Jimmy London sobre leis ambientais: ‘Com falta de compromisso, teremos pontos cinza onde gatunos vão se infiltrar’


O ator, cantor e compositor, que dá vida ao personagem Tutu Marambá, em ‘Cidade Invisível, da Netflix, afirma: “A trama faz um alerta para um grande problema atual do Brasil, que é um país que não tem leis rígidas de combate aos crimes ambientais e proteção da nossa fauna e flora”. O ator conta que a vontade política é o calcanhar de aquiles de qualquer estrutura social com regras definidas. Na música, ele lança novo trabalho com a banda carioca Rats, ‘Só há um caminho a seguir’, a partir de um financiamento coletivo

Jimmy London é Tutu Marambá, na serie Cidade Invisível, da Netflix  (Foto – Felipe Diniz)

Tutu Marambá é um personagem do folclore brasileiro, sempre durão e assustador. Não é por acaso que essa entidade é conhecida por atormentar as crianças na hora do sono, uma espécie de bicho-papão. E quem dá vida a essa criatura mítica na série Cidade Invisível, da Netflix  é o ator e cantor Bruno Munk London, mais conhecido como Jimmy London. “O Tutu está presente no imaginário coletivo, então foi mais ouvir o que as pessoas sentiam quando pensam nesse conceito meio bicho-papão e tentar desestigmatizar. Acho que outra grande dificuldade foi ser meio animalesco, sem ser caricato”, revela.

O artista brasileiro, ex vocalista da banda de countrycore Matanza, tem um ar sério e conseguiu traduzir perfeitamente os desejos do diretor e produtor Carlos Saldanha, nesse primeiro live-action, que está ocupando o Top 1o da plataforma. “Trabalhar com o Carlos foi um grande passeio no bosque, de verdade. Meu primeiro contato com ele foi um banho de doçura e gentileza. Como todos os grandes, ele sabe exatamente quem é e que não precisa de nenhum tipo de afetação pra ser dono de sua autoridade. Mal posso esperar pra repetir a dose, tenho uma admiração gigantesca pela pessoa e pelo trabalho dele”, elogia.

Na série, Jimmy dividiu o set com um time de peso como Alessandra Negrini, Marco Pigossi, Jessica Córes, Fábio Lago, Wesley Guimarães, José Dumont, Victor Sparapane, Áurea Maranhão, Samuel Assis, entre outros. “Essa é a parte que ajuda muito. É tipo jogar num time com o Pelé e o Garrincha. Tudo vem muito macio e resolvido, não há espaço para o que não faz parte do universo artístico e todos querem o mesmo resultado. Foi uma honra e um privilégio, sem querer ser clichê”, agradece.

Jimmy London, Jessica Córes e Alessandra Negrini, em Cidade Invisível, da Netflix (Foto – divulgação)

A trama faz um alerta para um grande problema atual do Brasil, que é um país que não tem leis rígidas de combate aos crimes ambientais e proteção da nossa fauna e flora. O ator conta que a vontade política é o calcanhar de aquiles de qualquer estrutura social com regras definidas. “Se houver permissividade e falta de compromisso, sempre teremos os pontos cinzas da lei por onde os gatunos vão se infiltrar. O que surpreende é saber que, sem dúvida alguma, a maioria da população acredita na importância da conservação do meio ambiente e ainda assim não conseguimos obrigar as autoridades a traduzir nossa vontade em realidade”, enfatiza.

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Cidade Invisível mistura fantasia e realidade. Esse mix retratando ainda a cultura brasileira pode ser a fórmula de sucesso da série? “Vivemos sempre sem saber em qual plano realmente estamos. Então nada mais justo do que ver isso também na série. A realidade da pobreza ou da violência se mistura com seres que voam ou se transformam em animais. Acho que nisso cabe uma metáfora com o ser humano, capaz de coisas tão grandiosas mas, às vezes, ainda refém de sentimentos mesquinhos ou pequenos”, afirma.

O ator ainda acrescenta que a cultura “cria familiaridade e pertencimento ao ser humano. Nós podemos não morrer sem saber a história dos nossos antepassados, mas talvez não tenhamos todo o ímpeto necessário para perdurar e multiplicar. Por isso, entender a colcha de retalhos da existência humana pode, inclusive, ser a solução pros momentos onde nos deparamos com graves problemas políticos ou sociais”.

Sobre conciliar a carreira de cantor, compositor, apresentador e ator, ele diz que entende que a comunicação é uma só. “Claro que cada arte tem suas ferramentas, suas escolas e técnicas, mas, no fim do dia, nós estamos nos comunicando com outras pessoas e isso sempre vai funcionar se você estiver falando uma verdade. E essas verdades de cada um podem ser múltiplas, mas se você assimilar o que quer passar e parafrasear isso com seu próprio vocabulário provavelmente vai ser entendido. Além do mais eu sou muito sem vergonha e isso ajuda muito”.

Em março, ele lança novo trabalho com a banda carioca Rats, ‘Só há um caminho a seguir‘, a partir de um financiamento coletivo. E como observa essas ‘novas formas de fazer música’, principalmente por conta das plataformas digitais. “Está sendo um caminho que estamos tateando no processo. Vamos lançar o disco sem fazer show, por exemplo. Como mostrar para as pessoas o jeito que tocamos as músicas? Como passar para todo mundo a emoção que queremos imprimir em cada uma delas? Acho que fizemos o melhor possível quando estávamos distantes lançando uma série de covers estilizados (Quarentena sessions), mas agora vamos ter que desbravar um novo mundo até poder voltar às origens do palco e do suor. E vem em mim, vacina!”

O disco foi gravado antes da pandemia e o processo de mixagem ficou paralisado até a retomada, no último mês. “Fizemos um financiamento coletivo para viabilizar o lançamento do jeito que entendemos que o disco merece e estamos tentando entender como vamos fazer para nos conectar com todos ainda à distância. A mixagem também teve muito trabalho remoto e isso é extremamente frustrante e cansativo. Milhões de mini discussões de whatsapp e que na vida real não seriam mais do que uma frase rapidamente respondida. Milhões de pedidos de mudanças e revisões e a falta da possibilidade de algumas experimentações só reforçaram o que queríamos dizer com o nome: só há um caminho a seguir, e nós faríamos tudo de novo e do jeito que fosse necessário. É muito bom ter certeza do que se está fazendo e do objetivo que se está buscando, isso permite ao artista ir direto ao cerne da sua obra e expor exatamente o que tinha imaginado”.

Ao longo dessa pandemia, o artista vem dividindo suas experiências com jovens artistas e produtores que têm a intenção de se profissionalizar cada vez mais o mercado. “O Fabuloso clube dos músicos de jimmy London nasceu em 2019, quando eu resolvi que queria conversar com as pessoas sobre minhas experiências na parte profissional do mercado de artes. Depois de muito escrever e confabular, chegamos a conclusão de que lives seriam o formato mais didático pra passar essa informação. Num primeiro ciclo, que ocorreu em 2020, busquei passar a parte mais formal da minha ideia, de que o músico precisa entender muito bem tudo que forma o seu mercado e ser seu próprio empresário”.

E acrescenta: “Agora em 2021 tivemos um ótimo aporte baseado na lei Aldir Blanc e pudemos expandir muito o projeto com 22 conversas com grandes cabeças do mercado, de músicos que se tornaram empresários a diretores de vídeo-clipes, assessores de imprensa e radialistas. O objetivo é acostumar o músico iniciante ou inexperiente com o linguajar, com as práticas e com as boas ideias de gente que faz acontecer já há muito tempo nesse segmento do mundo das artes. Depois disso eu espero que cada um tenho mais facilidade pra criar sua verdade e seu universo e se sinta mais preparado pra traduzir isso em arte bem conceituado e com espaço pra acontecer”.