Mariana Cerrone, atriz de ‘Dom’: “Falar sobre drogas ainda é um tabu, mas a sociedade precisa trocar ideias”


Em seu primeiro papel de destaque na TV, na Amazon Prime Video, a atriz percebe que a produção trouxe para as famílias a discussão desse tema ao retratar a vida de Pedro Dom, que se envolveu com o mundo do crime para manter seu vício nas drogas. “Serve de alerta, porque estamos falando dos anos 2000 e de lá para cá não mudou muito. Então, como a gente avança nesse sentido? Sobre legalizar, é um assunto que eu tenho mais dúvidas do que respostas. Mas a sociedade precisa chegar a uma conclusão que seja boa para todos”, pontua ela, que interpreta a irmã do protagonista

* Por Carlos Lima Costa

Uma das produções mais incensadas este ano nas plataformas de streaming, Dom, que se tornou a série de língua não inglesa mais vista na Amazon Prime Video, além de retratar a história do traficante Pedro Dom, jovem de classe média, usuário de drogas que se tornou líder de uma quadrilha, joga luz em um tema tabu: a legalização como forma de combater o tráfico, como defendem alguns políticos e ativistas. Mariana Cerrone, Intérprete de Laura, irmã do protagonista vivido por Gabriel Leone, considera importante que a arte sirva para abordar temas relevantes que muitas vezes acabam não sendo debatidos na sociedade.

“A repercussão está ótima. Como minha personagem tem um amor muito grande pelo irmão e ao mesmo tempo que tenta seguir a própria vida, é um alicerce daquela família, muita gente que já passou por isso se identifica. Recebo mensagens incríveis. As pessoas falam que a série abriu uma discussão boa e saudável dentro das famílias. Falar sobre drogas ainda é um tabu no Brasil e aí você vê uma série desse tamanho abrindo esse tipo de discussão, é muito saudável. Serve de alerta, porque estamos falando dos anos 2000 e de lá para cá não mudou muito. Do jeito que está não dá para ficar. Isso é uma certeza. É preciso abrir essa discussão para a sociedade como um todo”.

Mariana Cerrone (Fotos: Edu Rodrigues/Make: Dani Kobert/Stylis: Herbert C)

Mariana Cerrone (Fotos: Edu Rodrigues/Make: Dani Kobert/Stylis: Herbert C)

Mariana procura se colocar diante de várias questões relevantes. Em 2018, por exemplo, reproduziu em sua rede social uma placa que viu em uma loja com os dizeres: ‘Se você é racista, sexista ou homofóbico, por favor não entre!’ “Eu achei genial. Busco muito evoluir. Estudei em uma escola católica, então, meu encontro com a arte foi importante. A arte abre muito a cabeça da gente. Assim, me desconstruo um pouco todos os dias e busco sempre ser uma mulher empoderada”, ressalta.

A chegada dos 30 anos, em 28 de março, tem sido benéfica. “Desde pequena eu falava que 30 anos ia ser a idade da virada na minha vida e foi. Eu casei, estreou Dom, enfim, estou me fortalecendo. Acho 30 uma idade linda, onde você tem a maturidade e no olho ainda tem o brilho e a vontade de fazer dos 20. Esse combo é especial, é uma idade única, estou muito feliz. Claro que tenho as minhas questões, mas busco sempre me fortalecer”, relata.

E revela que entre suas questões estão inseguranças surgidas na infância. “Sempre fui uma menina tipo gordinha e era zoada na escola, ainda nem chamavam de bullying. Era chamada de ‘menina gorda, elefante’. Sempre fui efeito sanfona, tipo engorda, emagrece, aí a gente sofre pressão estética de toda a sociedade. Muitos olham uma mulher magra e falam: ‘esse é o padrão, é o corpo que eu quero ter’. E não é bem assim. Cada mulher é de um jeito. O importante é a gente ter saúde”, comenta.

Mariana Cerrone (Fotos: Edu Rodrigues/Make: Dani Kobert/Stylis: Herbert C)

Mariana Cerrone (Fotos: Edu Rodrigues/Make: Dani Kobert/Stylis: Herbert C)

Ela prossegue comentando o quanto as referências são importantes. “Mas tudo é muito da cabeça também. Quando você não tem referências fica mais difícil para entender. Naquela época ser gordo era sinônimo de ser doente. Hoje em dia isso não existe mais. O importante é você estar saudável e feliz com você. No início desse ano, por exemplo, estava pesando bem mais e estava feliz para caramba. O importante é nos aceitar. Eu descobri o humor na minha vida quando comecei a sofrer esse tipo de bullying e rebatia com tiradas rápidas. Mas afetava até o lado afetivo. Fui beijar na boca pela primeira vez somente com 15 anos”, revela ela que, dia 15 de novembro, completa oito anos de relacionamento com Felipe Galvão, 29 anos, profissional do mercado financeiro, com quem mora desde novembro do ano passado.

Mariana Cerrone e o marido, Felipe Galvão (Foto: Reprodução Instagram)

Mariana Cerrone e o marido, Felipe Galvão (Foto: Reprodução Instagram)

Mariana começou a cursar teatro aos 6 anos. Ainda estava aprendendo a ler e escrever, então, a mãe passava os textos com ela. “Eu me apaixonei loucamente. Então, a fase da engraçada da escola vem depois disso”, diz ela, cuja primeira peça profissional foi Robin Hood, em 2008. Na TV aberta, sua primeira participação foi na novela Cama de Gato, em 2009. Três anos depois, integrou o elenco de apoio de Malhação Conectados. E ao ser eleita Melhor Atriz no FESTU, festival de teatro universitário do Brasil, entre os prêmios estava uma participação no programa Porta dos Fundos. No cinema, atuou em Desenrola – O Filme, dirigido por Rosana Svartman.

“Venho de um trabalho forte no teatro. Muita gente me enxerga como uma atriz que faz humor. Nunca quis me rotular como humorista, porque eles merecem muito o nosso respeito e eu não chego nem perto. Eu sou uma atriz que mando bem fazendo humor. Quis ser atriz desde cedo e o meu sonho era fazer algo bem dramático. Mas achava que o meu primeiro grande trabalho fosse ser uma comédia romântica, mas aí vem algo completamente diferente e você fala ‘olha do que sou capaz’. Por isso que Dom foi uma grande surpresa”, diz sobre a série dirigida por Breno Silveira, o mesmo de 2 Filhos de Francisco, que conta a trajetória da dupla Zezé Di Camargo e Luciano.

Mariana Cerrone (Fotos: Edu Rodrigues/Make: Dani Kobert/Stylis: Herbert C)

Mariana Cerrone (Fotos: Edu Rodrigues/Make: Dani Kobert/Stylis: Herbert C)

Além do Brasil, os oito episódios de Dom estão disponíveis em mais 240 países. E já está confirmada a gravação da segunda temporada da série baseada na história de Pedro Machado Lomba Neto (1981-2005), nome temido no Rio de Janeiro dos anos 2000, quando liderou quadrilha especializada em assaltar prédios de luxo. “Todo mundo elogiando, enfim, estou muito feliz. Construí essa personagem muito baseada no roteiro que é  incrível, bem escrito. E estive no NA (Narcóticos Anônimos). Foi impactante entender como a droga influencia não só na vida de quem está ali usando, mas na de toda a família. Parti muito desse princípio que ouvi de uma família. E na construção junto com o elenco, com o Breno. Tudo colaborou muito para que tivesse essa densidade”, finaliza.