Lívia Silva, a Teca de “Renascer”, reivindica mais abrigos e acolhimento para pessoas em situação de rua: “Invisíveis”


A atriz é um dos jovens talentos que compõem o elenco de “Renascer”, novela das 21h. Aos 18 anos, projeta para o seu futuro o mesmo sonho e a mesma luta que orientou a trajetória de outras meninas-atrizes pretas que ousaram romper o sistema da branquitude neste ofício. Ela não é a única. “Renascer” é uma trama plena de artistas pretos. Lívia destaca que isso é um avanço. Além deste tema, ela discute a importância em trazer à pauta da hora a questão dos jovens em situação de rua, vulnerabilizados. Para ela, é necessário haver mais abrigos, mais casas de acolhimento e políticas públicas para atender a essas pessoas “Todas as pautas são importante de serem defendidas. (…) Muitas meninas que engravidam na adolescência e em situação de rua como Teca, são alvo de preconceito”

*por Vítor Antunes

São muitas as transformações que a sociedade moderna se flagra. Os eventos e o comportamento social passam por avanços e retardos, ganhos e perdas. A novela que vai ao ar atualmente no horário das 21h, “Renascer” é, sabemos todos, um remake da obra levada ao ar em 1993. No passado, uma adolescente em vulnerabilidade social como Teca era abertamente chamada de “pivete”, de “trombadinha” e de outras palavras pouco ortodoxas hoje. Contemporaneamente, contudo, Teca, uma menina em situação de rua tem a sua biografia novamente retratada e problematizada. Tal como na primeira exibição de novela, é o primeiro grande trabalho de Lívia Silva, uma atriz ainda pouco experiente em TV. Em 1993, foi Paloma Duarte a intérprete da personagem. Para Lívia, o debate sobre população em situação de rua deve estar presente nas novelas. “Todas as pautas são importantes de serem defendidas. Quando a personagem me foi apresentada, fui pesquisando pessoalmente para conhecer essa condição na qual vivem muitas pessoas, muitas meninas que engravidam na adolescência e em situação de rua como Teca, e são alvos de preconceito”.

Para Lívia, Teca é uma menina que “sabe a que lugar ela pertence. Sem oportunidade e precisa ser falada e tratada, mas ela sabe que precisa de oportunidade para mudar tudo e se chegar a algum lugar. Para a atriz, uma forma e iniciar a inclusão dessas pessoas é por meio de abrigos e de políticas públicas, já que costumam ser inferiorizadas na sociedade e não capacitadas a ocupar certos lugares por não terem oportunidades de mudança”. Nem tudo das duas versões das personagens será mantido, assegura-nos Lívia. Então, temos que ficar atentos sobre o futuro da jovem.

Teca esteve em situação de rua e engravidou na adolescência (Foto: Divulgação/Globo)

CONFINS

Lívia nasceu em 2005, Paloma Duarte, a primeira intérprete de Teca, em 1977. A personagem, por sua vez, nasceu em 1993. O tema de abertura de antigamente, “Confins“, o de hoje, “Lua Soberana“. Muitas mudanças. “Quando a novela foi levada ao ar, ela nem sonhava com a minha existência. Esse para mim é um tempo muito passado. Vi a novela [no Globoplay] e é tudo muito diferente, inclusive com a Teca, que não sabia sequer mexer no controle remoto. A minha é atual, moderna e próxima da tecnologia”. Além disso, destaca Lívia, que essa versão se diferencia da anterior pelo numeroso elenco preto.

Na primeira versão não havia tantos pretos como agora e há também uma defesa da pauta da religião. Sou muito grata por viver isso. O Brasil precisa nos ver, ver nossos artistas, conhecer. Fico feliz em ver essa mudança – Lívia Silvia

“Renascer” é o primeiro trabalho de Lívia na televisão. Segundo ela, Teca é “uma personagem forte, autêntica, diferente de tudo. E ela tem um peso a mais por haver sido defendida pela Paloma Duarte. Eu e Paloma trocamos ideia sobre a personagem e pedia a bênção dela para me ajudar nas minhas inseguranças com relação à personagem e tivemos uma troca de experiências muito válida”.

Quanto à preparação, Lívia diz que o seu “laboratório foi muito visual, observando o cotidiano. Essas pessoas em vulnerabilidade social não são observadas. Passei a observar mais como se portavam, agiam em determinadas situações, como se movimentam e ficam atentos, como têm de pensar rápido. E como as meninas que engravidam na adolescência são vistas com preconceito

Teca passará por algumas transformações, diferentemente da personagem original (Foto: Divulgação/Globo)

PRETITUDE

Segundo Sílvio Almeida, que atualmente é o ministro da Igualdade Racial, “”Pretitude” é a junção das palavras preta e atitude, uma provocação e um convite para as pessoas negras serem protagonistas ativas de suas histórias, ressignificar lugares e existências, ocupando o lugar de cidadão, de sujeito de direitos, de pertencimento e de cura, frente ao racismo institucional e estrutural”. Quando uma obra do audiovisual resolve representar uma família negra, ela também redesenha a pretitude. Essa experiência Lívia viveu na série biográfica sobre Anderson Silva, na qual viveu a esposa do lutador. Quando recebi o convite senti um baque. Me vi junto a peças raras, a artistas icônicos. Estar ao lado do Seu Jorge me fez tão bem que eu não parava de chorar em estar vivendo aquilo e em uma série que aborda o Anderson Silva enquanto homem não enquanto atleta, e também, em ver famílias pretas organizadas e não lares desfeitos como se costuma ser representado”.

Sempre ouvi minha mãe dizendo que não se via representada e era inferiorizada na TV. As coisas mudam. Hoje há a Taís Araújo, a Zezé Motta, a Erika Januza.. Elas abriram caminho para a nossa geração passar – Lívia Silva

A atriz encerra nossa entrevista projetando a Lívia do futuro. Como essa menina vê a mulher de 48 anos que ainda virá? “Imaginar o futuro é muito difícil, mas me vejo uma pessoa madura, uma atriz realizada e com esperança de perceber que Teca foi definitiva em minha carreira, que ela tenha podido inspirar outras meninas a verem que o sonho é possível. Me vejo correndo e lutando como as atrizes pretas que me antecederam para também abrir espaço para outras meninas poderem ter mais lugar e ver a profissão de forma ainda mais leve. Quero estar feliz com minha carreira, realizada, com outros projetos, novelas e numa careira internacional”, projeta. Sonhos de uma menina mulher da pele preta. Sonho de pretitude.

Lívia Silva referência-se em ícones pretos como Zezé Motta e Taís Araújo (Foto: Reprodução/Instagram)