Carlos Bertolazzi, o chef do “Cozinha sob pressão”, nega roteiro combinado e admite: “Sou exigente e chato, meio pavio curto na cozinha”


Em entrevista ao HT, o chef disse que não planejava ser uma celebridade e listou o pior e o melhor do reality show do SBT

Certa vez na Itália, o chef Carlos Bertolazzi trabalhava para um jantar quando deixou cair uma assadeira com dez tortinhas que seriam servidas para uma importante mesa do restaurante. Detalhe: eram as últimas dez unidades disponíveis. Mas todos somos mortais e passíveis de acidentes. No entanto, é difícil imaginar que ocorreu com a pessoa que hoje toca o terror em chefs profissionais nos sábados à noite do SBT, com o reality show “Cozinha sob pressão”. O programa está na sua segunda temporada registrando, na última semana, recorde de audiência,e reforçando o caldo de desafios culinários que tomaram de assalto a televisão brasileira. A mistura, aliás, tem o tempero certo para deixar os ponteiros do Ibope nas alturas: ingredientes inusitados, pratos complexos em tempo apertado, e muito sangue nos olhos dos mentores.

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Carlos também é chef do Zena Caffè (Foto: Divulgação/SBT)

O “Cozinha sob pressão”, inspirado no britânico “Hell’s Kitchen”, parece um primo de primeiro grau do “Master Chef”, da Band, e do “The Cake Show”, a estrear na Record. Mas só parece. Quem garante as diferenças é o próprio Bertolazzi, que, além de comandar a versão, acompanha outras tantas pelo mundo afora. “Já assisti vários formatos. A diferença do “Cozinha sob pressão” é que temos apenas profissionais participando e mostramos parte do dia a dia da rotina de um restaurante, de um cozinheiro durante a competição”, defende.

Dia desses, o chef surtou ao ver um prato servido com cabelo, e trocou, de propósito, o nome de uma candidata de Esther por Elsa. O motivo? Ela entregou um prato tão gelado quanto os efeitos de“Frozen”, filme da Disney. Isso sem contar os berros em altos decibéis que ele solta aqui e acolá. Estresses como esses, ele garante, são mais normais que a gente imagina. “O ambiente da cozinha profissional é estressante, principalmente em um restaurante à la carte movimentado. Cada serviço de almoço ou jantar tem um ritmo muito intenso, por algumas poucas horas”, explica.

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Para Bertolazzi, o universo da cozinha rende um bom show televisivo (Foto: Divulgação/SBT)

E Carlos Bertolazzi também garantiu ao HT que esse tipo de comportamento é tão natural que, mesmo na realidade, não causa transtornos. “Sou exigente e chato, meio pavio curto na cozinha. Mas isso fica na cozinha. Hoje em dia até menos, pois o meu restaurante já funciona há seis anos, com uma equipe que está praticamente desde o início junta. Raramente algo sai dos trilhos”. O mesmo não se pode dizer quando assunto foi virar uma celebridade. Inicialmente, ter os holofotes para si não eram os planos de Bertolazzzi. “Quando comecei a fazer televisão, em 2009, o único objetivo era divulgar meu restaurante, até porque o cachê era baixo. A TV começou a ocupar um espaço maior na minha carreira e hoje continuo, porque gosto de fazer”, admite.

O chef, que só não come dobradinha, e sai facilmente do regime que entrou por um strogonoff caseiro, acha que a realidade de uma cozinha funciona exatamente bem para um show televisivo. E dá a explicação: “Temos tensão, estresse e momentos de muita emoção”. Motivos esses que descartam qualquer possível falsidade no ar. “Soaria falso tentar roteirizar isso. Eu entro para gravar o programa sem ter ideia do que vai acontecer, como e onde vão errar e tenho que reagir conforme as situações se apresentam. A única coisa que consigo fazer é colocar dificuldades pelo caminho. Nessa temporada, devido o alto nível dos participantes, tive que dificultar o menu do jantar e as provas algumas vezes”, entrega.

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Degustação às cegas em um dos episódios do reality (Foto: Divulgação/SBT)

No ar todos os sábados à noite, o “Cozinha sob pressão” ganhou um livro digital com as receitas  lá executadas. O lançamento é no próximo dia 20, na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, em São Paulo, com participação de Bertolazzi e dos participantes já eliminados. Aliás, ele nos cita dois deles quando questionamos o maior erro e o maior acerto do programa. “O maior erro foi a distribuição das funções feita pela Luciana [Gonzalez] nessa temporada. Foi a primeira vez que fechei um dos restaurantes por não conseguir entregar um prato sequer no serviço das massas. Já o maior acerto talvez tenha sido do Filipe [Santos], por não ter desistido de soltar os pratos mesmo errando muito no começo desse mesmo serviço de massas”, lembra.

Para Carlos Bertolazzi, “cada participante só perde para ele mesmo”, mesmo com tanta pressão e obstáculos adicionados pelo próprio ao processo. Opinião forte ele mantém também para a culinária brasileira. Até a coitada da feijoada entra na roda. “Feijoada não é a cara do Brasil. É muito tradicional misturar carne com feijão em diversos pratos europeus. Eu acho que o que tem a cara do Brasil é a mandioca, que está presente em todas as regiões”, opina o chef.