A bruxa está solta e quer pele de nêspera em American Horror Story: Coven!


Por trás de um enredo que explora convenções de feiticeiras, racismo e vodu, nova temporada do seriado apresenta disputa de clãs por segredinhos de beleza capazes de deixar Isabeli Fontana parecida com a Bruxa de Blair!

A nova temporada de ‘American Horror Story: Coven’, na Fox, esconde muito mais do que se anuncia nos reclames dos intervalos. Entre tramas que lidam com escolas de bruxas, truques de magia negra, praticantes de vodu e até racismo, o argumento da temporada se baseia em uma curiosa disputa entre duas facções de feiticeiras – bruxas caucasianas no estilo convencional e um clã de negros praticantes de santeria, aquele tipo de macumba comum em Nova Orleáns – que pretendem exercer seu domínio através da maior de todas as bruxarias: a manutenção da eterna juventude, coisa que as multinacionais de cosméticos gastam fortunas em pesquisa, sem chegar a um resultado completamente satisfatório. Com esta premissa, unindo o terror ancestral ao horror de perder o viço,  o seriado se revela uma inteligentíssima sacada, com os altos salários dos roteiristas valendo cada centavo.

O resultado já começou a aparecer – como em um passe de mágica – no primeiro episódio, ‘Bitchraft’, com 5,5 milhões de telespectadores assistindo, número 44% superior à audiência do primeiro episódio da segunda temporada, ‘Asylum’. E mais: neste  primeiro capítulo da nova temporada, houve um aumento de 90% de público-alvo na faixa etária entre 18 a 49 anos, justamente aquela que passa pelo processo de maturação para, em seguida, começar a envelhecer.

coven

Presente no seriado desde a primeira temporada, Jessica Lange é a bruxa suprema dessa assembleia de feiticeiras, a tal Coven que dá nome à temporada. Ela interpreta Fiona, a feiticeira-chefe preocupada tanto em não envelhecer quanto em não perder o poder, outra boa ideia da turma do roteiro. Afinal, em uma época em que ser eternamente jovem significa estar em evidência – e na crista da onda -,  com o mundo inteiro aos seus pés, é um achado associar a perda de poder da líder do clã ao esvaziamento da juventude. No frigir dos ovos, não é com este conceito que a indústria de beleza fatura os tubos em cima do desespero alheio?

No grupo de Fiona, todas são brancas e tem cabelo “bom” (para usar um termo pejorativo, já que o enredo lida com questões raciais), mas existe uma personagem emblemática, negra e acima do peso, interpretada por Gabourey Sidibe, a atriz que chamou atenção do mundo quando estrelou o drama ‘Preciosa – Uma história de esperança’ (Precious), filme de 2009 do diretor Lee Daniels. Agora, seu personagem na série parece ser um trunfo do roteiro, já que ela é negra, mas pertence à confraria rival aos negros. Deve deslanchar em breve na trama. Entretanto, a grande adversária de Fiona, até o momento, é outra negra, Marie Laveau, a personagem interpretada atriz Angela Bassett, mais uma boa aquisição da série. Ela lidera o clã de praticantes de macumba que também resistem ao passar do tempo, só que com uma diferença: são negros e não envelhecem nunca, com uma tez infinitamente melhor que a de Fiona, já repleta das indesejáveis marcas da idade. Obviamente, os embates entre as duas bruxas-mór exalam racismo, ainda mais quando, logo no início da série, Fiona liberta Delphine LaLaurie, a senhora escravagista que foi literalmente enterrada viva, em um ato de vingança, por Marie Laveau duzentos anos atrás. Os produtores destinaram este papel a outra veterana das telas, Kathy Bates, o que, obviamente, permite um nível de qualidade de atuação ímpar na televisão. Os embates entre as três são, em boa parte, um dos atrativos principais de ‘American Horror Sotyr: Coven’, e isso se dá, sobretudo, pela magnífica tríade de intérpretes.

Histórias repletas de preconceito costumam dar ibope, ainda mais se houver uma pitada de sobrenatural. Neste caso, a poção mágica está armada e é quase impossível para o público levantar da cadeira, como se estivesse confinado a um feitiço milenar, tipo o que aprisionou Delphine LaLaurie . Com a busca pela juventude se configurando como mais um forte ingrediente neste caldeirão demoníaco, há motivos para acreditar que o seriado será responsável por um dos maiores encantamentos místicos da televisão nos últimos tempos, pois, afinal, mesmo que a audiência não consiga identificar racionalmente o que está por trás do roteiro, os sinais subliminares se encarregam de fazer todo o resto, como em um passe de mágica. Exatamente como acontece nos comerciais de beleza que seduzem a todos na publicidade mundial.