Depois dos sucessos nos anos 1990, Marcelo Santiago transforma filme sobre troca de casais em comédia e estreia “Amor Sem Fronteiras” em 2018: “A gente não faz uma apologia à infidelidade”


O longa foi inspirado em “O Quatrilho” e tem Luana Piovani entre o quarteto protagonista. Enquanto em 1995 a película foi classificada como drama, e na época Marcelo era assistente de direção, na nova versão, o longa terá humor como estretégia de abordagem. “Eu acho que comédia sempre permite que a gente aborde temas mais controversos, como a traição”

Há 20 anos, um filme sobre dois casais que decidiam trocar de parceiros fez sucesso no cinema brasileiro. Com Glória Pires, Patrícia Pilar, Bruno Campos e Alexandre Paternost, “O Quatrilho”, inclusive, foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro. De 1995 para 2017, a história volta às telonas, porém em uma versão latina. Em “Amor Sem Fronteiras”, Marcelo Santiago assina o roteiro da história de dois casais, um brasileiro e um argentino, que se envolvem inesperadamente e começam uma relação entre eles, com a ciência dos parceiros. Com previsão de estreia para o primeiro semestre de 2018, a releitura contemporânea da história de sucesso traz Luana Piovani, Paulo Tiefentthaler, Aylin Prandi e Francisco Andrade como protagonistas.

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No comando dessa história e da direção de “Amor Sem Fronteiras”, Marcelo Santiago conta que a ideia do enredo surgiu da mistura de sua temporada na Argentina com a trama clássica do longa de 1995. Porém, enquanto em “O Quatrilho” Marcelo era assistente de direção do longa, em “Amor Sem Fronteiras” ele assume as rédeas do projeto. “Eu e Fábio Barreto (diretor de ‘O Quatrilho’) estávamos filmando uma série para televisão na Argentina e ele deu a ideia de fazermos uma releitura misturando brasileiros e argentinos. A partir daí, nós começamos a amadurecer a ideia e construir o enredo. Neste tempo, passamos por vários tratamentos de roteiro e algumas tentativas até chegarmos ao formato final, que só foi escrito no fim de 2013”, lembrou o diretor sobre a ideia que apareceu em 2003.

Gravações do longa “Amor Sem Fronteiras” no Rio (Foto: Mariana Viana)

Neste período de maturação do projeto, que Marcelo Santiago contou que é normal, o filme passou a incorporar as novas linguagens e adotou uma estratégia diferente para narrativa. No passado, a história da troca de casais era classificada com drama. Agora, será uma comédia. Com o atual cenário que vivemos, o diretor e roteirista acredita que esta seja a melhor opção para levar a temática para as pessoas. “Eu acho que comédia sempre permite que a gente aborde temas mais controversos, como a traição. Ainda mais no enredo do filme, em que os personagens deste adultério se permitem a isso. Mas, em momento algum, a gente faz uma apologia à infidelidade, até porque, eu não aceitaria na minha vida pessoal”, disse Marcelo que destacou que a função de seu novo longa é outra. “A gente tenta propor uma reflexão do que é o amor, paixão e desejo e quais são os limites que devemos manter ou transpor a fim de alcançar uma relação”, completou.

Assim, Marcelo Santiago acredita que a abordagem fique livre de moralismo e a discussão ganhe um tempero mais leve. Porém, mesmo que de forma descompromissada, o diretor destacou a função da comédia como estímulo a novos pensamentos. “A comédia permite que a gente aprofunda determinados temas sem deixar de ser crítico, mas também sem ofender. Afinal, estamos fazendo rir. Porém, atrás de toda gargalhada nós temos um pensamento mais profundo”, apontou.

Marcelo Santiago assina a direção e roteiro de “Amor Sem Fronteiras” (Foto: Mariana Viana)

Da mesma forma que o humor foi a estratégia adotada por Marcelo em “Amor Sem Fronteiras” para passar bem pela temática, o diretor disse que o cinema também está navegando em bons mares nos últimos anos. Pelo menos, no que diz respeito aos avanços tecnológicos. Personagem da produção audiovisual brasileira há alguns anos, Marcelo Santiago comentou a praticidade da tecnologia nos sets de gravação. Mais fácil, rápido e barato, o diretor destacou o lado bom dos cartões de memória no lugar das fitas. “Quando a gente saiu do analógico para o digital, tivemos um ganho muito grande de qualidade. Não só pelo resultado, mas também no peso do equipamento, que garante uma agilidade maior, e no custo da produção. Agora, nós conseguimos trabalhar com equipes mais enxutas, por exemplo”, disse.

Mas, como já sabemos, tudo nessa vida tem seus prós e contras. E, na relação do cinema com a tecnologia, o cenário não é diferente. Na visão de Marcelo Santiago, se por um lado a praticidade dos equipamentos de audiovisual ajudaram a produção de filmes, os avanços da tecnologia também ampliaram as produções. “Eu acho que banalizou a profissão. Hoje, todo mundo produz com mais facilidade e tudo parece ser cinema. A gente está vivendo a era do Youtube e, com isso, a produção ficou muito banal. Por isso, os profissionais do audiovisual precisam ter um discernimento de que não é porque o digital facilita que a gente deve enfraquecer a área”, argumentou.

O filme tem previsão de estreia para este ano (Foto: Mariana Viana)

E o cenário adverso não para por aí. Assim como em diferentes esferas culturais, o cinema também tem sido impactado pela crise brasileira. Na visão de Marcelo Santiago, as oportunidades ainda aparecem. Mas, até alcança-las, o diretor lamentou o longo caminho de obstáculos burocráticos. “Está muito difícil conseguir captar diretamente com as empresas. Apesar de a Lei do Audiovisual continuar vigente, eu acho que hoje nós temos outros meios de fomento mais funcionais, como, por exemplo, os fundos setoriais da Ancine. Os filmes hoje estão sendo feitos com recursos diretos, ainda mais porque as empresas estão retraídas por causa da crise”, disse o diretor que ainda apontou que ultimamente as marcas estão buscando produções que tenham relação com seus produtos ou serviços. “Ninguém ver investir de uma maneira cega. Com isso, passamos a ter um afunilamento do investimento direto das empresas”, acrescentou.

O fato é que, enquanto houver oportunidade, a arte brasileira não vai estacionar. Pelo menos não se depender dele. Para depois de “Amor Sem Fronteiras”, Marcelo Santiago contou que ainda não tem um projeto concreto, mas as ideias nunca param na cabeça do diretor e roteirista. Na carreira, ele contou que quer continuar seguindo a linha de falar de gente e tudo o que nos envolve. “A temática vai ser sempre as relações humanas em última análise. Em primeiro plano, eu gosto de discutir a sexualidade. Para mim, este é um assunto muito amplo e importante porque esta é a base das nossas relações”, explicou o diretor Marcelo Santiago.