Autora da próxima ‘Malhação’, Priscila Steinman fala da participação feminina no audiovisual: “Ainda é inferior”


Além de assinar a novela, ela acaba de estrear como protagonista no cinema. Lançado no Festival do Rio, “Segundo Tempo” fala de uma mulher que busca suas raízes

Priscila Steinman é atriz e autora (Foto: Divulgação)

*Por Karina Kuperman
É tempo de mulheres no comando. Na TV Globo, a autora Manuela Dias assina a trama das 21h, “Amor de mãe“, e, agora, outra potência feminina estreia como autora de “Malhação“, mas já é conhecida há tempos na mídia. Trata-se de Priscila Steinman, atriz e roteirista que assinará a trama, um dos produtos mais antigos da casa, em 2020. “Não vejo como uma transição entre a atuação e a escrita, e sim como uma intercessão. Uma profissão contribui para a outra. As personagens que interpreto inevitavelmente são afetadas pelo meu estudo como autora e os textos que eu escrevo são somados com a minha experiência como atriz. Comecei a trabalhar como atriz com 15 anos e como autora, aos 22 anos. Pretendo conciliar as duas profissões sempre”, conta ela, que destaca a participação feminina cada vez maior no audiovisual: “Acho necessária essa nova leva de autoras que temos a felicidade de prestigiar. A porcentagem da participação feminina na produção audiovisual brasileira aumentou, mas ainda assim é muito inferior em relação a masculina. No roteiro, exclusivamente, somos 22% (segundo dados da Ancine). É um longo caminho, que só se aproximará se percorrido diariamente e de forma ascendente, como já estamos construindo”, analisa.

Priscila comemora o aumento da participação feminina no audiovisual (Foto: Divulgação)

Conhecida do grande público como Sofia, de “Totalmente demais“, Sara, de “Justiça” e Luiza, de “Sob Pressão“, Priscila sente o friozinho diferente na barriga: “Esse é o trabalho de maior responsabilidade que já assumi. Eu busco evidenciar na trama assuntos relevantes através da emoção, e sinto uma enorme oportunidade de dialogar sobre temas que considero importantes estarem em circulação. Eu não estou sozinha. Tenho uma equipe enorme e extremamente talentosa junto comigo nessa jornada. Estamos todos muito felizes com a história que estamos contando”, diz, sobre a história que vai abordar a transformação em diversas possibilidades, quebras de muros simbólicos, questões sociais e brasilidade.

(Foto: Divulgação)

“Para que cada personagem amadureça, é preciso que se aproprie de sua realidade, converta as adversidades em possibilidades e transforme suas frustrações em felicidade. Os personagens viverão situações que precisarão adaptar suas expectativas, aprenderão com as experiências da vida. Serão muitas oportunidades de identificação do público com as histórias abordadas”, adianta ela, que, apesar de consagrada diante das câmeras, não pensa em atuar nessa história. “Eu adoraria, porque acredito tanto nessa trama, mas eu escrevo de domingo a domingo, então acho difícil conseguir ter tempo de viver algum personagem”, explica.

(Foto: Divulgação)

Mas os fãs não vão sentir saudades. Isso porque Priscila está nas telonas em “Segundo Tempo”, uma coprodução entre Brasil e Alemanha. “É uma vitória para o nosso país o Festival do Rio ter sido realizado esse ano, e todos os outros. Ele chegou a ser ameaçado de cancelamento por corte de verba e só por conta do esforço de profissionais da área, principalmente, que contribuíram, lutaram e não desistiram, o festival aconteceu. Foi uma mobilização social, um levante, um grito a favor da nossa cultura. Em tempos de tentativa de desmonte da nossa cultura, de verbas paralisadas, o nosso cinema é um veículo forte responsável por expandir a nossa identidade brasileira. É a nossa expressão, o nosso direito e dever representar o nosso país”, destaca ela, que teve a oportunidade de filmar metade da história na Alemanha.
“Foi muito interessante trabalhar com profissionais europeus. Tanto no elenco, quanto na equipe técnica. Eu sou fascinada por conhecer novas culturas e o filme me possibilitou vivenciar uma experiência profissional com essa perspectiva. Uma curiosidade é que aqui no Brasil estamos acostumados a filmar seis dias por semana, 12 horas por dia. Na Alemanha, por lei, só se pode filmar cinco dias por semana e com uma carga horária de 10 horas diárias. Então, realmente, o preconceito de que artista não trabalha, de que o cinema é mamata, é uma ideia absolutamente equivocada e ignorante. Nós não só trabalhamos, como trabalhamos exaustivamente para que a nossa cultura viva”, diz.

(Foto: Divulgação)

Na história ela vive Ana, sua primeira protagonista no cinema, uma menina que, após perder o pai alemão, vai, ao lado do irmão, buscar as próprias raízes. “Ana é uma jovem com muita densidade emocional. Ela não sabe de onde vem e muito menos para onde vai e é sobre isso que o filme investiga, sobre as possibilidades do ser a partir da descoberta das raízes. Ana tem uma trajetória ascendente, ela renasce depois de uma experiência traumática. É através da relação com o irmão que ela vai aprender a se permitir viver a vida com mais afeto”, adianta. “A experiência foi maravilhosa. Já vivi protagonistas no teatro diversas vezes, como na peça ‘Rita Formiga’ (do Domingos Oliveira), ou em ‘Como a Gente Gosta’(de William Shakespeare), na televisão na série ‘Questão de Família‘ e no cinema essa foi a primeira vez com o filme “Segundo Tempo”. É muito gratificante poder mergulhar de cabeça numa protagonista que eu admiro”, comemora.