Elenco de “Os dez mandamentos” se reúne no Rio para lançar o longa e o diretor Alexandre Avancini declara: “Nossa qualidade técnica é melhor que 80% dos filmes nacionais”


Thomaz Naves, diretor comercial e de marketing da TV Record, analisou o sucesso da trama e criticou: “A emissora concorrente resolveu percorrer por um conteúdo que, na minha opinião, o telespectador mostrou que não compra mais. É um momento muito importante. A telenovela brasileira está dando sinais muito claros de que estamos cansados de corrupção, de maldade”

Foram 176 capítulos, 6.500 fitas remasterizadas, mais de 144 milhões de telespectadores e 3 milhões de ingressos vendidos com antecedência em todo o país – o que colocou a produção entre as 20 maiores bilheterias dos últimos 10 anos no Brasil e uma estreia em 1.100 salas no país. Esses são os números – impressionantes – de “Os Dez Mandamentos”. A novela, escrita por Vivian de Oliveira e com direção-geral de Alexandre Avancini, realmente parou o Brasil ao abordar, pela primeira vez, um tema bíblico em uma adaptação de “Exôdo”, “Levítico”, “Números” e “Deuteronômio”. Com tanto sucesso, não poderia ser diferente: virou filme, que estreou, nessa quinta-feira, 28, nas salas de cinema de todo o país. Além, é claro, de já estar disponível no Netflix.

Durante a pré-estreia carioca, Alexandre Avancini ressaltou que o grande desafio foi, realmente, a mudança do formato. “Foram 176 capítulos. Adaptar esse volume de horas para um filme que o roteiro não foi escrito como longa, mas primorosamente bem como novela, foi o mais difícil. Ainda assim, os roteiristas sabiam exatamente o que queriam abordar no filme, que caminho seguir. Participei de toda a montagem, mas foi um papel mais técnico de supervisionar essa transferência do roteiro. Fiquei muito orgulhoso, porque assisti a pré-estreia em São Paulo e não tenho medo de dizer que nossa qualidade técnica é melhor que 80% dos filmes nacionais. Fiquei surpreso com a qualidade da imagem e do áudio”, declarou.

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Sérgio Marone, Alexandre Avancini e Guilherme Winter na pré-estreia carioca de “Os dez mandamentos” (Foto: AgNews)

Ser a primeira novela na história da dramaturgia brasileira a ser transportada para as telonas em 60 anos de história é uma responsabilidade e Avancini sabe disso. “É um marco importante para mostrar que o que é produzido na televisão tem muita qualidade. O que garante isso é que usamos equipamentos de cinema para tudo. A convergência de tecnologia permite pegar um produto de TV e jogar na telona, isso, há dez anos, seria impossível”, destacou. E o que os fãs da novela podem esperar do longa? “Temos umas cenas inéditas no filme. É um grande flashback que conta a história de Moisés com seus generais. Tem uma cena de Deus fazendo os dez mandamentos que ficou muito linda! Vale assistir”, adiantou.

“Os Dez Mandamentos” retratou a história de Moisés desde o seu nascimento até a morte, destacando o encontro com Deus no Monte Sinai, as pragas sobre o Egito e a participação na libertação do povo hebreu da escravidão – com direito à travessia de quarenta anos no deserto e a chegada à terra prometida. O capítulo em que Moisés abriu o Mar Vermelho, aliás, bateu recordes de audiência e ultrapassou, pela primeira vez em 40 anos, a principal novela da Rede Globo. Thomaz Naves, diretor comercial e de marketing da TV Record, acredita que o sucesso da novela se deve, principalmente, ao fato de o telespectador querer ver histórias menos violentas na televisão.

“Eu acho que há uma rejeição que não é ao formato, mas ao conteúdo das telenovelas produzidas atualmente. A emissora concorrente resolveu percorrer por um conteúdo que, na minha opinião, o telespectador mostrou que deu um basta. Quando ele não se enxerga ali na tela, quando acha que aquilo não é a realidade dele, ele não compra, não se transporta para aquela história. E as duas últimas telenovelas da concorrente demonstraram claramente um equívoco inacreditável na conduta e escolha do conteúdo. O público deixou claro que não se enxerga, que não quer se transportar para aquele universo. Ou seja: ele não acha que a vida é uma sacanagem, só maldade. É um momento muito importante. A telenovela brasileira está dando sinais muito claros de que estamos cansados de corrupção, de maldade. A situação tem caminhado tem ido para determinado ponto que a gente tem ultrapassado fronteiras e limites e a população – a grande massa, não só quem se utiliza desses recursos equivocados pra ganhar dinheiro – deixou claro que não está satisfeita com esse caminho. Estamos com operação anticorrupção, anti-novela ruim. Eu enxergo isso como um momento maravilhoso. Tenho dois filhos e se a gente conseguir mostrar que esse não é o caminho que nós estamos trilhando vai ficar melhor para as próximas gerações”, analisou.

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Elenco reunido (Foto: AgNews)

Avancini concordou e foi além: “Acho que é um reflexo da crise do país, também. O espectador não quer ver sua realidade refletida de forma tão dura na televisão. A nossa trama tem um caminho mais escapista, a gente consegue dar uma relaxada, apesar de abordar temas familiares tão contemporâneos. Esse resgate do universo familiar é muito importante. Tivemos a felicidade de lançar esse produto em um momento complicado do país. Eu, como espectador não tenho prazer de ligar a TV e ver essa realidade explodindo na minha cara. Existe um erro de leitura. Os dramaturgos na Globo – muito talentosos todos – mas tem síndrome de seriado americano, que não é para um público tão generalizado como o de novela. Eu sou fã de seriado americano, mas é uma audiência fracionada, específica. São produtos de muito sucesso, com temáticas fortes, mas não geram a convergência de espectador de uma novela. Em ‘Os Dez Mandamentos’ nós tínhamos comédia, drama, romance. Com o talento da Vivian, tivemos a possibilidade de abrir um leque de estilos e trazer a família inteira para frente da TV. O espectador quer a mensagem de esperança, de fé. Sinto preconceito quando abordamos questão religiosa, mas religião, no primeiro mundo – qualquer uma que seja, é muito bem-vinda. Tem que haver respeito por qualquer religião. Essa novela é assistida por evangélicos, judeus, católicos, espíritas, ateus. Essa pluralidade é muito positiva nos dias atuais”, declarou.

Mas será que foi sempre assim? Houve um medo de a novela não ser aceita por extremistas? “Não pensamos em boicote entre religiões. É um tema religioso. Abordamos um personagem que está inserido no contexto religioso de um povo, do povo hebreu que a gente tanto admira e Moisés é admirado em todas as culturas e religiões e até por ateus. Se tirar todo contexto religioso ele foi um grande líder. Conseguiu liberar os hebreus da escravidão de 400 anos. Foi uma pessoa que lutou pelo seu povo. Esse tipo de arquétipo de personagem é muito apreciado. Então nunca tivemos esse tipo de preocupação, porque soubemos que esse tipo de personagem é muito amplo e ia juntar, como juntou – famílias em volta da televisão e diversas religiões em volta de um produto”, explicou, endossado por Thomaz Naves: “Não sou evangélico, eu mesmo sou católico. Hoje estava lendo uma matéria justamente sobre isso, do sucesso da novela entre judeus, católicos. Essa questão transcende a religião. É um tema de interesse comum. Sou capaz de apostar que se fizermos uma análise aqui hoje tem 50% de não-evangélicos. Essa talvez tenha sido a grande sacada, pegar um tema de conhecimento bíblico, do livro mais lido do mundo, e transportar para as telas, e agora para a telona”, disse.

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O diretor Alexandre Avancini levou sua família ao cinema para assistir ao longa (Foto: AgNews)

Prestes a ser vendida – tanto a novela como o filme, para vários países ao redor do mundo, o produto promete ser, também, sucesso internacional. “A novela já está sendo vendida e o filme começará na sequência. Já é considerado por especialistas como a novela mais exportada. Ou seja: a mais comprada em toda a história da telenovela mundial.  Acho que vamos ter realmente uma penetração muito forte e quase verticalizada”, declarou Thomaz Naves.

Abordar um tema bíblico – conhecido no mundo inteiro, em uma novela foi de uma coragem e ousadia enormes, mas Avancini assumiu que não foi um “tiro no escuro”. “Foi realmente uma aposta ousada da Record, mas nós vínhamos trabalhando com minisséries bíblicas que tinham elementos de folhetim e sentimos que havia melodramas que seriam bem-vindos em uma novela. Moisés é um dos homens mais conhecidos da humanidade em todas as culturas e religiões”, disse ele, que já está a frente da segunda temporada. “Vamos retomar as gravações na segunda quinzena de fevereiro. A data de estreia não está definida ainda”, contou.

Com a produtora Casablanca no comando a partir de agora e colhendo os louros do sucesso, Avancini sabe: a receita do bolo é deles. “A Casablanca quem correu atrás da nossa qualidade técnica. Eles foram contratados para viabilizar os projetos. A gente tem a receita de bolo e eles estão usando a nossa receita. Vamos seguir com o mesmo tipo de equipamento. Não chegamos na parte de contratação, equipe técnica, mas os cabeças de equipe, diretores, elenco, roteiristas são os mesmos. Parte do cenário é o mesmo”, destacou. E será que vem outro filme por aí? “Não temos planos trazer a continuação para o cinema. É uma parte menor. Mas quem sabe vira um complemento de uma versão estendida? Não temos planos ainda, mas quem sabe?”, levantou.

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Os atores Guilherme Winter e Sergio Marone, o diretor Alexandre Avancini e a roteirista Vivian de Oliveira posaram ao lado de integrantes da equipe (Foto: AgNews)

Se depender da empolgação de Thomaz Naves… “O tema bíblico é muito vasto. Se pegarmos desde os dez mandamentos, agora vem terra prometida que é a extensão, e nos transportarmos até os conflitos religiosos que ainda hoje temos no Oriente Médio dá história para 20 telenovelas. Então é uma estrada muito vasta em termo de temas, tomara que consigamos com os êxitos da primeira”, riu.

Com “A Terra Prometida” já engatilhada, Thomaz Naves assumiu que, sim, o sucesso de “Os Dez Mandamentos” aponta um caminho para o futuro da emissora. “Acho que devemos seguir nessa linha. Se o telespectador mostrou de maneira clara que acredita nesse tema, que colocou de novo a família brasileira reunida na frente da televisão, por que não investir? O núcleo familiar tinha se desmembrado em virtude também do que aconteceu com o conteúdo, como, por exemplo, os infantis, que foram para os canais a cabo. E esse produto conseguiu, de alguma maneira, colocar a família na frente da televisão. É um achado e uma oportunidade inacreditável. É uma demonstração clara de que existe uma estrada e estamos acreditando nisso. Não quer dizer que vamos fazer só temas bíblicos. Temos agora “A escrava mãe” estreando. Nessa mesma janela de novelas novas, a gente vai ter uma outra novela não-bíblica na sequência de “A escrava mãe”. Não digo exclusivamente, mas certamente a Bíblia é uma estrada de muitas oportunidades”, garantiu Naves.