.

“No olho do tornado” não tem senhora judia de bom coração que ajuda o reverendo a recuperar a sua fé (Shelley Winters em “O Destino do Poseidon”), velhinha clandestina que é chave para resolver problema com suicida munido de bomba em aeronave comercial (Helen Hayes em “Aeroporto”), nem intrépido bombeiro que é contra a ganância da especulação imobiliária (Steve McQueen em “Inferno na Torre”), pecando pela ausência total de tipos interessantes, tão apagados quanto qualquer cidadezinha no interior de Oklahoma, onde se passa a história.

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Fotos: Divulgação

Não deve ser mesmo fácil hoje em dia produzir uma fantasia-catástrofe, mesmo com toda a tecnologia digital ao alcance das mãos. Tirando as novas pirotecnias de câmera, a banalização da mesmice impera e, mesmo quando se pretende acertar, tudo já foi feito antes, dificultando enfoques originais. E, claro, tem ainda a pressão dos estúdios para fazer valer cada centavo aplicado na produção, já que esses longas repletos de efeitos costumam envolver cifras nababescas numa era em que Hollywood se resume a um grande departamento de direção de arte. Por isso, um elenco de peso e um roteiro que não seja equivalente a um cataclisma climático são condições sine qua non para justificar a ida da legião de nerds às salas de exibição. Mas, infelizmente, o dinheiro foi todo gasto nos recursos de pós-produção e bons roteiristas hoje no cinema são raridade, com a televisão arrematando os melhores com cachês milionários e a possibilidade muito maior de dar vazão aos seus delírios criativos. Infelizmente, nesses dois quesitos, “No olho do tornado” não passa de uma ventaniazinha boba, daquela que nem vira guarda-chuva ao avesso.

Para piorar a coisa, é época em que a maior de todas as intempéries, tanto  no cinema quanto na televisão, continua sendo o apocalipse zumbi, capaz de arregimentar massas de espectadores e gerar fortunas, sem que nenhum incidente geológico seja capaz de lhe fazer frente na bilheteria. Talvez por esse motivo, o diretor escalou Sarah Wayne Callies, atriz recém-egressa de “Walking Dead” para ser a protagonista dessa baba em sua primeira aparição pós-série de tevê, agora no papel de uma meteorologista que é um verdadeiro desastre lidando com a filha de cinco anos. Melhor ligar no Discovery e assistir a mais um programa sobre o Katrina.

Trailer oficial (Divulgação)