Beija mais que tá pouco: o fim de Babilônia não teve um, mas dois beijos gays, para desespero dos tradicionalistas. Vem ver!


Para o bem ou para o mal, Babilônia, se teve uma história esquecível, contribuiu e muito para a discussão de temas tão caros a uma sociedade moderna. E sem trocadilho, pagou caro por isso.

“Babilônia” começou explosiva, derrapou um pouco no meio e conseguiu se recuperar de certa forma com a audiência – mas nem tanto com a crítica. O final da novela exibido nessa sexta-feira (28/08), portanto, serviu como reafirmação da verve revolucionária e vanguardista do trio de autores Gilberto Braga, Ricardo Linhares e João Ximenes Braga. Se o primeiro capítulo causou furor na família tradicional brasileira por conta de um singelo beijo gay entre as grandes damas do teatro brasileiro Fernanda Montenegro, que interpretou a personagem Teresa, casada com Estela, defendida por Nathalia Timberg, no último dia de exibição de Babilônia, elas repetiram a dose, e se beijaram de novo, para ratificar que vivemos em um país livre e que o amor é a maior arma que se pode ter para lutar contra o preconceito e pensamentos antigos e engessados. E não foram só elas.

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Os personagens Ivan, de Marcello Melo Jr – que ficou tetraplégico em um acidente -, e Sérgio, de Claudio Lins, também tascaram um selinho para desespero de quem não consegue entender a equação de que o amor não tem gênero nem rótulos. Muito pode-se dizer de Babilônia, de que se perdeu no meio do caminho ao tentar se adequar ao que o público esperava dela, que sofreu por falta de ritmo e outras questões, mas uma coisa é certa: não se pode dizer que foi uma novela que teve vergonha de expor as muitas facetas estabelecidas da sociedade brasileira contemporânea.

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Via-se o político que usa da palavra de Deus para fazer um escudo para se proteger e poder roubar à vontade, um filho criado por duas senhoras casadas há muitas décadas, discussão sobre abuso sexual, feminismo, ascensão social, programa de cotas, inserção dos negros em postos prestigiados, meritocracia, mulheres bem-sucedidas em cargos de chefia, homofobia, poliamor, prostituição de luxo, corrupção de empreiteiras e uma série de outras questões que se fazem presente e precisam ter visibilidade – e serem discutidas – também na dramaturgia. Para o bem ou para o mal, Babilônia, se teve uma história esquecível, contribuiu e muito para a discussão de temas tão caros a uma sociedade moderna. E sem trocadilho, pagou caro por isso.

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