Miss Universo: Paulina Vega vence, mas a neo-Halle Berry Kaci Fennell é vitoriosa moral em noite que coroa a especulação imobiliária!


Tradicional a ponto de ter fama de careta, evento desagradou o público que torcia pelo carisma da Miss Jamaica congestionando as redes sociais com comentários tão intensos quanto o desejo de eleger a cidade de Doral como novo paraíso dos endinheirados!

Está na hora de os organizadores do Miss Universo reverem seus conceitos. Essa é a impressão que se teve na noite deste domingo (25/1) ao se assistir pela televisão a 63ª edição do concurso realizado este ano na Arena da Universidade Internacional da Flórida – FIU, em Miami. O público presente no local vaiou solenemente a bela morena colombiana Paulina Vega, vencedora da edição 2014, que aconteceu quase um mês depois de 2015 ter virado, já que a franca favorita era a carismática candidata da Jamaica, Kaci Fennell, um primor de beleza moderna e fidedigna representante da mulher dos novos tempos, revelando a eleição desse ano como um dos maiores fiascos da trajetória da competição que acontece desde 1952.

A colombiana Paulina Vega é a vencedora do Miss Universo 2014, que foi realizado em 2015 (Foto: Reprodução)

A colombiana Paulina Vega é a vencedora do Miss Universo 2014, que foi realizado em 2015 (Foto: Reprodução)

De certa forma, tudo conspirou contra essa finalíssima, a começar pela escolha do local. Nos intervalos do concurso, era possível conferir as publicidades com as misses trajando maiôs de Pamela Anderson, mergulhadas em piscinas nababescas ou ensaiando jogadas mirabolantes de golfe – de deixar salivando Hugh Hefner, o homem por trás da Playboy – nos campos de Doral, espécie de Playmobil edificada por gente com sede de especulação imobiliária e cabelos esquisitíssimos como Donald Trump, o multi famoso bilionário norte-americano hoje à frente da organização que elege a mulher mais bonita do planeta. Aliás, a partir do momento em que ainda não se conhece nenhuma outra civilização além da terráquea, do espaço sideral inteiro. Daí o nome do evento. O público presente contestou o veredicto e rapidamente uma explosão de posts nada elogiosos pulularam nas redes sociais mundo afora, todos protestando com a escolha dos jurados e chamando o evento de marmelada.

Beleza universal usada para vender terrenos: para o realizador do evento Donald Trump, oportunidade inestimável para por Doral no mapa-múndi via transmissão do Miss Universo (Foto: Reprodução)

Beleza universal usada para vender terrenos: para o realizador do evento Donald Trump, oportunidade inestimável para por Doral no mapa-múndi via transmissão do Miss Universo (Foto: Reprodução)

Bem verdade que Miami – a cidade do sistema solar que mais sediou até hoje o Miss Universo – está mesmo na berlinda por conta do concurso, a começar pela polêmica que levou à sua escolha. Inicialmente, Doral seria a sede da final. Mas o conselho municipal da urbe de plástico vetou sua realização. Depois, as negociação foram retomadas, mas o espaço selecionado, o Trump National Doral (de quem?!?) foi embargado por não atender às especificações do Miss Universe Organization, e olha a cidade mais famosa da Flórida voltando novamente à cena, com a Arena da FIU, com capacidade de 5 mil lugares sentados, no topo do ranking, já que o Salão Donald J. Trump (de 3 mil assentos) não ficaria pronto a tempo. Daí o atraso todo que levou 2014 a avançar por 2015 e fez com que naufragasse o sonho do mega investidor de trazer o badalo para seu novo empreendimento megalômano-imobiliário.

Doral, Flórida: empreendimento nababesco para faturar em cima dos endinheirados que assistem ao Miss Universo (Foto: Reprodução)

Doral, Flórida: empreendimento nababesco para faturar em cima dos endinheirados que assistem ao Miss Universo (Foto: Reprodução)

Tudo isso, óbvio, deve ter deixado Trump com os cabelos em pé e seus desafetos – Ivana Trump e Marla Maples à frente – podem ter aberto garrafas de Dom Perignon para comemorar. Mas, ao contrário de Eike Batista, o tycoon não dá o braço a torcer e é tinhoso, rapidamente se encarregando de bolar uma série de atividades extra-curriculares das candidatas em Doral para serem veiculadas naqueles vídeos de makin’ of que são vistos durante a transmissão, para encher linguiça enquanto as finalistas trocam de roupa. E dá-lhe Doral, com aquele jeitinho de reclame de lançamento na Barra da Tijuca aparecendo de tudo que é maneira. Só faltaram os flamingos.

Cartaz do Miss Universo 2014: Doral chama mais atenção que a beldade da foto (Reprodução)

Cartaz do Miss Universo 2014: Doral chama mais atenção que a beldade da foto (Reprodução)

A competição esse ano trouxe candidatas com nomes que mais parecem alcunhas de Bond Girls. Direto das páginas de Ian Fleming, criaturas da literatura de aventura como Honey Rider, Vesper Lynd e Pussy Galore devem ter estremecido na base vendo concorrentes de carne e osso com designações igualmente sugestivas, como Ivana Misura (Croácia), Bea Toivonen (Finlânida), Jevon King (Trinidad & Tobago), Niketa Barker (Guiana), Nale Boniface (Tanzânia) e Yulia Alipova (Rússia). O agente com licença para matar amaria.

E não para por aí: a repórter encarregada de apimentar os backstages também tinha história.  Nascida em San José, Califórnia, Jeannie Mai é make up artist, expert em moda e personalidade da TV, mas está longe de ter o timing necessário para atirar sua pistola automática. Precisou ganhar uma intervenção nada discreta do apresentador Thomas Robert para liberar a Miss Austrália Tegan Martin, interpelada por ela na saída das dez finalistas (gala), já que não largava a menina para se preparar para a próxima entrada. Risco de atraso que desagradaria em cheio os anunciantes da emissora oficiais NBC e Telemundo, além dos patrocinadores de Doral.

A repórter Jeannie Mai: vontade de aparecer mais do que as próprias misses (Foto: Reprodução)

A repórter Jeannie Mai: vontade de aparecer mais do que as próprias misses (Foto: Reprodução)

A bela brasileira Melissa Gurgel – uma espécie de Barbie Malibu mignon versão cerarense – ficou entre as 15 semi-finalistas, mas não passou disso. E, para quem ficou aborrecido, vale lembrar que a questão não foram seus 1,68m. De fato, a moça saracoteou demais no desfile de biquíni, exagerou nos pivôs, quicou, passou dos limites. Exagero é pouco. Basta comparar com a grande injustiçada da noite, Kaci Fennell, que ficou no quinto lugar, flanando como uma deusa, detentora de porte e fluidez dignos de deixar Mariana Weickert e Daiane Conterato – até hoje os melhores catwalks das passarelas brasileiras nas semanas de moda – com as orelhas em riste.

Melissa Gurgel: a Miss Brasil saracoteou, pipocou, exagerou e acabou sendo desclassificada no segundo round (Foto: Divulgação)

Melissa Gurgel: a Miss Brasil saracoteou, pipocou, exagerou e acabou sendo desclassificada no segundo round (Foto: Divulgação)

Com cabelos curtinhos, sorriso contagiante, olhar sapeca, corpo fenomenal, elegância inconteste e porte de rainha, Fennell quase emula a Jinx de Hale Berry em “007 um novo dia para morrer” (007 Die Another Day, de Lee Tamahori, MGM, 2002) e tinha tudo para arrebatar o título, mas talvez seja moderna demais para uma competição alimentada por um público de mulheres e bees mundo afora que ainda gosta de Cher, se derrete com Barbra Streisand, acha tule com pedraria o máximo e vê “Priscilla – a rainha do deserto” como um filme-cabeça.

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As novas gerações de telespectadores capturadas hoje em dia pela transmissão anual do Miss Universo também não são exatamente o sopro de renovação que o badalo precisa para se firmar novamente e arrebatar uma rapaziada mais descolada em era de moda e música pop como catalisadores dos desejos de consumo. E, claro, não é essa turma de modernos que consome empreendimentos imobiliários na Flórida. Quando começar a morrer o público que arrisca fortunas nos cassinos em Las Vegas, compra propriedades em paraísos ensolarados e assiste ao Miss Universo, que se pense em renovar a fórmula para valer. Por enquanto, tudo fica como está e ai da Miss Jamaica se ganhar. Então o evento vai permanecendo como está, fingindo que está se atualizando, mas continuando a ser o mesmo dos anos 1950/1960, quando ainda não havia as semanas de moda como contraponto e as top models ainda não eram mais famosas que as misses.

Kaci Fennell: silhueta possível em qualquer desfile de moda praia, quiçá no Victoria's Secret Fashion Show (Foto: Divulgação)

Kaci Fennell: sem cinturinha de vespa nem quadris avassaladores, sua silhueta seria possível em qualquer desfile de moda praia, quiçá no Victoria’s Secret Fashion Show (Foto: Divulgação)

Mas, quem disse que somente um ponto de vista é suficiente? O bacana mesmo é essa pluralidade, e a hegemonia das supermodelos merece ter a suposta renovação do apelo das misses batendo à sua porta, mesmo que a estética destas pouco tenha se rendido ao sabor dos novos tempos, a ponto de negar o título de mulher mais bonita do universo à fenomenal Kaci Fennell, a única dali que poderia estar em uma passarela da Semana de Moda de Paris, em curso nestes mesmos dias.

Ainda assim, não se pode negar que o amálgama entre os biótipos dos dois universos seja visível. Agora, os corpos das finalistas mais parecem corpos de modelos de passarela em desfile de moda praia. E os quadris estão mais estreitos, reduzindo o tradicional efeito ampulheta. Prova de que, mesmo contra a vontade dos realizadores, nem o Miss Universo está incólume à ação dos novos comportamento sociais.

Da esquerda para a direita: Pauline Vega (Colômbia - 1º lugar), Kacy Fennell (Jamaica - 5º lugar), Diana Harkusha (Ucrãnia - 3º lugar), Desire Cordero Ferrer (Espanha - 4º lugar) e Valentina Ferrer (Argentina - 2º lugar) (Foto: Divulgação)

Da esquerda para a direita: Pauline Vega (Colômbia – 1º lugar), Kacy Fennell (Jamaica – 5º lugar), Diana Harkusha (Ucrãnia – 3º lugar), Yasmin  Verheijen (Holanda – 4º lugar) e Nia Sanchez (USA – 2º lugar) (Foto: Divulgação)

By the way: entre atrações musicais insossas como Prince Royce e Gavin DeGraw ­– com bailarinas de bata cropped e calça sarouel – , um Nick Jonas pós-maromba se apresentou com o corpitcho nada à mostra. Mas essa nem é a questão. Alguém precisa dizer ao seu stylist que passar gel no seu cabelo acentua as orelhas de abano…