Festival de Cinema de Gramado: vem saber tudo sobre a noite de Bruna Marquezine e Lázaro Ramos


O ator, cineasta, escritor e embaixador da Unicef foi homenageado com o Prêmio Oscarito e dedicou a todos os artistas que o inspiraram nessa trajetória profissional, lembrando de Ruth de Souza, que morreu este ano. Já Bruna estreou no cinema com o longa ‘Vou nadar até você’ de Klaus Mitteldorf e frisou que “eu já sabia nadar, mas não sabia nadar como Ophelia. Foi incrível me preparar fisicamente, o que acabou me ajudando a entender a força dessa mulher e do que acontece dentro da água. Ir a nado até o objetivo final dela era simbólico e importante para todos os seres humanos conhecerem suas raízes. E a arte é a forma mais eficaz de tocar as pessoas”

Lázaro Ramos, no 47º Festival de Cinema de Gramado, homenageado com o Troféu Oscarito (Foto: Cleiton Thiele/ Agência Pressphoto)

*Com Thaissa Barzellai

Estreias de produções nacionais e internacionais inéditas e muito borburinho no tapete vermelho movimentaram a quarta noite do Festival de Cinema de Gramado. Homenageado com o Troféu Oscarito, o ator Lázaro Ramos subiu pela primeira vez ao palco do Palácio dos Festivais para receber a homenagem após não ter tido a chance de vir receber o Kikito de Melhor Ator que ganhou em 2005 pelo trabalho no longa-metragem “Cafundó”. Já Bruna Marquezine marcou presença para dar o start na sua carreira como protagonista no cinema interpretando nas telonas a fotógrafa e nadadora Ophelia no filme de Klaus Mitteldorf. Vem conferir tudo o que rolou nessa noite emocionante!

Bruna Marquezine, Fernando Alves Pinto e o diretor Klaus Mitteldorf, no 47º Festival de Cinema de Gramado, no longa ‘Vou Nadar Até Você’ (Foto: Edison Vara / Agência Pressphoto)

Os primeiros gritos de fãs e flashes já anunciavam a chegada de um dos principais nomes da noite: a atriz Bruna Marquezine, acompanhada pelos parceiros de trabalho do filme “Vou nadar até você”. Na trama, Bruna vive uma jovem fotógrafa que decide ir atrás da parte do quebra-cabeça da sua vida que falta para que ela se descubra enquanto humano e mulher. “É um filme de sutilezas que tem uma atmosfera muito única. Muito belo e tem muito do coração e do olhar sensível do Klaus”, disse. E o caminho que a personagem escolhe para ir ao encontro do laço familiar foi a metáfora a partir do mergulho como nadadora. “A Ophelia é peixe! A água é a zona de conforto dela e foi importante entrar em contato com esse lugar de serenidade que antes eu não conhecia”, disse a atriz. É assim, portanto, que começa a aventura não só da personagem como também da atriz, que se dedicou exclusivamente ao papel, chegando a treinar horas e horas para conseguir interpretar de corpo e alma essa obra-arte – como ela mesma definiu em diversos momentos pela passagem no tapete vermelho do Festival. “Eu já sabia nadar, mas não sabia nadar como Ophelia. Foi incrível me preparar fisicamente, o que acabou me ajudando a entender a força dessa mulher e do que acontece dentro da água. Ir a nado até o objetivo final dela era simbólico e importante para todos os seres humanos conhecerem suas raízes. E a arte é a forma mais eficaz de tocar as pessoas”, conta.

Bruna Marquezine e o ator Leonardo Alves Pinto, 47º Festival de Cinema de Gramado – (Foto: Edison Vara/ Agência Pressphoto)

A ideia de poder estrear no cinema na pele de uma mulher cuja vida se desenrola de uma forma tão poético e intuitiva na frente das câmeras foi um dos motivos que fez Bruna escolher o roteiro de Nina Crintzs para ser o seu primeiro mergulho como artista não só nessa outra face do universo audiovisual como também em um dos maiores Festivais voltado para arte do país. Para ela, sempre foi um sonho estar em Gramado e na noite de ontem, como Ophelia, ela conseguiu conquistar mais um degrau na sua carreira. “É uma grande emoção e eu me sinto muito honrada. Feliz também porque, finalmente, esse filme vai ser exibido e eu estava muito ansiosa. Eu tenho um carinho enorme pelo projeto e pela personagem e por tudo o que construímos juntos. Esse filme em si é um ato de resistência, uma obra de arte, e é diferente de tudo o que eu já fiz e tenho visto. É uma grande alegria estar aqui hoje”, declarou a atriz que não poupou elogios ao homenageado da noite, Lázaro Ramos, e, claro, ao fazer da arte. “Estou muito feliz com o poder da arte e ser artista”, completou emocionada.

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Aos 24 anos, Bruna, sem dúvidas, já teve a oportunidade de mostrar seu talento e versatilidade para o Brasil nas telinhas nos seus diversos papéis que faziam parte do cotidiano das casas, como em “Mulheres Apaixonadas”, e até mesmo como modelo. No entanto, ela queria mais e o cinema era a porta que faltava na sua carreira. Quem duvidou do que ela poderia fazer nas grandes telas, pode, talvez, estar prestes a mudar de opinião. Afinal, elogios não faltaram ao trabalho da atriz no longa-metragem que completa a lista da Mostra Competitiva. “Ela tem muita força. O Klaus deixou a gente muito livre e foi muito bonito ver a Bruna inserida naquela liberdade, mas com uma firmeza que fez ela mesma se surpreender. Ficou um trabalho muito bonito”, conta Fernando Alves Pinto, que interpreta o fotógrafo Schmutter na trama. Encantado e emocionado com a entrega da jovem atriz ao projeto, o diretor Klaus também fez questão de enaltecer a troca que aconteceu entre ele e Bruna durante o processo de produção. Para ele, a atriz foi uma surpresa da melhor forma possível e, hoje, tem a certeza de que não poderia ter tido uma Ophelia melhor. Era para ser ela! “Não é uma atriz qualquer. Além de ser uma pessoa maravilhosa e companheira, ela viveu o papel de Ophelia por quase um ano. Quando começamos as filmagens, a personagem estava pronta e Bruna tinha virado a Ophelia que eu sempre sonhei”, afirma.

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Se Bruna Marquezine chegou a Gramado para celebrar os primeiros passos rumo ao que se espera ser uma vida longa no cinema, o ator Lázaro Ramos subiu ao palco do Palácio dos Festivais para receber o mais do que merecido Troféu Oscarito em celebração de toda a trajetória e trabalho em incentivo da arte que ele produziu e participou durante os mais de 20 anos de carreira. Sempre simpático, o ator, que estava acompanhado do pai, já se emocionou antes mesmo de entrar no Palácio dos Festivais quando se deparou com o carinho dos fãs que se encontravam ao redor do tapete. “Achei que não ia me emocionar, mas já estou emocionado antes de entrar na sala de cinema. Essa noite é um incentivo para mim. Várias pessoas que ganharam o Troféu Oscarito me inspiraram uma vida inteira. Eu espero que consiga inspirar as pessoas a sonharem mais” diz. Sempre com um sorriso no rosto, mesmo com tantas emoções, o ator revelou: “Meu rosto aparenta estar calminho, mas meu coração está disparado. Vou desmaiar”.

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Com tantos anos de carreira, não há dúvida de que o multifacetado Lázaro Ramos estivesse na lista dos cinco artistas negros a terem a honra de receber essa homenagem. Hoje, além de ator, Lázaro abre portas como diretor, escritor e embaixador da UNICEF. É por esse tanto que ele tem feito, não só para arte como também por jovens negros que almejavam fugir das muralhas que a sociedade impõe em seus destinos, que, hoje, Lázaro conquistou mais um sonho que ele nunca achou que seria possível. “Eu cheguei agora no Festival de Gramado, um lugar que só morava nos meus sonhos. Eu nunca achei que seria possível passar por esse tapete vermelho e subir nesse palco, inspirar e ser relevante para alguém”, declarou em discurso que dedicou aos pais, aos parceiros de trabalho e amigos que enxergaram o seu talento e abriram caminhos, como Jorge Furtado e Ruth de Souza (1921-2019). Ele ainda completou agradecendo o cinema brasileiro. “Eu me transformei para outros mundos, eu reeduquei o meu olhar, perdi preconceitos. Eu quero agradecer como público o que o Cinema Brasileiro fez por mim. Se eu estou aqui, é por causa do Cinema que eu vi. Com esse prêmio, eu quero celebrar a diversidade que é o cinema brasileiro”, finalizou.

Lázaro Ramos recebendo o troféu Oscarito, no 47º Festival de Cinema de Gramado (Foto: Edison Vara / Agência Pressphoto)

A noite de homenagens e estreias ainda continuou com a exibição do curta-metragem “Menino Pássaro”, uma obra de Diogo Leite que transforma o jogo da vida: ao invés de ser um branco oferecendo um olhar ao racismo, a história dá espaço para o olhar negro sobre os brancos. Outras produções, como o curta brasileiro “E o que a gente faz agora?” (Marina Pontes) e o longa boliviano “Muralla” (Gory Patiño), completaram a programação do dia. Com mais quatro dias de muitos filmes e homenagens, o Festival de Cinema de Gramado ainda recebe nomes como Andrea Beltrão, Miguel Falabella e Maurício de Sousa.

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